Douglas sorria, seu olhar brilhava de felicidade, sentia que tudo ficaria bem, tinha feito algo que há muito tempo desejava, ajudar a pessoa que mais tinha lhe ajudado, mesmo achando que o fato de ter jogado uma banda de tijolo sobre o galpão não seria a melhor forma de pagar suas dividas com Ítalo, mas sabia que poderia voltar para casa aliviado, pois a ultima vez que viu os dois, estavam saindo de carro em direção ao centro, sabia que o tal do agente não tentaria mais nada com seu amigo.
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2º ANO DO ENSINO MÉDIO
Caminhando em direção ao lado inferior do colégio, onde geralmente fica esquecido dos alunos, Ítalo segue sua rotina, viver isolado era sua escolha, não gostava de ficar fofocando com seus colegas, não gostava de falar sobre coisas triviais a sua idade, foi assim no primeiro ano, e seria assim no segundo ano, mesmo fazendo trabalhos em grupo com seus colegas mais chegados, sentia que sua relação com eles não passaria disso. Avistara um grupo de garotas, que sempre o abordavam, conhecia já o esquema, não precisava se exibir, não precisa de artifícios para pegar uma garota, elas vinham até ele, e ele ficava, como nunca ia além de uns amasso ganhara também a fama de ser um metido, mesmo assim continuava sendo assediado.
Caminhando, passou pelas garotas, e foi direto para seu lugar preferido, um banco velho, e esquecido, ali ele se sentia único, e ele mesmo. Mas naquela manhã, sua paz foi interrompida, ou viu gritos abafados, apreçou os passos, e ao dobrar a esquina do prédio, viu dois rapazes com seus órgãos rígidos tentando socar na boca de um terceiro que estava sendo imobilizado por um quarto rapaz que ria.
- Vai seu nerd gay, chupa... – Dizia um a esquerda segurando seu pau enquanto esfregava na cara do outro.
- Abra a boca seu bosta, assim o intervalo vai acabar e você não bebe nosso leitinho. – Dizia o outro da direita, também com seu pau apontando em direção à boca do jovem.
- Acho que ele ta com vergonha pessoal, que se a gente amordaçá-lo? – Falou o terceiro que segurava.
- Acho melhor vocês soltarem ele e caírem fora... – Disse Ítalo com uma voz séria.
Os três agressores olharam surpresos e pálidos.
- Ei cara, estávamos só brincando com este Mané, não conta nada não. – Disse o da esquerda.
Soltaram o jovem, e saíram correndo, mas antes de sumirem, Ítalo ainda falou.
- Acho que ta na hora de deixarem ele em paz, não acham?
- Cê manda, foi a ultima vez. – o medo maior dos rapazes era saber que Ítalo era popular entre as meninas, se por acaso ele abre a boca, eles nuncamais sairiam com nenhuma menina do bairro, afinal fama de estuprador de garotos não é melhor do que de garotas. Mas Ítalo também sabia que seria melhor ficar calado do que provocar a ira deles, eles entenderam o recado, e o recado foi retornado com um acordo, cada um ficaria calado e eles manteriam a palavra de não mexerem mais com o jovem ali chorando no chão.
- Vejo que você continua andando de cabeça baixa, até quando vou ter que te ajudar Douglas?
Chorando e sem erguer a cabeça, Douglas responde.
- Obrigado! Obriga... – seu choro embalou uma sequencia de soluços que interromperam suas palavras...
- Olha vou deixar você ai se recompondo, acho que agora eles não vão mais mexer com você, então se cuida. – Ítalo mesmo tendo apenas um ano a mais, se mostrava bem mais maduro e resolvido do que seu colega, antes dele dobrar a esquina, Douglas fala.
- Ítalo, espere...
Parando, e sem olhar pra traz, falou.
- Você já agradeceu.
- Não, espere, quero te fazer uma pergunta.
- Diga.
- Por que você sempre acaba me ajudando, se você nunca procurou firmar amizade comigo nem com a Felícia, se nós sempre acabamos fazendo trabalhos juntos... Por que, você se afasta da gente?
- Não sei, sempre fui assim, coisa minha.
- Acho que você na verdade não gosta da gente, e apenas aproveita nossa ajuda...
Voltando alguns passos, Ítalo olha diretamente nos olhos de Douglas.
- Não seja bobo, vocês são os colegas que chegam o mais próximo do que eu chamaria de amizade, vocês são legais. E se eu te ajudo, é porque não gosto de covardia, e também, tenho que proteger aqueles que me salvarão a concluir o ensino médio, se não minha mãe me mata. – Por um instante, ele mostrou um sorriso.
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ATUALMENTE NA CASA DE FELÍCIA
Ao chegar em casa depois do almoço com Margarida, Felícia, procurou se recordar dos primeiros dias daquela semana conturbada, ela lembrava de que Ítalo andou conversando com Rodrigo, e pelo que pareceu não foi nada agradável, pela primeira vez em quase três anos Ítalo se mostrara inseguro e controverso com suas atitudes, mesmo ele nunca se abrindo para ela e Douglas que eram os colegas mais próximos a ele, com o tempo deu para compreender um pouco de seu comportamento excludente, mas aquela volta as aulas depois de uma semana sumido, parecia que muita coisa tinha mudado, principalmente no que se diz afetuosidade. Notara que seu relacionamento com Douglas tinha melhorado visto que ele nunca parava para conversar com ele se o assunto não fosse marcar o horário do trabalho. Queria saber quem era que estava com ele no quarto no dia em que o pai dele o flagrou com outro aos beijos, ela só listava apenas dois, e a ligação que receberia em segundos confirmaria suas dúvidas.
- Olá Margarida.
“Olá Felícia, estou ligando para dizer que não é o rapaz da foto...”
- Obrigado, infelizmente eu já suspeitava, vou agora procurar descobrir se realmente havia algo entre Ítalo e o outro...
“Minha filha, me mantenha avisada também, quero muito tirar essa dúvida.”
- Ligo assim que souber de alguma novidade, até mais.
Felícia sentiu um arrepio ao confirmar de que o único agora possível, e mesmo quase que duvidoso também, de estar com Ítalo naquele dia, seria Rodrigo. Não esperou mais e ligou para ele.
“Oi Felícia, o que deseja?”
- Olá senhor simpatia, como vai?
“Diga, o que foi? Você nunca liga pra mim se não for para marcar encontro de trabalho...”
- Não dessa vez. Queria fazer uma pergunta bem séria.
“O que poderia ser tão sério?”
- Você e o Ítalo ficaram?
“O Quê?!”
- Não precisa se espantar, eu já estou sabendo que o pai dele pegou vocês dois se pegando sem roupa, e foi por isso que ele foi expulso de casa.
Felícia não obteve resposta, apenas um silencio, no outro lado da linha, se encontrava um pálido Rodrigo. Percebendo o silencio denunciador, Felícia instiga.
- Pode falar Rodrigo, mesmo parecendo uma garota que adora movimento, não serei eu que porei seu nome na rua, me responda...
“Aquele... Que merdinha, foi contar logo pra você...”
- Então é verdade!!! Vocês já vinham ficando, ou foi você que induziu ele a isso?
“Olha, antes de mais nada, eu não sou gay, entendeu? Não vá pensando que sou gay, não sou gay tá Felícia?”
- Então conta pra mim o que foi que aconteceu no quarto dele...
“- Na verdade nós não estávamos nus – mentiu – o pai dele pegou o Ítalo dando um selinho em mim, ele me pegou de surpresa...”
- O Ítalo roubando beijo seu, isso não é estranho? Tanto ele, quanto você tem fama de pegadores no colégio... E sempre que nos reunimos para fazer trabalho nunca notamos nada entre vocês dois, no máximo Ítalo conversava com você mais do que com a gente, e olha que estas conversas eram de poucos minutos...
“Então você andava vigiando o Ítalo... Espere, você gosta dele... Meu Deus, e eu nunca notei.”
- Não mude de conversa, me diga sem enrolação, e esse assunto morre aqui. Fale, você e o Ítalo já vinha ficando?
“Olha Felícia, foi só esta vez, como eu já falei, não sou gay – sua voz parecia meio alterada e nervosa – eu estava com ele no quarto olhando umas revistas das quais nós gostamos, que de repente ele me agarrou e me beijou na boca, tentei me soltar, mas então o pai dele entrou e imagino que a cena foi forte pra ele. Agora, notei que ele já vinha me segando, mas nunca imaginei que fosse capaz de tal atitude, olha me tire dessa, se ele é gay ou não, isso eu não posso afirmar, e nem quero saber...”
- Mais alguma coisa, e a conversa de vocês na escola...
“- Já vi que tou com cara de mau, eu também fui pego de surpresa, depois que ele voltou do seu sumiço, nós conversamos e ele me pareceu bem afetado querendo que eu assumisse namoro com ele, e eu me senti assustado, pois eu não namoro com garotos, não sou gay, então ele ficou aborrecido e não falou mais comigo desde então, é só isso que tenho a dizer.”
- Ok, Rodrigo, bem não era bem isso que eu esperava, mas vou dar um credito pra você, e não se preocupe seu segredo fica enterrado.
“-Valeu, e por favor não fale mesmo pra ninguém...”
-Fica tranquilo, obrigada.”
Ao desligar o telefone, Felícia ficou refletindo as ultimas informações, ficou parada, não queria acreditar no que tinha ouvido, Ítalo gay, não era bem o que seu coração pedia. Ela olhou em sua volta, parecia aborrecida, algo lhe incomodava, estava agitada. Pega seu celular e vai em contatos, clica e espera a ligação completar.
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- Olá Flávio!
“Oi Susana, olha já é noite e o Ítalo ainda não apareceu para trabalhar, ele está ai?”
- Não, também estou preocupada, se ele aparecer por ai me liga, não vou malhar hoje, vou ficar em casa esperando ele. Tchau.
Ao desligar o telefone, Susana olha em direção ao sofá, onde se encontrava com um copo de refresco na mão, Catarina.
- Era meu amigo da academia, procurava o Ítalo. Estranho, ele saiu mais cedo para fazer uns testes fotográficos e não apareceu ainda.
- Realmente, geralmente estes testes não levam a tarde toda, vai ver ele foi visitar os pais...
- Não, isso não, infelizmente só tenho que esperar, o celular dele parece desligado, sabe, eu me preocupo com ele, nem sei se isto é normal...
Catarina se levanta e vai sentar ao lado de Susana, põe o copo na mesinha e fala olhando pra ela.
- Calma, ele deve estar bem, afinal noticias sempre chegam na frente. - E sorrir maliciosamente enquanto ajeita os cabelos da outra para traz. Susana parece tensa, era a primeira vez que Catarina tomava essa iniciativa nos últimos dias. – Ele vai aparecer, se não, amanha você procura as autoridades, afinal tem o prazo das 24 horas, não?
- Sim, mas é que ele estava tão satisfeito, e nem sei se ele estava só com este agente dele, ou se tinha outras pessoas envolvidas, é fora do normal, não acha?
- Sim, mas muitas coisas podem estar acontecendo, espere mais um pouco, eu fico com você, se você desejar é claro.
- Por favor, fique, acho que não vou segurar meus nervos se ficar sozinha.
- Pronto, estou aqui.
Então abraça Susana, envolvendo-a, Susana sente um calor fora do normal, mas no momento em que olha para Catarina esta já ia de encontro aos seus lábios.
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NUM PLANO ASCIMA
Um sentinela entra se materializando em luz esverdeada, se dirige para Sasael.
- Rabbi, desculpe a demora, mas o meu hospedeiro teve que retornar para sua casa, ele fez tudo que podia, dessa forma não sei informar o paradeiro de Luxael e o jovem.
- Entendo, Davidriel, continue fazendo seu trabalho, sabemos onde ele se encontra, os arcanjos de Atanael o seguiram, vamos resolver em instantes, até Maxuel continua bem, não foi preciso ainda seu sacrifício. Sim Rabbi, eu sinto uma força muito grande quando chego perto dele.
- E o que você sente mais, meu jovem sentinela?
- Ele não parece humano.
- Pode ir, obrigado, me mantenha informado.
Quando o sentinela some, Sasael olha em direção a Terra com um sorriso de satisfação.
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NA CASA DE DOUGLAS
Desde que chegara Douglas não saíra de seu quarto, estava sentado na cama de frente para o celular. Não conseguia pensar em nada, não quis jantar, uma vez e outra se levantava ia até a janela e olhava persistentemente para o fim da rua, parecia esperar Ítalo aparecer a qualquer momento, e logo voltava para a cama. Sua viagem de volta depois de sua ação, foi de alívio, mas ao chegar em casa sentiu uma enorme aflição e angustia, junto com arrependimento, pois era para ter seguido os dois, mas agora ali só lhe restava esperar. O celular toca, ele pula e olha, é Felícia.
- Felícia, desculpe mas eu não posso atender agora, te ligo depois.
Não espera ela falar. O celular toca novamente, é ela novamente.
- Felícia, desculpe mas não ...
“ Espere Douglas é sobre o ...”
- ...não dar mesmo.
Desliga e fala para o celular.
- Vai que o Ítalo liga mesmo na hora... Não posso arriscar.
...
NA ACADEMIA
A noite segue calma no restante da cidade, na academia Flávio estava se preparando para sair depois que arrumou tudo sozinho, tarefa que já se acostumara a dividir com Ítalo, quando ele sente alguém se aproximando por traz.
- Me ajude...
Aquela voz, mesmo estando rouca e falha, Flávio não poderia deixar de reconhecer mesmo antes de ver seu estado. Seus olhos se arregalam e grita.
- Ítalo!!!
...
continua...