ALGUNS MESES ANTES
O banheiro do colégio estava vazio quando Ítalo entrou para urinar. De costas para a entrada ele apenas ouviu que alguém tinha entrado e se dirigia para o lado dele. Naturalmente ele olhou de lado, quando percebeu que era Rodrigo que estava descendo o zíper das calças e pondo pra fora seu pinto relaxado, a olhada foi rápida para notar o tamanho e despertar lhe desejo. Rodrigo não fora rápido bastante para notar o colega secando seu pinto, mas notara que o outro estava meio de lado.
- E ai, já terminou o trabalho de química...
Notando que o colega tinha puxado assunto só por nada, completou.
- Não senhor, estou esperando sua parte. Que por sinal já deveria ter entregue.
- Sério, eu nem tinha percebido o tempo... ele sacode o pinto mole enquanto olha pra parede, e Ítalo olha os movimentos do órgão que pareceu ficar maior e mais vivo. Olhada que deixou Rodrigo perceber o amigo babando.
- Então Ítalo ainda tem aquelas revistas?
- sim, claro que tenho...
- Não se esqueça de convidar-me qualquer dia desses.
- Quando você quiser. Fechou o zíper e saiu sem lavar as mãos.
Ítalo ainda parado, fechou o zíper, e foi a pia, quando estava lavando as mãos escutou passos se aproximando, esperou mais um pouco e viu Douglas entrando...
- Oi! – Disse meio tímido Douglas, da mesma forma como sempre ficava na frente de Ítalo, mesmo depois de bastante tempo ele sempre agia de forma tímida com a presença do amigo.
- Oi Douglas, e ai, como vai o trabalho de Química? – Lembrou de Rodrigo.
- Eu e a Felícia já terminamos nossa parte, e você com o Rodrigo vão entregar a parte de vocês quando? – Enquanto falava se dirigia aos vasos para urinar.
Ítalo o observou de costas quando ele se ajeitava, dava para notar os movimentos de abrir a calça e tirar o penes, ficou meio desapontado por não vê-lo, mas em compensação observou a traseira redonda e firme do amigo que quando caminhava meio que rebolava, logo ficou vivo e esperto dentro de suas calças o seu falo, Ítalo mesmo nunca tendo saído com um garoto, compreendia seu desejo por outros do mesmo sexo, ele não mais fica envergonhado de se mesmo, ele apenas observava e imaginava tendo relações homoeróticas. O que faltava era uma atitude de enfrentar seu medo, o medo de ser rejeitado, a rejeição em si não era o problema da questão, pois as garotas sabem rejeitar, mas o seu medo era justamente se apresentar como ele se sentia realmente e ser rejeitado, desta forma ele continuava virgem, virgem de garotas e de garotos, desejava muito conhecer o sexo como ele conhecia nos vídeos onlines... queria sentir o sabor de beijar outro cara, de pegar num penes que não fosse o seu, de sentir em sua boca o sabor do esperma; de sentir seu mastro fodendo enquanto ele masturbava o outro; e queria sentir o prazer de ser possuído com gosto. Ao olhar Douglas ali, vendo o quanto ele era legal, um bom colega, e depois lembrando de Rodrigo, vendo como ele era másculo, dava uma tontura em imaginar se deitando com ele, e depois como seria bem mais fácil se fosse com Douglas, que aparentemente poderia ser como ele, ter os mesmos desejos. Mas como chegar até eles sem que ele denunciasse suas reais intenções, pois tudo poderia ser o oposto, eles se espantariam e falaria para os outros colegas, e então ele não saberia onde se esconderia pelo resto de sua vida. Olhando para Douglas, ali de costas, sabia que ele era um cara especial, que poderia realmente contar com ele, era o amigo que sempre quis ter, um amigo que ele não deveria ter, não conseguiria manter essa amizade sem que fossem mais longe.
Douglas se vira e encontra Ítalo parado olhando pra ele.
- Oi, tem alguém ai?
- Desculpe, acabei lembrando que estou completamente ...
- Sim...
- Atrasado com o trabalho, valeu por lembrar...
Enquanto Douglas caminhava para a pia Ítalo saiu correndo.
- Mas foi você que falou no trabalho... – Vendo que o outro não escutou, ficou falando só. – Nossa que estranho, mas bem que poderia ficar mais um pouco... – Douglas sempre fora salvo por Ítalo, e cada vez mais crescia em si um amor temperado com paixão pelo colega, mas como ele sabia que Ítalo era o queridinho das meninas, ele sempre estava com elas, e que só o procurava na hora de fazerem os trabalhos, sabia que era perda de tempo se envolver emocionalmente, afinal como ele iria se declarar para um cara que só saia com mulheres e que só falava com ele nas reuniões de estudo, e somente, salve as vezes que ele o salvava. Não, definitivamente, Ítalo nunca iria olhar pra ele com outras intenções, isso ele imaginava piamente. Só uma coisa Douglas mantinha viva, a ideia fixa de um dia salvar Ítalo e pagar todas as vezes que foi ajudado por ele, e mostrar que ele também é capaz e mostrar seu afeto, e assim quem sabe ele não aceitaria sua amizade.
...
NA CASA DE FELÍCIA.
Ítalo tinha acabado de chagar com Flávio e Susana, os três estavam sentados de frente para uma Felícia preocupada.
- Felícia, você disse pelo telefone que ele não voltou pra aula depois do intervalo, você estava com ele? – Perguntou Ítalo se mostrando calmo.
- Sim, nós estávamos no nosso lugar de sempre, lá no pátio, estávamos conversando, melhor dizendo, eu estava, ele parecia preocupado, não sei, mas nem olhava pra mim direito, não tirava os olhos da entrada, parecia esperar... acho que ele esperava você Ítalo.
- Eu?
- É, ele está muito ligado a você... Mas quando o sinal tocou, eu sai, e ele disse que ia logo depois, mas ele não apareceu mais. E o celular dele não recebe chamadas, parece desligado ou fora de área... Também já falei com a mãe dele, ainda não apareceu em casa, e ela está aflita.
- Isso é estranho mesmo, será que não foram os garotos da escola, aqueles que gostam de trollar com ele?
- Não, aqueles babacas estavam no colégio o tempo todo.
Enquanto Ítalo investigava os detalhes, Felícia observava Flávio, seus olhos procuravam cada detalhe que poderia denunciar qualquer envolvimento mais intimo com Ítalo, e assim confirmaria as suspeitas de Douglas. Mas ao fim da visita ela não pode constatar nada, apenas um comportamento amigável.
...
Já no apartamento de Susana. Ítalo parecia angustiado, o que deixou Flávio curioso.
- Parece que você gosta muito desse garoto, não?
- Ele é um amigo muito legal... – Ítalo mesmo notou suas próprias palavras. – “um amigo muito legal, um amigo, amigo” e a voz que vinha de seu intimo, repetia constantemente “um amigo, amigo, amigo”. – Desculpe pessoal vou ao banheiro.
- O que foi? Se sente mal? – perguntou Susana já se pondo de pé.
- Não, tá tudo bem, vou tomar um banho e já volto.
No banheiro de porta fechada, Ítalo olhava fixamente para o espelho parecia procurar algo lá dentro, mas nada via além de seu rosto pálido. Um rosto que ele mesmo desconhecia, seria ele ali de frente para o espelho? Ele sabia que tudo estava diferente, e sua amizade com Douglas estava seguindo um caminho que não teria mais voltas, eles estavam cada vez mais próximos e isso dificultava tudo, ele sabia que a responsabilidade de manter uma amizade seria duro para ele, contudo ele também sabia e sentia sem nenhuma arbitrariedade de que ele estava gostando realmente de toda essa mudança, principalmente da companhia de Douglas. Seu coração começou a acelerar, seu corpo começou a ter um aumento de temperatura fora do normal. Ítalo estava ainda de frente para o espelho quando tudo começou a clarear como se luzes fossem ascendendo intensificando a claridade ao ponto de tudo ficar branco e ele não conseguir manter os olhos abertos.
...
Rabbi Atanael – Se apresentou uma luz de coloração verde azulado para branco. – Foi registrado uma mudança espectral no hospedeiro de Maxuel, nada foi encontrado em nossos registro, uma atividade fora do normal e incompreensivo para nossas leituras, esperamos vossa ordem.
Atanael não fez nenhuma mudança com seu corpo físico que o mantinha sempre, estava a olhar diretamente para as nuvens num plano mais abaixo, como se olhasse para um ponto especifico na Terra, e assim respondeu ao sentinela, sem se virar e nem piscar.
¬- Compreendo, mas por enquanto não podemos fazer nada, temos que manter a ordem e a segurança, a esta altura só podemos fazer uma coisa, sacrificar nosso companheiro, e salvar o humano, assim, vamos esperar e ver no que tudo isso vai dar, não podemos simplesmente descartar que algo novo e incrível está acontecendo, temos que registrar tudo e manter a descrição, ainda tenho esperança de que Maxuel vai resolver tudo isso.
O espectro luminoso manteve silencioso até receber a ordem de retirada.
...
- Ítalo está demorando, você não acha... – Mesmo antes de concluir sua pergunta a Susana, Flávio escuta um barulho vindo do banheiro o que os faz correrem para o banheiro, encontrando a porta trancada. – Ítalo! Tudo bem? Flávio perguntou aflito.
- Ítalo, destranque a porta, não vamos entrar, mas por favor deixe destrancada. – sugeriu meio que ordenando, uma Susana preocupada.
Mas nessa hora se escutou o trinco da fechadura estrala e logo depois a porta se abrir, e lá estava ele, todo molhado, com a toalha enrolada na cintura. – O que foi pessoal?
- O que foi, escutamos um barulho, como se você estivesse caído por cima de tudo ai, tá tudo ok. – retrucou Flávio meio inseguro e aborrecido.
- Desculpe pessoal, não notei que o barulho tinha sido tão alto ao ponto de preocupar vocês, foi apenas uns recipientes sobre a pia que caíram, coisas de quem é atrapalhado como eu.
- Só foi isso mesmo? – Susana parecia séria e com um ar de duvida.
- Tudo pessoal, agora vou me trocar, e já volto. – seguiu para o quarto onde entrou fechando a porta em seguida.
Dentro do quarto, Ítalo foi ao espelho e ficou tentando olhar suas costas como se procurasse algo lá, mas nada além de suas costas com uma pele branca e lisa. Mas em seu intimo se encontrava um Maxuel aflito ponto para explodir:
“Como isso foi acontecer? O que está acontecendo que ninguém me procura para esclarecer, como é possível aparecer asas num mortal, em toda minha existência nunca ouvi falar que um hospedeiro fosse capaz de conjurar asas. Tenho que entrar em contato com Rabbi Sasael, e se eu deixar de existir... Não, posso pensar nisso, em primeiro lugar a vida do hospedeiro” – Que droga!! - sua fala sai alta e em bom tom fazendo Ítalo pular.
- Agora chega, não quero mais saber se estou ficando louco, ou outra coisa, sei que tem alguém dentro de mim, se revele ou saia de mim, não suporto mais.
Maxuel ficou mais assustado do que o próprio Ítalo ao ver a reação dele, claro que ele entendeu que não era nada de consciência ou coisa parecida, ficou bem claro que Ítalo realmente o escutava como se fossem separados e únicos. Mas ele também não sabia como reagir naquela situação inédita nas histórias angelicais de um humano escutar a voz de um anjo.
- Anda fale de novo quero escutar de novo, o que você é? Um fantasma, um espírito ou um demônio?
- Nenhum dos três.
- Droga! Droga! Me diga que não estou ficando louco.
- Você não está louco, mas eu não creio que você continuará sã depois de saber a verdade.
- Depois de ver asas surgirem nas minhas costas lá no banheiro e agora você me respondendo, acho que não dar mais pra ficar louco... Vamos pode me dar o alivio da verdade.
- Tudo bem, mas antes quero que saiba que tudo isso não foi planejado.
- O quê que não foi planejado?
- Essa parte em que eu converso com você. – Maxuel sabia que tinha que fazer algo, se não sua missão estaria perdida, mas também sabia que não poderia revelar diretamente de sua boca sobre a existência do mundo celestial e assim dos seres de luzes. Então a melhor forma de falar a verdade sem contar muito seria deixar o próprio hospedeiro compreender tudo.
- Escute Ítalo, não posso falar quem sou nem o que estou fazendo aqui, apenas quero que escute bem, os humanos estão sujeitos a influencias boas e ruins, mas cabem a vocês decidirem o que querem seguir, ou não, sempre há três escolhas ou mais, nunca duas. Estou aqui para te ajudar a escolher as corretas, nesse momento estamos passando por uma situação fora do normal, pois não era pra você está falando comigo, bem , não posso esclarecer tudo, mas não poderei ficar falando com você, tenho medo que possa falar o que não devo. Por isso, só peço que não se dirija Amim, até tudo está resolvido.
- Você tem medo... Engraçado, estou aqui falando com alguém dentro da minha cabeça e você vem dizer que está com medo, e do que seria esse medo?
- Medo de nós dois não sobreviver ao final destes dois dias, ou melhor, até sábado a noite.
- O que acontece sábado a noite?
- Eu devo deixar seu corpo se o seu agente não conseguir possuir você até lá.
- Espere, estou ficando confuso, como se fosse possível ainda ficar pior... ok. Já entendi que você não pode falar muito, mas eu preciso saber de principalmente sobre o que tem meu agente publicitário com tudo isso.
- É ele que estava lhe enganando, pondo imagens em sua cabeça, se passando por seu amigo Flávio, ele quer possuir você, para melhor dizer, tomar seu corpo para ele, e pra isso ele precisa de duas coisas: um jovem promíscuo...
- Um o quê?
- Um jovem que faz sexo com várias pessoas sem ter ligação afetiva, no caso seu amigo Flávio, e um jovem virgem que não tenha completado dezoito anos, no caso você.
- Então, este segundo não sou eu, já tenho dezoito anos, estranho você não saber disso.
- Na verdade você completa dezoito anos manhã ás vinte e uma horas.
- Não, você está enganado...
- Você pulou uma semana de sua vida e o que conta não é o calendário humano, mas o seu espiritual, e creio que o desaparecimento de seu amigo Douglas tenha a ver com tudo isso.
- Você quer dizer que o meu agente raptou Douglas... Mas pra onde?
- Infelizmente não tenho como saber, mas podemos nos ajudar, só não fale para ninguém sobre mim, ou você será tachado como louco.
- Essa parte eu entendi muito bem, então, o que devo fazer?
- A primeira coisa é certificarmos se seu amigo foi realmente levado pelo seu agente e ai depois procurar nos lugares possíveis.
...
Depois de algumas tentativas infelizes de falar com Douglas pelo celular, Felícia procurou falar com alguns possíveis colegas, ou até mesmo com alguns parentes dele mais próximo, mas continuava um mistério seu desaparecimento, ela parecia meio perdida em seu quarto, mexia em suas coisas como se procurasse algo, mas se notava que nem ela mesmo sabia o que era, provavelmente procurava alguma pista onde ele poderia ter ido, o relacionamento deles permitia certas confidencias, entretanto, Douglas não era o garoto que fala tudo para ela, mesmo ele demonstrando alguns sinais característicos de garotos que só andam com meninas, ele procurava manter-se discreto quanto a sua liberdade de pensamento e atitudes que não estariam ainda prontas a virem em publico, pois nem ele mesmo saberia se sua sexualidade estaria resolvida. Assim Felícia desconfiava, mas como o amigo nunca lhe revelou nada que pudesse confirmar suas suspeitas ela apenas aceitava e não se metia, afinal ela sabia também manter suas amizades, e por isso descobriu que não sabia muito sobre o amigo além do que era básico e normal no seu convívio diário. Estava de mãos vazias. Então lembrou que talvez Ítalo já tivesse alguma noticia.
...
O galpão onde a menos de um dia parecia um cenário ideal para um estúdio fotográfico, agora parecia abandonado, Ítalo desceu do carro desconfiado, parecia não reconhecer o local onde fora participar do ensaio fotográfico com seu agente. Flávio e Susana saíram logo depois e se juntaram ao amigo que estava parado olhando em volta.
- O que foi Ítalo? Perguntou Susana logo em seguida.
- Não sei, parece que tudo foi modificado, não parece o mesmo local...
- Você pode ter se enganado, afinal da forma como você foi levado para lá, pode ter se confundido... – Completou Flávio.
- É Ítalo, vamos ver em outro local...
- Não Susana, tenho certeza que este é o local, mesmo parecendo diferente agora, mas é o mesmo galpão, acho que posso ter sido engando afinal...
- Mas afinal o que tá acontecendo, quem é esse agente? – Susana pareceu séria suficiente para encarar os dois.
- Na verdade ele apareceu na academia propondo uma propaganda da mesma, e logo se engraçou de Ítalo como garoto propaganda. – Explicou Flávio.
- Na verdade ele estava já de olho em mim...
- Ou em mim meu amigo, pois ele até me procurou na faculdade. – Interveio Flávio.
- Mas o que ele poderia querer comigo... – Ítalo perguntava com uma esperança de que a voz dentro dele lhe desse uma resposta, mas como a mesma não se manifestou, ficou no ar a pergunta que nenhum ali soube responder...
O celular de Ítalo tocou assustando-o.
- E ai Felícia, alguma novidade?
‘Não, esperava que você tivesse. Onde você está?’
- Estou procurando em alguns lugares prováveis de pistas, mas até agora nada. Estou indo ao colégio para ver se alguém possa ter visto algo...
‘Ótimo, estou indo pra lá também.’
- Ok, nos encontramos lá então.
Ítalo sabia que Felícia era uma boa investigadora, sabia como interagir com as pessoas e conseguir informação, uma qualidade que ele apreciava, e talvez por isso queria ela como aliada.
...
Muito interessante, com riqueza de detalhes e bom português. Você é um escritor primoroso. Parabéns! Quando puder leia meus contos também. Abraço!