gringobrasileiro - Uma segunda chance - Introdução

Querido leitor,

Gostaria de fazer um agradecimento público às pessoas que gastaram seu tempo lendo minha história, e principalmente, tantas palavras de carinho que recebi. A princípio, temia não corresponder às expectativas dos que buscam uma narração apenas sensual e objetiva. Pela falta da prática na escrita em Português, talvez tenha me estendido bastante, na busca por detalhes. Sinta-se livre para me perguntar!

Como mencionado anteriormente, acompanho assiduamente os contos do blog e me apaixono quando posso acompanhar uma história. Acho fantástico o quanto pessoas tem guardado em seus corações. É simplesmente fascinante.

Hoje dou início a um segundo conto, e em ordem cronológica, foi minha segunda experiência com um homem. Prefiro seguir ordem cronológica, porque é como se todas as peças em minha vida se encaixassem. O segundo conto não aconteceria sem a interação com o primeiro. Portanto, se você gostou da primeira história, sinta-se a vontade para mergulhar comigo em minha busca por experimentação, na esperança de encontrar quem eu realmente sou. Em algum momento da história, talvez você se encontre comigo.
Fique à vontade para comentar, votar ou me mandar mensagens in-box. Adoraria conhecer pessoas e descobrir suas respectivas histórias.

Citei anteriormente o tal “caderninho do sexo” e não quero que se assuste com a idéia. Não me leve a mal, mas quero ter historia. Quero ter o que contar. Quero me lembrar de todas as experiências que tive. Quero manter algumas pessoas comigo pelo resto da vida. Memórias podem ser boas ou ruins, mas certamente nos trazem emoções únicas. Portanto todas as minhas experiências ficam registradas ali. E eu gosto disso. Parte delas, você viverá comigo.

Caso você ainda não me conheça, vou me apresentar uma vez mais:

Meu nome é Leonardo, mas amigos me chamam carinhosamente de Lelo. Também aceito Leo – mais pop. Tenho 1.84 de altura, de pele morena-claro, cabelos lisos sobre o lado direito do rosto e uma barba relativamente longa. Uma pequena tatuagem no braço esquerdo e o corpo em forma por natação e malhação. Sou natural do interior de Minas Gerais, mas vivi alguns anos na cidade de São Paulo, quando cursei Artes Cênicas na USP. Dois anos atrás, no entanto, ganhei uma competição internacional, e como prêmio, uma bolsa de estudos em uma das maiores universidades de Artes do mundo. Minha nova graduação é Música. Tenho 22 aninhos.

Bem, pintado o quadro da minha personalidade + agradecimentos, sigamos à história.

Como você sabe – ou não – tive uma linda e incrível experiência como minha primeira vez. Em grande resumo, conheci um incrível e doce norte americano na cidade de Nova Iorque e nos apaixonamos. Eu músico e ator, ele músico e professor em uma universidade nova-iorquina. Eu do Brasil, ele da Geórgia. Eu moreno, ele loiro. Meus olhos negros, os dele verdes. Meu nome Leo, e o dele Benjamin.

Ele se foi e eu, bem... eu fiquei.

Para continuar minha história, não é possível não citar a história anterior. Perdoa-me se parecer repetitivo em qualquer detalhe. É importante que tudo seja contado.

Naquela triste noite de sábado, tudo o que me restara era a música. Seria minha forma de desabafar. No teatro da Julliard, centenas de pessoas me assistiam, e jurados buscam apenas um erro para me condenarem. Um grande problema enquanto estava sendo treinado para interpretar “Sento nel core” é que eu nunca tinha o exato “feeling” da canção. Na verdade, estava sempre condenando o fato de que músicas do gênero sempre são em excesso dramática. Especialmente se cantadas em italiano.

Bem, naquela noite eu cantaria com toda a minha alma, pois pela primeira vez, eu estava sentindo a dor citada na canção.

Quando a canção finalizou, parte do meu sofrimento tinha sido derramado sobre aquela platéia de estranhos. Pessoas me ovacionavam, e, perdido entre aplausos e gritos, busca encontrá-lo dentre as pessoas. Sinceramente, eu não estava tão preocupado com o meu desempenho. Em meio a tantos sentimentos, seria bom apenas desabafar e vomitar tudo o que sentia. Se você conhecer algo melhor que a música para isso, me deixe saber. Esta é uma das vantagens de ser um músico.

Quando desci do palco, John e David – meus pais americanos – me esperavam com uma lembrancinha e um abraço. David, um pouco mais emocional, estava aos prantos... assim como eu. Ambos sabiam o que tinha acontecido, mas até então não tinha aberto meu coração para eles. Eles eram um casal importante em suas respectivas profissões. Ambos mente aberta, reconhecidos, respeitados e extremamente gentis. Eu sabia que em hipótese alguma eu seria julgado por eles. Muito pelo contrário. Já tinha me provado que estariam ali para o que der e vier, mas... aquele mesmo medo de ser julgado. Medo de ser condenado.

Cresci em uma família cristã protestante ativa. Meus pais sempre se auto declararam mente aberta, mas bem, na realidade não tinha certeza se seria assim. Talvez morresse “dentro do armário”.

“Eu senti” – disse David afogado em lágrimas.

“Obrigado, David. Acho que nunca cantei com tanta verdade” – respondi enquanto o abraçava.

“Mr. Alves? Dr. Joseph da Universidade de Buffalo quer falar com você em particular” – disse meu professor já me puxando pelo braço.

Americanos tem o costume de chamar um estranho ou profissional pelo sobrenome, e portanto, no ambiente acadêmico eu nunca sou chamado de Leonardo. Apenas meu sobrenome.

Dr. Goering era o melhor professor que eu tinha. Definitivamente não era um sujeito simpático ou amável, mas aprendera muito ao seu lado. Me dizia constantemente que eu podia melhorar e que não importava se eu era um imigrante naquele país. Uma vez na America, eu poderia ser quem eu bem entendesse, desde que desse meu melhor. Ele estava orgulhoso de mim e isso me enchia de prazer. No alto de seus sessenta anos, trabalhara com grandes nomes da Broadway e da cena musical de Nova Iorque. Eu sabia que estava em boas mãos e não podia falhar. Ter seu elogio era como ter ganhado um prêmio.

Em meio a tanta excitação, palavras de louvor e carinho, me esqueci por um instante da dor que se apossara do meu coração tão repentinamente.

“Benjamin é um amigo de longa data. Estudamos juntos, mas agora ele é professor em The City College e eu sou o diretor da Universidade de Buffalo” – dizia enquanto se ajeitava na poltrona vermelha do camarim do teatro. Obviamente não sabia do que acontecera recentemente.

“Benjamin me deu excelentes recomendações sobre você, e confiando em sua palavra, estendemos um convite para que você lecione em um workshop em janeiro em nossa universidade, como convidado internacional. Mesmo confiando na palavra do Benjamin, queria vê-lo pessoalmente e preciso dizer que estou impressionado com seu desempenho. Era como se todos estivéssemos sentindo a dor da canção. Se não for indelicado perguntar, de onde você encontrou tanta inspiração e dor? – Disse sem esperar o que viria em seguida.

Falar sobre aquele episódio abriria a ferida uma vez mais e ele não sabia do que acontecera. Como amigo, também sentiria. Sem muita preocupação com o julgamento, disse que Benjamin e eu estávamos apaixonados, mas que infelizmente a vida o tirou de mim de forma brusca e inesperada. E se ele buscava a resposta para minha inspiração, estava na dor que sentia em sua ausência. Ele me acompanhou no choro. Não fazia noção do acontecido.

Dr. Laurence é seu nome. Um sujeito boa pinta, beirando seus trinta e cinco anos. Negro e com um corpo todo no lugar. Um sorriso lindo e gentil. Chorava comigo.

Viera de Buffalo com uma proposta:

“Você lecionará nos eventos de janeiro como convidado internacional da America do Sul. Se familiar com o jazz norte americano, você pode cantar em alguns eventos da cidade enquanto estiver ali, e com isso, ganha dinheiro em troca. Além do mais, você poderá colocar em seu currículo a grande experiência de ser um estudante da Julliard lecionando em outra excelente universidade. E também podemos homenagear a memória de Benjamin. Ele realmente acreditava em você e portanto, estou disposto a apostar todas as minhas fichas em você” – disse enquanto me encarava.

Eu teria uma semana para responder. Caso aceitasse, deveria mandar minha biografia para publicação nos jornais da cidade e meu histórico de atividades como músico.

Aceitei.

Como citado no final do último conto, aquele foi o natal mais difícil pra mim. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Dia 27 de Dezembro, 2 AM ( 5 AM no Brasil)

“Leo? O que você ta fazendo?” – perguntava Juliano em qualquer lugar de São Paulo.

“Eu to dormindo, Ju. Pode me ligar pela manhã?” – respondi com uma voz de sono.

“Tá. Tchau” – desligou sem muita conversa.

Dia 28 de Dezembro, 10 AM ( 1 PM no Brasil)

“Nenê, você está bem?” – perguntava minha mãe com uma voz tremida através de uma ligação online.

“Eu to bem, mãe. Aconteceu alguma coisa? Sua voz está estranha.” – perguntei já apreensivo.

“Você entrou no Facebook esta manhã?” – respondeu ainda mais incerta em sua voz.

“Mãe, eu acabei de acordar. O que aconteceu? Meu pai ta bem? Meu irmão?” – perguntei com a voz trêmula.

Choro.

Ele se foi sem deixar nenhuma carta. Com o cinto que usara naquela noite, tirara a própria vida.

Conheci Juliano no primeiro dia de integração na USP. Moreno simpático vindo do interior do Rio Grande do Sul. Hétero, apaixonado por cerveja e sempre presente nos grandes festivais de chop do Sul. Sempre brincalhão ao ponto de ser inconveniente. Ambos sem dinheiro para grandes extravagâncias, decidimos dividir um apartamento nas proximidades do campus. Aluno do curso de Licenciatura em Música, era apaixonado pela música popular brasileira e viajou para a Espanha para um intercâmbio em parceria com o governo brasileiro.
Tivemos excelentes momentos juntos e nos tornamos muito próximos. Um pouco antes de me mudar para os Estados Unidos, terminara seu relacionamento de três com anos com a linda Lara. Esta, no entanto, não o merecia. Estava sempre ficando com outros meninos e quanto sozinha, fazia juras de amor. Não suportava vê-lo sofrendo por tão pouco. Ele merecia algo muito melhor. Menino de sensibilidade inacreditável e um bom gosto refinado. Por diversas vezes viajara para Minas Gerais comigo, pois era bem mais barato do que descer ao sul do país. Todos sabiam sobre nossa amizade e compartilhávamos dezenas de amigos em comum.

Meu mundo caiu.

Já não era suficiente ter perdido alguém por quem queria viver por, agora um amigo tão próximo decidiu tirar a própria vida. A lembrança de que naquela madrugada ele me ligou, e por sua voz, julguei estar bêbado, com sono ou qualquer coisa do tipo. Uma instantânea dor de cabeça tomou conta de mim. Tudo girava. Meu telefone caíra no chão, próximo à lata de lixo preta e eu estava
totalmente desorientado.

O sentimento era ainda pior do que quando perdi meu lindo par de olhos verdes. Aquilo não podia ser real. O que é que eu fiz de errado? Em menos de uma semana, duas pessoas importantes em minha vida tinha sido retiradas de forma tão repentina. Não quero parecer dramático, mas era como o sentimento de um abordo espontâneo. E pior do que isso, Ju decidiu tirar sua própria vida.

A culpa gritava em meu peito. Uma dor que eu nunca vou conseguir explicar. Tantas questões me cercavam e dentro de mim, dizia que tudo teria sido diferente se eu decidisse responder aquela ligação com atenção. Talvez eu fosse a última pessoa para quem ligara. Talvez estivesse tão perdido em minha dor que não percebera que um dos meus melhores amigos estava passando por uma dor também. Talvez o individualismo americano tenha me pegado também. Será que eu estava tão perdido em meus pensamentos, meus sofrimentos e minhas questões que matei meu amigo? Será que ele tinha apenas a mim para conversar? Por que eu não mandei uma mensagem aquela semana? Ele tinha todas as minhas coisas do apartamento e tantas memórias boas do que vivemos... eu deveria demonstrar mais interesse. Era minha culpa. Eu tinha certeza que era minha culpa.

Vomitei.

Tudo o que sentira em menos de uma semana agora volta com um peso ainda maior. Eu achei que não conseguiria. Era demais para mim. Eu não tinha forças suficientes para passar por aquela dor de novo. A ferida não tinha cicatrizado e agora estava escancarada.
Talvez Deus estivesse me culpando por ser homossexual. Talvez Deus tenha tirado a vida do Benjamin e agora de um dos meus melhores amigos, apenas para que eu visse a burrada em que estava me metendo. Questões religiosas me invadiam a mente. Mas Deus não faria isso. O que me faria mais importante que o Benjamin ou o Juliano? Isso não faz sentido algum. Além do mais, não é o padrão de Deus que eu fui ensinado. Okay. Coisas assim acontecem. Ao mesmo tempo, eu poderia ter evitado se o atendesse.

A dor era tão grande que tampara meus ouvidos com as mãos, enquanto ouvia uma voz que saia de dentro de mim. Meu coração estava acelerado como nunca e meus olhos ardiam. Algo estava fazendo um som muito algo que literalmente me doía os tímpanos. Eu gritava para que a dor passasse, mas ninguém me ouvia. Me arrastei até o banheiro tentando vomitar dentro do vaso sanitário, mas mas consegui chegar até lá. Minha mochila escolar estava jogada próxima à porta. A dor não passava e precisava ser aliviada de qualquer maneira. Abri a mochila arrancando os livros e partituras musicais e espalhando em qualquer lugar no chão. Droga. Eu não encontrava. Tirei tudo o que estava dentro, mas não estava ali. Merda.
Bolso da calça jeans! Bingo. Também jogada no chão, me esforcei para encontrar a calça. Lá estava. O remédio da cirurgia que fizera a um tempo atrás em meu maxilar. Como a dor era insuportável em algumas ocasiões, enquanto me recuperava, meu medico disse que deveria manter os comprimidos sempre por perto. Apenas um por dia.

Um. Por. Dia.

Vinte e cinco, ou trinta. Não me lembro. Tomei todos. A dor passaria para sempre agora.


CONTINUA.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
gringobrasileiro - Uma segunda chance - Introdução

Codigo do conto:
74905

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
29/11/2015

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