Depois de um telefonema, hã, espinhoso com ela, passei porque quis e precisei, em café na entrada de Curitiba e pedi um uisquinho. Sem maiores pretensões, apenas voltar ao normal. Estava, portanto, meio distraído, de sorte que demorei um pouco para perceber que a Sônia, funcionária de uma das empresas que atendo, em uma mesa próxima, sozinha.
Levei meu drinque à mesa dela, dizendo que os sozinhos tem que se unir. Ela deu uma risada sem graça, disse que hoje seria péssima companhia. Mas que se quisesse, sentasse e ficasse à vontade. Não temos grande intimidade, mas bastaram alguns momentos para constatar que a história era exatamente a mesma, talvez agravado pelo fato de ela ser linda, inteligente, ambiciosa - e, sinceramente, ganhando quase o dobro que o marido.
Conversamos sobre isso e acalmei-a ao ponto de levá-la para casa. Mas fiz questão de dar meu email pessoal - deixando dito que se precisasse ela podia contar com um amigo.
No dia seguinte, agradeceu o meu cavalheirismo - pelo simples fato de não ter tentado nada - começamos a conversar em uma base mais regular. E depois mais profundamente: encontrei nela a parceira ideal para conversar sobre livros, desastres no casamento, etc. Nisso passaram-se semanas, e com o tempo, a conversa ficou bem mais íntima - ao ponto de saber até da frequência sexual dela. A parceria comercial não sofreu nada com isso, claro: tanto ela como eu somos muito profissionais.
Em certa ocasião, ao visitar a empresa da Sônia, reparei com certa surpresa que estava vestida de forma bem diferente - mais agressiva, expondo mais pele. Detalhe, unhas pintadas de vermelho vivo, o que não era de seu costume. Elogiei, claro, e não de forma propriamente respeitosa.
Mal sentei em minha mesa (exatamente à frente dela, a duas mesas de distância) chegou um email em minha conta pessoal. Estranhei, não é do nosso costume usar essa conta em horário comercial. Curioso, abri, era mesmo dela:
"Estás tentando me cantar?"
Pensei um instante só, antes de responder.
"Certamente não. Mas serias a primeira que pensaria. Ainda mais hoje"
Com o rabo do olho, vi quando pegou o celular. E respondeu. Bingo, segundos depois, era ela novamente.
"Também não estás nada mal. O que te agradou tanto especialmente hoje?"
Hesitei um instante antes de responder, e me arrisquei a ser mais ousado.
"Se fosse para ser educado, diria que estás com um brilho diferente hoje. Mas se fosse para ser sincero, diria que teus seios estão quase gritando para que eu os olhe mais. E de pensar nessa mãozinha me tocando me deu arrepios"
Vi quando ela enrubeceu.
"Meus seios não são assim tão lindos. 40 anos pesam!"
Mas bem que ela se movimentou na cadeira para aumentar ainda mais o raio de exposição.
"Discordo. Mexesses nisso um pouco mais para baixo e já não responderia por mim"
Estávamos, os dois, tentando trabalhar. Mas estava complicado. E logo iria ficar bem mais.
"Então me achas bonita"
"Bonita é pouco. Linda, gostosa, poderosa."
Ela segurou o queixo com um sorriso lindo antes de me responder.
"Mas nem sabes como sou. Como podes afirmar?"
"Tenho imaginação, minha cara"
Ela leu, claro, e ficou pensativa por uns instantes, terminando um orçamento que estava havia pedido para elaborar. Ela teve a pachorra de terminar, e me enviar o resultado, antes de responder.
"Tu serias sincero o bastante para responder a uma pergunta?"
Fiquei intrigado. Mas claro que seria, disse a ela. Por email. Um parêntesis: externamente, tanto ela como eu mantivemos a nossa postura. Ninguém ao derredor imaginava o mínimo. Claro. Vi quando ela levantou e foi ao banheiro. Ela ainda estava no banheiro quando recebi outro email. Dela. Marcado como "urgente".
Ela havia baixado o vestido, e tirou uma foto do seio. Perguntando a mim o que achava. Perdi a respiração por um momento, e foi o que disse a ela. Mais uns segundos, a foto da perna - que ela sabe que adoro.
"E isso?"
Eu quase não estava mais conseguindo manter a concentração. Aquilo me balançou, talvez mais que o seio. Disse isso a ela. Mais uns segundos. A foto do pé, esticadinho e apetitoso.
"Nossa, lindo demais. Vontade enorme de pegar"
Ela mandou um emoji com um sorriso. Depois ainda vieram fotos das costas. E então da barriguinha (firme, linda). E finalmente, uma foto da bunda, com a calcinha muito vermelha. Essa mulher estava para o crime. Em instantes lá veio ela do banheiro, como se não tivesse provocado terremoto nenhum. Eu estava... abalado.
Segundos depois outro email.
"Voltei porque queria ver a tua cara. Gostei. Pronto para a pergunta?"
Respirei fundo, dizendo a mim mesmo que não era hora nem lugar. E então o impacto.
"POR QUE ENTÃO ELE NÃO ME COME???"
Ah. Agora entendi. Mas não, não iria naquele momento dar oportunidade a ela de reclamar do casamento. Respondi dizendo que ela era empoderada demais para ficar se lamentando.
"E o que sugere?"
"Preciso dizer? Ou será que devo desenhar?"
Ela deu uma risadinha e respondeu.
"Um desenho seria ótimo"
Antes de pensar, fui ao banheiro, abaixei as calças e tirei uma foto do meu pau. Quase furando a cueca, aliás. Voltei rapidamente - queria ver a cara dela quando recebesse. Olhei nos olhos dela, disfarçadamente, e só hesitei um segundo antes de enviar, com uma observação.
"Pode ser que ele não te enxergue. Mas isso é o que estás fazendo comigo."
Vi quando ela ficou profundamente vermelha. Controlou-se, claro, a custo, claro, e respondeu que tinha sido muito vulgar. Mas amenizou com risadinhas - essas, não no email, mas ao vivo e a cores.
"Okay, seu fulano. Admito que fiquei perturbada, se é o que tinhas em mente. E o que mais a sua cabecinha suja está pensando?"
Só levantei as sobrancelhas e não respondi mais nada. Ela, a todo instante, olhava o celular em busca de uma mensagem todas as vezes que me via clicando no "enviar". Mas mantive-a assim. Próximo do horário de almoço, fui à mesa dela e perguntei se gostaria de almoçar comigo.
Previsivelmente, não fomos almoçar, claro. Nem retornamos à tarde, como também seria de se imaginar.