Rodrigo Eu sempre soube que ela não iria gostar de saber como aconteceu aquilo tudo, porém, eu tinha que falar. Mas também nunca se passou pela minha cabeça que ela se sentiria culpada por isso tudo. Me doeu e ainda dói muito quando eu lembro que não estou mais com ela, que não posso vê-los todos os dias. Ela não me impediu de ver o Gustavo, o que eu agradeci muito. Mas eu também quero respeitar esse tempo que ela pediu e por isso não vou vê-lo com muita frequência, apesar de que a minha vontade é de ir vê-los todos os dias. Eu não me arrependo de nada que eu fiz por eles, nada. Se eu pudesse, faria tudo de novo, eu não queria que ela fosse embora do meu apartamento, que na verdade já era dela até. Minha mãe ficou muito triste quando soube da separação, mas eu não tive coragem de contar pra o que eu fiz para a Sophia me deixar, eu não sabia qual seria a sua reação, mas eu acho que ela não ficaria feliz em saber das minhas atitudes, mesmo sendo para defender as pessoas que amo. Eu não sei se aguentaria vê-la decepcionada comigo, ai eu inventei qualquer coisa e é obvio que ela não acreditou, mas também não insistiu em saber. Apesar desse maldito tempo eu sei que ela ainda me ama, eu sei que sim. Ela não entraria na frente de uma bala por mim, se não me amasse. E ela também já deixou isso claro várias vezes. A Sophia só se sente culpada, ela acha que jogou seus problemas pra eu resolver e deu no que deu, com esse pensamento idiota de que se afastando conseguiria tirar essa culpa de si. Eu sabia desde o começo como a vida dela era, eu entrei nessa porque quis, porque eu a amo e não tem a necessidade de ela ficar se culpando. Isso me enche de raiva, a minha vontade é de pegá-la pelos braços e dizer que ela não tem porra nenhuma com que se culpar, pois ela não tem culpa de nada. Mas eu sei o quanto orgulhosa e cabeça dura ela pode ser, então eu fico na minha. Quando eu fui visitá-los na semana passada eu vi que ainda mexia com ela e a comprovação disso foi quando ela me convidou para ficar e jantar com eles. Eu fiquei muito feliz, apesar de não demonstrar muito, mas eu fiquei. Isso significa que ela está conseguindo me entender e tirar a culpa que ela diz sentir de dentro dela. Conversamos bastante, mas não tive coragem de falar sobre a gente, procurei saber como andava o Gustavo e a ela também. Eu me preocupo e nunca deixarei de me preocupar, não importa se estamos juntos ou não. Quando ela me disse que queria um tempo, eu fiquei quebrado, mas ao mesmo tempo com raiva. Raiva por pensar que ela estava defendendo aquele homem que fez tanto mal a ela. Mas ai depois eu entendi que ela apenas não queria que fosse eu que tivesse feito aquilo com ele, ela acha que estragou a minha vida, mas ela sabe o quanto me faz bem, o quanto me faz sentir vivo quando estou ao seu lado. Mas eu infelizmente não podia obrigá-la a nada. Ela quer o tempo? Eu estou dando esse tempo. E se não fosse eu a fazer aquilo quem mais ninguém faria? Ninguém é claro. Mas eu também concordo com ela quando diz que eu tinha que ter agido de outra forma. Não que eu deveria o prender, não. Até porque nós sabemos muito bem o que aconteceria se ele fosse preso, mas sim matar de outra forma. Mas o que está feito já está feito. Não adianta eu ficar me lamentando e me crucificando por algo que já está feito. Agora é saber lidar com isso tudo. E eu graças a Deus estou conseguindo. Eu não os procuro com mais frequência, pois eu não quero que ela pense que estou pressionando ela a voltarmos, por isso eu seguro a minha saudade e vou no máximo duas vezes por semana, visitá-los. As minhas idas à psicóloga estão ficando um pouco mais frequentes, não pelo fato de eu estar tão mal assim. É que é bom desabafar com alguém. Hoje é dia de consulta e estou saindo da delegacia e indo direto pra lá, por conta do meu horário de trabalho eu sempre sou o ultimo paciente da Roberta. Alguns minutos depois já estava estacionando o meu carro em frente ao prédio. Já tinha retirando a minha blusa do uniforme e substitui por uma preta simples. Subo no prédio espelhado e pego o elevador, não demorando muito a chegar ao andar do consultório. - Boa noite senhor Rodrigo. – diz a secretária com um sorriso simpático. - Boa noite. Ela se levanta, anda até a mim e coloca a mão de leve em meu ombro me instigando a andar. - A Dr. Roberta está a sua espera. Ela abre a porta do consultório e coloca uma parte de seu corpo para dentro e posso escutá- la dizendo. - Roberta, o senhor Rodrigo já chegou. - Pode manda-lo entrar... E você já pode ir, Amanda está liberada. - Não vai precisar mais de mim por hoje? - Não, você pode ir. A Amanda volta com o seu corpo para fora e abre a porta dando-me passagem para entrar. Adentro aquela sala, agora já bem conhecida por mim, e encontro a Roberta em pé. Ela vem até a mim com uma pasta nas mãos, na qual ela ficava a maior parta da consulta com ela nas mãos, as vezes a via anotando algo, mas eu não fazia a menor ideia do que era. Boa noite, Rodrigo. – ela diz e me dá dois beijos no rosto. Ela sempre fazia isso. - Boa noite, Roberta. - Sinta-se a vontade. – diz ela com um sorrisinho e esticando os braços em direção ao divã e á uma poltrona que tinha perto. Como sempre, me sento na poltrona e a reclino de leve, ela arrasta a sua cadeira e se senta um pouco próximo de mim. - Então Rodrigo, como você está se sentindo? Como passou esses últimos dias? - Bem melhor... Como eu disse na ultima consulta, não tenho mais os pesadelos me atormentando e consigo dormir em paz, não tão em paz, mas... – digo dando de ombros. Como ela sempre fazia, em alguns momentos anotava algumas coisas na sua folha dentro daquela pasta e logo depois voltava sua atenção total pra mim. A consulta correu muito tranquila, eu me sentia cada vez mais aliviado a cada consulta e isso é ótimo pra mim. Pra ficar melhor só faltava uma coisa... - Então por hoje acabou. – diz a Rebeca se levantando da cadeira. - Mas já? – olho o meu relógio e vejo que já são sete e meia. A hora passou voando. - Sim. – diz sorrindo. – Fico muito feliz em saber que as consultas estão te ajudando. Ela vai até a mesa, coloca a pasta fechada, já fechada, sobre ela e começa a arrumar alguns papeis. - Eu também. – digo bem baixo. Ela guarda uns papeis em sua bolsa e depois se vira para mim. - Fico muito feliz mesmo em saber disso. – ela me olha um pouco envergonhada, parece querer dizer algo e leva a sua mão a cabeça a coçando de leve. – É..o que você acha de... aah! Esquece. Ela diz ficando completamente vermelha. - O que foi Roberta? Pode falar. - É que eu pensei que poderíamos, se você quisesse é claro, jantarmos juntos. Como amigos. – ela se apressa em dizer. – Como uma forma de comemoração, digamos assim, por estar dando tudo certo com você. Eu realmente não queria ir jantar, eu só queria ir para a minha casa, tomar um banho, comer a comida deliciosa da minha empregada e depois dormir, pois amanhã eu acordaria extremamente cedo. Mas eu também não poderia fazer uma desfeita dessas com a Roberta. - Vamos sim. – digo. - Eu não quero que se sinta obrigado a aceitar nada, Rodrigo. - Não tem problema, vai ser bom sair da rotina um pouco. - Então vamos. – ela diz levemente animada. Que porra, eu sei que ela é a minha psicóloga e pode ser que realmente isso tudo seja sem maldade nenhuma. Mas eu não quero que ela pense que pelo fato de eu ter aceitado o convite para o jantar, eu esteja dando algumas chances. Até porque ela sabe mais do que ninguém que eu não quero e nem estou nem um pouco preparado para um compromisso, seja ele qual for. Mas é só um jantar sem segundas intenções, como ela diz, e eu acredito, pois nunca vi “maldade” em nada que ela fazia ou dizia. Bom, da minha parte eu sei que realmente será um jantar entre uma psicóloga e seu paciente. - Vamos... E você está de carro? - Eu não sei dirigir. - Tudo bem então, vamos no meu. Saímos da sala e depois eu a ajudei a fechar o consultório, descemos e entramos no carro. - Pra onde vamos? – pergunto. - Tem um restaurante que eu amo, ele é bem próximo do Barra Shopping. – automaticamente me lembrei da Sophia. Mas coloco o carro em movimento e me obrigo a prestar atenção na conversa com a Roberta, Demoramos um pouco mais que o normal para chegarmos lá, pois o transito estava um inferno, mas chegamos. Eu mesmo estacionei o carro e logo nós descemos. O restaurante é bem aconchegante, mas eu já sei que aqui tem aquelas comidas que eu odeio. Mas eu torço para que tenha, pelo menos, alguma massa. Nos acomodamos e logo o garçom nos trouxe o cardápio. Para a minha sorte tem sim vários tipos de massa, apesar de não ser um restaurante italiano. Então eu pedi uma lasanha. Enquanto a comida não chegava a Roberta começou a puxar assunto. - Rodrigo eu queria te dar um concelho agora. – diz levando a taça com água até a boca. – Mas é como uma amiga, não sua psicóloga. - Pode falar. - Agora se eu vou consegui seguir esse conselho é outra coisa. Eu acho que você deveria viajar, sabe? Pedir licença do trabalho e viajar, passar um tempo longe disso tudo aqui. Agora como sua psicóloga, eu vou falar que você está bem pra isso e até te ajudaria a superar mais ainda o que aconteceu. - Eu não sei... Não é uma má ideia, mas eu não sei se aguentaria ficar tanto tempo longe. - Vai por mim, Rodrigo, é a melhor coisa a se fazer nesse momento. Esfriar a cabeça, sair de perto de tudo que te liga a... - Sophia? - Desculpa Rodrigo... Mas sim. Você mesmo diz que não quer pressioná-la, quer deixá-la pensar com calma e isso vai ser ótimo, tanto pra você, quanto pra ela. - Não é uma má ideia. Eu vou pensar sobre isso. - E não tenha medo de perdê-la, vocês... - Eu acho que já perdi. – digo. - Pois eu acho que não. Ela só precisa pensar sobre tudo o que aconteceu e um sinal de que você não a perdeu e de que ela ainda te ama. É o fato de ela te querer perto do filho dela, ela praticamente te convidado para jantar na casa dela outro dia, como você mesmo disse. Eu não a conheço então não posso afirmar com certeza, mas ela está apenas confusa... Eu acho e culpada, como você mesmo disse... E se for pra ser, Rodrigo, será. Você não precisa ter medo. Ouço as suas palavras e apenas aceno em concordância no final. Não sei o que dizer, mas eu sei que ela tem razão... As nossas comidas chegaram, começamos a comer e ao mesmo tempo eu pensava em tudo o que ela me disse. Realmente seria bom eu viajar, mas eu não sei se aguentaria ficar tanto tempo longe deles. Faz anos que eu não tiro umas férias, eu realmente estou precisando. Mas pensarei com mais calma sobre isso, depois. Terminamos o jantar e eu fiz questão de pagar a conta, ela até quis dividir, mas eu não deixei. Vai como um agradecimento por me ajudar. Depois eu a deixei em casa e fui para a minha. Já são 21h45min e eu estou sentado no sofá da sala de TV assistindo algo qualquer que passava. E fazendo como todas as noites, olhando fixamente para o celular em minhas mãos e uma guerra dentro de mim em ligar ou não ligar para a Sophia. E como eu sempre fazia, joguei o celular de lado e engoli a vontade de ligar pra ela e ouvir sua voz. Começo a prestar atenção no programa que passava na TV. E de tão cansado que eu estava, acabei pegando no sono ali mesmo. [...] - Eu achei essa ideia o máximo, Rodrigo. – diz a Camila levando a comida até a boca. Ela apareceu aqui em casa de surpresa para almoçar comigo e eu nem preciso dizer que adoro tê-la ao meu lado. Ainda mais ela toda feliz com sua profissão. Essa menina me deixa tão orgulhoso, lutou com unhas e dentes pelo o que queria e acabou conseguindo. Eu tinha falado pra ela do conselho que a Roberta havia me dado ontem e que eu estava cogitando seriamente em aceitar. - Eu acho que isso seria ótimo pra você... Mas porque eu sinto que você não quer taaaanto assim ir, em? - Não é isso... É que... E se a Sophia pensar que eu estou desistindo dela? Ela larga o garfo no prato e me olha parecendo não creditar. - Olha a Sophia é minha amiga, minha irmã. Mas ela sabe muito bem que eu não concordo com o que ela está fazendo, eu já cansei de deixar isso bem claro pra ela. Apesar de que eu não tenha que concordar ou discordar de nada, porque o relacionamento é de vocês... E vocês dois sabem que eu, mais do que ninguém, torço pela felicidade dos dois. Mas eu acho que você deveria ir sim, viajar, descansar um pouco... E que ela pense que você desistiu dela, deixa ela pensar, vai ver assim ela não se toca de que ela não tem culpa de nada e vai atrás de você - Eu odeio esses tipos de joguinhos, você sabe disso.- digo um pouco irritado. - Rodrigo não é joguinho nenhum. Você precisa sim espairecer e ela também precisa ver que está te perdendo... Eu sei que os dois estão sofrendo com a separação, mas foi ela que pediu esse tempo pra pensar, não foi? Então vai ser ela que vai ter que vir até você quando esse tempo passar. E nada melhor pra ela perceber a burrice que está fazendo é sentir que vai te perder de verdade... E antes que você diga que é infantilidade e tudo mais. Não! Não é. Você realmente precisa de um tempo só pra você, agora que está bem melhor. - É, você está certa. - Aah e o principal, não fale nada pra ela sobre a viagem. - Mas eu não vou ir sem me despedir do Gustavo... Sem me despedir dela. - Faz uma visita normal, como você sempre faz, mas não precisa avisar que está indo viajar. - Que porra, Camila. – levo as mãos a minha cabeça e puxo de leve os meus cabelos. - Eu sei que depois você vai me agradecer muito por isso... Eu só quero a felicidade de vocês. Eu resolvi aceitar isso tudo, porque eu realmente preciso de um tempo longe, porém, eu não sei ainda pra onde vou e nem por quanto tempo ficarei. Mas eu sei que preciso ir. Assim eu vou estar a ajudando também. Sem a minha presença de fato, acredito eu que ela pensará melhor.
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