Sophia - Sophia, me diz que isso é mentira. Me diz que é uma brincadeira sua. Você não se envolveu com aquele marginal. Você não fez isso. Aquele olhar de desgosto continua presente e um medo de que ela não acredite em mim, tomou conta. - Mãe, a senhora prometeu que iria ouvir até o final sem me interromper. - Mas o que você está me falando é... - MÃE, EU FUI ESTUPRADA! Não acho outro jeito de falar sem que ela me interrompa, a não ser assim. Curta, grossa e direta. Os seus olhos agora estão arregalados em surpresa. Posso ver incredulidade nos mesmos. E isso aumenta mais ainda o meu medo de ela não acreditar em mim. Minha mãe agora esta sem fala. Ela abre e fecha sua boca diversas vezes na tentativa de dizer algo. Mas nada sai. - Eu não acredito que a senhora realmente acreditou que eu me envolveria com ele de pura e espontânea vontade. Isso só prova que você não me conhece nem um pouco. Surpreendentemente eu estou firme. Minha voz não está tremula e aquela vontade de chorar que habitava em mim mais cedo, quando eu disse tudo para o Rodrigo, não existe mais. Eu não sei explicar o porquê disso. Mas eu simplesmente estou mais confiante agora. O que não significa que ainda não me doa lembrar aquelas coisas. Porque sim. Dói e muito. Mas eu estou me mantendo forte diante disso tudo. Eu tenho que me manter forte - Co-como assim... Você... Você foi estuprada minha filha? – suas lágrimas caem livremente. Ela ainda me olha sem entender direito. Está procurando respostas. - Você lembra á três anos atrás, quando eu fui ao aniversário da Mila e a senhora me mandou ir pra casa cedo? – ela acena com a cabeça e leva suas mãos até a boca a tapando como quem não acreditasse no que estava ouvindo. - Então... Naquele dia quando eu estava subindo o moro eu encontrei com o DG e ele me ofereceu uma carona. Eu não queria. Você mais do que ninguém sabia o quanto eu o odiava. Mas ele praticamente me obrigou e eu tive que ir. Eu não tive escolha. Eu realmente pensei que ele me levaria pra casa, mãe. Mas não foi isso que aconteceu. Quando eu percebi, ele já estava parando em frente à casa dele. Eu não tive saída. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance naquele dia para que ele me soltasse. Para que ele deixasse ir embora. Mas de nada adiantou. Ele não se importou... Aconteceu. Eu estou surpresa com a maneira na qual eu cotei toda a história, resumidamente e tão tranquilamente. Eu quero poupa-la dos detalhes e me poupar também de ter que me lembrar de tudo o que eu passei, novamente, tudo isso em menos de um dia. Minha mãe chora feito uma criança. Ela não tem coragem de olhar nos meus olhos em nenhum momento e eu não sei se isso é bom ou ruim. Não sei o que ela está pensando de mim, agora. Não sei se ela acreditou realmente. Mas tudo indica que sim. - Por isso que naquele dia eu cheguei mais tarde. Não foi porque eu perdi a hora de voltar pra voltar pra casa. Foi porque aquele nojento atravessou o meu caminho e abusou de mim. - Por-por que você não me falou nada, minha filha? - Ele disse que ia te matar caso eu contasse pra alguém. Ela solta um soluço e seu choro se intensifica. - Você deveria ter me contado Sophia. Eu não teria te tratado daquela forma. Você não sabe como eu estou arrependida, minha filha. - Não mãe. Eu não queria que a senhora me tratasse diferente só por saber que eu fui estuprada e que eu carregava um fruto disso. Eu queria o seu apoio independente de eu saber ou não quem era o pai do meu filho. Isso eu não tive da Senhora. Muito pelo contrário. A senhora me humilhou. Eu escutei coisas saindo de sua boca que me machucaram. Coisas que eu nunca esperaria um dia ouvir. Palavras que me machucaram e machucam até hoje. - As pessoas falavam de você e... - Eu não estava nem ai para o que as pessoas falavam de mim, mãe. Será que a senhora não entendia isso? A única coisa que me importava. A única opinião que era relevante pra mim, era a sua. E o que senhora fez? Me rejeitou como filha... Mas o pior de tudo não era isso. O pior era viver com a senhora na mesma casa e ver o seu olhar de nojo, de desprezo, de desgosto pra mim todas as vezes que você chegava em casa. A vergonha que você sentia ao andar comigo na rua e ouvir os cochichos da favela inteira. Isso me doía, mãe. Era com isso que eu me importava. Muitas vezes eu pensava em ir embora. Sair de casa e deixar você sozinha. Talvez assim a vergonha que você sentia de mim, passava... Mas ai eu lembrava que eu não tinha onde cair morta. Se eu saísse de casa seria eu e meu filho agora embaixo de alguma ponte pedindo esmola. Isso se eu conseguisse chegar a tê-lo. - Eu não sabia que você se sentia assim, Sophia... Me desculpa! Por favor! Me desculpa! – ela agora segura com força as minhas mãos, mas ainda não me olha. - Mas eu me sentia, mãe. - Eu imagino o quanto você sofreu guardando isso tudo pra você todos esses anos... – Ela por um momento solta sua mão da minha e enxuga rápido suas lágrimas. Mas rapidamente volta a segurá-la e dessa vez o seu olhar acompanha o meu. Arrependimento, culpa e tristeza transbordavam pelos seus olhos. – Eu vou entender se você não quiser me perdoar. Eu juro que vou. E-eu não mereço... Eu não fui a mãe que tinha que ser pra você... Eu já te pedi perdão por isso uma vez, mas agora eu vou pedir quantas vezes for preciso, para que você me perdoe de verdade minha filha... Eu disse que me orgulhava de você antes, por me encarar e contar, o que na época eu achava que era a verdade... Ma-mas agora... Agora eu tenho ainda mais orgulho e admiração por você, Sophia... Eu nunca vou me perdoar por ter te julgado. Por ter te tratado daquela maneira. Você poderia ter tirad... - Eu nunca faria isso. – falo seca. - Eu sei que não... - ela solta um soluço e abaixa a cabeça novamente. – Você não poderia ter guardado isso pra você. Você sofreu sozinha por todo esse tempo, minha filha, e eu sou a culpada. Eu piorei a situação não ficando do seu lado. Não te apoiando... Por favor, filha me perdoa. - A única coisa que eu queria era que a senhora estivesse do meu lado, independente de eu saber ou não quem era o pai do meu filho. Afinal. Mãe não é pra essas coisas? Mãe não é pra estar ao lado dos filhos em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins? Mãe não é aquela que fica do nosso lado sempre quando todos nos viram as costas? - Mas eu nunca te deixei minha filha. - Sim mãe, você me deixou... Não foi porque mesmo depois daquilo tudo eu continuei vivendo no mesmo teto que você, não significa que você não tenha me abandonado... Nos seus simples gestos de não olhar na minha cara. De me dar muito mal um bom dia... Você estava fazendo exatamente o que me disse que faria. Deixando de ser a minha mãe e sendo apenas a mulher com quem eu dividia uma casa. - Me desculpa filha. – podia ver o desespero e o arrependimento em seus olhos e em suas palavras. - Eu te desculpo mãe, lógico que eu te desculpo. Mas eu me senti na obrigação de te mostrar como eu me senti todos esses anos. - Eu nunca vou me perdoar por isso. Nunca vou me perdoar por não ter te ouvido. Por não ter te tratado da maneira que eu deveria... - Eu já disse que te perdoei mãe. - Po-posso te dar um abraço? Não respondo mais nada e a abraço. Ela me aperta fortemente em seus braços e consigo sentir um alivio muito grande dentro de mim, por finalmente ter contado tudo isso para ela. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas quando percebi, eu também estava chorando igual a ela. Tudo que não veio durante a conversa, durante as lembranças. Caíram agora. Ela se solta de mim e seca o meu rosto. - Eu nunca vou me perdoar pelo o que eu fiz com você, nunca. - Mãe, eu não quero que a senhora fique se martirizando por isso, ouviu? Ela acena sua cabeça. - Mas eu ainda não entendi porque o Rodrigo nos tirou da favela e nos trouxe pra cá. - Por causa do DG, mãe. Ele não sabe da existência do Gustavo. Bom, pelo menos eu peço a Deus que não saiba. E ele é maluco, se ele não sabe ainda, seria questão de tempo pra isso acontecer e ele tentar fazer algo contra ele, lá. - O Rodrigo sabe de tudo? - Sim mãe. Eu contei tudo pra ele. Ele vai ajudar a prender o DG novamente. Por isso ele nos trouxe pra cá, ele achou muito perigoso ficarmos lá. - Ele gosta mesmo de você, Sophia... E do Gus. - O Gus também gosta muito dele. A senhora acredita que naquele almoço lá na casa da Mila, ele chamou o Rodrigo de pai? - Mentira? – pergunta incrédula. - É verdade. Eu fiquei morrendo de vergonha, mas o Rodrigo nem se importou. - E você? - O que tenho eu? - O que você sente por ele? - Ah mãe! Eu me apaixonei por aquele ogro, arrogante, estupido... Eu não sei como isso aconteceu. Quando eu percebi, de dez coisas que eu pensava, oito era sobre ele. - A forma com que os seus olhos brilham quando você fala dele, é única... Eu já sabia que tinha algo entre vocês. Eu via a forma que vocês se olhavam naquele almoço. Eu acho que não só eu percebi, mas todo mundo... Ficamos mais um bom tempo ali conversando. Eu me sentia muito aliviada por ter finalmente contato tudo a ela. Eu ainda a sentia bastante envergonhada era notório isso. Eu realmente perdoei a minha mãe e agora sim eu posso dizer que não guardo nenhuma magoa ou ressentimento dela. Tudo que eu tinha que falar eu falei nessa conversa. Tudo que estava entalado na minha garganta, tudo que eu segurei durante esses três anos tinha finalmente saído de dentro de mim. E eu fico aliviada, pois eu sentia que a qualquer momento eu poderia explodir com tantas palavras não ditas. Mas agora estava tudo esclarecido. Minha mãe agora já sabia de toda a verdade. Depois ela saiu e foi para o seu quarto dormir. Eu fui até o quarto da frente, peguei o Gustavo e o coloquei na minha cama para dormir comigo. Não confio em deixa-lo sozinho. Me deito ao lado dele, mas antes que eu possa fechar os olhos e dormir, o meu celular toca. Eu vejo no visor que é o Rodrigo. Pego o celular, me levanto e vou para a sala atende-lo para não acordar o Gustavo. - Alô. – atendo me sentando no enorme sofá. - Oi Sophia, sou eu. Como foi a conversa com a sua mãe? - Não foi nada fácil, Rodrigo. Mas da minha parte foi mais tranquilo do que eu imaginei. - Como ela encarou? - Ela chorou muito. Posso dizer que ela ficou com remorso da maneira que me tratou naquela época. Mas agora já está tudo bem. - Tudo mesmo? - Sim, está tudo bem... – sorrio com sua preocupação. – Está fazendo o quê? - Acabei de chegar em casa agora da delegacia... Essa casa fica tão vazia sem você... Queria você aqui nos meus braços, agora. – ouço sua respiração funda do outro lado da linha. Como são as coisas, não é mesmo? Quem diria que algum dia eu escutaria o Rodrigo me dizendo essas coisas? - Eu também queria muito estar nos seus braços, agora. – confesso bem baixinho e posso sentir o meu rosto queimar. Merda! - Posso apostar que você corou. – ele diz sorrindo. - O quê? Por quê? Como assim? – digo tudo muito rápido arrancando uma gargalhada rouca dele, que me fez arrepiar levemente. - Eu te conheço, Sophia... Estranhamente eu te conheço muito bem. - Ah é? Será que conhece mesmo? Então eu duvido você acertar o que eu estou pensando agora. - Isso é fácil. Você está pensando em como seria bom estar agora deitada em meus braços, sendo acariciada por mim. Com meus beijos sendo distribuídos por todo o seu corpo maravilhoso. Em nossas línguas em uma luta excitante por espaço... – ouço-o gemer levemente do outro lado e eu me arrepio. – Posso jurar que agora você está mordendo seus lábios e que seus olhos estão fechados imaginando tudo isso que eu acabei de falar, acontecendo. Droga! Obrigo-me a abrir os olhos e parar de morder a merda da boca, depois dessa. Como ele consegue fazer isso? Acho que vou ter que tomar outro banho. Como que ele consegue me deixar assim apenas falando essas coisas? ELE NÃO ENCOSTOU UM DEDO EM MIM, CARAMBA. ELE NEM SEQUER ESTÁ PERTO DE MIM. - Ro-rodrigo é melhor você ir dormir. – digo e respiro fundo. - Eu sabia. – solta aquela gargalhada que me deixa ainda mais fora de mim. - Boa noite, Rodrigo. – antes que eu possa desligar o telefone o ouço dizendo. - Boa noite, morena. Tenha uma ótima noite e sonhos deliciosos comigo. - Desejo o mesmo, Delegado. - Porra Sophia... Desligo o telefone na sua cara e corro para o banheiro para tomar outro banho e ver se esse calor infernal passa.
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