Meu Delegado - Capítulo 29

Sophia
Eu estou morta de cansada, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um bom banho e
dormir. Com o cansaço que estou, pularia até o jantar.
Tive que ficar até mais tarde hoje na loja pra ajudar a Jessica a fechar, pois justo hoje duas
das vendedoras que ficam até o horário de fechar a loja resolveram faltar e as outras duas
estudavam e não poderiam sair mais tarde por causa da faculdade. Acabou sobrando pra
mim.
Já estava quase no horário, e tinha pouquíssimas pessoas na loja, a Jessica já começava a
descer algumas portas, para as pessoas saberem que estamos fechando. Eu só estava
preocupada em relação ao horário, se de dia o ônibus já é uma luta pra passar, a noite então
piora mais ainda.
Quando o ponteiro do relógio marcou exatamente 20h00min, a ultima cliente saiu da loja e
nós pudemos fechá-la de fato.
- Ai graças a Deus! Eu estou morta. – digo retirando os saltos.
- Estamos. – diz a Jessica fazendo o mesmo. – Agora só mais um minutinho pra fechar o caixa
e nós vamos.
Aceno e me sento na cadeira ao seu lado apenas a observando.
E como de costume, ele vem a minha cabeça. Que vontade que eu estou de ligar pra ele, sinto
tanto a sua falta. Nessas três semanas que estamos separados eu pude ver o tamanho da
burrada que eu estava fazendo. O bom é que nesse tempo eu pude realmente pensar em
tudo que aconteceu e vi que a única coisa que eu estava conseguindo nessa distância toda,
era me machucar... Nos machucar mais ainda... E isso fez o amor que eu sinto por ele
aumentar ainda mais, me fez ver o quão ruim é não tê-lo do meu lado... Eu agi pensando no
nosso bem, mas na verdade esse tempo não fez bem pra ninguém. Só serviu pra me mostrar
que eu realmente fui feita pra ele... Só pra ele.
A minha vontade é de ligar pra ele agora mesmo e pedir desculpas por não termos
enfrentados isso juntos, pedir desculpas por ter sido uma tola. Eu fiz tudo isso pensando no
nosso bem... No bem dele, mas na verdade isso só estava nos matando mais ainda... Me
matando mais ainda.
Eu não vou consegui esperar mais, acho que vou morrer de ansiedade, eu necessito falar com
ele, pedir desculpas, pedir pra voltar... Eu quero e preciso dele de volta. Na verdade eu nem deveria ter o deixado ir.
Pego o meu celular no bolso e vou para um canto na loja, disco o seu numero, mas ele nem
chama, vai direto para aquela vozinha chata que diz que: “O celular está impossibilitada de
receber esse tipo de chamadas nesse momento...” e blábláblá. Essa mulher sempre me
irritava. Mas eu não desisti e tentei de novo, de novo, de novo e de novo... Mas sempre dava
o mesmo.
Que raiva, justo hoje, justo agora que eu resolvi conversar com ele, esse celular não colabora.
- Soph, já terminei aqui, vou guardar o dinheiro lá no cofre e nós já vamos.
- E-eu vou subir com você, tenho que pegar a minha bolsa. – digo guardando o celular no
bolso, totalmente frustrada.
Vou até onde deixei o meu salto, o pego e logo em seguida entramos no elevador, subindo.
Enquanto eu fui para a nossa humilde salinha, a Jessica foi em direção ao escritório da
Fabiola.
Coloco o meu salto dentro da bolsa e calço a sapatilha.
- Está tudo certo já. Vamos? – Diz a Jessica entrando na sala e pegando a sua bolsa no
armário.
- Vamos.
Saímos da loja e o shopping ainda estava bastante cheio, por conta das outras lojas abertas e
pelo cinema também.
Despeço-me da Jessica que vai de elevador até o estacionamento, pois sim ela tem um carro,
enquanto eu descia a escada rolante em direção a saída principal do shopping. E um
pensamento invadiu a minha cabeça, a ideia de ir até a casa do Rodrigo me veio em mente.
Eu não aguentaria e nem poderia esperar até amanhã pra conseguir falar com ele, eu vou
resolver isso hoje, por mais cansada que eu esteja agora, eu não me importo eu vou até ele.
Eu sei que á essa hora ele já estaria em casa, é um pouco mais de oito horas da noite, e eu
vou lá, tentar trazer o Rodrigo de volta pra mim.
Saio do Shopping e vou andando até um ponto de ônibus que tem aqui mesmo perto, a casa
do Rodrigo não é muito longe daqui, mas a pé acaba ficando, então eu pegaria um ônibus
mesmo.
Assim que chego ao ponto de ônibus espero alguns minutinhos e um ônibus já logo para, mas
algo chama a minha atenção e me faz parar de andar até ele.
Eu vi um carro muito parecido com o do Rodrigo estacionando próximo á um restaurante que
tem próximo ao Shopping, eu pensei que fosse apenas uma coincidência, afinal de contas não
existe só o Rodrigo com aquele carro no mundo. Mas antes que eu possa voltar em direção
ao ônibus eu o vejo saindo de dentro do carro. Eu já estava quase indo até ele, quando eu vejo uma mulher saindo também. Na mesma hora eu paro e o meu coração começa a doer de
uma forma que eu nunca senti antes, eu não consegui nem impedir que as lágrimas
descessem de meus olhos e tudo isso aconteceu muito rápido, sem me dar chances nenhuma
de me controlar.
Eu nem sei quem de fato é aquela mulher, mas ela é bonita, elegante, tem um sorriso enorme
no rosto, parecendo estar bem feliz ao lado dele. Eles entram no restaurante e eu continuo
em pé, parada, no mesmo lugar, olhando para onde eles entraram.
Algo dentro de mim diz pra eu ir lá como quem não quer nada, ver se eles realmente tinham
algo. Mas eu não vou fazer isso, de jeito nenhum. Eu não vou. Eu já estou sofrendo o
suficiente só de vê-los juntos, eu não quero procurar ainda mais motivos para aumentar essa
dor. Eu não quero ver coisas que eu sei que me deixarão pior ainda.
E eles poderiam ser amigos apenas, mas aquele sorriso no rosto dela, não é sorriso de uma
amiga para um amigo quando vão jantar juntos. É um sorriso de uma mulher que depois
daquele jantar provavelmente teria uma bela noite com ele. Ela deve ser algumas das antigas
submissas dele, ou não. Mas eu sei que amiga não é. Ele nunca me falou dela, na verdade ele
nunca me falou de amiga nenhuma.
O Rodrigo está seguindo a vida dele e eu não posso fazer absolutamente nada, nada pra
mudar isso. E eu nunca seria capaz de fazer algo assim. Por mais que eu o ame muito, eu não
vou atrapalhar mais ainda a vida dele...
Fico tanto tempo olhando para aquela direção que nem me toco que o meu ônibus já tinha
chegado e estava quase saindo novamente e antes que eu o perca e fique aqui até de
madrugada esperando outro, seco rapidamente o meu rosto e corro até o ônibus, entrando.
Sento-me no ultimo banco, deixo a minha cabeça cair pela janela e penso no quão tola e
burra eu fui de ter deixado-o sair da minha vida... Agora ele realmente saiu de verdade.
Tento tirar da minha cabeça os pensamentos de que o que ele fará com ela quando saírem
dali, á quanto tempo eles já estão juntos, se ele realmente me esqueceu... Deve ter
esquecido. Mas o que eu queria também? Que ele ficasse me esperando a vida inteira? Eu já
fui egoísta o suficiente, pra querer que ele me espere pra sempre.
Eu estava tão distraída e me martirizando com os meus pensamentos que quase perco a
parada do meu ponto. Mas me levanto a tempo de puxar a cigarra e descer. Já está bem
tarde, mas como é quinta-feira a maioria dos bares estavam abertos e uma mistura de
musicas podia ser ouvida do pé do morro. Eu não queria subir isso tudo a pé, então fui até o
ponto do moto taxi que fica na subida do morro e peço para que o filho da minha vizinha me
leve em casa. Ele é um dos poucos moto taxistas que eu confiava daqui.
Em questão de minutos eu já estava parando em frente de casa, retiro o dinheiro da bolsa e
pago ele, que desce com toda a velocidade do mundo novamente para o pé do morro, eu
imagino. Entro em casa e não encontro ninguém na sala, como sempre acontecia, nas também pela
hora que é a minha mãe deve estar colocando o Gustavo pra dormir.
Jogo-me no sofá e abaixo a minha cabeça até as minhas mãos, o meu peito ainda dói toda
vez que eu me lembro daquela cena. As lágrimas começam a descer silenciosamente... Eu
cansei de tentar impedi-las.
- Oh minha filha, demorou. – diz minha mãe entrando na sala.
Eu rapidamente seco o meu rosto e me levanto.
- É eu tive que ficar pra fechar a loja, hoje.
Quando eu vou passar por ela, ela me para.
- Ei... o que aconteceu, minha filha, porque está chorando?
- Nada mãe, não estava chorando não... Só estou muito cansada.
Ela olhou pra mim e fez cara de tédio, como quem não tivesse acreditado em absolutamente
nada.
- Tá, agora me fala a verdade. O que aconteceu?
- Ah mãe... – volto a me sentar no sofá e deixo as lagrimas virem novamente. – E-eu estava
tão disposta a ir até ele e pedir desculpas, eu estava disposta a tudo para que ele me
quisesse de volta.
- E não fez por quê?
- Você tinha razão.
- Sobre?
- Ele estava com outra mulher, eu os vi entrando juntos em um restaurante próximo ao
Shopping.
- Realmente eu avisei e não foi uma vez.
Eu realmente não esperaria palavras doces e reconfortantes vindo da minha mãe nesse
momento, ela me avisou e muito. Mas nas vezes que ela falava comigo eu ainda me sentia
muito culpada de tudo, pra ficar com ele. Apesar do amor que eu sinto por ele, eu não sei se
conseguiria viver com aquela culpa te ter estragado tudo. Mas com o tempo eu fui vendo que
eu nem ao menos tentei. Esse foi o meu erro: não tentar. Mas o medo de estragar tudo mais
ainda, me privou de continuar, eu deixei o medo e a culpa falar mais alto que o meu amor
por ele, o que eu não deveria ter deixado acontecer. Até porque eu não entrei na frente de
uma bala por nada, apenas pra sentir como é levar um tiro. Eu entrei na frente de uma bala
por ele, por medo de perdê-lo pra sempre e acabou que eu mesma o deixei sair da minha
vida “de graça”. Desculpa, minha filha, mas você não é mais criança e merece a verdade nua e crua na sua
cara. Eu e a Camila te avisamos que quando você quisesse poderia ser tarde demais, mas
você não quis ouvir.
- É mãe, eu sei, eu sei não precisa falar mais nada. Agora não há nada que eu possa fazer pra
mudar isso.
Pego a minha bolsa novamente e vou direto para o meu quarto, não querendo mais ouvir o
que ela tinha pra me falar.
Eu já estava me sentindo culpada, estupida, burra e machucada demais pra ficar lá ouvindo
os “Eu te avisei” dela.
[...]
Acordo na sexta-feira e assim que me olho no espelho me assusto com a minha aparecia, a
minha cara está totalmente inchada e o meu olho incrivelmente vermelho. Cara de quem
passou a noite inteira chorando e se lamentando.
Vou direto para o banheiro antes, que eu perca o horário e o emprego junto, tomo um banho
bem rápido, pois se eu ficasse mais um minuto de baixo do chuveiro eu deixaria o choro que
está entalado na minha garganta sair, e o banheiro já virou o meu santuário do choro.
Volto para o quarto e faço uma maquiagem que consiga tapar as minhas olheiras e tirar essa
cara de “Passei a noite inteira chorando”. Não sei se deu muito certo, mas fiz o meu melhor.
Coloco uma roupa melhorzinha e minha sapatilha, pois descer o morro de salto ninguém
merece.
Vou para a cozinha, tomo uma xícara de café, que a minha mãe já havia preparado, e depois
vou até o quarto, dou um beijo no Gus e saio.
Algumas irritantes horas depois eu cheguei ao Shopping, ainda estava no horário e eu
agradeci por isso.
O dia foi horrível, eu simplesmente não conseguia me concentrar em nada, ou fazer algo
direito. Eu sempre me pegava pensando no que aconteceu depois daquele jantar, me pegava
pensando quem era aquela mulher. Tive que me segurar várias vezes pra não ficar chorando
na frente das pessoas. Foi horrível!
Como sempre eu fui almoçar com a Jessica, que me perguntou o que estava acontecendo,
mas eu não disse nada, apenas inventei uma dor de cabeça, que ela não pareceu acreditar
muito, mas também não insistiu.
Eu não sei se o dia realmente foi cansativo ou eu que não estava com saco pra nada. Mas eu
nunca fiquei tão feliz assim em saber que finalmente sairia dali e iria pra casa.
Assim que chego em casa o meu celular começa a tocar e a duvida entre atender ou não,
surge dentro de mim. Mas se ele está me ligando é porque quer ver o Gustavo... Ah!
- Alô. – digo tentando deixar a minha voz o mais firme possível.
- Oi Sophia, tudo bem?
- Sim Rodrigo. E você?
- Bem também. É... Eu queria saber se posso dar uma passada ai amanhã pra ver o Gustavo.
- Claro, pode vim, Rodrigo.
- Você vai estar em casa na parte da tarde?
Sento-me no sofá e respiro fundo.
- Não, eu ainda trabalho amanhã. Mas você sabe, minha mãe está em casa o dia inteiro e
você pode vir à hora que quiser. – digo e mordo o lábio inferior tentando conter a vontade de
chorar.
Que raiva!
- Está tudo bem, Sophia? Sua voz está estranha.
- Sim Rodrigo, está tudo bem... – uma lágrima solitária desce, mas eu logo a seco. – Um pouco
gripada, só isso... Obrigada por perguntar.
- Nada Sophia... Então, tudo bem amanhã estou ai.
- Okay... Boa noite.
Ele desliga o telefone e eu deixo que as lágrimas caiam de vez. Olho ao meu redor e não vejo
a minha mãe e nem o Gus, mas nem é tão tarde assim. Vou até o meu quarto e ela está
colocando o pijama nele.
- O Rodrigo vai vir amanhã visitar o Gustavo, tá. – digo e vou até o guarda-roupa pegando o
meu pijama também.
- Tudo bem. E pela sua carinha continua o mesmo, né?
- Sim mãe, e vai continuar. Ele está com outra, eu não vou atrapalhar os dois. Eu não tenho
esse direito.
- Você os viu se beijando ou algo do tipo?
- Não, mas o sorriso no rosto dela e ele levando-a em um restaurante pra mim já diz tudo.
- É por isso que você sofre sem necessidades. Você não pergunta, só vai tirando conclusões
precipitadas das coisas.
- Mãe..como eu vou chegar pra ele e perguntar sobre quem era a mulher que ele estava na noite passada? Eu não tenho mais esse direito.
- A Camila está ai pra quê? Pergunta a ela, você só não pode simplesmente ver uma coisa e
achar outra completamente diferente... Tá, OK! Pode até ser que sim, ele esteja com outra,
mas e se não for? Você vai deixá-lo ir novamente? Chega uma hora que a gente cansa, Sophia.
Ela diz e sai do quarto deixando-me aqui com os meus pensamentos e o Gustavo olhando pra
minha cara. Vou até ele, pego em meus braços, deixo um beijo em sua bochecha e ele logo
deixa a sua cabeça cair em meu ombro. Sei que ele vai dormir, então adiei o banho por um
tempo e fico com o meu filho um pouco, até ele pegar no sono.
[...]
Duas semanas depois...
Faz duas semanas que o Rodrigo não aparece, ele não liga mais pra falar com o Gustavo ou
então vem visitá-lo, e isso me faz ter ainda mais certeza de que sim, ele já está em outra e
nos esqueceu.
Eu estou me sentindo destruída, um completo nada por ter o deixado ir assim.
O Gustavo pergunta muito por ele, mas eu não sei o que dizê-lo. Eu não sei mais o que fazer.
Eu não tenho coragem de ligar pra ele e pedir pra que venha aqui, ele não tem essa
obrigação. E isso só faz com que eu a minha coragem de chegar pra ele e perguntar sobre
aquela mulher, vá completamente embora.
O meu telefone toca fazendo-me deixar esses pensamentos de lado, e assim que vejo o nome
na tela atendo.
- Oi Mila.
- Oi Soph, tudo bem?
- Sim. – NÃO
- Eu queria passar ai na loja pra gente almoçar juntas, tanto tempo que não fazemos isso,
Soph.
- Claro, pode vir. Você sabe que sinto muito a sua falta, esses nossos trabalhos estão
consumindo muito do nosso tempo. – digo sorrindo de leve.
- É verdade, mas então, está resolvido, daqui a pouco eu passo ai.
- Ta bom, amiga, vou ficar te esperando. Beijos.
- Beijos minha pretinha. – ouço uma gargalhada dela o que me fez rir também. Desde a época
da escola que ela não me chama assim. É sempre Soph. Só ela pra me fazer um pouco melhor nessas horas.
Desligo o telefone e vou até uma cliente que entrou na loja, hoje o movimento não estava
tão grande o que por um lado era ótimo para os meus pés.
Depois que eu consegui fazer com que a mulher levasse bastante coisa da loja, ela se foi e eu
fiquei ainda mais animada por isso, um pouco mais de dinheiro pra mim.
- Jessica. – a chamo.
- Oi Sophia.
- Hoje eu não vou poder almoçar com você. A minha amiga vai passar pra almoçarmos juntas.
- Tudo bem, Soph. – diz direcionando-me um sorriso, que eu retribuo.
Voltei ao meu trabalho e quando estava quase na hora do meu almoço, a Camila me manda
uma mensagem dizendo que já tinha chegado, faltavam poucos minutinhos, a loja estava com
pouquíssimas pessoas e a Jessica me liberou. Fui até a salinha, peguei a minha bolsa e assim
que desci já encontrei a Mila olhando algumas roupas, vou até ela e a abraço por trás.
- Voltei. – ela dá um pulinho de leve e logo se vira me abraçando.
- Que saudades, Soph.
- Eu também estava morrendo de saudades, Mila.
Ela se separa, segura o meu rosto e deixa um beijo na minha bochecha fazendo-me rir e
depois ela me olha.
- E que carinha é essa, em?
- Podemos conversar em outro lugar?
- Claro, vamos. – ela segura na minha mão e me leva para fora da loja. – Vamos almoçar aqui
mesmo ou você tem outro lugar em mente?
- Qualquer lugar está bom, amiga, contanto que dentro de uma hora e meia eu esteja aqui de
volta.
- Então vamos ficar por aqui mesmo.
Andamos um pouco pelo shopping e entramos em um restaurante, não era o que eu estava
acostumada a almoçar, mas era tão aconchegante quanto.
O garçom traz o cardápio , fazemos os pedidos rapidamente e ele se retira logo após anotá-
los.
- Agora me fala. O que está acontecendo?
- Eu sinto falta dele. – digo de cabeça baixa. Então vai atrás dele, Sophia.
- Justo quando eu ia fazer isso, Camila, eu o vi com outra.
Ela levanta as sobrancelhas levemente, parecendo não entender.
- Aãn! Como assim?
- Camila eu estava decidida a ir lá na casa dele, para conversarmos e pedir pra voltar... Mas ai
eu o vi entrando em um restaurante com uma mulher... e-e foi horrível. – não consigo
impedir uma lágrima de descer, mas logo a seco. – E não precisa dizer “Eu te avisei“ já ouvi
isso o suficiente da minha mãe. E eu já entendi que fui uma idiota em deixá-lo.
A Camila é uma ótima amiga, ela é daquelas que fala o que você precisa ouvir e não o que
você quer ouvir e eu sabia que ela falaria exatamente isso. Mas eu não estava a fim de ouvir
isso tudo novamente.
- Mas que mulher era essa?
- Eu não sei, Camila, eu nunca a vi antes. Mas ela era bem bonita, elegante e tinha um sorriso
enorme na boca, sorriso de quem teria uma ótima noite.
- Mas você perguntou a ele sobre ela?
- Com que cara eu ia chegar pra ele e perguntar quem era a mulher que estava com ele? Em
Camila? Eu perdi esse direito.
- O seu orgulho não te leva a lugar nenhum e você já teve provas o suficiente disso... E eu não
deveria te falar nada, mas essa mulher era a psicóloga dele...
- Camila, aquela mulher não olhava pra ele como uma psicóloga olha para um paciente.
- Mas era... Agora, se ela tinha outros interesses com ele, eu não posso fazer nada. Se vocês
estivessem juntos, ela não ia achar que tinha chances, ou seja lá o que passou pela cabeça
dela.
Ela tinha razão.
- Eu sei... Mas de qualquer jeito eu acho que agora eu o perdi pra sempre.
- Por que você acha isso?
- Faz duas semanas desde a última vez que ele foi visitar o Gus que ele não me liga mais e...
- E por que VOCÊ não liga pra ele? – ela diz parecendo um pouco brava.
- Porque eu achava que ele estava com aquela mulher... e.. e-eu não queria atrapalhar nada
e...
- Não Sophia, porque você sempre espera que ele venha atrás de você. Você é acomodada,
mas ai você se esquece que quem pediu o tempo foi você e agora é você que vai ter que correr atrás do prejuízo pra ter ele de volta... Isso se você realmente o quiser.
É doloroso, mas ao mesmo tempo é bom ter a verdade nua e crua na nossa cara. Assim
podemos abrir os olhos e ver que realmente estava errando e agora eu tenho que correr
atrás.
- É claro que eu quero..eu.. eu vou agora. – digo me levantando e pegando a minha bolsa.
- Pra onde você pensa que vai, Sophia?
- Eu vou atrás do Rodrigo, eu não vou esperar mais nenhum minuto....
- Ele não está no Rio.
Essas palavras me fizeram sentar novamente e a dor no meu coração aumentou.
- Aãn? Co-como assim? Onde ele está? Ele foi embora? – eu já chorava nesse momento e a
dor no meu peito insistia em apertar, só de pensar na possibilidade de ele ter ido embora pra
sempre.
- Isso ai eu já não posso te dizer, mas ele não está mais no Rio.
- Faz quan-to tempo que-que ele..
- Duas semanas mais ou menos.
Por isso! Por isso que ele não me liga, por isso que não aparece.
Ele foi ver o Gustavo a ultima vez como forma de despedida? E eu não sabia, eu não estava
em casa. Eu lembro que quando eu cheguei em casa naquele sábado eu vi o seu carro
virando a esquina. Mas eu nunca poderia imaginar que aquela ultima visita fosse uma
despedida.
- Ele não vai voltar mais?
- Tudo indica que não.
- Como assim, Camila? Ele não pode ter ido embora pra sempre. – digo levando as mãos até o
rosto.
- Mas ele foi...
- Não Camila, diz que isso é mentira, por favor.
- Desculpa amiga, mas não é.
- Eu não vou conseguir e-eu não quero viver sem ele...
- E o que você vai fazer em relação a isso? Vai continuar de braços cruzados e sofrendo, ou vai
tomar alguma atitude? – ela diz com os braços cruzados olhando para mim.
A comida chegou, mas eu nem sequer toquei nela, eu perdi totalmente a fome, perdi a vontade de tudo.
A única coisa que eu quero nesse momento é ele. Só ele. Mas agora eu o perdi, ele foi
embora ele se foi sem ao menos se despedir.
A Camila terminou o seu almoço, e eu continuei ali, chorando silenciosamente e me
lamentando. Pagamos a conta e saímos do restaurante.
- E ai Sophia? Você vai deixar o amor da sua vida ir embora novamente ou vai fazer alguma
coisa pra mudar essa situação?
- Eu..eu preciso saber onde ele está – digo secando as lágrimas.
- Isso eu não posso te dizer, pois eu também não sei... liga pra ele... Eu tenho que ir agora
amiga, me horário já acabou. – ela vem até a mim, me abraça e eu a abraço mais forte ainda.
Eu sei que ela sabe. Ele conta tudo pra ela, com certeza ela sabe, mas não quer me dizer.
Ela se vai e eu continuo sem saber o que fazer.
Pego o meu celular e ligo para a Jessica dizendo que não poderia voltar, pois não estava me
sentindo bem, ela acreditou, pois a minha voz realmente entregava o meu choro. Ela quis
saber o que houve, mas eu inventei qualquer coisa.
Depois que eu sai do Shopping, eu não sabia pra onde ir, eu não queria voltar pra casa, eu
queria ficar sozinha naquele momento.
Vou até o ponto de ônibus e pego o primeiro ônibus que passou e eu sabia que me deixaria
onde eu queria.
Durante todo o caminho do ônibus eu tentava a todo instante falar com ele, eu ligava e
ligava, mas ele não me atendia e eu sabia que era porque ele não queria, pois chamava várias
vezes, mas eu não dessistia...
Assim que o ônibus para, eu desço e retiro o meu salto. Ando pelo calçadão pensando em
tudo o que eu fiz, pensando em como eu fui tola em ter o deixado ir assim. Agora ele foi de
verdade. Foi embora e eu não sei se um dia voltará. Mas eu também não posso mais agir com
orgulho. Eu o amo. Eu preciso e quero-o do meu lado.
Por sorte o sol não estava tão quente assim, na verdade estava nublado e tinha algumas
poucas pessoas na praia, e foi ali naquela areia que eu me sentei e novamente tentei ligar
pra ele, mas nada acontecia. Dava sempre a mesma coisa.
Talvez seja porque ele já está com alguém nesse lugar e não quer mais me ver realmente. Mas
eu não vou fazer igual há duas semanas, eu vou continuar tentando, até que ele me atenda,
ou então se for preciso eu vou até ele. Como eu vou descobrir a onde ele estar, eu não sei.
Mas eu vou. Dois dias se passaram e eu já perdi as contas de quantas vezes eu já tinha ligado e mandado
mensagens pra ele e continuava sem nenhuma resposta.
Sempre quando não tinha ninguém na loja eu não perdia tempo e ligava para o Rodrigo,
mandava mensagens a todo o instante, mas nada de ele me responder. Eu estava começando
a achar que ele realmente não quisesse mais ver a minha cara.
Já fui chamada atenção pela Fabiola várias vezes por conta de eu não conseguir deixar o
celular de lado. Eu estou a ponto de perder o meu emprego. Mas agora nada mais me
importa, á não ser encontrar o Rodrigo e esclarecer as coisas. O que aconteceria depois disso
eu não sei, mas eu preciso vê-lo.
Eu estava com o celular nas mãos e já tinha sido liberada e mais uma vez estava na tentativa
de falar com ele.
“ Rodrigo, por favor, me atente. Eu preciso falar com você... eu preciso saber onde você
estar... Eu te amo.“
Enviei a mensagem sem receio nenhum de estar parecendo que estou me humilhando. Fui eu
que o perdi então eu vou fazer exatamente o que a Camila me falou, eu vou correr atrás.
Disco o numero da Camila e ela logo atende.
- Oi Soph.
- Camila... Camila, por favor... Eu não aguento mais. Eu sei que você sabe onde ele estar. Me
fala, por favor.
- Sophia...
- Camila, por favor, eu preciso disso, eu preciso saber. Não foi você mesma que disse que eu
teria que correr atrás? Então, é isso que eu estou fazendo... Por favor, me fala.
- Tá. E-eu vou te falar. – eu sabia que ela sabia. – Ele está no Rio Grande do Sul...
Ela me disse exatamente onde ele estava. O lugar é uma chácara que ele tem por lá.
- O que você vai fazer?
- Eu vou correr atrás do meu amor.
Desligo o telefone e nele mesmo procuro passagens para o Rio Grande do Sul. Eu não vou
esperar mais nenhum minuto, eu vou atrás dele.
Eu vi que tem um vôo para amanhã de tarde e vai ser esse mesmo que eu vou. Peguei o
numero e liguei comprando a passagem, eu tenho algumas economias, na verdade é o
dinheiro que eu usaria para a minha faculdade, mas eu não me importo. Conseguir falar com o Rodrigo, nesse momento, é muito mais importante pra mim.
Não desisto de ligar pra ele nenhum segundo...
Assim que chego em casa minha mãe logo me pergunta.
- Que cara é essa? Por que voltou tão cedo?
- Mãe, eu preciso que você fique com o Gustavo por alguns dias, eu vou ter que viajar.
- Como assim, viajar? Pra onde você vai, garota?
- Eu vou atrás do Rodrigo, eu estou cansada de ficar aqui sem respostas, de ficar sofrendo, eu
não aguento mais ficar longe dele, mãe.
- Você descobriu onde ele está?
- Rio Grande do Sul... Eu já até comprei as passagens, vou amanhã mesmo.
- Você vai pra um lugar que você nem conhece, assim? Você está louca?
- Não mãe, louca eu estava quando deixei aquele homem ir embora. Agora eu vou correr
atrás do meu prejuízo.
- E se ele não te quiser? Se estiver cansado de tudo isso? E se ele estiver com outra? O que
você vai fazer?
Odeio ter mãe realista demais.
- Se ele não me quiser mais eu volto pra casa com a consciência tranquila de que eu tentei,
mãe... E outra, eu não tenho mais nada a perder.
Vou até o Gustavo, o pego nos meus braços o abraço e dando-lhe um beijo.
- Meu amor, a mamãe vai viajar amanhã, mas eu juro que não vou demorar.
- Vai pra onde mamãe?
- Eu vou tentar fazer com que um dos amores da minha vida volte pra gente. – ele me olha
parecendo não entender nada.
- Aãn?
- Depois você vai saber do que eu estou falando, meu filho. – se ele me quiser de volta, é
claro.
Eu não quero dar falsas esperanças pra ele, falando que trarei o Rodrigo, pois eu não sei se
ele ainda me quer em sua vida.
- Tudo bem mamãe, vamos brincar? – ele diz animadinho.
- Claro, vamos sim. Sento-me ao seu lado, pego um carrinho e começo a brincar com ele um pouco...
[...]
- Meu filho eu quero que você obedeça a sua avó, está bem?
Eu estava me despedindo dele, já estava quase na hora de eu ir para o aeroporto.
- Tá mamãe... Não demora. – diz me abraçando.
- Eu não vou demorar, meu amor, eu prometo. – deixo um beijo em sua testa – Te amo
muito, ouviu?
- Também te amo, mamãe. – deixo um outro beijo em sua bochecha e me levanto pegando
uma pequena mala de lado, apenas com algumas poucas peças de roupa. Coloco no ombro e
me despeço da minha mãe.
Tinha pego todos os documentos precisos e dinheiro também e saio de casa, com o coração
apertado por deixar o meu filho, mas por outro lado feliz por estar tomando uma atitude de
correr atrás do homem que eu amo.
Uma hora depois chego ao aeroporto e mesmo sem saber como funciona isso direito, pois
nunca viajei de avião na vida, na verdade eu nunca nem sai do Rio de Janeiro, mas eu sabia
que tinha que fazer o Check-in em algum lugar, que não foi difícil de achar. Depois foi só
esperar dá o horário de vôo que seria ás uma da tarde. Não demorou muito o meu vôo foi
anunciado e eu fui até o portão indicado, me sentei na poltrona e coloquei a minha bolsa em
meu colo e antes mesmo de falarem algo eu já estava colocando o sinto de segurança.
Eu estou nervosa, bem nervosa.
Primeiro porque eu morria de medo de avião, sem nem mesmo andar eu já tinha medo.
Não entra na minha cabeça como um troço daquele tamanho consegue voar. E segundo
porque eu não sabia qual seria a reação do Rodrigo, não sabia se ele me aceitaria depois de
tudo. Mas mesmo assim eu iria enfrentar. Eu poderia levar um não na cara? Sim poderia. Mas
eu não vou desistir novamente, sem nem mesmo tentar.
Não vou.

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111058 - Meu Delegado - Capítulo 30 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
111056 - Meu Delegado - Capítulo 28 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
111055 - Meu Delegado - Capítulo 27 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
111054 - Meu Delegado - Capítulo 26 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
111053 - Meu Delegado - Capítulo 25 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
111052 - Meu Delegado - Capítulo 24 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
111050 - Meu Delegado - Capítulo 23 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
111049 - Meu Delegado - Capítulo 22 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
111048 - Meu Delegado - Capítulo 21 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
110217 - Meu Delegado - Capítulo 20 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110216 - Meu Delegado - Capítulo 19 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
110215 - Meu Delegado - Capítulo 18 - Categoria: Heterosexual - Votos: 1
110213 - Meu Delegado - Capítulo 17 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110212 - Meu Delegado - Capítulo 16 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110211 - Meu Delegado - Capítulo 15 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110210 - Meu Delegado - Capítulo 14 - Categoria: Heterosexual - Votos: 3
110209 - Meu Delegado - Capítulo 13 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110208 - Meu Delegado - Capítulo 12 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110207 - Meu Delegado - Capítulo 11 - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
110206 - Meu Delegado - Capítulo 10 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110205 - Meu Delegado - Capítulo 9 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110204 - Meu Delegado - Capítulo 8 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4
110203 - Meu Delegado - Capítulo 5 - Categoria: Heterosexual - Votos: 3
110202 - Meu Delegado - Capítulo 7 - Categoria: Heterosexual - Votos: 4

Ficha do conto

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Nome do conto:
Meu Delegado - Capítulo 29

Codigo do conto:
111057

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
31/12/2017

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