Beijar um rapaz bonito como Flávio naquele momento não seria algo do tipo que Ítalo detestaria, ele relutava mais pela voz que o gritava loucamente para ele não ceder ao beijo, mas ele sentia uma força maior, ele parecia sentir todo o desejo louco de Flávio em querer beijá-lo, Ítalo então lembrou do que fizera mais cedo com Douglas na saída do colégio, e então ele notou quê o que estava acontecendo ali poderia ser apenas mais um impulso e que ele já sofrera muito por agir de maneira impulsiva, então forçou mais e conseguiu afastar Flávio, o que deixou o outro sério, mas ao mesmo tempo constrangido pela sua ação inconsequente, pois nunca tinha atacado ninguém em seu ambiente de trabalho, ele se afastou um pouco soltando os braços de Ítalo.
- Olha cara desculpe, sério, não sei o que aconteceu comigo, por favor não fale nada, eu não sei o que aconteceu...
- Tá, tá bom, eu vou pensar ... – Ítalo não sabia nem o que responder, na verdade nem ele sabe como ele conseguiu resistir tanto, mesmo Maxuel gritando, sua vontade era de retribuir aquele beijo não dado.
- Sério cara? Obrigado, prometo não acontecer mais... – Flávio ficou muito nervoso, mas em seu intimo ele gritava de raiva, e ao mesmo tempo ele sorria, pois em breve ele tentaria de novo, pois sentiu em seu assediado, uma vontade recíproca.
Enquanto Ítalo se ajeitava Flávio virou-se para sair do deposito, mas ao invés disso ele ficou parado á porta. Ítalo então notou que ele não saíra.
- O que foi? – temeu que ele retornasse e lhe atacasse novamente.
- É que tive a impressão de que tinha alguém aqui, e quando eu me virei pareceu que ia saindo, mas acho que foi apenas uma ilusão de ótica.
- Então é melhor você se controlar mais e não ficar atacando rapazes bonitos no deposito. – O tom de Ítalo pareceu irônico mas bem descontraído, o que Flávio recebeu como deboche.
- Vá brincando, as pessoas são muito más, elas se aproveitam de qualquer deslize da gente para depois nos chantagear, aconselho você ter mais cuidado, e não sair por ai confidenciando seus segredos a qualquer um. – Ele deu uma pausa e olhou para o relógio. – Caraca, veja a hora, o patrão deve está uma arara procurando a gente.
Os dois saíram quase que correndo em direção ao salão de exercícios.
...
Susana estava se caminhando em direção a lanchonete onde sempre fazia seu lanche reforçado, quando avistou a linda jovem do outro dia, ela estava com um sorriso estampado, seus cabelos loiros e soltos lhe davam um ar sedutor, seus lábios rosados com um batom bem pink claro e molhado devido ao brilho labial. Susana caminhou na direção dela.
- Oi!
- Olá Susana, como está?
- Bem, e você meu anjo. – Ela adorava chamar Catarina de anjo, pelo fato dela ter essa aparência jovial, ser loira, e pele branquinha, e claro, pela idade. Era uma forma dela se manter consciente com sua idade no nível que deveria ser, para algumas pessoas a idade não é importante quando se trata de amor, mas para Susana a idade de uma pessoa poderia influenciar no andamento de um relacionamento amoroso, ela acreditava que a experiência vivida pela outra pessoa poderia ser um fator importante, como Catarina tinha apenas seis anos a menos, significava que ela teria em torno de uns vinte e oito anos, o que a deixava louca de desejo, pois mesmo tendo uma idade boa para ela, e ela ainda confirmando ao verificar o RG dela, sua aparecia era de uma garota de no máximo vinte anos, então elas entraram e foram para a mesma mesa onde tinham conversados uns três dias antes.
- Então Susana, você não me ligou esses dias, aconteceu algo?
- Catarina, que coisa feia, mal nos conhecemos e você já vem fazendo cobranças, nossa...
- Ai Su, desculpe, não sabia que você iria levar tão a serio.
- E não levei, apenas retribui a brincadeira... Olha só, aconteceu sim, estou com um rapaz morando comigo...
- Um rapaz? Espere um pouco, você não é...
- Não sou o que menina?
- Ei Su, sacanagem, não gosto que me chamem de menina... Mas afinal quem é esse rapaz?
A conversa das duas foi breve, até Susana por a parte de tudo. Catarina parecia bem compreensiva.
- Então quero conhecer ele, você me apresenta?
- Claro, você pode ir comigo na academia mais tarde, ou marcar de ir lá em casa depois.
- Na academia não! Detesto academias, mas podemos marcar de sair os três qualquer noite dessas o que acha?
- Você ta me convidando para um encontro a três? Prefiro só nós duas.
- Tá, você decide.
- Ok, mas veja só agora tenho que ir, amanha você aparece por aqui nesse mesmo horário?
- Claro Su. Beijos.
- Beijos!
Susana saiu deixando sua amiga na mesa, e nem olhou para trás, ela não gostava de ficar com meninices. Catarina apenas a observava como se esperasse ela olhar novamente. Mas não, então se vendo só, ela toma um ultimo gole de refrigerante e sussurra, então alguém chega e se senta na cadeira antes ocupada por Susana.
- Olá Phael, alguma novidade? – Perguntou Catarina ao jovem moreno claro com olhos pequenos e cabelos negros próximo ao ombro, lembrando um descendente de japonês.
- Olá Luriel, nós é que esperamos por novidades suas, e ai, quando vai encontrar com Ítalo?
- Em breve, pode falar para Rabbi Kasabel que não deixaremos Luxael roubar mais esse hospedeiro.
- Ótimo ouvir essas palavras em tom tão animador e confiante, mas cuidado, o Luxael ainda não sabe que nós estamos na cola dele, dessa vez Rabbi Kasabel vai por aquele desertor no seu lugar.
- Então se for só isso, tenho que ir para meu trabalho, afinal essa condição de humana precisa trabalhar, até mais Phael.
...
A voz de Elis Regina preenche o quarto escuro, harmoniosamente acompanhada de um violão, a letra de “Carinhoso” despertou Douglas de seu momento reflexivo em que se encontrava deitado olhando o teto mergulhado naquela escuridão, seus olhos não piscavam, mas ao ouvi a chamada do celular com aquele canção tão melodiosa que tinha baixado para seu aparelho a poucas horas, sentiu um arrepio, pois em seus pensamentos Ítalo estava parado olhando para ele com um sorriso encantador. Saltou da cama e ficou olhando o celular vibrar enquanto as palavras melancólicas de Elis penetrava seu intimo, e na esperança de ser o Ítalo ligando-lhe ficou repreensivo, mas vendo que o tempo estava se esgotando, pegou o celular e viu que era apenas Felícia:
- Oi Felícia! – Seu tom não parecia nada carinhoso, pareceu mais aborrecido.
“Oi! O que foi? Parece chateado.”
- Nada não, é que eu estava quase dormindo.
“Sei, uma hora dessas, pensei que estava jantando, mas deixa pra lá, eu queria lhe fazer uma pergunta”
Douglas logo ficou frio, temia algo, sabia que aquele tipo de pergunta sempre estava relacionado a problema, mas então procurou ficar tranquilo.
- Pode perguntar, já tou curioso.
“Então tá, é que eu ouvi um babado lá do colégio e não acreditei...”
- Mas eu sai junto com você, não sei de nada também. – Seu coração ficou pequeno, afinal Ítalo quase beijou ele, ou pareceu, afinal para quem viu de longe a cena foi bem provocante.
“Eu sei, é que tem uma conversa no colégio e eu queria saber se você não sabe de nada, pois esteve com o Ítalo mais tempo do que eu, e de repente ele falou alguma coisa pra você.”
- Felícia fale logo! – Ele cada vez mais nervoso, sentia que ela sabia de algo de seu amigo que ele desconhecia.
“Tá, mas antes quero que saiba que eu estou apenas investigando, não estou julgando ninguém...”
- Fala!
“Estão falando que o Ítalo é gay...”
- GAY!!!! – Sua voz pareceu preencher todo o quarto, seus olhos ficaram vidrados no nada.
“Já vi que você também não sabe de nada, pois é, e alem de gay, foi expulso de casa, pois o pai pegou ele transando com um carinha.”
- Que loucura, essa história só pode ser mentira, o Ítalo não parece nada com gay, e o pessoal diz com quem ele estava?
“Não, na verdade era sobre isso que eu tinha esperança, pois ele parece bem mais próximo de você depois que voltou daquele sumiço dele.”
- Nada, pelo contrário Felícia, ele tem me procurado e a você também pelo fato das atividades, depois que ele sai daqui nem liga e nem dar um sinal de amizade, ou ele liga pra você?
“Pra mim? Que nada amigo, bem que eu queria, agora fiquei triste, pois se ele for gay, eu não tenho nem chance, não é?”
- Olha Felícia minha mãe ta chamando pra jantar, amanha a gente conversa melhor sobre isso, tchau!
“ Tchau, mas se souber de alguma coisa, não deixe de mim contar, beijos.”
Douglas soltou o celular na cama e ficou olhando para a noite que chegava fria, e o céu ainda com um resto de púrpura entre as nuvens carregadas.
...
Próximo ao balcão de atendimento, Uriel estava observando o movimento no salão, quando avistou Ítalo saindo pela porta da entrada em direção a escada de acesso a cobertura, vendo ele sumir, olhou novamente em volta e saiu na direção da lanchonete.
A noite ficava cada vez mais fria com o vento leste que anunciava a chuva que se aproximava alguns horas depois. Uriel logo que pós os pés na lanchonete encontrou Ítalo sentado olhando para o céu iluminado pelas luzes da cidade que se refletiam nas nuvens que a cada minuto se condensavam. Como ele era um anjo dotado de uma beleza fascinante e de uma forte capacidade de criar situações favoráveis, chegou logo ao lado de Ítalo e falou:
- Desculpe, eu sou novo aqui, e vi que você trabalha na academia, então pensei que você poderia me dar uma ajudinha.
Ao vê aquele rosto branco e olhos claros, com uma cabeleira envolvendo todo o contorno do rosto formando uma imagem angelical, Ítalo por um leve instante ficou sem fala, mas logo se recompôs.
- Claro, sente ai, então o que quer saber.
- Na verdade é melhor na hora de praticar os exercícios...
- Mas então você pode procurar o Flávio, ele é um dos personaltrainer, ele é super legal.
Nesse momento chegou a garçonete com o pedido dele.
- Ok, e o Flávio é o seu namorado?
Aquela pergunta fez Ítalo quase se engasgar com a mordida no cachorro quente.
- O quê?
- Desculpe, é que sou meio atirado, é que eu vi você se pegando no deposito, mas foi mau, eu pensei que você era resolvido.
- Cara você é bem direto em, mas vem cá, não parece inconveniente demais não, você chega e já vai se metendo na vida do outro...
- Desculpe de novo, é que da forma como eu os vi, sério, me desculpe...
- Tudo bem, mas nós não estávamos se pegando, foi apenas uma brincadeira dele...
- Tudo bem, também não é da minha conta, mas vem cá se sente bem?
- Claro, obrigado, mas por que perguntas?
- Você parece pálido. Você não tem sentido nada de anormal nestes dias?
“Diga pra ele que você tem ouvido vozes”-Maxuel estava feliz por vê seu companheiro ali na frente, e sem poder gritar para ele sem que Ítalo desconfiasse de algo mais estranho do que já estava, seu estado era puro desespero, queria poder dizer a Uriel que não conseguia sair de seu hospedeiro. Já Ítalo parecia confuso, não entendia por que um estranho fazia-lhe perguntas como se ele soubesse algo a seu respeito nestes últimos dias. Mas vendo que a voz que sempre soube lhe guiar de maneira benéfica lhe aconselhava a dizer a verdade, resolveu dar mais um voto de confiança. Pensou rápido e preferiu pagar e ver até onde aquele jogo iria.
- Na verdade foi interessante você fazer esta pergunta, não sei como lhe dizer, e mesmo correndo o risco de você me chamar de maluco...
- Desculpe, você nem me conhece, é que eu tenho essa mania... Mas pode me contar, prometo não ri e nem pensar nada de novo.
- Bem, eu tenho ouvido vozes.
- Em sua cabeça?
- Sim, como se tivesse alguém dentro de mim me dizendo o que dizer, parece uma loucura.
- Estranho, mas você não acha que seria apenas o seu consciente?
- Não, no inicio eu achei também, mas depois notei que a voz ficava mais nítida, e uma coisa estranha, bem mais estranha, é que quando eu comecei a falar com ele, se é que é ELE, simplesmente as vozes pararam, parece que agora só vem quando estou num momento de conflitos como agora.
- Nossa esse papo ta ficando sinistro, mas então você ouviu a voz agora, e ela disse o quê?
- Disse para eu lhe responder.
- Então essa voz sabe que estou com você, e o que ela disse mais?
- Está calado, espere – Nesse momento Maxuel vibrou de alegria, era o momento certo de avisar de sua situação para Uriel.
“diga apenas que a luz não consegue ir a elevação”
- O quê? – Ítalo pareceu incrédulo de ante daquelas palavras sem sentido, mas falaria da mesma forma. -Parece coisa de louco, mas ele disse para dizer que a luz não pode, ou não consegue, uma coisa assim, ir a elevação, não sei o que significa, mas foi isso.
- É, realmente você ta com problema, você já foi a um conselheiro espiritual, eles são muito bons nisso.
- E onde eu encontro um desses.
- Numa Igreja, claro, são o que vocês chamam de Padres, eles são, ótimo. Bem, olha só, eu tenho que ir agora, mas depois a gente se encontra de novo. Um abraço e obrigado pela companhia e pela informação.
Uriel saiu deixando Ítalo sem ação, parecia perdido, não entendera nada, então escutou uma voz lhe chamando:
- Ei rapaz, vamos voltar pro serviço, se te pegam ai, já no primeiro dia, não vai ser nada bom. – Era Flávio que acabara de chegar.
- O quê? Ah, é você, eu estava conversando com um cliente novo, ele deve ir te procurar.
- Quem? Não vi ninguém novo hoje aqui. Como é o nome dele?
- Agora que você perguntou, não perguntei. Estranho, tem certeza que você não o viu, saiu daqui agora, você deve ter passado por ele.
- Não vi ninguém, vai ver era algum admirador seu.
Os dois voltaram para a academia, e Ítalo ficou lembrando-se do jovem, de sua beleza e de como era simpático e agradável conversar com ele.
...
Vendo a chuva lavar as ruas negras naquela noite fria, Sasael espera o retorno de Uriel, que chegou irradiando sua luz espectral amarela, sua forma humana parecia mais radiante em sua forma espiritual. Se apresentou com suas formalidades e apresentou seu relatoria.
- Então é isso, realmente aconteceu o que ele nos disse, Obrigado Uriel, pode prosseguir com sua observação, mas de longe.
- Mas Rabbi Sasael, e se eu ficasse na terra, perto dele...
- Uriel, o que aconteceu na sua visita a terra, não me diga que você ficou afetado pelo jovem?
- Não Rabbi Sasael, como eu poderia... Perdão, estou indo.
Ao ver o sentinela sair, Sasael ficou preocupado com a situação de Maxuel preso no corpo sem saber como sair. Resolveu então procurar Atanael, ele poderia ajudar.
...
Ao se despedir de Flávio, Ítalo o observou por uma ultima vez, e Flávio ficou apenas o observando sair na companhia de Susana, e com sigo ele apenas pensava em como foi inconsequente atacando ele, não era assim que ele agia, mas depois de ficar tão perto de beijá-lo uma sementinha ficou germinando em seu peito, um desejo de tê-lo apenas ganhava forma, e ele não sabia como controlar, apenas queria vê-lo o mais rápido possível.
...
Ítalo deitado na cama, estava sem entender como sua vida chegou naquele estado: Seu pai sem falar com ele, sua mãe sem poder ficar perto, o cara que parecia gostar dele virou lhe as costas, uma voz que não saia de sua cabeça, e agora um outro jovem que parecia ser o cara certo estava se mostrando interessado, mas tinha o seu outro amigo que pareceu está envolvido com ele, pelos mesmos sentimentos, Douglas parecia o cara ideal para ele, e tinha a verdade nos olhos em relação aos sentimentos, mas como saber qual o certo. E nesse momento de reflexão, seu celular vibra na banqueta.
Ele olha, e vê que o numero está no modo privado, mesmo assim atende.
- Alo! Quem é?
- Oi, é a Felícia.
- Oi, diga Felícia, o que deseja?
- Olha Ítalo, nem sei como te dizer isso, mas... Não, é melhor eu não contar, desculpe ter ligado pra ti a essa hora...
- Nem vem Felícia, pode contar, você não vai me deixar na curiosidade, pode contar, é sobre mim?
- Sim, Ítalo, e acho que você deveria saber antes de ir pro colégio amanha, mas o pessoal ta falando que você é gay, e que você deu um beijo no Doug.
- O quê? Que loucura... Quem anda espalhando isso?
- O pessoal, e sobre o beijo, bem muitos viram, mas eu não estou acreditando nessa história...
- Claro né, e eu beijando o Doug, não foi um beijo, eu apenas abracei ele por motivos de agradecimentos, e amizade, que povo mais sem noção.
- Foi o que eu pensei, mas olha tenha cuidado com o Doug, ele é meio fraco, esses dias eu o notei suspirando por você.
- Meu Deus eu não sabia que ele era assim, olha valeu Felícia. Um beijo e boa noite.
Agora no quarto de Felícia, ela simplesmente se deitou com a cabeça entre os travesseiros e ficou sorrindo.
....
continua..