Meu Delegado - Capítulo 3

Já tinha resolvido à questão do Gustavo, ele ficará o dia inteiro na creche e assim que
fechasse a Helen, filha da amiga da minha mãe, o traria para a casa e minha mãe ficaria com
ele na parte da noite.
Pego o meu celular e procuro na agenda o numero da dona Julia, encontro e início a
chamada.
No quinto toque ela atende.
- Alô.
- Oi dona Julia, sou eu a Sophia.
- Oi minha querida. Tudo bom com você?
- Tudo sim. E com a senhora?
- Bem também, obrigada... Bom se você está me ligando é porque já tem uma resposta pra
minha proposta. Estou certa?
- Sim senhora. Já tenho.
- E então?
- Eu aceito o emprego, lógico, se ainda estiver de pé.
- É logico que está, fico feliz de ter aceitado. Tenho certeza que não vai se arrepender.
- Eu sei que não.
- Quando você pode começar?
- Quando a senhora quiser.
- Amanhã está bom?
- Sim, está.
- Então arruma as suas coisas que você vai precisar durante a semana, amanhã eu vou te
buscar.
- Não senhora, não precisa se incomodar. – até porque seria muito perigoso ela aparecer aqui
no morro, sozinha.
- Não é incomodo nenhum, faço questão de ir ai te buscar, eu sei onde você mora...
- Então a senhora sabe que é perigoso e...
- Não tem problema eu vou com o meu segurança, fica tranquila.
- Então se é assim, tudo bem. – me dou por vencida depois de perceber que ela não desistiria
de jeito nenhum.
- Amanha ás 9:00hrs eu estarei ai te esperando, tudo bem?
- Sim dona Julia, estarei lá no pé do morro a sua espera.
- Então está bom, minha querida. Tenha um bom dia.
- A senhora também... E dona Julia. – digo antes que ela desligue. – Muito obrigada pela
confiança.
- Não tem nada que agradecer minha querida. A gente se ver amanhã.
- Sim senhora.
Finalizo a ligação e aproveito que o Gustavo está tirando o sono da tarde e vou arrumar as
coisas que vou precisar. Amanhã ainda é quarta-feira, então vou levar a quantidade de roupa
que irei precisar para três dias. Segundo ela, no sábado eu já posso voltar para a casa.
Coloco meus produtos higiênicos, roupas para dormir, e algumas roupas para trabalhar, eu
ainda não sei se serei obrigada a usar uniformes ou não, então pra não correr o risco de ficar
sem nada para vestir, coloco umas mudas de roupas mais velhinhas. Deixo a bolsa arrumada
perto da cama e saio do quarto encontrando a minha mãe na sala assistindo TV.
Depois do episodio de ontem à noite, nós quase não nos falamos direito. Ainda me dói ouvir
essas coisas. Por mais que eu saiba que não é verdade isso que ela diz, dói.
- Sophia?
- Oi. – respondo catando uns brinquedos do Gustavo que estavam espalhados pelo chão.
- Filha, me desculpa. Eu não quis dizer aquilo ontem...
- Mas disse mãe, ou melhor, quase disse... Eu já entendi que a senhora se envergonha de mim
pelo fato de eu não saber quem é o pai do meu filho, eu entendo sua raiva. Entendo que eu
te decepcionei. Mas eu não mereço que a senhora lembre-me sempre que eu fui uma puta,
vagabunda, que não sabe quem é o pai do próprio filho.
- Também não é assim, Sophia. – ela diz com os olhos marejados.
- É assim sim, mãe, ou a senhora se esqueceu das palavras que me disse há três anos? Porque
eu não me esqueci, mãe, eu me lembro de cada palavra que você me disse naquele dia.
- Filha me desculpa. Eu não devia ter te dito aquelas coisas, eu estava de cabeça quente.
Tenta se por no meu lugar...
- Eu não guardo magoas da senhora por conta disso não, mãe, mas eu não guardo mesmo. Eu
só precisava colocar isso pra fora, só precisava mostrar pra senhora como eu me sinto todas
as vezes que joga esse fato na minha cara.
Ela se levanta e vem até a mim, pega na minha mão e me leva para sentar no sofá. As
lágrimas caiam pelo seu rosto cansado e eu estava me segurando para não fazer o mesmo.
- Me desculpa filha, eu mais do que você sofri com isso, você não sabe o quanto me doeu
dizer aquelas coisas. O quanto eu me senti mal te rejeitando como filha, pois de certa forma
foi isso que eu fiz... Mas não pense que eu não te amo, Sophia. – passa suas mãos pelos meus
cabelos, e eu já estava a ponto de chorar. – Você é a minha filha, minha vida, você é tudo que
eu tenho... Quer dizer, agora tem o Gus também. – diz e dá um sorriso – E apesar de tudo, eu
te agradeço por trazer ele ao mundo. Eu nunca te disse isso... Mas eu sinto muito orgulho de
você por querer continuar com a gravidez do mesmo jeito. Muitas garotas no seu lugar
optariam por um aborto, mas você não.
- Eu nunca teria coragem de fazer uma coisa dessas, mãe, é o meu filho, ele não tem culpa.
Digo e minha mente volta para aquela noite e todas as cenas horríveis das coisas que passei,
invadem a minha mente. Balanço a minha cabeça de leve e tento não demonstrar a minha
repulsa.
Realmente, o meu filho não tem culpa de nada mesmo. Ele é tão vitima quanto eu, nessa
história toda.
- Eu sei que não, minha filha, eu te conheço muito bem. E eu tenho muito orgulho de você
por isso, por ter enfrentando isso como uma mulher... Meu deus, na época você só tinha 17
anos, e você me enfrentou, me disse toda a verdade, você poderia ter me inventado qualquer
coisa, mas não, você me disse a verdade.
Eu já não conseguia mais segurar as lágrimas, a dor no meu peito me corroía de tal forma que
me deixava sem ar.
Como eu queria contar toda a verdade.
Como eu queria não ter precisado mentir.
Como eu preferiria não saber de fato quem é o pai do meu filho, do que passar por essa
situação.
– Pra ser honesta com você eu não sei se no seu lugar eu teria feito o que você fez, não...
Apesar de tudo o que aconteceu, das coisas que eu te falei até hoje, são sempre sem pensar,
filha. Eu sinto orgulho de você, sinto orgulho da mulher que você se tornou tão cedo... Eu só
queria te pedir uma coisa, que eu já deviria ter pedido há anos. – ela para, dá um suspiro e
aperta forte as minhas mãos. – Me desculpa filha, me desculpa por tudo que eu te disse, você
não sabe como eu me arrependo de cada palavra.
- Não precisa pedir desculpas, mãe.
- Precisa sim, eu não fui a mãe que eu deveria ser pra você naquela época, eu só pensei no
que as outras pessoas achariam de mim, de você... Eu não me coloquei no seu lugar, eu não
fiquei verdadeiramente do seu lado quando você mais precisou de mim. Você errou, mas eu
também não tinha o direito de te julgar e nem dizer aquelas coisas pra você. Eu estraguei a
relação maravilhosa que nós tínhamos, eu sou a culpada. Desculpa-me, filha.
- Mã-mãe... – tento dizer, mas ela me corta.
- Por favor, diz que me perdoa? – ela chorava muito, assim como eu.
- Claro que sim, mãe. – ela não espera nenhum segundo mais e me abraça.
E como eu senti falta desse abraço. Tanto tempo sem trocarmos esse pequeno gesto de
carinho. Para muitos, isso não significa nada, mas pra mim esse abraço significa um
recomeço... Para nós duas. É tão bom ter a minha mãezinha de volta.
[...]
- Mãe, qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, a senhora me liga, ouviu?
- Filha, tudo bem, pode ir tranquila, não vai acontecer nada. Não é Gus?! – pergunta para o
Gustavo que estava no seu colo. Ele olha pra ela e em seguida para mim e balança a cabeça
dizendo que sim.
São 08h30min da manhã e eu estou me despedindo dos dois. Só que eu ainda não consegui
sair de casa. Eu não queria deixar meu filho, eu sei que ele vai estar em ótimas mãos, mas
meu coração fica apertado, eu nunca fiquei um dia longe dele.
Pego ele do colo da minha mãe e o abraço forte, não conseguindo segurar as lágrimas que
sem eu ao menos perceber, caem pelo meu rosto.
Meu deus, eu vou estar só algumas horinhas de distância longe dele, mas parece que eu vou
para outro país.
- A mamãe vai ficar alguns dias longe, tá?
Eu falava como se ele realmente estivesse me entendendo. E eu acreditava que sim, pois ele
me olhava atento a cada palavra que saia de minha boca.
- Mas eu prometo que vou ligar todos os dias pra ouvir sua vozinha. Eu quero que se
comporte com a vovó e não apronte, tudo bem? – ele balança a cabeça como quem diz “sim”
e nós rimos. – Eu te amo muito, filho. – o aperto mais nos meus braços e dou-lhe um beijo.
- Amo mamãe. – ele diz ainda abraçado a mim e com sua mãozinha passando de leve pelo
meu cabelo, como se não fosse possível, eu chorei mais ainda.
- Agora eu tenho que ir. –passo ele para o colo da minha mãe e dou-lhe um abraço e um
beijo.
- Se cuida, minha filha. Quando puder liga, tá?
- Pode deixar, mãe, ligo sim.
Saio de casa com o coração apertado por ter que deixa-lo, se eu pudesse o levava comigo.
Mas isso é por ele, só por ele que estou fazendo esse sacrifício de ficar tanto tempo longe.
Isso fez me lembrar de quando eu era criança e minha mãe tinha que fazer a mesma coisa
comigo para ir trabalhar. Ela sempre procurou me dar tudo de melhor que estava ao seu
alcance, já que éramos apenas nós duas.
O meu pai eu nem cheguei a conhecer, ele morreu uns meses antes de eu nascer, e minha
mãe, sem ajuda nenhuma, me criou sozinha. E eu tenho muito orgulho dela por isso. É por
ela e pelo meu filho que estou fazendo isso, eu quero dar uma vida melhor pra eles, quem
sabe um dia consiga tirá-los da favela. Não que eu não goste de viver aqui, mas é que me
remete muitas lembranças horríveis que tento inutilmente esquecer. Todas as vezes que olho
para esses becos, para esses bandidos andando pra cima e pra baixo na favela, eu me lembro
dele, me lembro do que ele fez comigo. Eu sei que já muito tempo, mas não deixa de doer.
Aquelas lembranças horríveis não deixam de ser vivas aqui dentro de mim.
E um outro motivo pelo qual eu desejo sair daqui, é porque não temos sossego. Nós nunca
sabemos quando pode acontecer algum tiroteio, uma invasão, e com isso, vivemos sempre
com medo.
Eu queria poder viver num lugar onde eu não me preocupasse em deixar o meu filho
brincando em frente de casa. Eu sei que hoje em dia é um pouco complicado. Mas eu sei que
existe lugares mais tranquilos do que aqui, pra se viver.
Eu tenho fé de que um dia eu consiga sair desse lugar...
Quando chego ao pé do morro já consigo avistar o carro preto parado, e na frente dele, a
dona Julia estava encostada.
Assim que chego perto do carro ela me surpreende com um abraço.
- Bom dia, Sophia.
- Bom dia, dona Julia.
- Sem dona, por favor, assim me sinto mais velha do que já sou... – diz e sorri. – Vamos?
- Claro, vamos.
Ela abre a porta de trás e dá passagem para que eu entre no carro, logo em seguida ela entra
e o motorista coloca o carro em movimento.
- Sophia, antes de tudo eu tenho que te dizer algumas coisas.
- Claro, pode falar.
- É que... Como que eu vou dizer, o meu filho ele não é muito sociável e quando ele quer, até
mesmo quando não, ele pode ser bem grosso. – ela parecia um pouco envergonhada dizendo
aquilo. – Então eu quero que tenha um pouquinho de paciência com ele, eu sei que no fundo
ele é um homem bom. Ele só não gosta que invadam a privacidade dele... E não sei se você
sabe também, mas ele é um delegado, então não se espante se ele fizer algumas perguntas
um pouco evasivas demais.
Eu já sabia que ele é o primo delegado da Camila, ela sempre me falou dele, dizia o quanto
ele era legal e a apoiava em seguir a carreira de policial. Mas parece que a dona Julia está me
descrevendo um cara completamente diferente do que a Mila me descreve ele.
- Entendi, pode ficar tranquila. Eu só irei fazer o meu trabalho.
- E mais uma coisa... – ela respira fundo e parecendo estar um pouco envergonhada,
continua. – É que quando eu disse que você era mãe e que não tinha muita experiência, ele
não recebeu isso muito bem, então eu fiz um trato com ele de que você ficaria lá, digamos de
teste, sabe? Se ele não gostar...
- Ai eu vou embora. – completo.
- Sim... Mas eu confio em você eu sei que vai dar tudo certo. É só você fazer as coisas do jeito
que ele gosta e na hora certa.
- Tudo bem, eu vou fazer o possível pra ele gostar de mim. – digo tentando tranquiliza-la.
- Eu sei que vai, e também sei que ele vai gostar de você. – ela me direciona um sorriso que é
impossível não retribuir.
Demos o assunto por encerrado e fizemos todo o caminho em silencio. Um tempinho depois
o motorista entrava com o carro em um condomínio muito lindo e com uma segurança bem
pesada, devo dizer. Só tinha casas enormes e magnificas, eram ainda mais lindas do que a
casa da Camila, e olha que a Camila mora em uma mansão.
Uns cinco minutos depois o motorista para o carro em frente a uma enorme casa, ela é
gigantesca por fora, e assim como o condomínio em si a casa também é muito segura, os
muros são incrivelmente altos e com cercas elétricas ao alto.
Realmente esse homem é obcecado por segurança. Também, pudera, ele é um delegado, não
pode ficar dando sopa por ai.
Eu só tenho que tomar cuidado quanto a isso, ninguém no morro pode saber que eu vou
trabalhar na casa de um Delegado, se não eu estou morta.
A Julia toca o interfone e não demora muito uma mulher atende. Elas trocam meia dúzia de
palavras e em seguida o portão é aberto.
Assim que entro meu queixo novamente vai para o chão. Se por fora a casa já parecia grande,
por dentro é bem maior do que aparenta. Tem um enorme jardim e uma espécie de
academia, pelo o que deu para eu ver, nos fundos da casa e uma enorme piscina não passou
despercebida por mim, também.
É realmente muito linda e grande essa casa, não da pra acreditar que só uma pessoa mora
aqui sozinha.
- Vem minha querida. – diz a Julia me puxando pela mão.
Acompanho-a e entro pela cozinha, já consigo sentir um cheiro delicioso de comida e
encontro uma senhora na base dos 50 anos em pé de frente para o fogão.
- Bom dia, Zeiva.
- Bom dia, dona Julia. – diz a mulher se virando para nós.
- Zeiva essa daqui é a Sophia, a nova empregada que eu te falei. Sophia essa é a Zeiva, ela vai
ficar aqui com você só até amanhã, ela te explicará tudo o que você tem e tudo o que você
não tem que fazer aqui.
- Okay, Julia, entendi.
- O meu filho está, Zeiva?
- Não senhora, ele já saiu pra delegacia. Mas disse que hoje volta para o almoço.
- Ah então eu ficarei pra fazer uma surpresinha pra ele. – diz com um sorriso. – Vou ficar lá na
sala. Fica bem ai, Sophia?
- Sim, dona Julia, pode ir.
Ela acena e vai sai da cozinha.
- Sophia, né? – pergunta a Zeiva.
- Sim.
- Então, eu vou terminar aqui e vou te mostrar onde você irá dormir. Só um minutinho. – a
mulher tinha um sorriso simpático para mim e eu não consegui não retribuir.
- Tudo bem. – digo deixando minha bolsa sobre a mesa – Quer ajuda?
- Ah eu aceito, você pode cortar uns legumes pra mim. Pega ali na geladeira.
Vou até a geladeira e pego os legumes que ela me pediu e vou para a pia os descascando.
- Porque você faz o almoço dele tão cedo? Ainda é 10h20minhrs.
- Na verdade eu só estou adiantando algumas coisas. Quando o que tenho que fazer demora
muito, eu já começo a fazer bem cedo, pois o senhor Rodrigo gosta de chegar em casa e a
comida já está pronta, ele não gosta muito de atrasos.
- Ah entendi.
Termino de descascar tudo e coloco na panela com água.
- Vamos, eu vou te mostrar onde você irá ficar. – diz secando suas mãos no pano de prato
logo o colocando sobre a mesa novamente.
Vou até a mesa, pego minha bolsa que tinha posto lá em cima e a acompanho para fora da
cozinha.
Quando eu entrei, não percebi, mas de frente para a porta da cozinha, tem um quartinho. A
Zeiva abre aquela porta e vejo o cômodo, que é até que espaçoso para uma pessoa. Tem uma
cama de casal encostada na parede e uma janela ao lado, que dava visão para a academia do
outro lado do quintal, tem também um guarda roupa e uma porta ao lado direito, que depois
de abrir vejo que se tratar de um banheiro. O lugar até que era aconchegante, na verdade
maior do que o meu quarto em casa. Agradeço a deus por ter um ar condicionado ali, pois o
calor do Rio de Janeiro castiga a gente.
- Você pode fazer suas refeições lá na casa mesmo, só que sempre depois do Senhor Rodrigo.
- Okay.
Ela vai até o guarda roupa, e na parte de cima, retira um saco plástico e me dá.
- Se troca e coloca esse uniforme, pode se acomodar, te espero na cozinha para te passar
algumas coisas.
- Está bem.
Ela sai e eu entro no banheiro trancando a porta. Tiro a roupa e coloco o uniforme, que é um
vestido. Isso ficou na metade das minhas pernas, não posso abaixar muito se não corro o
risco de mostrar o que não devo. Coloco a sapatilha de pano branca que estava junto com o
uniforme, prendo meus cachos em um rabo de cavalo no alto e deixo uns fios caindo sobre
meu rosto.
Deixo as minhas coisas para arrumar depois à noite, quando eu estiver tempo e saio do
quarto.
Chego na cozinha e a Zeiva já começa a me explicar tudo o que eu devo fazer. Nessa casa
tudo tem um dia certo pra ser executado. Tem um dia para lavar a roupa, e outro para passa-
las, outro para arrumar toda a casa, e quando ela diz arrumar é realmente arrumar, não
apenas passar uma vassoura. Tem o dia de arrumar a academia. Sim ele também gostava da
academia limpa, enfim, tem dia para tudo.
A única coisa que eu não preciso fazer é limpar a piscina nem o jardim. Ela me disse que isso
é com um homem responsável que vem todas as sextas-feiras fazer isso.
Ela me explicou também tudo o que ele gosta de comer, e tudo o que ele não gosta. Admito
que isso eu tive que anotar em um caderninho. Eu devo estar em pé as 05h30min da manhã
para fazer o seu café, pois ele sai bem cedo de casa para ir para a delegacia. Isso quando não
faz plantão a noite e chegava mais o menos nesse horário ás 05h30min / 06h00min.
Cheguei à conclusão de que esse homem tem algum tipo de transtorno, deve ter TOC não é
possível, ele gosta de tudo no tempo e na hora dele. Estou vendo que vai ser um pouco
difícil, mas eu vou fazer o meu máximo, não posso perder esse emprego.
A Zeiva deixou que eu terminasse de fazer o almoço, pois disse que eu deveria me acostumar.
Eu fiquei um pouco nervosa, mas ela me tranquilizou e acabei esquecendo que estou aqui a
trabalho, coloquei na cabeça que estou cozinhando para mim e não para um homem cheio
de mimimi.
12h00min o almoço já estava pronto. Agora é espera-lo para começar a servir.
Não demorou muito e escuto o barulho do portão da garagem se abrindo, deduzi que seria
ele chegando.
Eu estou nervosa, meu coração está acelerado e eu não sei por quê.
Na verdade eu sei sim, eu estou com medo dele não gostar de mim e me mandar embora de
cara. Eu não posso, eu preciso muito desse emprego, eu preciso ficar.
- Pode colocar a mesa, Sophia. – diz a Zeiva.
Vou até os armários, pego as louças e começo a arrumar a mesa para dois.
Quando estou colocando os pratos em cima da mesa, ouço uma voz que faz todo o meu
corpo se arrepiar.
- Vou tomar um banho rápido e desço, eu estou morrendo de fome.
Meu Deus, que voz é essa?
É uma voz rouca, grave, passa autoridade, imponência...
Respiro fundo e engulo seco.
Volto minha atenção para a mesa e continuo arrumando a mesma.
Quando termino pergunto a Zeiva se fiz certo e ela diz que sim. Novamente ouço aquela voz
que me fez arrepiar, a Zeiva me olha e muda totalmente sua postura ficando ereta. A imito.
E é nessa hora que eu o vejo, o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha existência
nessa terra. Ele tem um ar de superior que o faz ficar mais lindo ainda. Os seus olhos é de um
azul tão fascinante que eu não consigo me desprender. Um corpo maravilhosamente
malhado e definido, ele é enorme, mas não exageradamente enorme. É na medida certa. Sua
camisa preta aperta seus músculos o que o deixa ainda mais lindo.
Vejo-o me olhar de baixo pra cima, fazendo cada parte do meu corpo se arrepiar.
Oh Deus o que é isso? O que está acontecendo comigo?O que está acontecendo com o meu
corpo?
Eu nunca senti nada parecido antes.
O jeito que ele me olha me faz sentir coisas, coisas que eu não sei explicar, pois nunca senti
antes.
São sensações novas pra mim.
[...]
Rodrigo.
Chego em casa e dou de cara com a minha mãe sentada no sofá e com um álbum de fotos nas
mãos.
Ela sabe muito bem que eu odeio quando vem aqui em casa sem avisar.
- Oi meu filho. Eu estava te esperando. – diz se levantando e vem até a mim, me dando um
abraço.
- Está fazendo o que aqui, mãe? – as palavras saem mais rudes do que eu imaginava.
Vejo os seus olhos se enchendo de lagrimas e imediatamente me arrependo das palavras
ditas.
- Eu vim trazer a Sophia. – diz ela com a voz um pouco embargada. – E resolvi ficar para
almoçar com você.
Ah, a empregada nova. Tinha me esquecido completamente que ela começaria hoje.
- Mas estou vendo que você não quer a minha presença aqui, então eu vou embora.
Diz pegando sua bolsa que estava sobre o sofá.
Me praguejo mentalmente por ser assim, por não consegui trata-la de outro jeito, mas se
hoje eu sou dessa forma, ela tem sua grande parcela de culpa.
Antes que ela saia pela porta da sala, eu a chamo.
- Não mãe, não precisa ir. – digo e dou um passo para ir até ela, mas paro.
Ela também para próximo á porta e se vira pra mim.
- Eu sei que não sou bem vinda aqui, então é melhor eu ir embora.
- Mãe. – respiro fundo e aperto com força minhas mãos. – Fica... Eu quero que a senhora
fique.
Eu sinto falta dela, sinto falta de viver diariamente com ela, de chegar em casa e tê-la me
recebendo. Mas eu não consigo, não consigo fechar os olhos e esquecer tudo que aconteceu,
não consigo esquecer tudo que vivi... tudo que vivemos e que ela não fez nada para tentar
mudar... Ela não se preocupou em tentar mudar.
Se eu me afastei, se eu, mesmo sem querer, machuco-a com as minhas palavras. A culpa é
dela.
Ela anda até a mim e me abraça, mas eu não consigo retribuir.
- Desculpa por tudo...
Separo-me dela, pois quando ela começa assim eu sei bem do que ela vai falar e eu não
quero me lembrar de tudo aquilo novamente.
Antes que ela volte a dizer algo, eu me viro em direção ás escadas e começo a subir.
- Vou tomar um banho rápido e já desço, estou morrendo de fome.
Ninguém viveu o que eu vivi, ninguém sentiu a dor que eu senti. Então eu não admito que
ninguém me julgue pelo o que eu sou hoje... eu não admito.
Entro no quarto, tiro minha roupa e vou para o banheiro, tomo um banho rápido, coloco
uma calça jeans escura e uma blusa preta, calço a bota preta do uniforme e desço.
Encontro minha mãe sentada no sofá, mas assim que me viu, veio até a mim e fomos para a
cozinha.
- Filho não seja grosseiro com ela.
- Ela quem, mãe?
- A Sophia. Ela precisa do emprego, então vê se releva.
- Ela só terá o emprego de verdade se ela fizer por merecer.
Digo e dou o assunto por encerrado. Entro na cozinha e posso sentir o cheiro maravilhoso de
comida caseira, não há nada melhor que isso.
Mas assim que olho para a minha frente, outra coisa rouba completamente a minha atenção.
Meu Deus, quem é essa mulher?
E ela é linda.
Que pergunta idiota, Rodrigo. É logico que é a Sophia.
Mas ela é tão linda. Sua pele é negra, seus cabelos são cacheados, mas não dá pra saber o
cumprimento, pois ela os prendeu ao alto de sua cabeça e deixou alguns poucos fios soltos,
caindo sobre o seu rosto, dando um charme a mais.
Seu corpo, meu Deus que corpo é esse? De jeito nenhum essa mulher tem um filho, não
mesmo. Olho-a de baixo para cima tentando gravar cada parte desse corpo na minha mente.
Quando chego ao seu rosto, paro alguns segundos olhando para sua linda boca,
perfeitamente desenhada, levemente carnuda. Perfeita.
Subo mais um pouco e nossos olhares se cruzam.
Imagens dela de quatro, com suas mãos amarradas e sua boca tampada sendo
prazerosamente chicoteada por mim, vem a minha mente.
Não que eu seja um sádico, e que toda mulher que eu vejo pela rua, eu pense isso. Não! Mas
ela tem um ar tão singelo.Tão meiga, um ar tão... Submisso. Foi impossível não pensar.
Porra. O que está acontecendo?
Ela é minha empregada.
Mas que ela é uma porra de uma tentação, ela é.
Ela é diferente, totalmente diferente. Ela é simples, mas tem uma beleza fascinante. E é isso
que a deixa mais linda ainda, essa simplicidade toda misturada com a timidez que é nítida em
seu olhar.
- Filho?
- Oi mãe. – percebo que estava muito tempo calado e encarando-a.
Balanço de leve a cabeça tirando esses pensamentos da minha mente.
Eu não posso.
Não posso.
- Essa é a Sophia, filho.
- Percebi. Agora você já pode servir o almoço, pois já estou morrendo de fome e não tenho o
dia todo. – digo ainda encarando-a.
Ela rapidamente acena com a cabeça e a abaixa.
Sento-me no meu lugar na mesa e minha mãe ao meu lado.
- Não precisava ser tão grosso.
- Mãe, não venha querer me dizer como tratar meus empregados. Se eu ficar dando
confiança, daqui a pouco vão querer, ao invés de dormir no quartinho dos fundos, dormir na
minha cama.
Se bem que eu não acharia de tão ruim assim tê-la na minha cama.
Espanto esses pensamentos.
Que merda! Isso é loucura.
Vejo-a colocando a comida em um prato, e em seguida põe o prato á minha frente, e assim
consigo sentir seu cheiro maravilhoso. Não da comida, mas dela.
Porra, o que está acontecendo comigo, droga?
O que essa mulher tem pra me deixar assim?
Merda!
Obrigo-me a parar de pensar nisso e começo a comer.
Hoje a Zeiva caprichou, a comida estava maravilhosa. Sentirei falta desse tempero dela, ela é
uma ótima empregada, além de cozinhar bem, sabia o seu lugar. Não tentava se meter na
minha vida, tem boca, mas praticamente não fala... Só espero que essa Sophia seja assim
também.
- Que delicia. Quem fez? – diz minha mãe.
- Eu. – diz a Sophia e é a primeira vez que escuto sua voz. Ela é doce, calma...
- Está maravilhosa, Sophia. Não é filho?
- É, dá pra comer.
Digo sem querer admitir que a sua comida está maravilhosa.
Minha mãe me olha me repreendendo, mas nem ligo, eu estou na minha casa,
Disfarço e a olho novamente. Ela parece incomodada com algo, não sei o que é, mas também
não me importo.
Termino de almoçar e saio da cozinha. Vou para o meu quarto, faço minha higiene e saio.
Chego na sala e minha mãe vem com o seu sermão de sempre, de que eu teria que a tratar
bem e dar uma chance.
A chance eu já estou dando...
Ela tinha liberado o motorista e me pediu uma carona até em casa, como é caminho pra a
delegacia, não me importei. A deixei em casa e segui o meu caminho para o trabalho.
Não consegui me concentrar em nada, todas as vezes que eu tentava me concentrar nos casos
há minha frente, aquela boca me vinha em mente.
Ah quantas coisas eu poderia fazer com aquela boquinha.

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Comentários


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vocepede Comentou em 31/01/2020

Que história! Que conto! Muito, muito bom! Deixa a gente preso aos acontecimentos... Consegue nos colocar na história e ver tudo... PARABÉNS!




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110209 - Meu Delegado - Capítulo 13 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110208 - Meu Delegado - Capítulo 12 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110207 - Meu Delegado - Capítulo 11 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110206 - Meu Delegado - Capítulo 10 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110205 - Meu Delegado - Capítulo 9 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110204 - Meu Delegado - Capítulo 8 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110203 - Meu Delegado - Capítulo 5 - Categoria: Heterosexual - Votos: 3

Ficha do conto

Foto Perfil erodev
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Nome do conto:
Meu Delegado - Capítulo 3

Codigo do conto:
110198

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
11/12/2017

Quant.de Votos:
4

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