Nós já tínhamos comido. Estávamos todos deitados na varanda dos fundos, olhando o mar, quando a minha mãe entrou quase derrubando a porta.
_ Então essa foi à fuga que a minha própria mãe acobertou?
_ Marisa, você não vai falar assim aqui.
_ Eu falo como eu quiser, na hora que eu quiser. Essa casa também é minha...
Pigarreando e se levantando ao mesmo tempo, Ângela disse em um tom firme, e tão ameaçador, que gelou até a alma:
_ Se você tivesse ido à audiência da partilha, e se o seu advogado tivesse conseguido falar com você... Realmente, essa casa até poderia ser tua, essa como a que você atualmente chama de casa... Mais como você não foi localizada, e a sua advogada orientada por essa pateta que você tem por amiga, aceitou um pequeno dinheiro e nós resolvemos tudo. _ A minha mãe conforme ouvia ia encolhendo, quando ela terminou, estava parecendo uma criança assustada com um filme de terror. _ Mas... Como o seu ex-marido é muito generoso, além do dinheiro, ele deixou pra você o seu carro, e a casa onde ele reside atualmente.
Ela parecia que tinha visto um fantasma, parecia que ia voar no pescoço de alguém.
_ E eu poderia estar casada com você até hoje Lucas! Tudo isso, se você não tivesse apoiado essa burrice do seu filho, pervertido por esse moleque!
Não foi fácil definir o que foi mais rápido. Ela mal tinha terminado de falar, e a mão dá mãe do Caio, já acertara em cheio um tapa no alvo. Mas quando todos correram pra separar, na maior classe, ela se aprumou, arrumou o cabelo, e disse:
_ Com os meninos você não mexe. Com nenhum dos três sua louca!
Ela foi em direção à porta. Voltou-se, e jogou um beijo pra minha mãe.
A cena tinha sido tão cômica, que todos ríamos, e humilhada, ultrajada por tudo, cabisbaixa, ela se retirou, e eu pude ver que ela estava chorando. Meu pai gritou ainda:
_ E eu digo o mesmo. Você não fala assim dos meus meninos!
De repente, eu olhei pro Caio, e li nos olhos dele o mesmo que se passava no meu coração. Sem dizer nada um ao outro, nós nos pegamos pelas mãos, e contra todos os protestos, nós fomos atrás dela.
_ Mãe! Mãe!
Ela parou e voltou o rosto borrado pelas lágrimas que escorriam. Nós nos olhamos nos olhos por muito tempo, e eu disse o que faltava da minha parte, e como que por um milagre, ela também disse:
_ Me perdoa filho! _ Nós corremos um em direção ao outro, e nos abraçamos. Ela chorava convulsivamente em meu ombro, e me beijava alucinadamente o rosto. _ Me perdoa filho, mais eu não consigo aceitar isso! Eu sei que você o ama... Mais me perdoa por não conseguir aceitar...
Sem dizer uma só palavra, Caio se juntou a nós, e as lágrimas foram o selo da nossa promessa silenciosa.
Nossa é muito bom , quando uma pessoa vence o preconceito ou quando a mesma tenta vence-lo