Pela manhã, enquanto a luz do amanhecer pintava o quarto , o telefone tocou. Era Dona Laís, lembrando-nos do ensaio do casamento na igreja. Juan murmurou um "sim, mãe" sonolento, mas seus dedos já traçavam círculos lascivos em minha coxa. Desliguei o chamado com um beijo molhado.
***
No ensaio do casamento, Laurinha brilhava como um diamante nervoso. Juan, de terno cinza, parecia ter saído de um sonho erótico — até os botões da camisa tremiam sob meu olhar. Durante o ritual do buquê, Laurinha girou com riso de menina e arremessou as flores. O destino, ou talvez Dona Laís, fez com que caíssem em meus braços.
— Tá na hora, mesmo, Tia Ivanda! — gracejou Marina, a irmã mais velha, enquanto os convidados riam. — Já tá ficando pra titia!
O riso congelou em minha garganta quando Dona Laís se aproximou. Seu abraço foi firme, e o sussurro em meu ouvido cortou o ar:
— *elas mal imaginam, que a messes ,voce vive uma lua de mel ,nao e minha amiga *
Antes que pudesse reagir, ela afastou-se com um sorriso de cúmplice, deixando-me ali, segurando o buquê como uma prova de fogo.
***
Na véspera do casamento, encontrei Juan no terraço do hotel, Ele segurava uma caixa pequena — dentro, dois anéis de ouro maciço, entrelaçados como nossas pernas em noites sem fim.
— Minha mãe deu — confessou, voz rouca de emoção. — Disse que ja perdemos tempo de mais
— Ela sabe… — murmurei, não como pergunta, mas como epifania.
— Sabe. Sempre soube. Quando eu tinha 15 anos, ela me encontrou desenhando você nua no meu caderno. Em vez de gritar, disse: "Cuide bem dela, Juan. Uma mulher como essa só surge uma vez na vida".
Rimos até as lágrimas, enquanto o mar rugia seu aplauso lá embaixo.
***
No dia do casamento, entre véus e risos, Dona Laís me puxou para o vestiário. Laurinha, de vestido branco, parecia uma estrela caída no colo da mãe.
— Quero sua ajuda minha amiga — ela disse, Laurinha tá muito ansiosa com crise de ansiedade
— Dona Laís, eu…
— *Laís*, Ivanda. Agora você é minha igual.
— Não consigo respirar, Tia Ivanda — ela sussurrou, agarrando-se a mim com unhas pintadas de pérola. — Vou estragar tudo.
Ajoelhei-me frente a ela, segurando suas mãos geladas. Laís trouxe água e um pano úmido, enquanto eu cantarolava a mesma cantiga de ninar que acalmara Juan tantas vezes.
— Você é forte como o mar, minha menina — disse, enxugando suas lágrimas. — Olha só que linda está, parecendo uma sereia pronta para conquistar o oceano. Seu noivo lá fora tá mais nervoso que você, pode apostar.
Laís acrescentou, afagando os cabelos da filha:
— Lembra quando você tinha 5 anos e insistiu em subir no telhado para pegar estrelas? Se foi capaz daquilo, hoje vai ser fácil.
Laurinha riu entre soluços, o medo dissolvendo-se como açúcar no café. Quando a música começou, entramos os três de braços dados na igreja — ela, radiante; nós, suas guardiãs de segredos e sais de cheiro.
Após o casamento de Laurinha, com a bênção de Dona Laís, Juan e eu partimos para a Bahia. Adotamos um casal de filhos e vivemos nosso matrimônio entre tintas, risos infantis e... bem, *entusiasmos conjugais* em cada canto da casa nova. Uma grande ironia: eu, que um dia o criei, hoje sou completamente dependente daquele homem cheio de manchas. Destino ou sorte? Pouco importa. A menina sonhadora que saiu da Bahia com um simples desejo de sobreviver retornou carregando uma família, um amor que a protege, e até um sobrenome de peso: **Ivanda Lucarelli**.
Pode parecer que fui eu quem seduzi Juan, mas a verdade é que não sei o que seria do meu mundo sem ele. Já fazem três anos que estamos aqui. Minha sogra, Laís, nos visita religiosamente, sempre com presentes caros e notícias da família. A última foi a mais doce: Laurinha está grávida.
— Coisa boa — comentei a Juan, enquanto ele me ajudava a dobrar as roupas das crianças. — Pois teremos desculpa para voltar a São Paulo. Relembrar onde tudo começou.
Ele riu, puxando-me para o colo em frente à janela que dá para o mar:
— Você só quer ver minha cara ao entrar naquele quarto de novo , não é?
— Talvez — respondi, fingindo seriedade. — Ou quem sabe reencenar a cena da febre...
***
Juan ainda pinta, embora menos. Prefere passar as manhãs ensinando nossa filha a misturar cores e as tardes construindo castelos de areia com o caçula. Às vezes, quando me pega na cozinha preparando moqueca, sinto seu olhar queimando minhas costas antes mesmo de suas mãos me alcançarem.
— Isso aqui é sagrado — protesto fracamente, quando ele desliza minhas alças do vestido.
— Tudo é sagrado onde você está — ele murmura, mãos já familiarizadas com cada curva.
Laís, ao nos visitar na semana passada, flagrou-nos assim: ele me apertando contra a parede da varanda, eu com farinha de mandioca até nos cílios.
— Continuam como adolescentes — disse, cobrindo os olhos do neto com as mãos enfeitadas de joias. — Mas pelo menos mantêm a casa cheia de vida.
Rimos até chorar, enquanto as crianças corriam para o mar sem entender a piada.