Uma semana depois dessa viagem, ele foi dormir na minha casa, e foi onde a merda foi parar no ventilador.
A gente tava no meu quarto, numa boa, curtindo um pouco, já que a minha mãe tinha saído com a Gilda, e não teríamos problemas por um bom tempo.
Ilusão!
Nós estávamos num puta de um amasso, quando a minha mãe entrou no quarto de surpresa, e viu o inevitável.
_ Mãe! Não é bem isso...
Cara não adianta, nessas horas essa é a primeira frase que vem à cabeça.
_ Não é isso o quê Vicente? Eu tinha te falado que se vocês tivessem escondendo alguma coisa de mim, eu ia acabar descobrindo... Bem que a Gilda já tinha me cantado essa bola...
_ Mãe!
_ Vicente, não fala nada. Olha, nós vamos conversar mais tarde. Caio, não me leve a mal, mais é melhor que você...
Eu com toda a raiva do mundo em minhas mãos, respondi cortando:
_ Você vai ficar aqui. E nós vamos conversar tudo que temos pra conversar sim, mais na presença dele!
Ela me olhou como se eu a tivesse xingado de filha da puta ou coisa assim.
_ Vicente, é melhor vocês conversarem sozinhos...
_ Não Caio. Isso diz respeito a nós dois, não seria certo fazer isso.
_ E agora você se preocupa com o certo ou errado? Que desgosto Vicente...
_ Mariza!
Todos nós nos viramos de susto.
À porta, emoldurados, estavam meu pai e a Gilda.
Assim que eu vi a Gilda, eu não me controlei:
_ Você é uma mal-amada, que não tem ninguém pra se preocupar, ninguém te aguenta, ninguém quer você! Aí por isso, você fica tomando conta da vida dos outros! Sua vaca!
_ Vicente!
_ Isso mesmo mãe.
Meu pai entrou no quarto, e fechou a porta na cara da Gilda sem a menor cerimônia.
_ Vicente, você pode me explicar...
_ Pai! Quando você chegou?
_ Na verdade, eu acabei de chegar, e encontrei a Gilda aflita lá na porta, ai eu entrei correndo achando que alguém tinha morrido ou sofrido um acidente. O quê aconteceu aqui?
_ Esse moleque que agente trata como se fosse da família, estava agarrando o Vicente quando eu entrei no quarto...
_ Mãe! Você não Tem o direito de falar assim do Caio.
_ Vicente, acho melhor eu ir, e vocês...
_ Não Caio. _ Meu pai falava com a maior calma do mundo. _ Nós vamos conversar como adultos civilizados.
Ele abriu a porta dando de cara com a Gilda, que quase Caio no chão.
_ Gilda, eu sugiro que você vá descansar, pois já é tarde...
_ Não Lucas, ela fica.
_ Se for pra nós conversarmos, ela vai, ou eu saio agora e vô dormir na casa do Caio.
_ Você não está em condições de exigir nada!
Minha mãe falava comigo, como se eu tivesse cometido o crime mais hediondo na face da terra.
_ Lucas, eu acho que vocês estão muito alterados, e eu pensei: porque eu não fico e ajudo com...
_ Não Gilda. Eu agradeço muito, mais esse é um momento muito delicado pra mim e a minha família.
_ Mais não se preocupe, eu sou...
_ Gilda, faz assim, vá pra casa, que quando tudo estiver melhor, a Marisa te liga e nós marcamos um jantar. Certo?
Dizendo isso, ele ia delicadamente levando a Gilda pra fora do quarto. Eu ainda pude ouvir os protestos dela, mais meu pai não cedeu.
A minha mãe estava pálida, me olhava com uma cara de desgosto mortal, mais eu não mudei uma vírgula dos meus atos só porque ela fazia cara feia. O Caio estava atônito, não sabia como agir, o quê afinal alguém poderia fazer?
Nós ouvimos a porta fechar, e o meu pai, chamou lá de baixo:
_ Marisa, dessa aqui, por favor; Vicente e Caio, vocês fiquem aí.
A minha mãe saiu do quarto, mais antes olhou da porta e disse:
_ Você não é meu filho...
Ela ia falar mais alguma coisa, mais o Caio foi mais rápido, fechou a porta na cara dela.
_ Caio, me desculpe, eu não...
_ Vicente, você não tem motivos pra pedir desculpas, afinal, nós deveríamos estar preparados para uma cena como essa não?
_ Mais mesmo assim Caio, olha isso não tinha que ter sido dessa maneira...
Nesse momento, nós ouvimos o barulho de algo se quebrando no andar de baixo. Quando eu já me dirigia pra porta, eu ouvi o meu pai gritando:
_ Fiquem tranquilos meninos, é apenas um copo a menos na louça.
_ Caio, acho que tudo foi acontecendo de uma forma qual a gente não estava preparado para...
_ Vicente, isso um dia ia acontecer, mais nós realmente fomos imprudentes...
A porta foi aberta e o meu pai entrava com uma mão enrolada em um pano.
_ Pai!
_ Calma filho, eu cortei quando fui juntar os cacos.
Ele fechou a porta novamente, e veio sentar do meu lado, me abraçando depois.
Meu pai sempre foi mais afetuoso que a minha mãe. Eu lembrava sempre de quando eu era pequeno e ele chegava do trabalho, ele vinha correndo me pegava no colo e nós corríamos pela casa toda, brincando de cavalinho. Mais agora quando eu olhei no rosto daquele homem que sempre tinha sido o meu porto seguro, e vi o amor e o carinho desprendendo dos olhos dele, não aguentei mais, e chorei no colo dele como uma criança.
Nesse momento, eu não sabia bem de quem eram os braços que me apertavam. Ora era o Caio, ora meu pai.
Percebi depois de um tempo, que todos nós estávamos chorando.
Quando nós nos acalmamos, o meu pai disse:
_ Vicente, eu quero saber com as suas palavras o quê realmente aconteceu aqui nesse quarto antes de eu entrar.
_ Pai, agente não...
_ Vicente, eu não quero justificativas, me conta somente a verdade.
_ Eu não sei se eu...
_ Vicente, conta a verdade, é melhor que tentar justificar o injustificável.
O Caio era sempre cheio de falar difícil.
_ O Caio está certo filho. Eu simplesmente quero ouvir a sua versão da história, até por que a da sua mãe me parece meio absurda...
_ Eu não sei se eu consigo pai...
_ Vamos lá Vicente, eu tô aqui, e eu garanto que o seu pai não vai fazer nada com você.
O Caio veio e sentou do meu lado, e pegou a minha mão.
_ Vamos lá filho!
_ Pai, quando ela entrou... _ as lágrimas desciam soltas pelo meu rosto. _ eu e o Caio... _ Eu começava a soluçar. _ A gente tava se Beijando... Eu não consegui manter mais o controle, e solucei cada vez mais...
Não sei muito bem o quê aconteceu mais rápido. Se foi o grito da minha mãe, ou o meu pai me tirando da reta de um vaso.
_ Caio, leva ele daqui!
_ Mas...
_ Faz o que eu to mandando. Tira o Vicente daqui, e me espera no seu carro. Eu vô dá um jeitinho...
Sem pensar duas vezes, o Caio me pegou pela mão e me levou pra fora do quarto.
_ Seu ingrato! Depois de tudo que eu e o teu pai fizemos, é assim que você nos paga?
Novamente as lágrimas voltavam aos meus olhos, mais cada vez mais fortes. Eu já não conseguia enxergar direito, quando nós chegamos à escada e eu tropecei, ele me abraçou firmemente e meio que me carregou até o carro.
_ Calma Vicente!
Ele me pôs no banco de traz, e se sentou ao meu lado, me abraçando e me dando um afago nos cabelos, algo incrível.
_ Menino, o que aconteceu lá em cima?
Eu não acreditei na voz que eu tava ouvindo.
_ Sua vaca! O que aconteceu? Exatamente o que você queria. Tá feliz agora? Conseguiu. Fudeu com a minha vida totalmente não?
_ Calma Vicente!
Caio aumentou a intensidade dos carinhos nos meus cabelos, como a me acalmar.
_ Olha, eu acho que não há mais nada que você já não pode “ajudar” mais que já fez.
_ Concordo Caio.
Era meu pai saindo de dentro da casa.
_ Aliás, tem sim. Já que pelo que nós já vimos hoje, foi ideia sua isso tudo, pois bem, vá lá dentro e fica com a sua amiga.
Com os olhos brilhando de excitação, ela entrou correndo em casa.
Meu pai deu a volta no carro e entrou no outro lado, me abraçando também. Eu notei que ele tinha um copo na mão, e pelo cheiro vi que era whiskey. Ele também carinhosamente começou a afagar os meus cabelos. Trêmulo eu estiquei a mão, e peguei o copo. Virei metade em um gole só. Ah como foi bom sentir o gosto amargo e forte do wisck descendo pela minha garganta.
_ Filho, sua mãe tava nervosa, fica tranquilo... Agora... Caio vocês tem como ficar na sua casa essa noite?
_ Ter até tem, mais o problema é que como eu tinha falado que eu vinha dormir aqui, vai ser meio complicado fazer isso sem evitar perguntas... E eu acho que a cara do Vicente vai denunciar que alguma coisa aconteceu aqui.
Nesse momento eu levantei a minha cabeça e me olhei no espelho central do carro. Cara! Eu tava um monstro! Acho que de tanto que eu tinha chorado, eu tava com o rosto gigante.
_ Você tem razão. Eu vô pegar dinheiro lá dentro, e vocês fiquem em um hotel hoje.
Ele saiu do carro.
_ Caio, me desculpa...
Ele não deixou que eu terminasse a frase, me calando a boca com um beijo de desentupir pia.
_ Pensa assim Vicente, é só a primeira barreira que vai cair. Agora agente vai poder ter um pouco mais de liberdade não?
Meu pai voltou com o cartão na mão.
_ Filho leva o cartão, porque eu não tenho dinheiro agora aqui em casa.
Ele me entregou o cartão, e fez uma recomendação:
_ Fiquem em um bom lugar, vocês precisam conversar, e ter um pouco de paz. _ Dizendo isso, teatralmente, ele pôs o cartão no meu bolso.
_ Agora vão, que eu vô conversar com a sua mãe, e a Gilda também. Ah, mais antes, uma pergunta. Caio os seus pais já sabem de alguma coisa?
_ Não. Ainda não. Eu queria esperar mais um pouco pra contar, mais já que agora a família do Vicente já tá sabendo de tudo, eu quero contar amanhã mesmo. Assim que eu chegar da escola.
_ Bem lembrado. Vô buscar uma muda de roupa pra você Vicente, e a sua mochila.
Ele entrou de novo, e logo trazia uma mochila com as minhas coisas e as do Caio.
Entregando as nossas coisas ele disse:
_ Vão agora e deem um jeito de descansar e de não fazer mais alarde que já foi feito agora... Vocês vão ficar no Cezar Business, sabe onde fica não Caio?
_ Sim.
_ Bem, vão com Deus, e descansem. Ah Caio, amanhã eu acho que você deveria...
_ Sim. Eu sei disso.
_ Bem, vão agora que já é tarde.
Ele nos olhou nos olhos e agora eu pude ver certo transtorno no rosto dele. Caio se levantou e foi pro banco da frente sentando atrás do volante.
_ Você quer que eu vá aí na frente com você?
_ Não me importo se você quiser ficar ai atrás.
Eu me levantei, e fui sentar na frente. Quando eu tava dando a volta o carro meu pai me abraçou e disse com uma voz doce:
_ Filho, eu te amo, e sempre vô te amar, e isso independente do quê você escolher pra sua vida. Amanhã eu acho que a sua mãe vai estar mais calma, e nós vamos poder tentar conversar como dois adultos, ou melhor, três adultos que somos, não?
Ele me beijou no rosto carinhosamente e eu entrei no carro e nós fomos.
Quando a minha casa já ficava pra traz, eu vi um carro saindo depois. Olhando bem era um carro que eu não conhecia.
Sentia-me aliviado e ao mesmo tempo triste e constrangido, talvez seria mais fácil...Talvez não, e isso por sinal, acabou transformando a noite com Caio me perguntando de cinco em cinco minutos se eu já estava melhor, isso me confortou, talvez essa fosse uma coisa em Caio que me chamava a atenção, sua maneira de se preocupar e de cuidar, algo, que não acontecia só comigo, mas com qualquer um. Enfim adormeci, já eram umas seis e meia da manhã. Venci Caio pelo cansaço, já que ele também adormeceu imovelmente me envolvendo em seu caloroso abraço.
Acordamos por volta de meio dia, e o café da manhã, acabou tendo cara de almoço. Buscando não tocar no assunto, eu rompi o silencio.
_ Caio?
Ele deixou de lado o copo com seu suco favorito e me olhou com os olhos pelos quais eu havia me apaixonado
_ Vicente...? _ E sorriu.
_ Você me ama?
_ Claro seu bobo, que pergunta..._suas bochechas coraram.
_ Mas ama, ama... Mesmo?
_ Sim, e você, hoje é o cristal que eu guardo com todo o cuidado do mundo, minha joia, eu não quero te perder.
Acabamos deixando o “café-almoço”, quando ele me envolveu num tênue e doce beijo que acabou evoluindo e durando por algumas horas.
Aquilo era pleno e puro. Não havia maldade no toque dele, em seus olhos quando ele me olhava, era algo divinamente nosso! Como aquilo poderia ser pecado? Como aquilo poderia ser errado... Minha mãe definitivamente é arcaica demais.
_ Vicente, a gente perdeu a aula, não?
_ Pois é, mas é por uma boa causa.
_ Mas ainda tenho que falar com meus pais, eu prometi pro seu pai.
_ É. Eu sei, eu vô com você.
_ Então, olha ai, já são quase cinco horas, vamos fechar a conta e sair?
_ Sim, pode ser...
_ Então vamos
Arrumamos as coisas depois de um belo banho e descemos para a recepção.
_ Vicente, como sempre. Acho que seu celular tá tocando
_ Serio? Vê quem é...
Eu estava ocupado pagando a conta do hotel, e Caio olhou pro celular e respondeu:
_ Ah é a Sarah...
_ Ah dá aqui!
_ Sarah?
_ Oi Vi... Cara tenho que te contar uma coisa!
_ Ai amiga tem que ser agora?
_ Tem menino... Você não sabe da ultima...
_ Ai Sarah... Me desculpa, eu te ligo assim que eu resolver uma coisa muito importante... _ Eu fiz uma careta pro Caio que começou a rir, por que ele sabia como Sara era um amor, mais como era inconveniente quando queria conversar sobre seus contos...
_ Ah _ senti uma tristeza na voz aguda dela. _ Tchau então meu querido...
_ Eu te ligo, eu prometo.
_ Tá, beijos.
_ Beijos anjinha.
Ela desligou
_ Heita Sarah. Soltei um riso tão sincero, que Caio se sentiu até animado.
Pegamos o carro, e ele começou a dirigir em silêncio.
_ Caio que foi?
_ Eu to aqui pensando... Como vô falar, e como me esquivar caso minha mãe tente me jogar um vaso, embora eu acredite que isso não vá acontecer.
Ele sempre me surpreendia com o seu humor negro, mais que fazia um certo sentido as vezes. Nós fomos em silêncio depois disso. Quando nós já tínhamos passado pela esquina da minha rua, ele disse:
_ Vi, você quer mesmo ir comigo lá pra falar com os meus pais?
Sem pensar duas vezes, eu respondi:
_ Você nem tinha que ter feito essa pergunta. É claro que eu vô. Você esteve comigo o tempo todo nessa confusão que virou o nosso fim de domingo.
Ele passou em frente a minha casa, e eu vi a minha mãe saindo do carro da Gilda, e o mesmo carro estranho da noite passada parado na garagem. Quando nós íamos passar perto delas, ele aumentou a velocidade do carro.
Nós chegamos a casa dele, e antes de descermos eu segurei a mão dele e nós nos beijamos ternamente, como um a ser um cúmplice do outro.
Nós descemos e entramos. Já na sala demos de cara com a mãe do Caio, ela que ficava o tempo todo em casa, já que era uma advogada aposentada (por vontade própria), e que quase sempre estava em casa, a não ser quando ela ia pra faculdade de direito dar apoio a algum aluno formando. O pai dele dono de uma grande transportadora, não estava em casa quase nunca, sempre as voltas com os problemas da empresa.
Nós fomos entrando e sem a menor cerimônia eu cumprimentei a mãe do Caio.
_ Oi tia! Tudo bem?
_ Tudo bem sim Vicente, e com você?
_ Mãe, o pai vai demorar pra chegar?
_ Acho que sim filho, ele me disse que tinha uma reunião com um empresário do sul que tava aqui hoje...
_ Ele tá com o celular?
_ Sim... _ Ele saiu da sala cortando a resposta dela. _ Mais filho, não liga...
Ele voltava já com o telefone no ouvido.
_ Pai! Tudo bem? Eu também. O senhor vai demorar muito pra vir pra casa? É... Na verdade eu tinha uma coisa pra falar com você e com a mãe... Ah, meio importante sim... Pra falar a verdade, muito importante... Não posso dizer nada agora, mais diz respeito a mim... _ E me olhando fundo nos olhos ele completou. _ Também ao Vicente... Você vem? Tá. Beijo.
Ele desligou e olhou sorrindo pra mãe dele:
_ Pronto. Ele disse que já tá livre desse cliente por agora, e que ele vai chegar aqui em meia hora... Isso dependendo do estado do trânsito.
Ele sentou ao lado da mãe dele, e passou a mão carinhosamente nos cabelos dela.
A mãe do Caio, a doutora Ângela, que pra mim tinha os seus 43 anos, muito bem vividos, era jovial, linda mesmo como a minha mãe. Elas inclusive eram bem amigas, até um dia que a minha mãe resolveu que era melhor cortar relações. Eu nunca entendi muito bem o por que. De repente elas de grandes amigas, passaram a ser totalmente estranhas. Aliás, da parte da minha mãe, que fique bem claro...
De repente ele se levanta do sofá e me chama pra ir com ele no quarto, com a desculpa de ver uns vídeos que ele tinha baixado.
Meio sem jeito eu fui atrás dele. Quando nós entramos no quarto, ele fechou a porta, e depois... Aliás, eu já tava ficando impressionado com a rapidez com que ele tava fazendo essas coisas ultimamente. Ele me abraçou e me beijou lentamente.
_ Vem cá que eu quero te mostrar uma coisa.
Ele ligou o computador dele, e abriu uma pasta com o meu nome.
_ Esse eu gravei especialmente pra você.
_ Isso é o quê?
Ele executou o vídeo e lá apareceu ele lindo em um terno preto, que eu sempre tinha achado lindo, ainda mais com ele dentro, e mais assustador, sentado ao piano. Com uma voz que transpassava doçura, e carinho, ele olhou fixamente pra câmera e me disse:
_ Vicente, eu sei que quando eu te mostrar esse vídeo, certamente nós já estaremos juntos e muito apaixonados... Foi por isso que eu pedi pra minha mãe me ensinar essa música, que eu confesso que deu o maior trabalho... Mais pra você eu faço tudo...
Meus olhos se voltaram para o Caio que estava ao meu lado segurando a minha mão e quando eu fiz menção de falar alguma coisa, ele fez sinal pra que eu ficasse quieto. Ele começou tocar uma música vagamente familiar pra mim. Quando ele começou cantar, eu vi que era “Exagerado, do Cazuza”, e eu adoro tudo que é do Cazuza. Quando chegou ao refrão ele mais uma vez encarou a câmera, ou melhor, “me” encarou, e cantou:
“_ E por você eu largo tudo, carreira dinheiro, canudo, até nas coisas mais banais, pra mim é tudo, ou nunca mais...”.
O vídeo acabou e eu comecei a beijar a boca dele, quando ouvimos o carro do pai dele entrando na garagem.
Rapidamente nós nos separamos. Afinal, outra cena como a da minha casa. Acho que nós dois não queríamos.
O meu celular começou tocar.
_ Quer ver que é a Sarah mais uma vez?
Eu peguei, e levei um susto quando vi que era o meu pai.
_ Quem é Vicente?
_ O meu pai...
_ Ué, por que essa cara de susto?
_ Ah sei lá... Alô...
_ Filho? Tudo bem com vocês?
_ Sim pai, e ai em casa?
_ Melhor que ontem eu garanto que sim... Agora me diz, por que vocês não foram à escola hoje?
Eu olhei pro Caio e fiz uma cara de “puta cara, agora fudeu de vez”.
_ Ah pai, nós dormimos mal, e não conseguimos acordar na hora certa... Mas fica tranquilo, não tinha aula importante hoje.
_ E onde vocês estão agora?
_ Na casa do Caio. Ele veio...
_ Ele tá com você agora?
Sim, tá aqui do meu lado.
_ Me deixa falar com ele, por favor.
_ Tá.
Eu estiquei a mão com o celular pra ele que sem entender nada, pôs no ouvido.
_ Oi Lucas...
_ Caio, eu queria te perguntar uma coisa.
_ Pode falar.
_ Você já conversou com os seus pais?
_ Ainda não. O meu pai acabou de entrar em casa.
_ Você se importa se eu estiver aí com vocês quando você for falar?
_ Claro que não. Se você quiser pode vir sim.
_ Certo. To saindo agora da minha casa.
_ Tá.
_ Me espera, por favor.
_ Sim vô esperar.
_ Tchau.
_ Tchau.
Ele desligou o celular, e me olhou com uma cara estranha.
_ Estranho o seu pai querer estar aqui agora...
_ Ele quer?
_ Sim, Foi exatamente isso que ele perguntou pra mim, se eu me em portava.
Eu o abracei e de leve massageei os ombros dele.
_ Acho que já tá na hora de nós nos manifestarmos.
Nós saímos do quarto dele e fomos pra sala.
_ Mãe, cadê o pai?
_ Ele foi tomar um banho e já desse.
A casa do caio era mais ou menos parecida com a minha, com a diferença que não tinha os exageros da minha mãe. Tinha também quatro quartos, mais um era do Caio, outro dos pais dele e outro do irmão mais velho dele. O quarto eles fizeram de sala de TV, mais pra quando fosse à galera lá, agente ter um pouquinho de privacidade.
A campainha tocou e ele foi abrir, já sabendo que era o meu pai. Depois que eu ouvi o portão sendo aberto, e no lugar do meu pai, entra Fernando, o irmão mais velho dele.
_ Fala Vicente! Beleza cara?
_ Beleza sim. E você?
_ Tranquilo.
Ele apertou a minha mão e beijou a mãe dele no rosto, e foi pra dentro. Depois entra meu pai junto com o Caio.
_ Oi pai, tudo bem?
_ Oi filho.
Eu o abracei, e dei um beijo no rosto.
_ Tudo bem com a senhora doutora Ângela?
_ Sim Lucas, tudo bem. Mais vamos esquecer a doutora sim e senhor também tem praticamente a mesma idade não?
Meu pai sorriu, e deu um beijo no rosto dela cumprimentando. Nesse momento entra o pai do Caio sem camisa. E ele como já era muito amigo do meu pai antes do casamento, foi bem caloroso ao cumprimentá-lo.
_ Lucas! Quanto tempo!
_ Nem fala Alberto!
_ Mais você nunca mais foi lá na pelada com a gente...
_ Ah tenho viajado muito ultimamente. Mal tenho tido tempo de ficar em casa direito.
Nisso, o irmão do Caio que tinha ficado no interior da casa, voltou à sala, e o Caio não perdeu mais tempo com cumprimentos e rapapés.
_ Pai, eu quero aproveitar que agora que estão vocês dois aqui, e dizer logo de uma vez o que eu tenho a dizer.
_ Nossa Caio, pra quê tanto suspense.
_ É muito complicado Fernando.
_ Você não engravidou ninguém não, né filho?
_ Não pai... Mais mesmo assim, e meio complicado o que eu tenho a dizer.
Nesse momento meu pai se aproximou de mim me abraçando. De uma vez só eu lembrei de todo o ocorrido da noite anterior.
_ Eu sei que vai ser difícil pra vocês, porque, afinal eu já tive certa mostra ontem... _ Nisso os olhos dele se encheram de lágrimas, que rolaram livres pelo rosto dele. _ Pai, mãe eu e o Vicente... Nós estamos juntos nessa...
Ele abaixou a cabeça e esperou q alguém manifestasse alguma reação à frase que ele tinha acabado de dizer. A única reação que eu notei, foi Fernando indo até onde o Caio estava, e o abraçando com verdadeiro carinho de irmão.
_ Filho continua, porque a gente não entendeu nada ainda.
_ Vamos lá mano, fala de uma vez.
_ Eu e o Vicente, a gente tá junto...
_ Sim, vocês tão juntos. Mais no quê?
_ Eu e ele nós realmente estamos juntos! _ Dessa vez ele levantou a cabeça e frisou a palavra juntos. _ Juntos mesmo...
_ Filho, eu acho que já entendi... _ A mãe dele falava com calma, mais com os olhos rasos d’água. _ Mais eu penso que você deve dizer o quê tem a dizer com todas as palavras.
_ Eu ainda não entendi nada.
_ Pai, mãe, Fernando, eu e o Vicente estamos juntos... Tipo... Namorando...
_ Namorando? E qual o problema? Namorando que...
A um gesto da mãe do Caio, Fernando ficou quieto.
_ Continua filho.
Eu ouvi a voz do pai dele, saindo com uma ternura tão grande, assim como o meu pai tinha agido ontem comigo.
_ Eu estou namorando o Vicente pai. É isso. _ Um grande soluço saltou do peito dele. _ Me perdoem mais eu sou gay...
O pai dele correu junto com a mãe dele na direção dos irmãos que continuaram abraçados no mesmo lugar. Meu pai me soltou preparando-se para apartar uma possível briga, mais ao contrario do quê nós tínhamos pensado, eles abraçaram-se e todos choraram.
_ Me desculpa pai!
Ele repetia isso o tempo todo.
_ Filho! Desculpar, por quê? É o seu jeito. É a sua forma de viver o amor. Diferente? Sim, mais quem nesse mundo é igual?
_ Mais...
_ Seu pai está certo filho. É o seu jeito de viver o quê é amar. E só nos resta aceitar.
_ Mais...
_ Pô mano! Eu tava aqui imaginando que você tinha matado, usado droga, ou qualquer outra merda desse tipo, mais você só queria dizer que curte dar à bunda! Pô!
_ Fernando!
_ Ah, desculpa mãe, mais é a verdade.
Todos riram e a mãe do Caio me chamou.
_ Vicente, venha cá.
_ Sim.
Meio hesitante eu fui. Quando eu estava perto o suficiente, ela me puxou pra um abraço, e foi logo seguida pelo resto da família. Eu já sabia que a família dele era mais compreensiva em vários aspectos que a minha, mas confesso que a reação deles me surpreendeu e muito. Acho que eu ainda estava em choque pela noite de ontem.
_ Pô cunhadinho, quem diria hein? Você e o Caio, os dois mais pegadores da escola...
_ Pô Fernando!
Eu podia ver que o Caio ainda estava bem abalado. O pai dele que tinha ficado quieto, até então, nos olhou e disse:
_ Eu só quero saber uma coisa, e quero a verdade. Há quanto tempo vocês estão juntos?
_ Há pouco tempo pai. Pra dizer a verdade, oficialmente, há uma semana.
_ E quem mais sabe dessa história?
_ Só os meus pais, e uma amiga...
Nesse momento eu lembrei que tinha prometido ligar pra Sarah, mais pra dizer a verdade, eu tava muito mais ocupado no momento, e não era hora de me pendurar no telefone.
_ Bem, filho, eu só posso te dizer uma coisa: eu te apoio totalmente na sua decisão, amo você, e você tenha certeza que não vai ser fácil...
_ Nós estamos sabendo de tudo que teremos que enfrentar de hoje pra frente.
_ Alberto, olha eu queria conversar com você e com a Ângela se for possível.
_ Sim Lucas. Pode falar.
_ Meninos, vocês podem nos deixar a sós?
Sem dizer uma palavra, nós saímos, e fomos seguidos pelo Fernando. Nós já estávamos dentro do quarto do Caio, e ele já fechava a porta, quando Fernando pôs a cabeça pra dentro e falou:
_ Eu queria conversar com vocês, posso?
_ Entra ai.
Ele entrou e terminou de fechar a porta.
_ Na boa, eu não tenho nada a ver com o quê vocês fazem da vida, mais eu só queria alertar uma única coisa: contem comigo pro que vocês precisarem... Ah, quase tudo...
_ Tá Nando, a gente já entendeu. Não entra em detalhes.
_ Certo. Agora eu vô, só vim mesmo pra pegar dinheiro, e tô indo pra faculdade.
Ele saiu, e o silêncio imperou. Eu pude ouvir a conversa dos nossos pais na sala.
_ E como você fez pra contornar Lucas?
_ Eu fiz o quê pude Ângela. Eu peço mil desculpas por mim e por ela.
_ Você não tem nada que se desculpar.
_ Não tenho? Tenho sim, a forma com que ela tratou o Caio ontem não tem justificativa.
_ Lucas, ela tava nervosa, é normal que alguém reaja dessa forma a uma notícia dessas não?
_Independente, não dá a ela o direito de falar assim com ninguém.
_ Vamos deixar o tempo correr Lucas.
_ É a única coisa que nos resta a fazer não Alberto?
_ Não. Mais no momento é a mais sensata.
_ Vocês acreditam que ela tentou jogar um vaso no Vicente?
_ Você tá brincando?
_ Não Alberto.
_ Nossa Lucas!
_ E o quê você fez Lucas?
_ A única coisa que me restava no momento Ângela. Eu a segurei, e mandei o Caio tirar o Vicente de lá, e mandei os dois dormirem em hotel nessa noite.
_ Mas por que você não mandou eles virem pra cá?
_ O Vicente tava muito abalado, tinha chorado muito, e eu e o Caio concordamos que ele falaria com vocês hoje por vontade própria.
_ É, se o Vicente chega aqui chorando, eu não ia pensar duas vezes em perguntar o quê tinha acontecido.
_ Ah, Ângela, se vocês ainda fossem amigas...
_ Você sabe bem que por mim...
_ Sei sim.
_ Mais como foi isso Lucas?
_ Simples Alberto. Eles tinham combinado de dormirem lá em casa e irem juntos pra escola de lá mesmo. Ai, a Marisa disse que ia sair com a Gilda. _ Nesse momento eu pude perceber o tom de nojo nos gemidos que se seguiram. _ Bem, eles fizeram o quê qualquer casal de adolescentes faria numa situação dessas.
_ Sim... Eles estavam...
_ Escuta Alberto. _ Era a mãe do Caio falando. _ Continua, por favor, Lucas.
_ Eles aproveitaram o momento, e estavam curtindo. O Vicente sabe que quando ela sai com a Gilda, demoram a voltar. Mas, dessa vez, elas tinham armado pra cima deles. Pensando que eles estavam usando drogas, mas, a Gilda como gosta de criar intrigas, já tinha dito que achava que eles tinham um caso.
_ Gente, como a Marisa aguenta essa mulher?
_ Não sei, de verdade Ângela.
_ Eu tenho certeza que a amizade de vocês só terminou por causa dela...
_ Não tenho dúvidas Alberto. Mais fazer o quê. Marisa prefere ouvir aquela mulher, a ouvir os meus conselhos...
_ Sim, Lucas, mais continua.
_ Ela entrou em casa sem fazer barulho, e subiu pro quarto do Vicente... Preciso terminar?
_ Ela viu os dois fazendo...
_ Não. Eles estavam se beijando.
Confesso que eu estava meio constrangido por estar ouvindo a conversa deles, mais não tinha nenhum assunto que durasse.
_ Aí, a merda foi pro ventilador.
_ Nossa Lucas.
_ Eu cheguei de surpresa em casa, e dei de cara com a Gilda aflita na porta. Eu subi correndo e ela entrou atrás de mim, e nós vimos o resto da história.
_ Não!
Daí pra frente, eu não ouvi mais nada, porque Caio, sem avisar, me abraçou e nós nos beijamos enquanto e era conduzido pra cama dele, e deitado.
_ esquece deles lá na sala!
Ele me virou de costas me dando uma massagem incrível. Não demorou muito, pra eu dormir.
Cara, só estou comentando nesse capítulo, mas estou gostando muito do ritmo do conto. Está muito claro o amor e a cumplicidade de Vicente e Caio, não apenas como uma paixonite adolescente, mas uma relação forte e bonita. Continuarei seguindo com grande expectativa. Parabéns!
Gostei muuuuito dos episódios , continue e n demore pfv rs
Foi tenso esse capítulo ansioso pelo próximo.