Rodrigo Finalmente chegou o dia da invasão. Não levou uma semana como o Borges previu, mas também foi graças a mim que fiquei igual um maluco todas essas noites sem conseguir dormir em busca de solução para tirá-los logo de lá. Esses cinco dias foram de longe os piores da minha vida. Tê-los longe de mim esse tempo todo, nas mãos de um bandido e ainda mais sem saber o que estava acontecendo, o que aquele desgraçado estava fazendo com eles, me fez enlouquecer e pensar em mil maneiras de acabar com a vida daquele desgraçado dolorosamente. Eu realmente espero que ele não tenha tocado em um fio de cabelo da Sophia e do Gustavo. Ou então eu vou ser obrigado a ser ainda mais torturante na hora de sua morte. Se ele soubesse o tamanho da minha raiva e sede de tÊ-lo em minhas mãos, nesse momento. Ele desapareceria do planeta. Estavam todos preocupados com a Sophia e o Gus. A Camila então nem se fala. Ela me ligava todos os dias perguntando se já tinha alguma noticia e quando eu iria buscá-los. A dona Marta já é um pouco mais contida. Apesar de ela estar bastante preocupada, ela fica mais na dela. Ela confia muito em mim, e em Deus, e sabe que levarei sua e filha e seu neto de volta para casa. Avisei para elas que a operação seria hoje. Elas estavam confiantes e ao mesmo tempo nervosas, a dona Marta foi até para a casa da Camila pra ficarem juntas nesse momento. Eu estava no centro de treinamento do BOPE, já tinha me equipado, já estava com o fuzil em punho, já havia dado as ultimas ordens para os policiais da minha equipe. Tudo pronto para a invasão. Já tinha deixado bem claro que eu queria o DG vivo e eles já sabiam pra onde que ele deveria ser levado assim que colocássemos as mãos nele. Lógico que o resto dos policiais não sabe disso. Isso é apenas entre a minha equipe e eu.Se alguém descobrir eu corro o risco de perder o meu cargo e ser destituído totalmente da policia, mas se eu perder, eu vou perder com gosto por ter matado aquele desgraçado. Mas eu já trabalhei bastante em relação a isso, para que ninguém, além da minha equipe, saiba disso. Eu disse que usaria das minhas influencias para agilizar as coisas e eu usei. Como o DG é o homem mais procurado do Rio de Janeiro e a UPP já queria tomar conta da Rocinha há muito tempo. Eu como não sou bobo nem nada, resolvi juntar o útil ao agradável. Consegui convencer o secretario de segurança que agora seria uma boa hora para a invasão. E claro, expliquei também o meu caso pra ele. Ele sabendo que sozinho apenas com a PM não conseguiria nada, pois todos nós sabemos do poder de armamento da Rocinha. E como eu disse que minha equipe também ajudaria, ele logo cedeu. E dai foi fácil conseguir com que o BOPE e a Civil entrasse nessa, pois eu tenho vários amigos lá. Nessas horas que percebemos quem são os nossos amigos. E eu posso dizer que sim eu tenho, pois não é qualquer um que aceita entrar nessa por nada. Já estava tudo resolvido. Eu e uma parte da minha equipe entraríamos na favela por cima. Quando eu falo de cima, é de cima mesmo, o helicóptero do BOPE vai levar eu, o Douglas e mais uns cinco policiais por cima. Por um lado esperar todo esse tempo foi bom, pois descobrimos até qual é a casa do DG. E segundo o nosso informante é lá que ela se encontra. Ou seja, vamos soltar lá naquela área enquanto os policiais invadem por baixo e pela mata. Se tudo o que nós organizamos der certo na prática, eu vou consegui sair de lá com a Soph e o Gus e de quebra a UPP consegue se instalar na Rocinha. Todas as viaturas e os camburões já tinham saído. Só faltava a gente. - VOCÊS ENTENDERAM, NÉ? EU QUERO O DG VIVO NA MINHA MÃO. Repito novamente para eles não se esquecerem eu que quero ter o prazer de matar aquele desgraçado da forma que ele merece. Já até preparei um lugar apropriado para isso. - SIM SENHOR. – respondem todos em uníssono. - ENTÃO VAMOS LOGO. Fomos para o local onde estava o helicóptero e subimos. Desço a minha touca e posiciono o meu fuzil, assim como os outros policiais e o helicóptero já começa a decolar. Não demorou muito e já estávamos sobrevoando a Rocinha, do alto já conseguíamos ver o estrago que a policia estava fazendo. Já estava dominado uma boa parte da favela. Mas eu não me importava com isso, eu queria era tirar a minha família dali. O resto não me importa. - Chefe, já pode descer se quiser, a área está limpa. Um dos policiais me passa o rádio avisando. - Tudo bem. Continua ligado ai, nós desceremos direto dentro da casa do DG. - Okay senhor. Finalizo a conversa e penduro o rádio novamente no colete. - Desce mais um pouco. Nós vamos cair dentro da casa dele. – aviso para o piloto que assente e rapidamente faz o que eu mandei.O piloto desce com o helicóptero o mais baixo que pode e assim que foi liberado, um dos policiais jogou a escada presa ao helicóptero e começou a descer. Como ele era o único experiente nesse tipo de operações, deixei que fosse primeiro, e fez com maestria o seu trabalho. Ele ainda segurando a escada, tomou impulso o que fez a mesma balançar, fez isso repetidas vezes até que ele conseguiu se aproximar de uma janela, no andar superior da casa, e quebra-la com chute. Daí foi fácil até ele tomar impulso novamente e conseguir entrar. Eu já podia avistar os policiais em frente da casa e os corpos dos bandidos que provavelmente faziam a segurança daquela área, jogados ao chão, claramente mortos. Assim que o policial conseguiu entrar, foram descendo um por um pela escada e eu a todo o momento olhava para baixo a procura de alguém que pudesse nos transmitir algum risco. Ou até mesmo o DG. Deixei para ir por ultimo e assim que chegou a minha vez, eu desci o mais rápido que consegui. Não parecia, mas aquela escada balançava muito. Assim como os outros, eu fiz os mesmos movimentos para buscar impulso e conseguir entrar. Como eu não era doido eu não ia me jogar dali, eu deixei para me jogar contra a janela quando a escada estivesse mais próxima da mesma. E assim eu fiz entrando no quarto. Logo vi a escada sumindo e o barulho do helicóptero ficando cada vez mais longe. - Podemos ir senhor, está limpo aqui em cima. – olho para o quarto e vejo apenas três policiais no cômodo. - Okay, vamos então. – digo e aceno. Posiciono o meu fuzil e vou atrás dos policiais. Quando chego ao corredor os outros três estão lá. Eles fazem um sinal com a cabeça indicando que desceriam. E assim fizeram rapidamente, nos dando cobertura. Assim que cheguei à sala eu a avistei e me esqueci de tudo. Eu abaixei a minha guarda totalmente. Enquanto os policiais faziam toda a revista na área de baixo eu não conseguia fazer outra coisa a não ser olhá-la. Assim que ela e a Isabela, irmã do DG, percebem a nossa presença elas se assustam. O que para a Sophia leva pouco tempo, pois não demora muito ela vem em minha direção com o Gustavo nos braços e me abraça. O seu gesto me deixa surpreso e emocionado. Como ela sabia que era eu ali? Coloco o meu fuzil pra trás e enrolo os meus braços em seu corpo o abraçando com toda a força do mundo. Matando toda a saudade que eu senti dela e do Gus esses dias. Por um momento eu cheguei a pensar que eu não conseguiria nunca mais fazer isso. Ela chorava nos meus braços e eu nunca fiquei tão bem em ver alguém chorando. - Vo-você veio. Você veio me buscar. Eu nunca deixaria vocês aqui, Sophia. Eu prometi proteger vocês, não prometi? – ela acena com a cabeça ainda abraçada a mim. – Eu falhei nessa missão uma vez, mas eu não vou falhar mais. Ela retira o seu rosto do meu peito e com apenas uma mão levanta a minha touca e me dá um beijo rápido. E como eu senti falta dela, do seu toque, do seu gosto. - Papai. – ouço a voz fraca do Gustavo e levo a minha atenção a ele. Ele estava tão diferente, estava pálido e mais magro, não tinha aquele sorriso lindo de sempre nos lábios e nem aquele mesmo brilho alegre no olhar que agora é ocupado por uma tristeza e lágrimas a ponto de transbordar. Essa imagem fez o meu coração se apertar e uma vontade imensa de chorar, me atingiu. E isso só faz a conta daquele filho da puta crescer mais ainda comigo. Pego o Gustavo no meu colo, o abraço com força e ele me retribui o abraço quase que na mesma medida. - Oi meu filho, eu senti tanto a sua falta meu pequeno. – não consegui segurar e uma lágrima desceu. Eu estava me segurando para não deixar cair mais. A minha vontade era de chorar feito uma criança com ele em meus braços, sem me importar com o que os outros iriam pensar. Mas eu não podia mostrar a minha fraqueza. Eu tenho o DG pra pegar ainda e eu não posso deixar o meu emocional me abalar agora. - Senhor, já conseguimos chegar com o carro aqui. – o Douglas me avisa. - Conseguiram controlar tudo? - Eles recuaram senhor, viram que estávamos mais fortes. - Então vamos, Sophia. – digo pegando em sua mão. Olho para os policias que ali estavam e para a Isabela. – E vocês, dão um jeito nela. - NÃO. – a Sophia grita assim que os policiais apontam a arma pra ela. – Não fazem nada com ela, por favor. - Mas ela é irmã do DG, também é cúmplice, Sophia, tem que ser levada à delegacia. - Mas foi ela quem me ajudou Rodrigo, ela me ajudou a mantê-lo longe de mim esses dias todos. Se não fosse por ela eu nem sei. Respiro fundo e fecho os meus punhos. - Ele tocou em você Sophia? Ele abusou de você novamente? – eu dizia aquilo com tamanha raiva que nem eu estava me reconhecendo. Se ele estivesse tocado nela novamente eu jogaria pro alto todos os meus planos que tenho de torturá-lo e acertaria um único tiro no meio de sua cara. Ele só não conseguiu graças á ela, mas ele tentou. – ela diz baixo. - QUE PORRA, EU VOU MATAR ESSE FILHO DA PUTA É AGORA. – pego novamente em sua mão. – O carro está a onde, Douglas? - Na área lateral da casa, senhor. Puxo a mão dela tirando-a de dentro daquela casa, já posso ver o carro na lateral e com a escolta dos policiais que estavam ali na frente, nós fomos até lá. Ela entra no carro, eu coloco o Gustavo sentado do seu lado e deixo um beijo em sua cabeça. - Rodrigo, entra. Vamos embora. - De jeito nenhum. Eu vou caçar aquele desgraçado até o inferno. Só saio daqui com o cadáver dele nas mãos. - Rodrigo... - Papai, vem papai. – o Gus pedia com aqueles olhinhos em suplica. Mais um pouco eu realmente desistiria de tudo e voltava pra casa com eles, mas eu não posso. Eu prometi que pegaria aquele desgraçado e eu vou fazer isso, se eu não der um fim nisso, ele nunca nos deixará em paz. - Meu filho, o papai não vai poder ir com vocês agora. Mas eu prometo que depois eu chego lá em casa pra gente brincar, tudo bem? – eu dizia acariciando os seus cabelinhos e ele me olhava atento. Depois de pensar um pouco ele assente. - Rodrigo, por favor, se cuida. - Eu vou me cuidar, amor. Eu prometo. Abaixo a touca, posiciono o fuzil pra frente, fecho a porta do carro e me junto aos policiais indo para a viatura que estava na esquina. Passo pela casa do DG e tudo continua da mesma forma sem nenhuma movimentação estranha. Ele com certeza á essa hora já deve saber da invasão na casa dele e provavelmene que a Sophia já está à salva. Ele deve estar escondido em algum lugar dessa favela, mas eu estou disposto a virar isso de cabeça pra baixo. Estava quase chegado perto da viatura quando eu ouço a Sophia gritando o meu nome. - RODRIGO!!! Isso me faz virar rapidamente para ver o que está acontecendo. Mas nesse momento tudo acontece rápido demais. Em questão de segundos eu escuto três tiros e vejo a Sophia indo ao chão. Olho rapidamente para a direção de onde veio o primeiro tiro e vejo o DG caído no chão e um dos policiais já em cima dele. Eu sem pensar muito retiro o meu fuzil das costas, jogo-o ali mesmo no chão e vou correndo para onde a Sophia estava caída. Foi difícil chegar até ela, as minhas pernas pareciam pesar uma tonelada e meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas e a dor no meu coração não ajudava de nada. Retiro a minha touca e me jogo no chão ao seu lado. Eu não estava acreditando no que estava vendo. Não podia ser. Ela não fez isso. Ela não podia ter feito isso. Deixo o meu corpo cair de leve sobre o dela e a abraço, não me importando com o seu sangue que possivelmente iria me sujar. - Sophia... Sophia, meu amor, por favor! – as lágrimas desciam com toda força pelos meus olhos e um bolo grande se formou na minha garganta – Não faz isso comigo. Eu te amo. Não me deixa. Por favor, acorda. SOPHIA, EU TE AMO. NÃO ME DEIXA. – grito a ultima parte a sacudindo de leve. A dor no meu peito era insuportável. Parecia que a qualquer momento o meu coração explodiria dentro de mim de tão apertado que estava. - Sophia... meu amor, por que você fez isso? POR QUE, SOPHIA? Eu já não conseguia mais sentir sua respiração Eu estava louco, desnorteado. Eu não consigo entender o porquê dela ter feito isso. Eu estava de colete ele não me acertaria e certamente não sairia vivo daqui. Eu tinha perdido a mulher da minha vida. E mais uma vez isso era por culpa minha, só minha. Eu deveria ter prestado mais atenção, deveria ter cuidado melhor dela. - Amor, não faz isso comigo. Volta, volta pra mim, por favor, volta. Eu não me importava com os policiais a minha volta me olhando. Eu não me importava. Eu só queria a minha mulher de volta. - Senhor, a gente tem que levar ela para o hospital, agora. – dizia o Douglas em pé ao meu lado. Ele tinha um olhar de pena. - Não adianta... Ela não está respirando mais. – digo e me jogo novamente sobre ela. Ele pega o pulso dela caído no chão e o aperta de leve. - Senhor ela ainda tem pulso. Bem pouco, mas tem. Vamos leva-la para o hospital agora. Uma esperança toma conta de mim. Ela ainda tem chance.Vamos, pega o carro. – seco as minhas lágrimas. O que foi em vão, pois elas não paravam de cair. Tento voltar a minha postura. Mas eu não consigo. Eu não vou conseguir. Olho para o DG caído no chão e pergunto para um dos policiais se ele havia morrido. - Não senhor. Levou dois tiros. Um na perna e o outro no braço, apenas. O que a gente faz? - Não mata. Leva ele para o galpão. E o deixe bem vivo. O prazer de mata-lo vai ser meu. - Sim senhor. Pego a Sophia nos meus braços, vou até a viatura e entro com ela. O Douglas já estava me esperando lá dentro com outro policial. - Senhor, pra onde nós levamos o Gustavo? – um dos policiais que estava responsável por tirá-los daqui, me pergunta. Meu Deus tem o Gustavo ainda. Eu queria vê-lo, mas eu não posso deixar a Sophia. - Ele viu o que aconteceu? - Não senhor, não viu, mas ele está chorando e muito agitado. - Leva ele pro mesmo lugar, pra casa da Camila. - Sim senhor. - Vamos logo Douglas. Ele acelera com o carro e pega o atalho pela mata, que seria o jeito mais rápido de chegar ao hospital agora, pois os corpos pelo meio da favela atrapalharia tudo. Levanto um pouco o rosto da Sophia, levo a minha boca ao seu ouvido e digo baixinho. - Não me deixe, por favor... Não nos deixe. O Gus precisa de você, eu preciso de você, amor. Aguenta firme... Eu te amo. Deixo um beijo em sua testa e a trago para mais perto de mim. Nessa hora eu vejo que sua cabeça também estava sangrando muito e eu não tinha percebido antes. Isso me deixou ainda mais preocupado. Não demorou muito e chegamos ao hospital, eu não perdi tempo e desci correndo com ela nos braços, chamando por ajuda. - SOCORRO, ALGUEM ME AJUDA AQUI. Eu estava desesperado. Ela estava praticamente morta em meus braços e eu não podia fazer nada. Me senti um completo inútil por não poder impedir, com as minhas próprias mãos, que o pior aconteça com ela, nesse momento.Visto o estado que a Sophia estava nos meus braços e o meu desespero, não demorou muito e chegaram quatro enfermeiros com uma maca e me pediram para colocá-la sobre ela. Rapidamente a coloco e eles correm com ela para uma porta de ferro, sumindo das minhas vistas. Jogo-me no chão e deixo minha cabeça cair sobre as minhas mãos. Isso não pode estar acontecendo. Não pode! Se ela morrer eu nunca vou me perdoar por isso. Ela entrou na frente de uma bala por mim, mesmo sabendo que eu não me machucaria por conta do colete, mas ela mesmo assim fez isso. Eu não vou aguentar perdê-la. Eu não vou aguentar viver em um mundo onde ela não exista. - Senhor Rodrigo, levanta, vem. – diz o Douglas agachado ao meu lado. – Vamos sentar ali e esperar por noticias. Ele pega na minha mão e me ajuda a levantar. Nessa hora o meu celular começa a tocar, eu o retiro do meu bolso e vejo que é a Camila. Não estou com cabeça pra isso agora. Eu sei que ela tem que saber, mas eu não vou conseguir da essa noticia para ela. - Atende pra mim. – dou o celular para o Douglas. - É pra falar que a Sophia foi... - Sim, pode falar. Eu não saberia dar essa noticia. Ela sai da minha vista e eu vou para os bancos que tinham na recepção do hospital. Assim que me sento, uma enfermeira chega na minha frente com uma prancheta. - Com licença. Foi o Senhor que trouxe essa moça que acabou de entrar, não é mesmo? - Sim. - O senhor tem algum grau de parentesco com ela ou apenas a socorreu? Sério que ela ainda tem coragem de me fazer essa pergunta depois de ver o meu estado? - Minha namorada. – digo por fim - Pode preencher a ficha dela pra mim, por favor? Eu não estava com cabeça nenhuma pra isso, mas eu sei que é necessário, então eu pego prancheta de suas mãos e começo a preencher tudo. Assim que termino a entrego. A enfermeira já ia saindo quando eu a chamo novamente. - Como ela está? - Olha senhor, ela está sendo preparada para entrar em uma cirurgia muito complicada agora. Ela pode... - Essa cirurgia é um pouco delicada, então eu sugiro que se o senhor tem alguma religião, ou qualquer fé que seja, que se apegue a ela agora e peça pela vida da... – ela olha na ficha. – Sophia. Diz e sai. Eu não tenho nenhuma religião. O que não significa que eu seja ateu, até porque eu acredito sim, que existe um Deus que criou tudo e todos, mas é que eu nunca fui muito de seguir doutrinas. O que me faz arrepender amargamente agora. Mas eu resolvi me agarrar ao Deus que a dona Marta sempre intercedia pela Sophia e que eu sempre ouvia a minha mãe falando quando era pequeno. Eu não sei nem como se faz isso. Mas eu peço que ele não deixe que nada aconteça a Sophia, que nada aconteça com a minha vida. Deixo minha cabeça cair para trás encostando-a na parede. Não conseguia conter as lagrimas e muito menos a dor insuportável que sufocava o meu coração. Eu nunca senti nada assim. Nunca tive tanto medo de perder alguém, como eu estou agora de perder a Sophia. O Douglas voltou, se sentou ao meu lado e me entregou o telefone. - Ela disse que está vindo pra cá, Senhor. - Obrigado. – digo sem animo nenhum e coloco o celular no bolso. – Você já pode ir, Douglas. - De jeito nenhum, eu vou ficar aqui com o Senhor. Olho pra ele e aceno com a cabeça. - Obrigado, Douglas. Não demorou muito e eu vejo a Camila entrando no hospital com a minha mãe e a Dona Marta. - Rodrigo diz que a minha amiga está bem, por favor. – a Camila estava chorando assim como as outras. Ela se senta do meu lado e pega na minha mão. - Eu não sei de nada ainda, Camila, ela entrou para a cirurgia agora pouco. – seco o meu rosto. - Mas essa cirurgia ela... ela pode... - Dona Marta, ora. Só faz isso, ora, por favor. Eu posso ter parecido um pouco insensível falando assim com ela. Mas é que eu não queria dar falsas esperanças, assim como eu também não gostaria de recebê-las. Ela se senta em uma das cadeiras e começa a chorar, a minha mãe vai até ela e senta do seu lado a abraçando. - Rodrigo... co-como isso foi acontecer? - Ela-ela entrou na minha frente, Mila. Esse tiro era pra ser pra mim. – não consigo segurar e começo a chorar novamente. Ela me envolve em seu abraço e eu desabo de vez. Eu nunca pensei que ficaria tão vulnerável e tão quebrado em toda a minha vida. Nem quando o meu pai morreu eu sofri tanto quanto vendo a Sophia nesse estado. Sem vergonha nenhuma eu deixo minha cabeça cair pelo seu ombro e com isso as lágrimas desciam com ainda mais força. Depois de um tempo, que foi longo, eu me soltei do seu abraço e deixei minha cabeça tombar novamente na parede. - Você não quer ir em casa trocar essa roupa suja de sangue, Rodrigo? Eu vou com você, depois a gente volta. - Eu não vou sair daqui enquanto não tiver nenhuma noticia dela, Camila. E nem adianta insistir. - Tudo bem então. – concorda percebendo que eu realmente não sairei daqui agora. - Onde está o Gustavo? - Ele ficou com a minha mãe. Ele está tão magrinho, Rodrigo, tão pálido eu fiquei tão preocupada quando o vi. - Eu também fiquei. - A minha mãe ficou de cuidar dele e levá-lo ao médico, ele não parece estar muito bem. - Faz isso pra mim, por favor. Ele realmente não está bem, mas eu não vou conseguir sair daqui agora pra ver isso. - Tudo bem, a minha mãe vai cuidar dele. Não sei quanto tempo ficamos sentados esperando alguma noticia. Mas já estava de noite, o ponteiro do relógio da recepção marcava 22h00min da noite e nada de noticias dela. Eu já estava ficando mais louco ainda a cada minuto que passava sem noticias. Já estava a ponto de atravessar aquela porta de ferro e ver o que estava acontecendo, quando um médico chega na recepção. - Familiares da Sophia Santos. Eu rapidamente me levantei e fui até ele. - Eu, fala doutor, como ela está? – digo tudo muito rápido demais. A cirurgia foi muito complicada e fizemos de tudo o possível e... - Doutor a minha filha morreu? – disse a dona Marta em prantos. - Calma senhora. Não! A sua filha não morreu, mas devido a queda ela provavelmente bateu com a cabeça em alguma pedra ou em algo que resultou em um traumatismo craniano. - Isso quer dizer que? – eu já não aguento mais essa enrolação toda. - Ela entrou em coma. - Como assim? Isso... isso não pode estar acontecendo. – eu não estou acreditando no que ele acabou de dizer. Isso é mentira. - Ela perdeu muito sangue e como eu disse, na queda ela deve ter batido em algo que causou o traumatismo. - E quando que ela volta, doutor? - Olha senhor, isso só depende dela. Única e exclusivamente dela, tudo que nós podemos fazer até aqui, nós fizemos pra mantê-la viva. Porém, não vamos parar de tentar fazer com que ela volte, mas como eu disse, isso depende dela também responder ao tratamento. Eu não estou acreditando nisso. Ela tem que voltar, tem que voltar pra mim... pra gente. - E eu sinto muito, mas não conseguimos fazer nada em relação ao bebê. – ele complementa. Como assim, bebê? - Que bebê, doutor? – a Camila é mais rápida na pergunta. - Vocês não sabiam que ela estava grávida? Eu não conseguia dizer nada, apenas chorar. Eu não estou acreditando que ela estava esperando um filho meu. O filho que eu tanto quis, que eu tanto pedi a ela. E quando isso finalmente acontece eu sou privado de acompanhar o crescimento do meu filho. Se antes eu já estava quebrado, agora eu nem sei descrever com palavras como me sinto. - Não doutor. – a Camila diz e me abraça. Não consigo retribuir, não consigo reagir. Apenas sentir... Apenas chorar! - O feto tinha dois meses. Fizemos de tudo para tentar segurá-lo, mas ela perdeu bastante sangue e o tiro pegou em uma região muito delicada, o que dificultou mais ainda ela conseguir segurar o bebê. Dois meses.O meu filho já tinha dois meses e eu não sabia. Ele morreu. Morreu por minha causa. Por eu não ter protegido ela como eu disse que iria proteger, por eu não ter tomado conta da minha família como eu disse que tomaria. Eu sou um bosta. Eu não vou me perdoar nunca por isso. Nunca! - Eu sinto muito. – diz o médico e ele já ia se retirando quando eu o chamei. - Doutor eu posso vê-la? – minha voz saiu falha por conta do choro e pelo bolo que havia na minha garganta me impedindo até de respirar direito. A dor que eu sentia era tanta que apenas em respirar o meu peito doía. - Sinto muito, mas agora não. As visitas serão liberadas apenas amanhã. – ele diz e se retira de vez. A dor que eu estou sentindo nesse momento é imensa e indescritível. Eu perdi o meu filho, o filho que eu tanto desejei, o filho que eu tanto quis ter com a mulher que eu amo. E tudo isso por irresponsabilidade minha. Eu poderia jogar a culpa pra cima do DG pra diminuir essa culpa que me consome por dentro. Mas eu errei, eu sei que eu errei. Não que ele não tenha a sua culpa, pois sim ele tem. Mas eu tinha que ter protegido ela e os meus filhos. Eu tinha! Eu tinha que ter protegido a minha família. - Ela estava grávida, Camila. – digo assim que ela me abraça novamente. – Ela perdeu o nosso filho por minha culpa. - Meu filho, não se culpe por isso. – sinto as mãos da minha mãe alisando as minhas costas. Me solto da Camila e viro de frente para a minha mãe para olhá-la. - Você não teve culpa de nada, querido. - Tive sim, mãe, aquela bala era pra mim. Eu deveria ter prestado mais atenção, eu deveria ter cuidado dela como eu prometi cuidar. - Eu sei que você cuidou da minha filha, Rodrigo. – a Dona Marta diz me olhando. – Agora a gente tem é que ter fé que ela vai sair dessa. - Depois dessa eu nem sei se tenho mais. – digo passando as mãos pelo meu rosto rapidamente. - Não fala assim, meu filho. Tem que ter fé sim, fé de que ela vai sair bem dessa. Você não a quer de volta? - Eu não a quero de volta, mãe... Eu preciso dela de volta.Então pronto. Então temos que ter fé de que vai dar tudo certo, porque vai dá. Eu nada disse, apenas voltei para a minha cadeira me sentando ao lado do Douglas. Eu não queria sair um dali um minuto, mas eu também tinha coisas á fazer, tinha contas a acertar. Ainda mais depois dessa. - Douglas, ele já está no galpão? – digo baixo o suficiente para somente ele me escutar. - Sim senhor, só está a sua espera. - Então vamos. Digo me levantando. - Onde você vai meu filho? - Vou em casa trocar de roupa e resolver um problema rápido. - Posso ir com você, se quiser. – diz a Mila. - Não precisa Mila, o Douglas vai comigo. Qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, me liga que eu venho correndo, ouviu? - Tudo bem. - Se cuida meu filho. - Vou me cuidar mãe. Saio dali com o Douglas e encontro a viatura parada ainda em frente ao hospital e o outro policial, que nos acompanhou até aqui, estava sentado no banco do motorista, eu me sento ao seu lado e o Douglas atrás. - Para a sua casa, Senhor? - Não. Para o galpão. Não quero perder nem mais um segundo pra colocar as mãos naquele desgraçado. Ele vai se arrepender por tudo que ele fez. Vai se arrepender até de ter nascido.
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