Aquele final de semana prometia. Fazia tempos já que Maria Luíza planejava de uma vez por todas, com anuência de seu marido, Alfredo, ter um filho. Oito anos de casados, dezenas de idas a médicos, exames, e o veredicto fatal: Alfredo é estéril.
Pensaram em adotar uma criança, mas Maria Luísa queria era ter mesmo um filho. Sentir toda a gravidez. Depois adotar uma criança implicaria em futuros problemas. E se no futuro o filho os rejeitasse? E se quisesse saber quem eram os pais verdadeiros? E se acaso... e se acaso... e se acaso...
Estavam resolvidos. Maria Luísa teria um filho dela. E Alfredo lhe deu total apoio.
Portanto aquele final de semana teria sua chance de, longe de tudo e de todos, buscar encontrar alguém meio parecido com Alfredo fisicamente, para levar a termo sua determinação.
Alfredo havia concordado. Seria apenas uma entrega física da mulher, num local distante, longe de tudo e de todos... Local seguro para o que pretendia Maria Luísa. Bastava ter um pouco de sorte. Alfredo não iria junto, assim ela estaria só, desimpedida mesmo. Iria apenas buscar um parceiro eventual. Mentiria o nome, a cidade, a profissão. O plano estava armado e seria perfeito.
Portanto aquela semana foi vista e prevista dezenas de vezes em todos os detalhes. Maria Luísa teria sete dias, todos seus, para sua tentativa. Foi para uma cidade praiana. Local de muito movimento, muita paquera, muita gente de todos os lugares. Muitos lugares para encontros. Seria apenas escolher sua vítima, jogar um pouco de charme, depois facilitar as coisas. O período favorecia...
Já à noite produzida foi para um barzinho. Muitos olhares atentos. Buscava alguém fisicamente parecido com Alfredo. Seus olhos buscavam isso apenas. Quantos corpos olhou? Dez? Vinte? Cinqüenta? Não encontrou ninguém. Com certeza na praia teria mais chances. Se mostraria mais, jogaria charme, sim, teria mais chance...
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O encontro foi casual. Assim deveria ser. Aqueles olhos lembravam os olhos de Alfredo. Peso e altura proporcionais. Cabelos negros. Sim, esse poderia ser... basta que me olhe, que me veja...
E Maria Luísa sentada displicentemente na cadeira de praia, viu quando o moço (estava sozinho!) foi tomar refrigerante. Ela não perdeu a chance. Chegou junto.
A conversa fluiu. Foi simpática. Sem ser oferecida, foi ganhando terreno, e a conversa foi esticando. Dez minutos depois estavam sentados num barzinho em frente à praia. O moço era inteligente. Conversa fácil, insinuante. Boa escolha pensou.
Mentiu seu nome, sua cidade, disse ser solteira. Mentiu e inventou mais coisas...
O rapaz foi um pouco sincero. Mas isso não importava. Acabaram almoçando juntos.
Ela estava a setecentos quilômetros distante. O moço, pelo que dissera, em posição oposta, também tinha outro tanto de distância. Além disso, ela havia mentido na razão de quatrocentos quilômetros, sua cidade. Tudo caminhava bem.
Por dentro se sentiu vitoriosa. O rapaz deveria ser um bom reprodutor. Parecia ter no máximo trinta anos. A chance estava em suas mãos. Havia, sim, o perigo de uma doença, mas o físico invejável dele fê-la esquecer esse detalhe.
Aquela tarde trouxe a noite e a conversa entre os dois continuava firme. Ele era inteligente, porém vagava em seus pensamentos. Ela não se preocupava com aquilo. O mais importante ainda estava por acontecer. Faltava pouco.
Ficaram de se encontrar à noite para jantar. Ela foi se produzir. Ficar pronta para o momento.
– Será que o convite para algo será direto? Pensava ela. Não, não, vou deixar tudo correr naturalmente. Não posso lhe parecer vulgar. Ele é um homem, saberá dar o bote. A mim caberá a insinuação. Melhor num motel, longe de tudo e de todos, de forma impessoal para ambos. Não quero depois a curiosidade de qualquer parte. A mim interessa apenas que ele me fecunde e eu retorne para casa grávida. Minha escolha foi acertada. Agora o primeiro passo já foi dado, nada de recuar, Maria Luísa. Você está aqui para isso somente. O Alfredo está de acordo. Nada a temer.
Ansiosa foi para o encontro. Desceu do apartamento. Andou menos de duzentos metros. Ele estava à sua espera, conforme o combinado.
Restaurante discreto. Nunca se sabe o que o destino pode nos aprontar. Vai que por mais absurdo e topa-se com alguém conhecido. Certo que havia se disfarçado bem. Cabelos pintados de outra cor, lentes de contato verdes. Poderia apenas ser confundida com alguém parecida... Estava certa de tudo. NINGUÉM sabe que estou aqui. Apenas Alfredo e, isso é o que importa.
A comida foi saboreada com prazer. A conversa foi insinuante. Tanto da parte dela como dele... a garrafa de vinho fez efeito em ambos. A segunda garrafa libertou-os...
Mãos dadas. Alguns carinhos. Um beijo.
– Não deveríamos fugir de todos, ela sussurra no ouvido dele.
– Onde podemos ir, ele retruca.
– Num local discreto, só para nós dois.
Saíram abraçados do restaurante. Como dois namorados. O motel encontrado foi ao acaso. Sequer anotou o nome. Isso não era importante.
Entraram. Ele a enlaçou timidamente. Parecia estar com medo. Parecia ter mesmo respeito pela mulher que se lhe oferecia. Que era atraente, ardente, voluptuosa, sem ser vulgar. Enquanto Maria Luísa o beijava se lembrava de Alfredo. Mentalmente dizia: eu te amo, Alfredo. É por mim e por você que estou aqui. Não, estou aqui e você está aqui comigo. É com você que vou fazer amor. Estou te beijando, Alfredo. Me beija mais. Me abrace, me possua, me fecunde, Alfredo. Vamos fazer nosso filho.
Foi assim pensando que fez amor com um Alfredo desconhecido. O desejo foi intenso. A vontade extrema. Por incrível sentiu prazer. Vontade de ser possuída. Amaram uma, duas, três vezes. Sempre com a mesma força, o mesmo desejo, a mesma intensidade. A cada clímax ela murmurava com a alma: fui fecundada!
A manhã foi encontrar dois corpos extenuados, mas não ainda saciados. Nova troca de carinhos. Depois decidiram partir, mas antes novo jantar foi marcado para a mesma noite.
À tarde toda Maria Luísa ficou lembrando de tudo. Teve vontade de falar com Alfredo, mas não o fez. Pensava, somente: Será que deu certo? Será que estou grávida? Para a chance ser maior tenho ainda duas noites. Devo aproveitar o máximo. Será a única chance em toda a vida.
Assim pensando passou a tarde toda na cama. Dormiu e sonhou com ela, Alfredo e um filho.
Assim pensando acordou e foi se preparar para novo jantar.
O sorriso cúmplice, um abraço, um beijo e o jantar.
Da mesma forma da noite anterior, um outro local discreto. Agora mais íntimos, a posse foi ainda mais ardente. De ambas as partes.
A volúpia, o êxtase. Entrega de prazer, sem devassidão. Mas entrega mútua. Nada de palavras de amor direta, mas carinho especial entre duas pessoas desejosas.
Novo despertar, nova luz acendendo o desejo, nova entrega e um novo convite para novo jantar e a mesma noite de carinho, desejo, posse.
Por três noites Maria Luísa pôde se entregar ao seu louco desejo de ter um filho. Quanto a ocorrer de fato, era necessário esperar. Dar tempo ao tempo...
Partiu sem dizer adeus. Não foi para o almoço marcado. Sabia que poderia falar mais ou além do que devia. Melhor assim. Nunca mais o verei. Nem ele a mim.
Em casa as perguntas foram poucas e sobre o real motivo totalmente ausentes. Nos demais dias, com amor e por amor, entregou-se a Alfredo, esquecida mesmo do fato recente...
Ambos pareciam até esquecidos, tanto que três semanas depois suas regras já estavam atrasadas. Quatro semanas e um pequeno enjôo matinal. À tarde ao ginecologista. Um exame. Um resultado:
– Alfredo, estamos grávidos. Você vai ser papai!!! E eu vou ser mamãe!!!
A alegria inundou de luz a casa. Todos felizes, avós corujas, tios, primos. Dia a dia aquela gravidez foi vivida, curtida e amada. Tudo perfeito. Desconfiança alguma por quem quer que imaginasse.
Mesmo Maria Luísa só via Alfredo como pai. Esqueceu por completo uma certa semana prolongada onde junto de Alfredo programou e planejou detalhadamente o que faria. Alfredo também se sentia pai e esquecia tal fato.
Oito meses depois nasceu Alfredo Júnior. Filho primogênito de Alfredo e Maria Luísa. Felicidade plena. Filho esperado por todos. Esperado e sonhado e já amado.
– Precisamos batizar o Júnior, dizia Alfredo.
– Sim, respondeu Maria Luísa.
Alfredo vai a igreja e o batizado é marcado para dali quinze dias. Os padrinhos são avisados, a festa programada nos mínimos detalhes.
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E foi assim que, na Pia Batismal, Maria Luísa ao entregar o Júnior para o colo dos padrinhos, cai desmaiada ao ver o novo Padre da Paróquia que chegou de muito longe há dois dias apenas e vai batizar seu Filho...