gringobrasileiro - Minha primeira vez - Parte 8

“Acidente automobilístico deixa três vítimas nas proximidades da ponte do Brooklin”

Era como se uma faca afiada e aquecida estivesse atravessando meu estômago, rasgando qualquer coisa que estivesse por dentro. De repente, o chão tornara-se ausente e tentei, sem sucesso, encontrar apoio em qualquer coisa que estivesse próximo à porta do restaurante. Como se todas as vozes da cidade decidissem se calar ao mesmo tempo, tudo o que me restara era sua última sentença ecoando pela mente. Nada fazia sentido, e por mais que tentasse, não conseguia colocar os pensamentos em ordem. O frio que outrora tanto me incomodava, agora perdia sua força para o calor que meu corpo febril transmitia. Quando enfim podia ouvir qualquer coisa, era a impressão de estar em qualquer país cuja língua simplesmente não possa ser executada por um falante do Português Brasileiro.

Tudo estava escuro à minha frente, e como se dentro de um quarto escuro e abafado, tentava gritar a qualquer custo. O desejo de romper as paredes com o próprio punho e expressar o que sentia. Qualquer frase era simplesmente impossível de ser dita, e um grande nó formara-se em minha garganta. Estava simplesmente impedido de enviar ar para minha traquéia, e vibrando minhas cordas vocais, reproduzir qualquer coisa com sentido.
Meu coração batia lentamente, e com os olhos fixos em qualquer ponto cego, tentei entender as frases que vinham de qualquer lugar distante dali.

“Leo? Leonardo? Leonardo, fala comigo. Bebe água. Leo?” – diziam as pessoas que irreconhecíveis por mim, tentavam fazer qualquer coisa.

Com o melhor de mim, tentei retomar à consciência, enquanto uma forte dor de estômago gritava em meu interior. Um sentimento de ressaca, confusão e doença.

É difícil poder narrar o que aconteceu em seguida, porque tentava conectar-me à realidade uma vez mais. Prometo tentar ser rico em detalhes.

John, meu host father percebeu que algo importante acontecera, mas não conseguia entender de quem se tratava e o que aquela pessoa representava em minha vida. Tentou perguntar qualquer coisa que sinceramente não me recordo, mas eu estava perdido na escuridão de pensamentos doloridos e um rio de lágrimas que jorrava dos meus olhos vermelhos e inchados. Enquanto pedia um táxi do lado de fora do restaurante, Daniela me trouxe um copo de água e com um abraço aconchegante, sussurrou:

“Tudo vai ficar bem”.

Assim como ele me disse naquela fria noite de dezembro, enquanto juntava nossas fotos no topo da grande árvore de natal. E depois, com o papelzinho rabiscado. Eu queria acreditar que tudo ficaria bem, mas meus pensamentos tentavam desesperadamente fazer sentido.

No banco traseiro de um antigo e desconfortável táxi amarelo, eu tentava encontrar conforto nos braços de John que sem saber o que fazer, ligava para David, seu marido. Seria inútil tentar explicar a historia neste ponto, mas prometo voltar a isso num futuro conto. Como dito anteriormente, vivia com uma família americana nada tradicional. Pude ver pequenas lágrimas descendo em seus olhos azuis, e do fundo das minhas forças, queria explicar o que estava acontecendo. Queria verbalizar a dor que se apossara do meu coração. Queria ser claro. Queria gritar. Queria sair correndo dali e me esconder no lugar mais distante da cidade, onde pessoas não pudessem me encontrar. Queria desligar minha mente.

Eu precisava de certezas.

“Por favor, não me faça perguntas agora, mas podemos ir a dois lugares antes de irmos pra casa?” – indaguei entre soluços.

“Claro. Estou preocupado, mas farei o que for necessário para fazê-lo sentir melhor. Eu estou aqui e você não está sozinho” – disse enquanto ajeitava seu grande casaco preto.

Expliquei o endereço ao motorista que pela logística de sua localidade, escolheu o melhor lugar para ir primeiro.

Vigésimo sexto andar de um antigo prédio em uma calma rua, cuja reforma estava chegando ao final. A pequena escada que sim, estava completamente coberta pela neve e o mesmo velho guarda de expressão cansada que fazia a segurança.

“Por favor, senhor. Eu realmente preciso subir ao vigésimo sexto andar” – implorava, com os olhos inchados.

“Desculpe. Eu realmente não posso permiti-lo subir sem que o inquilino atenda ao interfone” – disse confuso e tentando me acalmar de alguma forma.

“Então pelo amor de Deus, continue tocando” – disse apontando para o telefone branco que ficava no balcão da recepção.

Procurava fé em Deus e em tudo o que me disseram desde que era pequeno. Orava em silêncio, na esperança de que ele atenderia ao telefone e tudo teria sido apenas um terrível engano. Orava em silêncio para que o Benjamin do noticiário tenha sido qualquer outro. Um nome inglês tão comum – e bonito. Tantas outras pessoas compartilhavam o mesmo nome e no futuro, isso teria sido apenas um episódio triste e engraçado. Torcia, do mais profundo do meu ser, para que ele atendesse ao telefone, que por sua vez, chamava incansavelmente.

“Desculpe, senhor. Ninguém está em casa” – disse enquanto colocava o telefone no gancho.

“Me deixa subir na porra deste apartamento. Eu só preciso bater na porta e ter certeza que ele não está lá” – disse enquanto empurrava as canetas que descansavam em um copo decorado sobre sua mesa provocando um som agudo que reverbara pelo corredor nada acústico.

John disse que não tinha motivos para se desesperar e explicou ao porteiro que eu estava nervoso, além de dizer qualquer coisa que não me lembro. Enquanto se desculpava e evitando problemas maiores, me puxava para fora do prédio e com meus braços apoiados nos seus, procurava apoio para não escorregar no gelo recém formado na calçada.

Respeitando meu pedido, John evitou fazer perguntas e apenas disse para nos apressar, porque ainda tínhamos o outro lugar para ir. O táxi ainda esperava do lado de fora com o motorista indiano do bigode charmoso e sotaque forte. Não estávamos tão longe, mas o tráfego também não era fácil. Minha cabeça doía, meu coração estava em pedaços.

Aquela era como a maior distância em que já cruzara com um carro. Era como se todas as ruas fossem iguais e os milhares de carros decidissem não andar, e me vi perdido entre os tenebrosos arranha-céus e as pessoas que se trombavam a cada esquina. Pela janela embaçada pela respiração dos que estavam no interior do veículo, via pessoas completamente cobertas por seus agasalhos e buscava entre os desconhecidos, aquele lindo par de olhos verdes.

Chegamos enfim à rua isolada, bem iluminada, mas não movimentada, onde o caro e moderno residencial abrigava o misterioso apartamento loft de móveis planejados e do Black Baby Grand Piano de centro. Apartamento que guardara a arvore de natal que decoramos com tanto carinho, cujos galhos artificiais poderiam contar a história do romance que acontecera ali, e paredes que guardariam para sempre aquela linda cena de sexo... e paixão da fria noite de Dezembro.

Este residencial não me exigia falar com o porteiro, desde que eu fosse morador, e seguindo a dica do Benjamin, entrei sem dar satisfação alguma. Não queria correr o risco de ser parado e impedido de chegar até o andar. Eu precisava daquilo. Eu tinha certeza de que quando tocasse naquela porta ele a abriria com um lindo sorriso no rosto, o cabelo bagunçado, os óculos de grau que o deixavam tão lindo e um beijo de boa noite. Orava para que tudo tivesse sido um engano. Um erro idiota e ridículo.

Primeiro andar

Segundo andar

Terceiro andar

Quarto andar

Quinto andar

Sexto andar

Sétimo andar

Oitavo andar

Nono andar

Dez.

Seria difícil explicar com palavras a dificuldade que senti em esperar aquela eternidade que separa o solo do décimo andar. Ao mesmo passo que o número subia, meu coração também o fazia. Como se a qualquer minuto fosse explodir, senti uma vez mais meu corpo ardendo em febre. Dizia a mim mesmo que aquela notícia era falsa ou qualquer mal entendido. Simplesmente.

Quando a porta do elevador finalmente se abriu, pude logo ver sua porta a aproximados dez metros à esquerda. Uma chuva de memórias passara por minha cabeça. Em algum lugar dentro do meu coração em pedaços, guardava a esperança de que ele abriria a porta como da última vez, lindo e simples. Queria retirar seus óculos quadrados e beijar sua boca. Olhar seu lindo par de olhos verdes.
Retirei forças da esperança para finalmente conseguir colocar meu pé direito para fora do elevador. Sentia o peso do corpo e a tonelada do medo que estava sobre minhas costas. John fez todo o percurso sem falar um palavra, mas sempre que podia, segurava minha mão ou me apertava o ombro direito. Ele não fazia noção do que estava acontecendo, mas decidiu estar ali, independente do que fosse. Tenho um excelente pai no Brasil, mas até o momento não fazia a mínima sobre minha sexualidade. Em uma outra pintura, sei que meu pai biológico estaria ali, segurando minhas mãos e dizendo que tudo ficaria bem, mas ele não estava. John estava e segurava minhas mãos. E em casa, nos esperando, estava David. Não acho que qualquer palavra pudesse mudar o que sentia, mas talvez facilitaria compartilhar. Com exceção da Bia, ninguém sabia sobre mim.

Uma lenta caminhada até o apartamento 1042. O coração a mil quilômetros por hora e o corpo febril. O mais absoluto silêncio. O estranho corredor tornara-se ainda mais assustador e esquete. Suas cores mornas davam a sensação de dor e desconforto. A pintura no final do corredor. Doía.

1042.

Encarar aquele número. O silêncio reinava em todo o ambiente. De repente apenas o pulsar do meu coração, que acelerado, jorrava o sangue quente em meu corpo.

Era aquele o momento. Depois de bater na porta, teria a certeza de que tudo estava bem. Ele estava apenas ocupado e infelizmente não teve tempo de me avisar que alguma coisa aconteceu. Sábado seria um dos dias mais importantes, e das cadeiras vermelhas e almofadadas daquele teatro, ele me assistiria com sua gravata borboleta amarela. A gente teria um tempo para sair para comer qualquer coisa próximo ao Central Park. Talvez até aceitasse descer à Times Square. Reclamava tanto que era o lugar de turistas, mas no fundo gostava de ver as luzes. Teria que ir comigo. Não aceitaria não como resposta. Aproveitaríamos a madrugada de sábado para sentar próximo à lareira do apartamento misterioso e tocar violão. Finalmente poderia mostrar sua música. Já estava terminada. Eu sei que ele gostaria. Dei-me até ao trabalho de imprimir uma partitura extra. Ele poderia fazer a harmonia, ou quem sabe, a linha do piano. Ele iria adorar a música. Estava mais ao estilo pop, mas ele gostaria. Eu sei que sim. Era sobre ele. Meu verão em meados de Dezembro. Aproveitaria aquele momento para dizer que sim. Aproveitaria para dizer que estava disposto a enfrentar tudo para ficar com ele. E como ele mesmo disse, tudo ficaria bem. E ele estaria ali. Sempre.

Era agora.

Primeira tentativa – Um silêncio ensurdecedor. Nenhuma resposta.

Segunda tentativa – Nada mudou. Uma dor no coração.

Terceira tentativa – Um barulho na maçaneta da porta.

Eu estava certo. Ele estava lá. Centenas de Benjamins vivem em Nova Iorque. Claramente o meu estava dentro de seu apartamento. Aquecido e salvo. Naqueles três segundos que me separavam de vê-lo novamente, planejei tudo o que tinha para falar. Meu coração mal cabia no peito de tanta alegria. Eu tremia. Estava empolgado. Tinha saudade, na profundidade de seu significado. Era exatamente como me dissera: tudo ficaria bem. Simplesmente bem.

“Posso ajudar?” – disse um jovem lindo com um lindo par de olhos verdes. Um diferente lindo par de olhos verdes.

Fui arrancado violentamente dos meus pensamentos sendo trazido imediatamente a realidade. Questões ainda mais complexas caíram como um raio em minha mente:

“Estou procurando pelo Benjamin. Somos ‘amigos’ e eu realmente preciso vê-lo” – disse, enquanto tentava enxergar, sem sucesso, o interior do apartamento.

O perturbador silêncio voltar a reinar. Aquele outro lindo par de olhos verdes agora convertera-se em vermelho, e tentando controlar-se, disse:

“Você é o brasileiro, o menino da foto” – afirmou limpando as lágrimas e me estendendo as mãos.
Eu realmente não conseguia entender o que estava acontecendo, e, quando enfim soltou a porta:

O lindo Black Baby Grand Piano estava coberto por um grande lençol branco e caixas embaladas estavam espalhados pelo maior ambiente. Sobre a grande janela de vidro, uma escala bloqueava a visão da grande cidade. Sobre o banquinho preto, uma pilha de livros. Um copo da maior marca de café americana descansava sobre o piano. Na parede próxima à cama – que já não estava ali – vários quadros amontoados, sem o devido cuidado de um artista. A árvore de natal no chão.

A mesma faca afiada e aquecida atravessando meu estômago e rasgando qualquer coisa que estivesse por dentro. O chão que desaparecera uma vez mais e John, o único apoio que encontrara. Aquela cena dizia tudo o que eu procurava saber. Sem sucesso, trabalhando pesado para reorganizar os pensamentos. Suado. Febril. Com dores de cabeça. A escuridão que cobria minha visão e me deixava incerto sobre o que viria em seguida. Eu precisava gritar. Eu precisava chorar. Eu precisava falar. Um nó na garganta, cujas palavras desapareceram. Nada fazia sentido. Tudo fazia sentido. Nada estava claro. Estava tudo claro quanto um cristal.

Graham – lindo jovem de 24 anos. Belo jovem de cabelos cor-de-ouro, olhos verdes e amaldiçoado pela genética, nenhum pelo facial. Um pouco menor do que eu, e muito, muito parecido com Benjamin. Magro e vestindo uma camisa xadrez e all star. Não pude descobrir seu sorriso, pois seus olhos permaneciam inchados pelo choro. Era o caçula de três irmãos.

”Eu era o único que sempre o aceitei. Há cerca de um mês, vim à Nova Iorque para visitá-lo e ele me disse tanto sobre um tal brasileiro por quem se apaixonara. Ele precisava compartilhar com alguém de confiança, mas não queria incomodar minha mãe ou brigar ainda mais com meu pai. Vivia me mandando fotos suas ou print de sua conversa. Disse que você tinha a voz mais espetacular que já ouvira e que faria o possível para ajudá-lo a chegar à Broadway. Tentei convencê-lo que pedi-lo em namoro podia não ser uma boa idéia, mas ele estava completamente convencido. Disse estar absolutamente animado e ansioso com um concerto em que este tal brasileiro cantaria. Convidou importantes pessoas da cena musical de Nova Iorque para assistir, mas disse temer que não pudessem ir. Na segunda-feira falamos pela manhã. Disse sentir minha falta e me pediu para visitá-lo na próxima semana. Queria ajuda para encontrar um plano para se reaproximar do nosso pai. Segunda-feira.
Eu estava em casa terminando qualquer coisa do trabalho, quando o telefone tocou. Não pude atender, porque estava longe do telefone. Menos de trinta segundos mais tarde, ouvi minha mãe gritando, e enquanto papai a socorria, procurei por informações com a tal ligação. Um motorista perdeu o controle de uma caminhonete e acabou batendo próximo à estação de trem. Na esperança de parar a tempo, Ben teve de usar todo o freio. A pista ainda estava afetada pelo gelo e seu carro derrapou. Só conseguiu parar em baixo do viaduto. Duas vítimas fatais.” – disse entre goladas em seu copo de café e incontáveis lágrimas.

Tentava a qualquer custo assimilar o que estava acontecendo. Chorava. Tentava juntar os pedaços e dizer qualquer coisa. Chorava. Tentava fazer sentido de alguma forma. Chorava. Tentava não chorar. Tentava não pensar.

“Esta foto estava no topo da árvore de natal e este bilhete, sobre a pequena caixa branca. Deduzi que gostaria de ficar com isso” – disse enquanto me entregava a caixa vazia com a pequena anotação com letra cursiva.

John apenas me olhava entre lágrimas e hora ou outra, apertava meu joelho direito.

“Você se importa em me deixar usar o piano por cinco minutos?” – perguntei sem retirar os olhos da janela.

“Claro. Fique a vontade” – disse Graham, levantando-se e arrancando o pano do piano.

[Sinto no coração. Sinto uma pequena dor que perturba a minha alma. Uma tocha que brilhando, inflama minha alma.
Se isto não é amor, então se tornará]

Não estava preocupado com a técnica de se cantar saudável ou com a interpretação que o autor realmente procurava. Não estava preocupado com o que as pessoas ao meu redor pensariam a respeito. Não estava preocupado com os julgamentos. Eu sentia uma dor que perturbava minha alma, tirava minha paz e me inflamava por dentro. Eu sentia no coração.
Não pude terminar o segundo verso da canção porque meu rosto explodiu em lágrimas.

“Leo, ele realmente estava apaixonado por você” – disse enquanto me dava um um envelope amarelo.

CONTINUA (COM A DOR DE QUEM FICA E TENTA ESCREVER O ÚLTIMO CONTO)

Foto 1 do Conto erotico: gringobrasileiro - Minha primeira vez - Parte 8


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Comentários


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reelix Comentou em 04/09/2015

Cara eu não sei se continuo lendo seu conto eu choro. Eu não consigo parar de chorar. Vocês eram tão perfeitos. Eu tenho que continuar a ler o último. Mais estou muito triste.

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lisinho atv Comentou em 03/09/2015

Caramba! Chorei aqui cara. Posta o outro conto logo rs

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lisinho atv Comentou em 03/09/2015

Caramba! Chorei aqui cara. Posta o outro conto logo rs




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Ficha do conto

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gringobrasileiro

Nome do conto:
gringobrasileiro - Minha primeira vez - Parte 8

Codigo do conto:
70250

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
03/09/2015

Quant.de Votos:
6

Quant.de Fotos:
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