Eu já estava no carro e ele debruçado na minha janela.
_ Se acontecer qualquer coisa, você me liga, e eu vô correndo pra te salvar ta?
Eu dei um beijo nele e sorri.
_ Boa noite lindo.
_ Quando você chegar me liga ta?
_ Tá. Mais fica com o celular ligado.
Ele me beijou. Eu liguei o carro e fui embora.
No caminho eu pensava:
“Será que algum dia nós vamos ter paz?”.
Quando eu entrei em casa meu pai veio numa velocidade impressionante.
_ Eu já tava preocupado filho.
_ A mamãe fez um belo estrago nele...
_ Como assim?
_ Ele ganhou um corte na sobrancelha.
Ele me olhou e fez um sinal pra que eu o seguisse. Nós entramos no meu quarto e ele fechou a porta.
_ A mãe dele chegou a ver?
_ Bem, enquanto eu tava lá, não. Eu mesmo fiz o curativo, mais agora eu já não sei. Ah, o pai dele viu.
_ Filho, eu vô te pedir uma coisa, e eu queria que você encarasse numa boa. Fica um tempo longe do Caio...
Eu nem esperei o fim da frase:
_ Pô pai! Agora você também vai ficar contra?
_ Filho! Eu nunca estive contra a sua felicidade. Agora se ela está ao lado do Caio, eu vô te apoiar. Mais a sua mãe não aceita isso. De maneira alguma.
_ Pois bem pai, ela que vá pro inferno com os preconceitos dela, porque eu não vô deixar de ser feliz só porque ela não aceita.
_ Eu já pensava que você fosse dizer isso. Mais filho considera... Você já teve hoje uma prova de que a sua mãe vai complicar ao máximo a vida de vocês.
_ Pro inferno ela e as complicações dela. Eu vô deixar isso bem claro pai: Eu saio de casa, moro debaixo da ponte, na margem do Tietê, mais eu não vô deixar de ser feliz só porque ela é uma recalcada.
_ Vicente! Eu não vô admitir que você fale assim da sua mãe.
_ Eu só to falando uma verdade.
_ Independente disso, ela é sua mãe.
_ Pois bem, como eu já disse: eu não vô deixar de ser feliz só porque existe alguém que não aceita. Eu tenho plena consciência de todos os preconceitos que eu vô enfrentar... Não sô tão idiota ao ponto de pensar que todo mundo vai ser bonzinho, vai me abraçar e dizer: “que legal!”, sei que não é igual nas novelas, e muito menos nos livros.
Nesse momento pra minha surpresa, ele se levantou e disse:
_ Filho, se você soubesse o orgulho que é pra mim ser seu pai!
Nós nos abraçamos. Ao me soltar, ele olhou fundo nos meus olhos:
_ Vicente, eu sei que vai ser extremamente difícil, mais vamos manter tudo isso por hora em segredo sim?
_ Segredo pra quem pai? Pra minha mãe? Só se ela for muito tonta pra não perceber que eu vô fingir.
_ Muitas vezes nós temos que mentir pra proteger as pessoas que nós gostamos filho.
Eu parei e pensei na mesma hora no Caio.
_ Certo pai. Não prometo nada, mais simplesmente digo que farei o possível.
Ele me deu um beijo e saiu do quarto. Meu telefone começou tocar no mesmo tempo, e não deu pra eu ouvir o que ele tinha dito.
_ Oi.
_ Pô Vicente, você é foda.
_ Eu não tive tempo. Tava conversando com meu pai, aí não deu pra te ligar. Mais tá tudo bem.
_ Não tá não. Você tá com uma voz...
Eu suspirei e menti:
_ Só to cansado... Muitas emoções pra uma noite.
_ Verdade. Vamos dormir então?
_ Sim.
_ Beijo Vi. Dorme com Deus, e sonha comigo.
_ Pode deixar, E você também. E não esquece, eu passo aí amanhã antes de ir pra escola pra te pegar ta?
_ Você hein? Tá. Um beijo.
Eu desliguei e tirei a roupa, e cai na cama.
Quando o despertador tocou, parecia que eu tinha acabado de dormir, mais estranhamente eu não estava cansado. Levantei tomei um banho e fui tomar o meu café.
_ Bom dia filho!
Meu pai tava lendo o jornal sozinho na cozinha.
_ Bom dia pai. Onde tá a mãe?
_ Ela foi pra casa da sua vó hoje, e só deve voltar no fim de semana.
_ Nossa! Que milagre!
Ele riu e eu fui fazer o meu leite, e depois voltei pro quarto e fui arrumar a mochila do dia, que, aliás, estava cheia de roupas.
Depois do café eu fui pra casa do Caio como agente tinha combinado.
Eu cheguei lá e ele tava pronto esperando na sala.
Quando nós saímos o vizinho dele que tava no portão nos olhou sarcasticamente e disse:
_ Aonde vão às duas flores? Vão ao salão de cabeleireiro?
O Caio não disse nada, foi passando como se não fosse com a gente. Quando eu ia me virar pra dar a resposta que eu tinha na ponta da língua, ele me impediu com um braço esticado.
_ Vamos se não a gente chega atrasado pra primeira aula.
_ Mas...
_ Anda logo velho!
Ele me empurrou pro carro, e nós saímos.
Quando a gente já tava no fim da rua eu me virei e perguntei:
_ Por que você não deixou responder como ele merece?
_ Porque o meu pai já fez isso hoje antes de sair...
_ Como assim?
_ Ele nos viu ontem antes de você ir embora.
_ Claro que nos viu. Eu tava no seu quarto com você...
_ Não to falando do meu pai...
_ Ele nos viu ontem? Que horas?
_ A hora que nós chegamos e a hora que eu vim trazer você no carro...
_ Tá. Eu já vim tantas vezes pra cá... E você já me levou no carro tantas vezes também... Ele nos viu e daí?
Aí a verdade caiu como uma pedra na minha cabeça.
_ Ele viu...
_ Isso mesmo.
Eu respirei fundo e disse:
_ E o que o seu pai fez?
_ Disse umas boas pra ele. Mais não quero falar nisso cara. Vamos mudar de assunto.
Nós conversamos coisas fúteis até chegar à escola.
Lá eu parei o carro e nós descemos. Assim que eu pus
O pé pra fora, ela veio correndo na nossa direção.
_ Viii! Nossa! Quanto tempo!
Eu olhei pro Caio pelo ombro e disse:
_ Sarah! Sempre a mesma.
Nós rimos enquanto ela se aproximava.
_ Caio! Nossa quanto tempo!
_ E não é?
_ Mais contem, quais novidades vocês têm? Ah, e como tá o lance de vocês?! A sua mãe aceitou numa boa?
Nesse momento, um silêncio mortal caiu sobre o estacionamento. Na mesma hora Ela notou que tinha feito a pior cagada do ano.
_ Nossa! Aí gente! Nossa cara, pelo amor de Deus, me desculpa!
Nós olhamos pra ela, e dissemos juntos:
_ De boa Saritah. Até por que já não da mais pra tentar consertar não?
De uma hora pra outra, o silêncio ficou mais pesado. Já parecia que tinha uma tonelada. Nisso, uma voz conhecida se destaca do meio da galera:
_ Caio, Vicente, vocês podem explicar alguma coisa?
Meus olhos estavam pregados no chão, mais ao ouvir a voz eu os levantei, e vi que da multidão lá vinha ele.
Eduardo!
Com uma cara de divertimento, ele se aproximava de nós dois, e sempre sorridente, e inconveniente.
_ Tipo cara, não é uma brincadeira de vocês dois Né?
Eu antes de responder, olhei pro Caio e vi que ele estava impassível. Ele abriu um sorriso largo, e respondeu:
_ Não é não. Nós estamos juntos, um casal mesmo.
Um murmúrio se iniciou nessa hora.
_ Nossa! Eles! Os dois mais pegadores da escola...
_ Vocês tão tirando com a minha cara não?
_ Não. A gente tá falada à verdade.
_ Até porque, nós não temos pra que mentir quanto a isso não?
Ele me olhou espantado, com uma cara de “Você me surpreendeu”, e o Eduardo olhando ainda desconfiado, mais ao mesmo tempo divertido, disse:
_ Tá, se vocês tão namorando mesmo, eu quero ver um beijo.
_ Não gente. O quê vocês têm a ver com a vida dos dois?
_ Eu quero e a galera também quer não?
Uns disseram que não, mais a maioria falava em coro:
“Beija, beija, beija!”
Ele se virou pra mim e me deu um selinho.
_ Eu quero um de verdade. Um puta beijo mesmo.
Aí eu já tava de saco cheio, e querendo acabar com aquele martírio, agarrei-o por traz da cabeça, e dei um beijo de desentupir pia, enquanto a pequena multidão que tinha se formado, vibrava e gritava.
Nós nos separamos e logo nos desvencilhamos da pequena bagunça que nós tínhamos causado.
_ Às vezes você me surpreende sabia?
Ele disse isso rindo e passando o braço pelo meu ombro me trazendo pra mais perto. _ Eu penso que já não adianta mais a gente fingir, e eu só aproveitei a ocasião pra dar oi Ele riu com vontade.
_ Ah, eu ainda não tava pronto pra sair falando...
_ Você tem alguma dúvida?
Uma ruga surgiu na minha testa.
_ Ah, Vicente! Sabia que você fica lindo preocupado?
_ Seu bobo.
_ Mais não é questão de dúvida... É tudo muito diferente pra mim até agora. Você sabe não? E eu gostaria que você me entendesse...
Nós tínhamos parado no corredor que estava vazio, e eu cortei com um beijo a frase.
_ Isso te responde?
_ Isso me basta.
Nós nos beijamos de novo, quando nós ouvimos passos no corredor, e nos separamos rapidamente.
_ Boa tarde meninos. Era a diretora da escola.
_ Boa tarde...
Ela passou nos olhando estranhamente. Quando ela já estava fora do nosso alcance de áudio, eu olhei pra ele e disse:
_ Caio, ela viu alguma coisa.
_ Olha, nós não podemos afirmar nada, mais se viu, qual o problema? Eu quando tava com a Lívia, nós ficávamos pela escola toda, e ela nunca falou nada. Todo mundo beija todo mundo aqui...
_ Não sei não... Eu já ouvi falar que ela expulsou um casal há um tempo...
_ Vi, não vamos pensar nisso agora.
O sinal tocou e nós fomos pras nossas aulas do dia.
Era estranho, porque era a primeira vez que eu tava indo pra escola desde o dia que tudo explodiu de vez. E também era a primeira vez que eu tava indo pra escola com o Caio como namorado.
Na última aula, a Sarah veio falar de tudo que tinha acontecido.
_ Aí Vi... Desculpa-me mesmo!
_ Mais eu já falei que não tem problema Sarah!
_ Eu não tinha que ter contado nada! Era um assunto de vocês.
_ Que você não tinha que ter dito nada, isso é verdade. Mais agora você já disse... Já jogou a merda no ventilador, não da pra fazer nada mais.
_ Mais eu tô mó mal por ter aberto a boca. Mas quando que eu ia imaginar que bem na hora que eu perguntei todo mundo ia ficar quieto?
_ Pois é isso! Fica tranquila! Afinal, isso uma hora teria que vir a tona não?
_ Vicente e Sarah, vocês querem conversar lá fora, ou preferem que eu pare a aula e vocês sentam aqui na minha mesa e contam tudo pra todos?
_ Desculpa professor.
Cara, como eu odeio esse professor de história! Puta cara chato!
Nós não falamos mais no assunto.
O sinal tocou nos libertando finalmente. Quando eu cheguei à porta da sala, ele já tava lá me esperando.
_ E ai como foi a aula?
_ Como sempre, um porre.
Nós nos afastamos um pouco da massa de alunos, e ele me deu um beijo rápido. Quando nós nos separamos, uma voz autoritária nos chamou.
_ Vicente e Caio?
Nós nos viramos e demos de cara com a diretora;
_ Vocês poderiam vir comigo na minha sala, por favor?
_ Desculpa dona Álvara, mais nós estamos com um pouco de.
_ Você não compreendeu. Venham comigo agora, por favor.
Ela não esperou mais que alguém respondesse, e nos deu as costas abrindo caminho entre os outros alunos.
_ Puta veia chata meu!
_ Nem fala. Mais vamos lá né Vicente...
Nós a seguimos e entramos na diretoria.
Ela sentou atrás da mesa dela, e nos olhou e sem enrolações disparou:
_ Vocês estão tomando uma advertência verbal.
_ Nós?
_ Por quê?
_ Eu não admito que nenhum aluno dessa escola fique de safadeza pelos corredores. E vocês estavam hoje, e eu os vi por duas vezes.
_ Mais dona Álvara, o quê nós fizemos, todos aqui fazem...
_ Não senhor, Caio. Vocês estavam em uma cena obsena! Os alunos aqui são em sua maioria saldáveis, não saem por ai se atracando com outros do mesmo sexo, ou saem? Por um acaso tem mais iguais a vocês?
O sangue me subiu a cabeça:
_ Ouça, isso é crime, e não vamos aceitar isso, fica sabendo.
_ Querem brigar? Certo. Pois bem, aqui quem manda é eu, se esqueceu? Fica tranquilo, os pais dos dois vão ter notícias minhas sobre isso.
_ E a senhora é uma...
_ Era só isso dona Álvara?
_ Sim. Estejam avisados, mais uma dessa, e é suspensão.
_ Bom, sendo assim... Licença.
Eu fui puxado pelo Caio, nem sei como eu cheguei ao carro.
_ Quer que eu dirija?
Como resposta eu dei a chave na mão dele.
_ Fica calmo Vicente!
Nisso nós ouvimos um barulho de alguém correndo e depois gritando:
_ Caio! Vicente!
Ele me fez entrar no carro, e esperou pra ver quem era.
_ A Sarah.
_ Ah, ela tá com remorso...
_ Vocês estavam onde? Rodei a escola toda atrás de vocês...
_ Não mesmo. Porque você teria achado a gente.
_ Mais eu olhei sim.
_ Você não procurou direito então.
_ Vocês me dão uma carona?
_ Entra ai.
Eu fechei a minha porta e esperei o Caio entrar. Eles entraram e depois que nós já estávamos fora da escola, e ninguém falava nada, ela perguntou:
_ Gente, aconteceu alguma coisa? Eu fiz alguma coisa?
_ N...
_ Eu tenho que pedir desculpa pra você também Caio, eu tinha...
_ Não foi nada com você Sa!
_ Ah, então?
_ Foi à vaca da dona Álvara.
_O quê ela fez? Por que vocês tão assim?
_ Ela nos pegou dando uns beijos.
_ Tá, isso todo mundo faz.
_ Sim, mais só pelo fato de nós sermos gays, isso já é motivo pra ela nos advertir verbalmente.
_ Nossa! Você tá brincando Vicente!
_ E ainda pode ser que ela chame os nossos pais...
_ Nossa!
_ Verdade mesmo.
_ E o pior Sarah, é que ela foi super preconceituosa.
_ Jura Caio! O quê Ela disse?
_ Que não ia tolerar esse tipo de sem-vergonhice...
_ Não com essas palavras, mais foi isso mesmo.
_ Credo! Ah, mais vocês já tinham que estar preparados pra isso não?
_ Sim, Sarah, mais não é só o fato de estar preparados ou não.
_ Como assim Caio?
_ Tipo, ela é uma mulher formada, estudada, uma educadora não? Pois bem, se ela tem uma atitude como essa, que tipo de pessoas ela forma aqui então?
_ Nossa Caio! Você falou bonito agora!
_ Mais é verdade Vicente!
_ Ele tá certo.
_ Eu não tô falando o contrário.
E nós fomos debatendo sobre o assunto até chegarmos a casa.
_ Gente eu vô indo nessa. Tenho que limpar a casa ainda.
Nós nos despedimos. Ela já tinha virado a esquina, quando meu pai nos chamou de dentro de casa.
_ Caio e Vicente, venham aqui, por favor.
_ Sim pai, já vamos...
_ Agora Vicente.
Eu olhei preocupado pra ele:
_ Deu alguma merda aqui no mínimo.
Nós entramos, e demos de cara com os meus pais, os pais do Caio, e pra maior espanto:
_ Dona Álvara!
Nós não conseguimos evitar falar isso junto.
_ Meninos, vocês aprontaram o quê lá na escola hoje?
_ Você jura que não sabe mesmo pai?
Eu fiz uma cara de sínico, tendo certeza que ela já tinha nos fudido com eles.
_ Realmente eu não sei de nada filho.
Meu pai nunca foi de mentir pra mim, e eu tive certeza que ele tava falando a verdade.
_ De verdade pai, nós não fizemos nada de errado.
_ Filho, se vocês não tivessem feito, eu creio que a Álvara não estaria aqui em casa agora não?
_ Mais nós não fizemos mesmo.
_ Vicente! Fala logo.
_ Eu to falando pai! Caio me ajuda pô...
_ Verdade tio. Nós não fizemos nada.
_ Bem, sendo assim, nos explique por que a senhora está aqui então dona Álvara.
_ Nós não aprontamos nada de errado a nosso ver...
_ Como assim?
_ Agora você se vira Caio.
_ Simples, pode ser que pra mente dela isso seja errado, mais pelo que eu sei isso não é mesmo...
_ Filho, vocês esta...
_ Sim.
_ Mais dentro Da...
_ No fim das aulas, e antes. Só.
_ Eu concordo com vocês agora.
_Ângela, explica, porque eu não to entendendo nada...
_ Acho que quem nos deve explicações é ela
_ Agora eu concordo com você Ângela.
_ Mais de que vocês estão falando afinal, me explica, por favor.
_ Simples Alberto, eles estavam juntos...
_ Como assim?
O pai do Caio era muito ingênuo, e muitas vezes lento também. Mais ele era muito mais compreensivo muitas vezes.
_ Bem, acho que já basta de enrolações por hoje não?
Dona Álvara falou isso já se levantando.
_ Esses meninos estavam ferindo a moral, eu os encontrei atracados no corredor da escola por duas vezes.
_ Entendeu agora Alberto?
_ Não. Dona Álvara, com todo respeito que eu lhe tenho, me desculpe, mais eu tenho coisas muito mais importantes pra fazer, que ficar aqui ouvindo falso moralismo de diretora de colégio... Que, aliás...
_ Aliás, uma pessoa formada, que se diz uma educadora...
_ Dizendo algo como isso?
Eu e o Caio estávamos pasmos, a mãe dele, o meu pai e o dele, os três nos defendendo, e ainda dando o maior pau na dona Álvara! Isso era bom de mais pra ser verdade. “Eu só tenho o desejo mais profundo de que a minha mãe tivesse falando também.”, pensava em silêncio, e muitas vezes isso fazia o meu olho se encher d’água.
_ Eu não posso crer dona Álvara, que a senhora ocupada, nos fez perder esse tempo por um motivo tão ridículo como esse, tão retrógrado!
_ Vejam que a minha situação não é fácil também. Eu não sou contra, e nem tenho preconceito, mais eu enquanto diretora da escola, não posso deixar que eles desrespeitem o ambiente assim...
_ Dona Álvara, segundo o que nos consta, isso não é nenhuma violação das regras da escola, as quais nós sabemos permitem que os alunos que são comprometidos estejam juntos e mesmo assim, se beijem.
_ Não venham vocês me dizerem como são as regras da minha escola. Eu sei muito bem que isso é permitido aos alunos, e acho muito saudável também. Mais acontece que existem caso e casos, e nesse caso eu não creio ser bom para os alunos ver ou conviver com isso...
_ Isso é um convite dona Álvara?
_ De maneira alguma Lucas, afinal o Vicente e o Caio são excelentes alunos, e nós nos orgulhamos muito de tê-los em nossa escola; mais isso eu não creio ser saudável para os outros alunos, e eu quero também protegê-los de um constrangimento maior.
_ Eu compreendo o seu ponto de vista dona Álvara.
Caio olhava interrogativamente pra mãe dele, esperando que ela continuasse.
_ Sua intenção é boa Álvara, mais eu creio e aprendi isso dentro dos tribunais, poupá-los agora por quê?
_ Mãe!
_ Filho, espera. Se nós pouparmos agora, estaremos tentando tampar o sol com a peneira.
_ Eu concordo Ângela. E penso que é muito mais saudável aos alunos conviverem com eles como são.
_ Já convivem pai.
_ Como assim Caio?
Todos os olhares se voltaram pra nós:
_ Todos já sabem quem somos. Todos nos viram hoje antes de entrar na escola.
_ Como assim?
_ Uma amiga soltou sem querer, e todos ouviram, e viram nós nos beijando...
_ Pois bem Álvara.
Era lindo ver como a mãe do Caio parecia uma leoa defendendo o filho, e do outro lado da conversa, a minha mãe parecia que tinha virado uma parede, uma peça de decoração de tamanho exagerado.
_ Pois vocês vêm como isso já foi?
_ Isso não prova nem reprova nada Álvara.
_ Aliás, meu filho fez como eu o ensinei, eu o criei pra ser livre afinal dona Álvara, lá na escola, ninguém paga as contas deles. E agora, me deixa ir, que afinal de contas, esse assunto pra mim já está encerrado.
_ Pois pra mim também seu Alberto. Seus filhos são convidados a se retirarem da escola.
O pai do Caio que já estava a meio caminho da porta, parou de susto, e voltou-se para a diretora, com uma cara de ponto de interrogação.
_ Repete, por favor, que eu acho que não entendi direito.
- Exatamente. Seus filhos estão sendo convidados a se retirarem da escola. Vocês podem passar amanhã...
_ Escute Álvara, _ o pai do Caio falava de um modo, que parecia que ele queria pegar ela pela gola da blusa. _ Tente pra senhora ver!
_ Amanhã mesmo as transferências estarão prontas...
_ E amanhã mesmo terá um fiscal da secretaria da educação e da receita batendo na sua porta também.
_ Vai ser assim Ângela?
_ Exatamente. Eles saem por uma porta, e os fiscais entram por outra. Tá bom pra você, ou prefere que eu chame o MEC?
_ Faça como preferir. Mais acho um absurdo uma amizade de tantos anos como a nossa terminar assim...
_ Olha Álvara, não vejo motivo para continuar com isso. Os meninos não saem de lá. E quero ver quem há de fazê-lo.
Dizendo isso, ela saiu da sala seguida pelo meu pai e o do Caio. Minha mãe que até agora tinha ficado calada disse:
_ Eu vô pegar um copo d’água pra ver se nós nos acalmamos.
Eu fiz menção de me sentar no sofá, mais fui impedido pelo caio, que me puxou para dentro, me levando escada acima.
_ O que foi Caio!
_ Cala a boca. Agora vamos deixar que eles resolvam.
Eu me deixei ser levado. Quando eu estava deitando na minha cama, ele disse:
_ Não vai adiantar você ficar emburrado.
_ Eu não tô.
Ele riu.
_ Eu vô usar o banheiro, não vai lá, por favor, ta?
Eu concordei com a cabeça. Ele fechou a porta do quarto e foi pro banheiro. Eu comecei a tentar dormir pra ver se assim eu esquecia pelo menos por hora. Quando eu estava no estado dorme não dorme, eu comecei a escutar uma conversa mais calma vinda de lá de baixo. Nisso também o Caio saiu do banheiro. Eu me levantei e fui pra porta.
_ Sossega Vicente!
_ Fica quieto Caio. Eu quero ouvir quem tá falando lá em baixo.
Ele me olhou com uma cara estranha, mais se calou. Eu encostei o meu ouvido na porta e tentava escutar a conversa da sala.
_ Não da pra entender nada!
Eu abri a porta um pouco e nós pudemos ouvir melhor.
_ Eu concordo totalmente com você Álvara. Eles não podem ficar com isso por muito tempo. Acho que isso já foi longe demais. Por mim eu mandava o Vicente pra um colégio interno, mais o Lucas é contra isso. Mais eu vô da um jeito de acabar com essa palhaçada deles. Eu não criei filho nenhum pra ser mulherzinha de ninguém.
Meus olhos ficaram escuros nessa hora. Eu só senti a mão do Caio me apertando o braço.
_ Vem Vi...
_ Eu quero ouvir! Me solta!
Ele não me soltou mais não me puxou.
_ Você tá certa Marisa, eu concordo que eles tenham seus desejos sexuais com e como queiram mais isso não deixa de ser uma imoralidade.
_ Eu penso assim também Álvara. Mais o que eu posso fazer? O Lucas apoia os dois, bem como o Alberto e a Ângela.
_ Eu imagino como seria é complicado...
_ Extremamente. Mas se você topar, eu tenho uma forma de separá-los na escola.
_ Eu concordo. Que forma é essa?
_ A senhora não os deixe ficar sozinhos em nenhum momento, nem no banheiro. Ponha um aluno de sua total confiança, e mande que ele não os largue por motivo algum.
_ Mais Marisa, isso não é viável. Se eu fizer isso pode dar um problema muito grande pra mim. Você me entende?
_ Mais eu sei que quando você quer você consegue.
_ Certo Marisa. Não prometo nada, mais farei o que estiver ao meu alcance...
Eu não terminei de ouvir a conversa porque quatro pares de braços me seguraram. Eu não sei muito bem o que aconteceu depois, só me lembro de uma movimentação grande, e de alguém me pegando no colo, e me chamando por várias vezes.
Sabe adoro contos, e seus contos são muito bons, espero que tenha mais pois adorei. É muito bom este conto, já estou esperando os próximos capitulo.