“Meu coração batia forte, não sei o que aconteceu comigo, ele nos meus braços chorando, não entendi, mas eu sabia que aquele choro não era por causa de dor, ou outra coisa física, ele estava chorando de emoção, e o único motivo só poderia ser por minha causa, você não acha Susana?”
— Sim, você pode ter razão, mas me conta mais, quero entender melhor, o que aconteceu depois do abraço? Ele se revelou pra você, digo, disse que gostava de você?
— Não, na verdade depois que nós nos abraçamos e ele começou a chorar eu pensei que ele iria se acabar em lacrimas...
“eu o sentia, eu o apertei contra meu peito, e ele me apertava, então depois de alguns minutos, na verdade foram poucos, mas pareceu uma eternidade, ele me soltou e pediu desculpas, eu o olhava, e perguntei pra ele o que estava acontecendo, e ele respondeu:
‘Não sei meu amigo, senti uma vontade de chorar, foi só isso, não se preocupe, eu ando assim nesses últimos dias.’
“Parece estranho, mas eu senti que ele estava mentindo, mas depois descemos para almoçar, e a mãe dele nos acompanhou, o pai dele não estava em casa, parece que ele quase não almoça em casa, e depois do almoço, esperamos a Felícia, enquanto isso ele ficou mais calmo, eu como não tinha muita intimidade com ele procurei apenas perguntar sobre as novidades no colégio durante estes dias que andei sumido, ele tinha mais perguntas do que respostas, queria saber por onde eu andei, e por que tinha sumido, mas como nem sabia das respostas, dizia que depois eu contava, não queria falar sobre o assunto, afinal minha sexualidade ainda não é uma coisa publica, e nem sei se vai ser, mas não sei por que, eu sentia que podia confiar nele, ele me passava uma paz. Susana, você viu ele quando foi me pegar, você viu como ele é bem garoto, mesmo com a idade que tem, ele parece ser mais jovem, e você precisava ver ele sem camiseta, como ele é branquinho, e magro, mas o olhos dele, sem os óculos parecem mais bonitos, sua boca é linda.”
— Sim, eu vi, olha você pode ter razão, a emoção dele pode ser por causa de você, mas e você, o que sente por ele? Até parece que está olhando pra ele com outros olhos...
Ítalo olhava pela janela do carro enquanto eles passavam por uma avenida dupla, com um canteiro entre as pistas, seu pensamento voltou para o momento do abraço, e se lembrou do calor que sentiu ao abraço seu colega, mas então a lembrança de Rodrigo com ele na cama, abraçados quase um comendo o outro, e depois o fora que Rodrigo lhe deu, e depois vendo o amor quente de Douglas, lhe fez ficar sem saber o que fazer, sem saber realmente como reagir a todas as novidades.
— Sabe Susana, eu não sei, ainda é tudo muito novo pra mim, não quero mais me jogar como eu fiz com o Rodrigo, acho que tudo o que está acontecendo comigo pode ter um propósito, até mesmo o fato do meu pai ter me pego naquele momento, me impedindo de prosseguir, pois eu acho que se meu pai não tivesse chegado a tempo, talvez eu tivesse dado a única coisa que eu ainda tenho íntegro em mim, a minha verdade, minha pureza. E o Rodrigo se mostrou um canalha, ele queria apenas me ter naquele momento.
— Olha Max, eu até compreendo você, mas você acha que a virgindade hoje em dia ainda é algo importante?
Ítalo pareceu refletir por um instante, mas respondeu com firmeza, ele sabia o que dizia, e não precisou Maxuel lhe dizer nada, mesmo porque o Maxuel não estava com sua atenção naquela conversa, estava mais preocupado com seus próprios problemas.
— Não é questão de virgindade, Susana, se eu tivesse me entregue para ele, e depois ele me dado o fora como deu, como eu iria me sentir depois, como eu iria me entregar para a pessoa que eu vier a amar um dia, quero que seja algo forte e verdadeiro, se a emoção que eu senti com Rodrigo foi forte, mesmo sem o amar, imagino como será quando eu encontrar realmente alguém que eu ame. Será mágico, divino.
O sol já estava se pondo, quando eles pararam na garagem do condomínio, onde deixaram o carro e foram para o apartamento.
...
EM ALGUM LUGAR ENTRE O CÉU E A TERRA
Maxuel estava diante de seus superiores Atanael e Sasael, o primeiro estava numa posição de comando que se seguia depois do Príncipe da Guarda Gabriel, o segundo era Sasael, sua posição semelhante ao de tenente, era o terceiro em comando, tinha como meta, comandar os sentinelas e era ele que servia de elo entre os sentinelas, e o Príncipe de sua ordem, mas geralmente ele resolvia tudo com seu Coronel, Atanael, um dos anjos mais antigos de sua ordem, se apresentava com a forma humana de um jovem com aparência de uns 20 anos, cabelos longos e negros, olhos violetas claros, sua pele irradiava uma luz lilás quase branca. Sasael não muito diferente parecia ter 18 anos, braços fortes, cabelo longo e loiro, olhos verdes claros, irradiava uma luz verde espectral, sua voz era aveludada. Ele olhava para Maxuel, anjo mais novo, mas com uma aparência de um jovem de 25 anos, sendo ele um sentinela, depois de varias batalhas, e como se envolvia mais com os mortais, gostava de apresentar seu físico mais forte e mais velho do que seus superiores mesmo sendo alguns séculos mais novo.
Maxuel sentia os olhos de seu comandante, mas sua pergunta tinha sido analisada entre os dois superiores, e então a resposta foi dada de maneira direta. Sasael o olhou e disse:
— Maxuel, o fato de você achar que ele ti ouviu como você disse, não poderia ser possível, não temos registros sobre nenhum fato semelhante que tenha acontecido, e mesmo que esse humano seja um sensitivo, ainda assim ele não poderia ouvir-te como você nos informou, isso seria impossível, pois os dois tem almas distintas, e isso significa que é impossível, o que pode ter acontecido no mínimo foi apenas uma coincidência, pelo fato das pessoas sempre falarem sozinhas como se sentissem que tem alguém conversando com elas, e justamente quando você tentava o influenciar, nada mais do que isso.
— Mas Rabbi Sasael, com toda humildade, me perdoa, conheço as leis sagradas e sei que nenhum mortal teria a capacidade de ouvir a voz de um iluminado, mesmo ele estando em sincronia com seu guardião, mas desde minha ultima intervenção que venho me sentindo usurpado, para não dizer dominado, sinto que não poderei continuar em equilíbrio com o jovem Ítalo, ele mesmo já se auto chama-se de Max, como se ele sentisse meu verdadeiro nome.
Mas nessa hora Atanael se interpôs no assunto:
— Maxuel, você ao longo dos milênios vem mostrando ser um grande servidor da ordem dos Anjos, e nós Arcanjos sabemos reconhecer todo o seu prestígio, o nosso Rabbi Príncipe Michael, tem nos confortado a este respeito, Ele sabe e conhece todos os seus dilemas, e avisa que você tem que continuar com sua missão, volte e não deixe mais seu protegido sem sua companhia, e procure se manter atento a tudo, mas cuidado, Luxael não é o único Caído envolvido, já fomos informados que mais dois seguidores de Kasabel foram vistos rondando próximo aos humanos que tem contato com Flávio, não podemos perdê-lo. Não esqueça Maxuel, Flávio é a sua prioridade.
— Sim Rabbi, eu sei, e procurarei seguir suas ordens.
Maxuel mantinha em seu intimo a preocupação, sabia que seus superiores tinham a sabedoria, porem seu instinto também era sábio, o manteve em guarda constante. E deixando seus superiores ele voltou para junto de Ítalo.
...
Na casa de Douglas, o resto da tarde foi tranquila, não pelo fato de Ítalo ter deixado o colega mais calmo, mostrando que ele voltou de seu sumiço com vontade de normalizar sua vida, pois era isso mesmo, mas o fato é que Douglas ficara mais esperançoso, pois depois daquele abraço confortante ele sentira em seu intimo uma certeza de que algo bom iria acontecer. Naquela tarde, Ítalo ainda estando lá, receberam a visita da colega de trabalho, Felícia, jovem que sempre participou do grupo formado por ela, Douglas, mais dois colegas de sala, e as vezes eram convidados por Ítalo a deixarem ele entrar no grupo, o que sempre a deixou com um pé atrás, mas que depois de um tempo a mesma nutrira por ele simpatia e até mesmo um sentimento secreto de admiração e desejo. E naquela tarde, não foi diferente sua reação estando ali bem próximo dele, Douglas nunca notara por parte da amiga, ele pelo contrario, esteve sempre tão focado em cobiçar o colega que nem notara por parte da outra que seu cobiçado garoto tinha outros pretendentes. Sobre o choro e sobre o abraço, eles preferiram deixar em segredo, não queriam provocar nas pessoas pensamentos equivocados, assim era o que Ítalo pensou logo depois da assistência ao amigo. Mas Douglas tinha em sua amiga toda confiança, e assim que ítalo entrou no carro e sumiu dobrando a esquina a esquerda, ele logo sentiu vontade de contar tudo para sua amiga, feito uma criança saltitante de felicidade ele olho para Felícia e disse:
— Tenho algo para ti contar, mas é segredo.
Felícia o olhou curiosa e logo completou:
— Se é segredo e é sobre o Ítalo, quero saber...
Mas então, algo aconteceu, Douglas ficou congelado no tempo e espaço, e ele se viu no seu quarto trocando juras com o amigo que o tratou tão bem, prometendo não contar nada sobre aquele momento intimo dos dois.
— Calma Felícia, também não é assim um segredo, acho que eu me empolguei...
— Douglas, não faz assim, você quer que eu tenha um ataque...
— Espere um pouco Felícia, você ficou toda interessada...
— Nem vem Doug, já sei onde você quer chegar...
— Espere você, então é isso, você tá interessada no Ítalo...
— Não ponha palavras na minha boca, de onde eu estaria interessada naquele playboyzinho.
— Não fale assim, parece que ele tá numa parada estranha, e nem vem...
— O que foi Doug, estar com ciúmes?
— O quê? Eu com ciúmes de você?
— Sério, você não gosta de mim?
— Olha Felícia, não sei de onde você tirou essa ideia, você sabe que entre a gente não rola, se você gosta do Ítalo, vá em frente, acho até que vocês formam um par perfeito.
Ela o olhou meio estranho, como se aquelas palavras fosse a mais pura falsidade, na verdade já há algum tempo ela vinha estranhando o comportamento do amigo, mas depois daquela conversa ela tirou sua duvida, ele estava apaixonado por ela, só não tinha coragem de dizer, e mais agora sabendo que ela estava interessada em Ítalo. Já Douglas, sentiu um alívio no rumo que a conversa tomara, fazendo com que ela esquecesse do assunto do segredo, assim ele não precisaria inventar outra coisa, mas também ele ficou aliviado em perceber que ela desviou sua atenção para Ítalo e não para ele e Ítalo. Apenas duas coisas o deixaram martelando: de onde ela tirou essa ideia de que ele estava interessado nela – será pelo fato deles viverem juntos? – e agora ele teria que competir com ela para conquistar Ítalo – apesar de Ítalo gostar de mulheres, ele não teria nem chance – a ideia de que Ítalo não daria atenção para ele como ele almejava o deixou desanimado, mas a lembrança do abraço e do calor que sentiu emanar do outro o deixou levemente feliz.
...
A noite chegou quente, nenhuma nuvem no céu, Ítalo e Susana caminhavam em direção à academia, ela não perdia por nada uma seção de aeróbica e musculação, era praticante e apreciava um corpo malhado e bem forte, e depois convencer seu mais novo amigo, ela queria ele por perto, mas ele não pareceu incomodado em ir a academia fazendo companhia, estava na verdade procurando um pretexto a ir lá, queria encontrar novamente aquele jovem do qual ele sentiu tanta força e desejo, ele tinha lembranças do quanto ele sentiu energias trocadas por ambos, ele sabia que tinha algo que ele precisava descobrir, se era apenas desejo, ou se existia algo mais forte ligando ambos, algo que ele sentira também mais cedo com seu colega. Enquanto caminhavam ele sentia que seu corpo estava diferente, se sentia mais forte, mais receptível, e ao abraçar Douglas, era como se ele lesse os pensamentos do outro como uma página de um livro, e ali ele refletindo, ele tinha a confirmação de que o outro garoto estava apaixonado por ele, ele sentiu o corpo do outro, porem ele não sabia o que fazer, a não ser, procurar sentir Flávio, e ver se ele sentia o mesmo que sentira com Douglas.
Maxuel estava de volta, e notara seu hospedeiro mais a vontade, é como se aquele corpo fosse sua casa a vida toda, ele não sentiu nenhuma rejeição por parte de Ítalo, o que era bom e confortável, mas era um sinal de que as coisas não estavam nada normal, ele continuava preocupado do que poderia acontecer dali pra diante, pois agora tudo era novo para ele, parecia que Ítalo conversava diretamente com, ele, mesmo sem dizer nenhuma palavra, era como se algo o confidenciava ao outro. Era como se ambos fossem um só.
...
NA ACADEMIA...
Ao entrar no grande salão, onde se encontrava todos os aparelhos de exercícios, que Ítalo pode notar o que ele não vira antes ali, o local era bem espaçoso, e bem movimentado, foi ai que ele percebeu a gravidade que seu desmaio pode ter provocado, mas Susana tinha falado que na noite anterior não estava bem movimentado por ser domingo, mesmo assim ele ficou meio intimidado a entrar, mas logo um sorriso veio lhe cumprimentar, era Flávio que assim que viu sua cliente entrando na companhia do garoto problema, correu ao encontro deles. Susana deu logo um oi para seu personaltrainer, e se virou para Ítalo e disse pra ele ficar a vontade, que ela iria logo começar a serie de alongamentos, e ele ficou parado vendo Flávio se aproximar dele parado ainda na porta.
- Olá, como está?
- Oi, estou bem, parece que as coisas estão normalizando. – Respondeu Ítalo com uma cara desanimada, mas o outro ao se aproximar, ele ficou inquieto, sabia que antes ao vê-lo sentia emoções fortes, mas agora parecia normal, mesmo assim ele parecia está ligado ao outro como se tivesse uma força magnética entre os dois, apenas não sabia o que era, mas sabia que não era normal.
— Otimo, cara você me deixou preocupado noite passada, então vai se exercitar também? – Enquanto Flávio conversava tentando ser gentil, olhava o corpo do outro de baixo até a cabeça, seus olhos eram rápidos, experientes, suas mãos mostrava uma completa segurança, ele estava completamente a vontade, seguro de si. Desta vez ele não sentiu mais nenhuma atração fora daquele já estava sentindo a respeito do corpo do outro, pois mesmo sendo um garoto novo, prestes há completar 18 anos, ele parecia frequentador de academia.
— Não, vim só acompanhar minha protetora, ela não quer que eu fique só a noite em casa.
— Sei como a Susana é, você teve sorte de ser encontrada por ela, gente fina, batalhadora. Mas você praticava academia antes, não? Pois seu corpo parece bem trabalhado.
— Sim, você tem um olho bom, eu pratiquei alguns anos, mas já faz uns quatro meses que parei. Na verdade eu estava procurando um emprego, será que vocês não teria nada aqui?
— Olha, na verdade a academia só aceita personaltrainers que sejam formados em educação física, ou que esteja cursando o quinto período.
— Entendo, e eu ainda estou atrasado no terceiro ano, eu sei como é isso, a academia onde eu frequentava também era assim.
— Mas então Ítalo, você já está realmente reabilitado para voltar a trabalhar, você não parece o tipo de garoto que trabalha.
Nesse momento ele ficou meio constrangido, não queria falar que tinha sido expulso de casa pelo pai, por está se atracando com outro garoto, mas também, não podia mentir, não era de seu feitio.
— Bem, na verdade estou saindo de casa, tive um desentendimento com o coroa, e preciso ganhar alguma grana pra ajudar nas minhas despesas, afinal não sei quando volto pra casa, se é que eu volto.
— Nossa cara, que saco, sei como é isso, olha, você tá fazendo a coisa certa em procurar emprego, você vai se sentir bem melhor depois que estiver trabalhando, ocupando a mente, mas então, você estuda pela manhã, né?
— É, e eu não quero mais parar meus estudos, quero terminar logo o colegial, e partir para uma faculdade e mostrar pro meu coroa que eu posso crescer sem a ajuda dele.
Nessa hora Luxael entra pela porta e observa os dois conversando, então segue até eles e fala se dirigindo para Flávio.
— Boa tarde! Desculpe incomodar, mas gostaria de saber se podemos continuar nossa conversa, agora com o seu chefe?
— Claro! Um momento Ítalo, depois continuamos.
— Ok, tudo bem.
Nisso, Ítalo fica observando os dois saindo, mas seu coração não ficou tranquilo, pois o arrepio que sentiu subindo pela espinha, não significava nada de bom, e Maxuel no seu ouvido apenas sussurrava:
“Fique longe dele.”
— Claro que ficarei, não gostei da forma como ele me olhou. – Mas nesse momento ele parou de falar, pois notara que estava falando só, olhou para os lados e viu que ninguém o observava, Susana estava distante já trabalhando, com um bastão de praticar aeróbica. – O que está acontecendo comigo, será que minha cabeça ainda não está boa? Dei para ouvir vozes agora.
Maxuel nada mais falou apenas ficou observando seu hospedeiro falar e pensar só, ele tinha que investigar direito este fato dele de repente ouvir suas palavras com uma voz independente da dele.
...
NA CASA DE DOUGLAS
Douglas sentado na sua cama, depois do jantar, resolveu ficar em seu quarto, queria refletir e tentar digerir tudo direito os acontecimentos daquele dia único em sua vida, pois ao receber aquele abraço de Ítalo ele sentiu que coisas incríveis ainda poderia acontecer, então pegou a toalha que o amigo tinha usado e ficou com ela apoiando sua face nela enquanto se deitava, e pensando como Ítalo tinha os braços forte, diferentes dos dele, e como ele era quente e com um cheiro forte e natural. O rápido relance em que ele viu as coxas do amigo enquanto ele se enxugava foi o suficiente para ele imaginar mil fantasias, mas não foi nem o fato dele ter notado o volume na toalha enrolada na cintura que o animava tanto, mas sim o fato dele está mais simpático do que das outras vezes, mais próximo, e mais receptivo, parecia ser outro Ítalo, o sorriso dele, as olhadas em busca de confidencia na hora em que brincavam com a Felícia, sim, aquele dia fora único, e mostrara um Ítalo que ele imagina existir, mas que ali, em sua casa ele se materializara em corpo e alma. Ele se apoio na toalha, procurando um resquício do seu odor, e ficou ali, deitado, esperando a noite passar e assim poderem se encontrar novamente na escola.
...
A academia ficava no penúltimo andar de um edifício de cinco andares, os outros andares eram ocupados por clinicas de reabilitação, fisioterapias no geral, no andar térreo tinha uma enorme piscina, no ultimo andar, tinha um espaço reservado para alimentação, com uma área aberta e uma vista bem ampla da cidade. Ítalo estava sentado numa cadeira virada para o espaço vazio próximo ao peitoral que separava o topo da queda livre de aproximadamente 18 metros, ele parecia distante, quando uma voz o faz retornar.
— E ai podemos continuar nossa conversa, só não poderei ficar aqui fora, vim tomar um suco, mas se você quiser ficar ai, podemos continuar nossa conversa depois que eu terminar meu expediente. – Ítalo notou malícia na voz do outro, o que o deixou em alerta.
— Tudo bem Flávio, eu vou entrar, hoje não poderei ficar até tarde, quem sabe um outro dia a gente conversa melhor.
— Bem, mas eu tenho uma noticia que talvez você goste.
Ítalo o olhou curioso, imaginava que poderia ser uma oferta de emprego.
— Diga logo, eu não gosto de mistério. – Mesmo parecendo aborrecido, sua face mostrava um sorriso bem brincalhão, amenizando o tom de suas palavras.
— Bem, estava eu e meu chefe conversando e falei sobre você, disse que tinha experiência em academias, e ele concordou em deixar você como um faz tudo por aqui, auxiliando os personaltrainers, limpando os equipamentos, arrumando o que tiver fora do lugar. Entendeu?
— Mas não já tem quem faça isso?
— Pois é, tinha, mas já faz uma semana que o carinha que fazia isso nesse horário da noite, foi embora, e ai, o chefe preferiu por enquanto não chamar ninguém.
— Sério, olha eu aceito sim, e quando eu posso começar?
— Amanha mesmo, mas você venha um pouco mais cedo. Bem, eu posso até de chamar quando eu passar na rua de Susana, eu passo por lá todas as tardes.
— É, eu já notei.
— Sério, você andava me observando?
— Calma, não é bem o que você tá pensando, eu apenas estava na janela quando o vi passando estes dias.
— Sei, bem, mas depois conversamos sobre isso, tenho que voltar lá pra dentro, vai ficar ai?
— Só mais um pouco, vou já ver como a Susana está.
— Ok, mas cuidado com o vento, se não vai pegar um resfriado.
Flávio parecia agir como uma pessoa bem intencionada, no entanto em seu intimo ele fazia planos de se deitar em sua cama abraçado aquele belo rapaz, e agora ele trabalhando perto dele, poderia investir e assim levá-lo aos seus braços.
...
De volta à academia ele se esbarra com Luxael que vai se retirando, mas antes ele ainda investe em seu alvo.
— Flávio, sumiu, nem ficou para ver o fim da nossa conversa.
— Desculpe, mas eu vi que vocês estavam resolvendo tudo direitinho, e eu e my boss já tínhamos conversado antes, assim eu poderia ficar vendo meus clientes enquanto vocês acertavam tudo.
— Ok, mas você vai ficar me devendo uma cervejinha depois.
— Certo, sem problema, quando você quiser. – Flávio nunca deixa passar uma oportunidade de sair acompanhado, mesmo não ingerindo álcool, ele sempre saia e acabava enrolando seus acompanhantes.
— Otimo, mas vem, cá, eu ainda não jantei e já são quase vinte e duas horas, tem algum lugar aqui perto para lanchar?
— Tem, sim, no andar de cima, tem uma lanchonete bem bacana, vá pois eles estão perto de fechar.
— Valeu.
Enquanto Luxael saia, Flávio o observava pelas costas, sabia que aquele homem tinha um corpo perfeito por baixo daquelas roupas, só precisava tirá-las para mostrar toda sua potencia. Ele deveria ter uma senhora bunda forte e bem trabalhada. Mas nessa hora seus pensamentos são interrompidos.
— Oi, tem alguém ai, ou foi junto no rebolado daquele homem? – Era Susana que vinha com sua toalha de rosto secando o suor pelo pescoço.
— Que nada, amiga, eu ando mais calmo em relação a isso...
— Sei, você calmo, tá, esse ai já está no papo...
— Não sei não, mesmo tendo um corpo maravilhoso, ele parece não fazer meu tipo...
— Conta outra Flávio, mas vem cá, você viu meu acompanhante?
— Tá lá na cobertura, olhando o nada, ele parece meio aéreo, mas depois que ele começar a trabalhar aqui amanha, ele retorna ao mundo civilizado...
...
Ítalo, apoiado no peitoral da cobertura, olhava fixamente as luzes distantes, procurando enxergar algo que ele sabia improvável de ser alcançado pelos seus olhos. Sua casa ficava no outro lado da cidade, sua mãe deveria está pensando nele, e seu pai, ele não queria pensar no pai, sentia saudades de seu quarto, sentia saudades de sua casa, mesmo o pai sendo duro, ele sentia saudade deles também. Mas então ele olhava em outra direção, e procurava ver se via seu adorável e novo amigo, pois agora Douglas deixara de ser apenas um colega, ele era seu amigo, ele sentia que agora poderia confiar nele, aquele abraço revelava um outro Douglas, confidente e delicado, e quem sabe até alguém que realmente gostasse dele. Mas sua vigilância é interrompida:
— Olá Max, curtindo a vista?
Ítalo se espanta com aquela voz máscula e penetrante, não era nenhuma voz conhecida, mas seu espanto era mais pelo fato dele se dirigir usando um apelido que só a Susana conhecia, e que fora dela a sugestão. Ítalo se virou e encarou os olhos famintos de Luxael.