Uma vez assisti um filme em que o mocinho fica preso numa esteira rolante e no final dela tinha uma serra circular em funcionamento. A cena me causou aflição e angustia, sabia que tudo aquilo era mentira e que era apenas um filme, mas à medida que o jovem se aproximava de seu fim, seu rosto e seu desespero me comoveram, ele sabia que iria morrer da forma mais cruel, iria sentir muita dor ao ser serrado vivo, sentindo a lamina serrilhada cortar centímetro por centímetro cada pedaço de seu corpo. Vendo a morte certa tão perto de seus olhos, me provocou um sentimento único, e foi pra mim uma das piores cenas de filme de terror. Agora era eu, não sabia bem o que sentia naquela época, mas sabia que o Daniel poderia estragar minha vida, desfazer toda uma imagem que meus pais, meu irmão, meus amigos tinham de mim. Eu era o rapaz de família, tinha que manter as aparências, tinha que cortejar a moça nobre da cidade, e tinha um futuro brilhante. Eu, o anjo, apesar das aparências eu me sentia no direito de assumir minha opção no momento certo, ainda tinha coisas que eu não compreendia, na verdade eu mesmo não sabia se eu estava realmente resolvido, se tudo aquilo era a realidade que eu iria me inserir, eu só tinha uma verdade, que cada um tem o direito de se revelar quando achar que é o momento certo. E Daniel iria chegar ali se achando meu superior, rompendo as lei sociais e democráticas, pondo minha cabeça a premio. Meus sentimentos naquela noite após o telefonema dele me fez lembrar a cena do filme. E eu sabia que tudo isso poderia ter um fim desastroso. Meu pai, o senhor Cavalcante não só rejeitaria meu relacionamento com outro homem, como me desertaria, e eu o amava muito para querer ser esquecido pela família, minha família era tudo pra mim, e eu não poderia deixá-los por causa de um capricho meu, ou do Daniel, tinha que fazer algo, mas o quê, afinal eu tinha que pensar direito, pois ele me ameaçou de ir até a minha casa... Não, isso não poderia acontecer... Minha noite foi de tremores e alucinações e a cama não me comportava.
Na manhã seguinte, meus olhos vermelhos com grandes bolsas roxas abaixo, pareciam dum lutador depois de muitos socos na cara, todos me olharam e claro, todos queriam saber o motivo... O motivo para aqueles olhos inflamados e com olheiras. A princípio queria continuar com a mentira sobre meu falso namoro, mas pensei rápido e encontrei a solução, alguém tinha morrido, um cara muito legal e que a turma o admirava muito, então teria passado a noite toda acordado meio perturbado com tudo, e com a violência de nossa cidade, pois ele teria reagido a um assalto e foi esfaqueado até a morte. Coitada da minha mãe, mesmo sem conhecer essa pessoa fictícia ascendeu uma vela pra ele. Só esperava que essa história depois passasse pelo esquecimento.
Enquanto estava isolado do mundo, eu pensei, como fui ingênuo em não notar o quanto Daniel era chiclete, e ciumento, ou mesmo paranoico ao ponto de ameaçar me. Calma, era o que tinha que ter. Então uma ideia simples e objetiva me fez erguer a cabeça e olhar direto ao horizonte vindouro, iria conversar com Daniel e acabar por definitivo nosso relacionamento, era a única forma de mantê-lo distante de minha família, pelo menos foi isso que eu concluí, e de certa forma foi. Liguei pra ele, e disse que tinha pensado direito, e que depois do ultimo telefonema dele eu tinha chegado a conclusão de que eu não queria mais namorar, e nem manter mais contato com ele. Fui direto. E ele não aceitou. Ele gritou e disse que eu estava enganado, que eu o amava e que ele era o único cara que poderia fazer-me feliz. Ele gritou, mas então eu disse sério e direto, que aquele telefonema era o nosso ultimo contato direto. E que ele era jovem e que afinal eu era bem mais velho e ele poderia encontrar outros caras... claro que esse tipo de papo não é legal, mas naquele dia não sabia mais o que dizer, apenas que era o fim, e ele finalmente aceitou, e me disse que tinha me amado muito, e que iria sentir muita falta de nossos encontros. Notei que ele chorava, mesmo tentado segurar o choro, ele pareceu muito triste. Meu coração bateu forte, sabia que minha atitude era além de correta a mais urgente eu tinha plena certeza de que prolongar aquela situação não iria fazer bem para nenhum dos dois. E eu também sabia que mesmo ele se mostrando forte ao segurar seu ciúme, e mesmo demonstrando maturidade para conversar, eu sabia que iria chegar num momento em que eu não seria suficiente para ele, e que toda essa nossa paixão não seria suficiente para nos manter presos. Ele era jovem e tinha seus amigos e sua turma, e eu bem, eu teria a minha. Um dia eu saberia que essa foi a decisão mais acertada.
Desliguei o telefone, não sabia e nem sei ainda hoje o que senti, era um aperto no peito que doía, mas não sabia explicar a gravidade, era uma dor angustiante, me entalava a voz, e o peito apertado me sufocava. Senti raiva de mim e dele. Gritar seria a solução mais lógica no momento, no entanto daria muito escândalo, e eu não era nenhuma garotinha desesperada. Tinha que manter meus pés no chão, depois de algumas horas trancado no meu quarto, sai e fui dar uma volta de bike pelas trilhas da fazenda. Algo bem normal, ninguém questionava se alguém sai pedalando pelas trilhas, afinal nossa fazenda era procurada por ciclistas de toda região por causa de seu relevo acidentado em alguns trechos ideal para esse tipo de esporte. Pedalei rápido e forte, já me sentia voltando ao meu estado habitual, mas minha respiração estava acelerada. Parei numa sombra duma arvore velha e contorcida, e ali fiquei.
...
Daniel estava sobre minhas costas fazendo uma massagem, ele adorava aquela posição pois lhe excitava, eu estava bem relaxado e de pau armado apertado entre mim e o colchão. Ele me acariciava e explorava cada centímetro de minhas costas e bunda, senti suas mãos habilidosas que me causavam arrepios. E uma coisa que ele adorava fazer e eu ia a loucura era lamber meu olhinho, ficava doido, e adorava pois alem de relaxar profundamente deixava bem lubrificado para a penetração que vinha em seguida. Daniel sabia meter. Ele sabia usar sua ferramenta de prazer com muita destreza. Aprendi muito com ele, e ali debaixo daquela arvore lembrando de nossas transas, senti uma vontade louca de está com ele novamente. Lembrei de nossos momentos juntos, das nossas risadas por motivo algum; das nossas noites intimas; nossas tardes e amanheces. Seu corpo deitado adormecido, sua pele macia, suas coxas firmes e pouco peludas; sua bunda relaxada esperando minhas caricias; seu pênis duro esperando meus beijos; seus lábios quentes esperando meus beijos. Nossa como era bom abraçar seu corpo, sentir seu cheiro natural, beija suas costas, sua boca, seu abdômen, sentir seu corpo no meu, seu calor, sua força, suas pernas entre as minhas, seu mastro roçar minha pele, me penetrar, tudo era mágico, me dava saudade só em pensar que eu iria ficar sem seu sorriso de garoto, seu olhar brilhante de felicidade ao sentir orgasmo junto comigo, parecíamos da mesma idade, compartilhávamos momentos de inteira cumplicidade, tínhamos o mesmo fogo da paixão; as mesmas loucuras na cama. E eu sabia que ele era mais jovem, e que ainda tinha coisas que ele poderia não saber como digerir, assimilar num relacionamento, mesmo ele tendo experiências, outros homens e outras aventuras, que eu imaginava, eu pelo menos sabia como reverter problemas nada desejados. E eu não podia jogar tudo pro alto; tudo o que vivemos, e tudo o que eu sentia por ele, e sabia que ele sentia por mim, só por causa de uma desconfiança boba de que Daniel fosse perigoso e desajustado. Que loucura a minha, mesmo ele se mostrando enfurecido por nada aparente, mas sua paixão, seu amor poderia justificar tudo. E se eu também estivesse sego e não estivesse vendo que ele poderia ser o meu companheiro pra vida toda, tinha que dar uma chance de resposta; uma chance dele se explicar, se não eu é que poderia estar cometendo o maior erro de toda minha vida, afinal eu é que era o adulto na história, eu é que era o mais experiente em resolver este tipo de problema, era o que eu acreditava, e claro, o que todos nós achamos. Montei em minha bike verde limão com preto, e voltei pra casa disposto a voltar à capital cinco dias antes.
...
Estava em meu quarto arrumando minhas malas, quando minha mãe entrou e se sentou na cama, sabia que ela queria dizer algo do tipo: “já vai cedo meu filho, fique o restante dos dias, depois você acerta com essa garotA” Mas ela se comportou e apenas me ajudava dobrando as camisas. Então, nesse momento só nosso, o meu cell vibra e em seguida tocou, o olhei com receio e meio que paralisado, não sabia se olhava ou se atendia, sabia que era ele, o toque era o dele, tinha selecionado nossa musica, pra sempre que ele me ligasse nossa melodia preenchesse o ambiente com suavidade. Mas desta vez, nossa música me causou hesitação. Minha mãe foi logo perguntando se eu não iria atender, e como resposta peguei o cell, e...
-- alô!
-- Olá Caladriel, como vai? – Era a voz da mãe de Daniel, firme e um tanto abalada.
-- Oi, Dona Lurdes como vai?
-- Meu filho desculpe está ligando assim fora de hora, mas eu queria saber se você e o Daniel andaram brigando. – Ela foi direta ao assunto, assim como toda mãe faria.
-- Sim e não, não foi bem uma discussão, por que a senhora pergunta? – Nesse momento olho pra minha mãe, e ela com cara de preocupada sai do quarto, e eu sabia que ela iria me encher de perguntas depois....
-- Caladriel, é que (ela começou a chorar) o Daniel fez uma besteira, meu filho, ele tomou uns comprimidos...
-- Ele fez o que?
-- Isso meu filho, ele fez isso sim...
-- Mas ele não...
-- Não, não, não... o irmão dele chegou a tempo, e levamos pro hospital, ele ta lá, mas o estado dele ainda é preocupante pois passou toda a tarde desacordado, os médicos falaram que o estado dele ainda é de risco, só nos resta agora esperar pra ver se o organismo dele reage... estou ligando meu filho, pois eu sei que você gosta muito dele, e também sei que o que aconteceu entre vocês deve ficar entre vocês. ..
-- Dona Lurdes, desculpe, estou sem saber o que dizer, nunca pensei que ele fosse capaz de fazer algo assim...
-- Não fique preocupado meu filho, você é um rapaz bom, e o que aconteceu ou o que levou ele a fazer uma coisa não foi responsabilidade sua, eu apenas queria saber se vocês tinham brigado.
-- É como eu falei, não foi bem uma briga, nós terminamos...
-- Eu sabia... Mas não quero lhe culpar meu filho, você tem todo o direito de seguir sua vida, meu filho sempre foi assim meio descontrolado com seus relacionamentos, você foi o rapaz que mais demonstrou carinho por ele e o que ainda soube suportar o seu gênio, reconheço que ele era difícil e complicado. Peço desculpas pelo incomodo, e agradeço por ter feito parte da vida dele. Até mais.
Antes de responder um pequeno filme passou em minha mente, um sentimento em forma de relâmpago cortou meu consciente ativando meu raciocínio, me fazendo pensar numa velocidade até antes nunca alcançada, vi que eu precisava voltar o mais rápido possível, queria agora mais do que tudo resolver esta situação, e uma conclusão já não era mais o problema, eu sabia agora realmente o que fazer. Agora eu estava decidido.
-- Até, e obrigado por informar-me.
Cai na cama, e claro que na hora da janta eu não fui a mesa, minha mãe foi me procurar, queria saber e com razão, o estado físico e mental que me abateu logo depois daquela bomba. Eu tinha razão, ele seria capaz de tudo. Agora ali de frente pra minha mãe apenas disse que queria ficar só. Ela levou meu prato até o quarto e me deixou lá, ela confiava em mim. Sabia que eu não faria nada que a deixasse decepcionada, então fiquei só.
...
Dizem que o tempo cura todas as feridas, de certa forma acredito nisso, mas enquanto ele não as cura, tenho que suportar todas as dores.
Enquanto entrava no ônibus, avistei logo um acento vazio e ao lado um belo e forte jovem, tórax forte e belas coxas num jeans apertado, ele me olhou nos olhos e senti seu libido me devorando, seu pacote era de uma beleza sem igual, suas mãos fortes e grande, seus lábios puro desejo, dava para notar que deveria ter aproximadamente 1 e 80 de altura. Minha viagem de volta me proporcionaria uma oportunidade de prazer com aquele desejo que só dependeria de uma única escolha, sentar se ao lado dele. Ao passar perto, notei que ele não tirou seus olhos de mim, até eu sentar duas poltronas mais ao fundo do ônibus. Mesmo uma ou duas vezes notando que ele se virava para observar-me, mantive minha mente centrada no que poderia estar na minha chegada a capital. E assim acabei dormindo quase toda a viagem.
...
A capital continuava assim como a deixei no final de dezembro, o ano novo parecia o mesmo velho, assim me dirigi ao meu apartamento para deixar minhas coisas e tomar um banho antes de ir a casa de Daniel para conversar com sua mãe e ter noticias dele. No entanto meus planos foram esbarrados ao portão do meu condomínio, ouvi meu nome, era uma voz familiar um pouco mais madura, mas poderia ser ele, queria que fosse ele, queria vê-lo ali saudável e me olhando com seu sorriso jovial e cheio de vida, com seus lábios finos, mas que me despertava tantos desejos. Olhei para traz nessa ânsia de correr e dizer: “Me perdoa.”
Ao invés de sorrir, meu corpo gelou e meus sentidos me provocaram uma dose de pura adrenalina, pois eu tinha que esperar pelo pior.
Seu irmão vinha em minha direção e na mãe direita um envelope, ele me olhou de esquerda, não com raiva ou desprezo, mas com tristeza. Ainda falou ao entregar a definitiva carta.
-- Ele deixou duas cartas, uma pra nossa mãe e outra pra você, não se preocupe ele disse pra mamãe que você não tem culpa de nada e que você será para sempre o único amor. O sepultamento será a manha pela manhã, se desejar, pode ir, será bem vindo.
Antes dele sair, ainda perguntei.
-- Quando foi?
-- hoje pela manhã, quando ligamos pra você, já estava fora de área.
-- Obrigado, eu vou sim. Então ele deu um soluço e me abraçou, e nós ficamos um tempo calados.
Entrei no meu apartamento, sentei a mesa, tomei um copo d’água e me preparei pra ler a carta. Ao desdobrar as folhas manuscritas ainda senti seu cheiro, pelo menos do perfume que ele mais gostava. E então comecei a ler.
P 26 – a carta de despedida – final de tempporada
“Meu amor, saudades.
Neste momento você deve estar chateado com tudo o que aconteceu, talvez por achar que eu fiz o que fiz pra lhe culpar, mas antes de mais nada leia esta carta e depois você vai entender tudo, aceitar não sei, mas vai entender que eu não lhe culpo, eu, somente eu, sou o culpado por tudo o que aconteceu.
Tudo começou quando você entrou pela porta da minha sala, foi a primeira vez que eu o tinha visto de perto, digo de perto pois já o tinha notado na nossa rua, mas nunca o tinha observado suficiente para me apaixonar, então você estava lá na minha frente, dando aula pra mim. Ficar pertinho de vc me despertou a curiosidade e o desejo por ti conhecer melhor, porem eu te achava inteligente e maduro, e superior a mim, assim, eu não teria chance com vc, vc não estava no meu nível, era assim a minha impressão, mas então eu notei vc andando com o Rafael, um carinha que eu já tinha ficado antes, alias foi ele que tirou minha virgindade, e eu era bem mais novo, ainda ficamos algumas vezes, é, ele tem a fama de pegar virgens, e vc então foi visto andando com ele, e então eu deduzi que vc estava sendo usado por ele, e então para minha surpresa vc apareceu na companhia do Rochel, um cara bonito e de sua idade, o que me fez perder as esperanças, eu tinha praticamente certeza de que vc ficaria com ele. Mesmo sem nenhuma confirmação de seus casos eu sabia que rolava algo, nós sempre sabemos. Até que então vc me aparece na pracinha a noite, só e compenetrado em seus problemas, então tive a oportunidade de me aproximar, e antão vc conhece o resto da história ou pelo menos um aparte dela, e assim eu consegui fazer vc esquecer o Rochel, e o Rafael já era passado. A parte da história que vc não conheceu foi sobre minha vida antes de você me conhecer, a parte em que eu era um garoto de programa. Não, antes que vc me questione, e como não estou ai pra te responder, eu não sai com outros caras enquanto estávamos juntos, veja bem o verbo que usei. Mas antes de falar da parte final dessa história, quero relatar algo pra vc entender bem tudo o que me levou fazer este ato de desespero, sim, estou desesperado, mas tenho que me controlar pois tenho que terminar, tenho que reatar tudo, pois só assim poderei concluir minha... (estou com medo de vc nunca me perdoar) C. você foi o único que realmente amei e desculpe se não fui maduro suficiente pra saber como li dar com vc, sempre fui mimado... mas vamos ao que importa.
Antes de conhecer o Rafael, eu não tinha uma opinião formada sobre nada, era um adolescente que levava tudo na brincadeira, então um dia ele me procurou pra estudarmos juntos pra um teste, pois ele era do tipo que não liga pra nada, nessa época ele já era repetente, ou seja, mais velho, e mais experiente. Bem e já tinha um corpo bonito e era bem disputado pelas meninas do colégio o que causava nos outros meninos inveja dele, e eu bem, queria ser amigo dele. Pior pra mim, pois ele me usou por alguns meses até me fazer desejá-lo, e foi ai que nós trepamos, acabei gostando, ele me disse que eu tinha uma bunda muito bonita e gostosa, e que se eu quisesse ele podia me apresentar pra uns carinhas que adora um boyzinho, bem, claro que eu disse que não, que eu não iria ficar saindo com qualquer um, mas então ele falou algo que me fez mudar de opinião, ele disse “os caras dão grana seu bobo” bem, vc sabe um pouco da minha história, sabe que nesta idade eu tinha perdido meu pai a pouco tempo, e que minha família vinha passando por dificuldades de grana, e eu não comprava as coisas que eu queria, a roupa era doada, não tinha bola, a bicicleta ainda era a infantil aro 16, não dava mais pra mim, queria coisas que qualquer garotão queria. Sim, meu amor, eu me deitei com outros caras, no inicio foram apenas rapazes riquinhos, depois os pais deles. E o Rafael se aproveitava pra me comer a hora que queria, interessante que eu nunca me apaixonei por ele, apenas era desejo, carne, sexo, ele tinha um corpo muito sexo. E como os caras eram de outro bairro, meus colegas nunca ficaram sabendo de nada, o Rafa prometeu ficar calado, e eu prometi ser sua putinha.
Com o sexo veio as drogas, delírios, mas não era do tipo viciado, não sei como eu consegui controlar, acho que foi minha mãe, pois depois de uns 8 meses nessa vida ela descobriu uma parte do meu segredo, que eu saia com cara, rapazes, apenas isso, e ela me controlava, e eu me controlava pra não fazê-la mais infeliz do que já era, por isso peço que nunca conte a ela nossa conversa, apenas vc e meu irmão sabe de toda a verdade.
Uma coisa que vc nunca ficou sabendo enquanto estávamos juntos, foi uma visita do Rafael, ele me perguntou direto se nós estávamos ficando eu disse que sim, então ele me disse que não entendia, pois vc não era rico e que eu só ficava com caras cheios da grana, então disse pra ele que vc me pagava com amor, e ele riu de minha cara e se foi. Então o resto do ano ele não mais me procurou. Sabe, eu senti vontade de usar drogas enquanto namorávamos, mas não conseguia pensando na possibilidade de vc descobri e terminar comigo, não poderia viver sem você. Não!
Meu amor, vivemos momentos incríveis, até vc ir passar as férias com seus pais. É ai que tudo começa a terminar pra gente. Vem, cá você pode até não acreditar depois de tudo o que aconteceu, mas eu não tive ciúmes ou raiva por que vc não me levou pra lá, (amor sei que nossas brigas por telefones foi sobre isso, mas vou contar o que me levou a isso), é verdade amor, até entendi seus motivos, fiquei triste, claro, pois estava com saudades, mas não ao ponto de pensar em terminar, imagine terminar assim do nada. Na véspera do nosso telefonema, aquele que desliguei o telefone na sua cara, deixando a dica que estava tudo acabado, pois bem, eu me encontrei com o Rafa no clube aqui do bairro, ele estava bebendo cerveja e me chamou, como não vi maldade, e nós já tivemos uma história juntos, eu sabia onde estava pisando. Lá com ele, cervejas e mais cervejas, bobagens e mais bobagens, acabei soltando que estava triste por você não me levar, e ele falou algo que me deixou no calor do álcool, enfurecido com vc meu amor. Ele disse que vc não me levou por que tinha vergonha de mostrar pros seus pais, e que usou a viagem pra encontrar com um tal de Adriel um amigo seu que esteve no seu apartamento justamente nos período que nos aproximamos, então lembrei que realmente vc estava recebendo visita. Nossa foi muita coisa pra minha cabeça, ai o ciúme veio com tudo, e então cometi o meu maior erro, ligar pra ti com a cabeça quente.
Então revoltado com tudo e com todos eu fui ao meu antigo ponto de trabalho noturno e fiquei lá esperando o primeiro cafetão pra me levar pra um motel. E então rolou, e passei os últimos dias assim, sem dormir em casa. Minha mãe me procurava mas eu não dava resposta, não queria saber de nada, a não ser te matar, queria que vc morresse com todo o mundo. Até uns dois dias antes dessa carta, eu estava gostando de novo dessa vida, até que vejo passar num carro a sua amiga da faculdade, ela ao mi ver parou o carro e foi até a mim oferecer carona, pensava ela que eu estava ali apenas de passagem, garota legal, nem conta que ali, era um ponto de prostituição, claro, vc não faria amizade com pessoas que sabe dessas coisas. Então disse a ela apenas que eu estava ali esperando uma companhia, já que o meu parceiro me abandonou. Então ela me olhou desconfiada, riu e então a ficha dela caiu, olhou em volta e disse:
-- Daniel, vem cá, você ta querendo dizer que você é um acompanhante?
-- Sim, sou ...
-- Você é gay?
-- Sim.
-- O Anjo sabe?
Sério tive uma puta de uma raiva quando ela te chamou de Anjo, eu queria lhe chamar de Demônio, mas ao mesmo tempo me bateu uma tristeza, e então sem querer deixei cair lagrimas que tudo dizem sem palavras.
--Sabe, não que eu estou aqui, ele pensa que estou em casa esperando ele voltar. (Desculpe C. mas acabei deixando escapar no calor da conversa)
-- Para, com calma que eu só tenho um minuto pra digerir tudo isso... você ta me dizendo que seu parceiro é o Anjo? Não precisa responder, meu Deus, como sou cega, claro, vcs nesses últimos meses não se largavam, e eu pensando que era apenas amizade de professor pelo aluno aplicado. Que burra, e eu ainda iludida por ele. Gente do céu, o Anjo é gay!
Bem depois daí, ela me chamou pra irmos tomar umas cervas (é me pegaram no ponto fraco de novo, desculpe mais uma vez, mas acho que a Natalia sabe de umas coisinhas sobre vc agora, se prepare que ela deve lhe encher de perguntas) e com isso ela olhou nos meus olhos e disse que eu estava enganado, que vc não era homem de sentir vergonha e que fez o que fez por respeito aos pais, ela realmente deve lhe conhecer, e então resolvi ligar de volta pra, mas já era tarde, e vc me disse que não me amava mais. Cheguei atrasado, e então fui refletir e descobri que eu era um puto de um burro, de que adiantava viver sendo esse burro, perdi vc e sabia que vc não iria mais me dar uma segunda chance, eu deveria parecer um doente possessivo, e provavelmente vc tinha medo de mim. Tinha medo de minha mãe descobri dos meus programas. E tenho medo agora, meu amor, tenho medo. Não quero lhe deixar, mas agora é tarde, não posso mais parar.
Estou morrendo, e sei que se eu parar agora apenas estarei adiando meu sofrimento, pena que vc não estar aqui pra me apoiar e me segurar nos braços que tanto me confortavam.
Te amo, e quero que guarde apenas os bons momentos nossos.
Tenho que ir, ainda preciso fazer um jeito de deixar a carta para meu irmão, ele fica encarregado de lhe entregar, aqui tem pouco a revelar para ele.
Caladriel, meu anjo, meu amor, adeus.
Do seu eterno amor Daniel, aquele que não soube te amar.”
...
A carta de Daniel me fez chorar por dias, não me sentia culpado, mas também não me sentia inteiramente absolvido, no final descobri que realmente não conhecemos as pessoas, mesmo próximas, mesmo intimas. Depois de tudo aprendi que não se deve confiar nas pessoas de cara, mas com o tempo se deve conquistar a confiança. O sepultamento foi como era de se esperar bem triste, muito silencio, pouca gente, quase não tinha familiares, alguns vizinhos, e ele parecia em paz. Menos o meu coração.
O resto de Janeiro não foi nada fácil pra mim, reencontrar Natalia não foi estressante, foi até divertido, ela soube me deixar calmo, e nos tornamos bons amigos, ainda visitei a família de Daniel, e conversando com o irmão dele, fiquei sabendo melhor o que aconteceu realmente com ele, e para meu espanto, fiquei sabendo que ele vinha usando drogas mais pesadas, não parava mais em casa. Eles culparam as drogas, pois Daniel já não falava coisa com coisa. Mesmo assim eu senti que suas palavras na carta eram de uma pessoa em plena consciência, claro que também notei algumas expressões mais trabalhadas como que queria esconder alguma coisa, li e reli varias vezes. Mas no fim, deixei ele descansar em paz. E eu precisava por minha cabeça no lugar, tinha agora minha vida pra por nos eixos. O ano estava apenas começando, e as aulas estavam retornando. Eu tinha que resolver não só os problemas do coração, mas os da mente também, fazer uma analise de toda minha vida e então ver o que eu queria e como queria. Descobri com tudo isso, que por mais que não sejamos culpados de algo que envolva alguém ao nosso lado, sempre temos um aparcela dela. Nosso corpo não está num espaço isolado do mundo, ele interfere nos que estão em nossa volta, eu sabia que minhas escolhas, que são só minhas, e que elas são de inteira responsabilidades minhas, podem sim sofrer interferência do outro, como também afetar o outro. Pensei no que tinha feito com Rafael, com o Rochel, com Adriel, com a Natalia. Todos sofreram de alguma forma com minhas atitudes e escolhas, e ali Daniel mesmo se mostrando completamente dono de suas escolhas, ainda assim eu via minha mão em suas ações, o que me deixava triste, não por ter feito nada para impedir, mas pelo fato de ser consciente da minha parcela de culpa. Eu agora estaria mais preparado na hora de se envolver novamente com outra pessoa. Assim eu pensava.
Fim.
......
Uma palavrinha do autor.
Obrigado a todos que acompanharam esta história até aqui.
Até mais.
Um dos contos mais realístico que já li. O autor se mostra sincero, falando dos erros e acertos. As pitadas sexuais foram excelentes
Estou adorando essa saga de contos e fiquei em choque quando li que Daniel morreu. Triste porém história muito boa. Melhor que novela das 9 rsrs
Parabéns mais uma história linda,mas com um final triste.
Nossa..Fiquei numa tristeza profunda.Parece que foi com alguem conhecido.Espera um final diferente,mas nem tudo é Feliz Para Sempre..Parabens por outro conto otimo.