Sophia Despreguiço-me na cama, ainda de olhos fechados. Assim que os abro, olho para o relógio em cima do criado-mudo que marca 08h00min. Me desesperaria se fosse qualquer outro dia, mas hoje é sábado, dia de ir pra casa. Mais precisamente minha folga. Olho para o lado direito da camae o vejo bagunçado. Me viro na cama ficando de bruços sobre o lado bagunçado, assim que coloco meu rosto sobre o travesseiro, sinto um perfume diferente. Eu conheço esse perfume... Não tem como esquecer dele e do dono muito menos. As memorias de ontem à noite, invadem minha mente, fazendo com que eu me envergonhe completamente do que eu fiz. Droga. Agora o que será que ele deve estar pensando de mim? Deve estar achando que eu sou uma louca que fala enquanto dorme e que ainda o agarra no meio da noite. Tudo bem que quem entrou aqui foi ele, eu não o chamei... Ou chamei? Ai droga! O pior de tudo é que eu nem sei o que eu disse. Será que eu disse alguma coisa que venha a me comprometer futuramente? Afinal de contas, ele é um delegado, não custaria nada pra ele pesquisar sobre quem é DG, ainda mais ele sabendo que eu moro na Rocinha, só ligar uma coisa à outra e pronto. Um milhão de vezes droga. Eu não posso deixar que nada aconteça com a minha família. Esse desgraçado não me deixa em paz nem mesmo quando está preso. Até assim ele vem atormentar a minha vida. Olhando para os lençóis bagunçados e o travesseiro amaçado embaixo de mim amassado, a impressão que dá é que ele passou a noite aqui... Comigo. Não, ele não fez isso. Ou fez? Não! Não mesmo. Ele só deve ter ficado aqui até eu pegar no sono, ele deve ter achado que eu ficaria com medo de dormir de novo, o que de fato eu realmente estava. Eu não queria ter aquele pesadelo tão real, novamente. E graças a Deus, pois eu tive o resto da noite de sono tranquilamente bem. Mas tem uma coisa que não sai da minha cabeça. São suas ultimas palavras. “Eu não sei o que esse cara fez pra você ou com você, mas ele te deixou uma ferida muito grande... Posso dizer até que um pouco parecida com a minha.” O que será que aconteceu com ele? Eu não faço a mínima ideia do que seja, mas eu posso dizer que é por conta disso que ele é tão retraído, tão grosseiro com as pessoas... Resolvo deixar esses pensamentos de lado, isso não me diz respeito e também não vai me levar a lugar algum ficar me metendo na vida dele. Levanto-me da cama e me direciono até o banheiro. Faço minhas higienes, tomo um banho, não muito demorado, coloco uma calça jeans clara e uma blusa de manga na cor preta e volto para o quarto. Arrumo a cama e é inevitável não sentir o seu cheiro nas cobertas. Quando percebo, estou levando a coberta até o meu nariz para poder sentir aquele cheiro maravilhoso novamente. “Droga Sophia, pare com isso.” Repreendo-me e volto a fazer minha cama. Assim que pronta, arrumo minhas coisas na bolsa, volto para o banheiro e tento dar um jeito nos meus cabelos rebeldes. Resolvo deixa-los soltos mesmo. Volto para o quarto e calço uma sapatilha. Saio do quartinho e fecho a porta do jeito que dá. Entro na casa para ver se tinha algum sinal do Rodrigo, para avisa-lo que já estava de saída, mas não o vejo na parte inferior da casa. Decido não subir, não quero acorda-lo. Então resolvo escrever um bilhete avisando que já tinha ido e que qualquer problema me ligasse. Essa parte eu escrevia mais por educação, pois eu sempre torcia para que ele não me ligasse coisa nenhuma. Que resolvesse seus problemas por si só, pois eu não queria de jeito nenhum ser tirada de perto do meu filho, justamente nos únicos dias que eu tinha para passar com ele. Saio da casa e por dentro dou graças a Deus de não ter o encontrado, pois eu tenho certeza que não saberia como reagir diante dele, depois de ontem á noite. Eu ficaria muito envergonhada, espero que até segunda ele esqueça completamente o que aconteceu. Tá! Eu sei que não vai, mas não custa nada ser otimista. Ando todo o enorme condomínio o mais rápido que eu consigo. Não vejo a hora de chegar em casa e matar a saudade da minha bolinha. [...] - MÃE! CHEGUEI. – grito fechando a porta atrás de mim. - Mamãe, mamãe. – o Gustavo aparece na sala correndo na minha direção. O meu coração se enche com essa cena. A melhor sensação do mundo é depois de passar a semana toda fora, ser recebida desse jeito. Ele sempre fazia isso, sempre que ouvia a minha voz, vinha correndo ao meu encontro e eu nem preciso falar que me derretia toda. - Meu amor. – o pego no colo e o abraço forte. - Menino, já disse pra não correr assim. – dona Marta entra na sala desesperada, mas assim que o vê no meu colo fica mais tranquila. – Oi minha filha. Já chegou. Ela vem até a mim e me da um abraço. - Como foi no trabalho essa semana? - Ah mãe! Foi como sempre... – me sento no sofá com o Gustavo no meu colo. – Um pouquinho cansativo, mas eu acho que o fato de eu dormir lá ameniza. Eu durmo bem cedo e acordo bem cedo também. Acabo me acostumando. E como o Gustavo sempre fazia, direcionou suas mãos para os meus cachos e começou a puxá-los de leve. Fazia o mesmo movimento repetidas vezes. - Ele finalmente vai assinar a minha carteira, disse pra eu levar todos os documentos precisos pra ele regularizar tudinho. – digo com um sorriso enorme no rosto. Um sorriso de felicidade e de alivio, por finalmente ter conseguido. - Graças a Deus né, minha filha. Agora podemos ficar mais tranquilas. - Sim, mãe. Mas agora me conta. Como esse garoto se comportou durante a semana? - Muito bem, você acredita que ele acorda antes mesmo do horário já pedindo pra ir pra creche? – diz sorrindo. - Sério, mãe? Então ele está gostando mesmo de lá. - Sim minha filha e muito. Ele passa o dia inteiro lá, então de certa forma já se acostumou com as crianças... Ela me contou como ele se adaptou rápido na creche e eu fiquei feliz. O meu medo no inicio não era só de ele ficar lá sozinho, sem ninguém de minha confiança por perto. Mas também que ele se desacostumasse comigo. Eu senti medo de que ele se esquecesse de mim. Loucura, eu sei. Mas eu senti medo dele se afeiçoar a outra pessoa e não ligar muito pra mim. Afinal de contas eu ficaria a semana toda fora de casa e quando eu voltasse só ficaria dois dias junto com ele. Mas eu sempre me tranquilizava quando eu chegava em casa e era recebida por um abraço caloroso, um beijo molhado e um “ Saudades, mamãe”do meu filho. Isso tirava todas as minhas loucas inseguranças, de que ele poderia se esquecer de mim. Passo o resto do dia brincando com o Gus. Não me importo nem um pouco com o cansaço que toma o meu corpo, a única coisa que me importa é o meu filho nesse momento e o sorriso dele de felicidade é um remédio para levar todas as minhas dores embora. Por volta das 20h00minfoi quando eu pude ter algum descanso, pois o Gustavo já estava dormindo. Vou para o banheiro, tomo um banho demorado e depois sento com a minha mãe na sala para assistir um programa qualquer que passava na TV naquele momento. Que eu por sinal nem prestava atenção, estava tão cansada que estava quase dormindo ali mesmo naquele sofá. Os meus olhos estavam quase se fechando quando ouço meu celular tocar.Preguiçosamente estico o meu braço e pego o celular que estava sobre a mesinha do lado do sofá. Antes de atender vejo no visor que é a Mila. - Oi Camila. – minha voz sai um pouco rouca por conta do sono. - Desculpa por te acordar Soph. Não sabia que estava dormindo. - Não cheguei a dormir de fato, você não deixou. – digo com uma falsa irritação na voz. - Foi mal Soph. – diz sorrindo. - Tudo bem. - Bem... Estou te ligando pra te fazer uma intimação. - Nossa! Intimação, o que foi que eu fiz, em? Vou ser presa, é? - Não sua boba, trabalhar pro meu primo está afetando você. “Ô se está” - Então me fala. O que é? – tento expulsar esses pensamentos da minha mente. - Minha mãe quer vocês aqui amanhã. - Pra quê? - Até parece que você não conhece minha mãe. Como se pra ela precisa ter algum motivo pra você vir aqui em casa e trazer o meu gordinho junto. Realmente. Se fosse pela tia Patrícia nós ficaríamos lá o tempo inteiro. Ela é tão carinhosa com a gente. Não sei se é pelo fato dela saber da minha história e sente pena de mim, ou se é realmente porque ela gosta mesmo da gente por perto. Mas eu prefiro acreditar que ela gosta verdadeiramente da gente. Ela não parece nos querer por perto apenas por pena, isso não é dela. - Amiga não vai dá. Olho para a minha mãe que estava atenta ao programa que passava na TV. Eu não posso deixa-la sozinha em pleno domingo. Não mesmo. Eu não faria isso com a minha mãe. - E posso saber por quê? - Eu não vou deixar minha mãe sozinha. – assim que eu falo isso, minha mãe desprende sua atenção da TV e me olha com um olhar de repreensão. - Sophiaa.. – ela começa a dizer, mas não dou ideia e volto minha atenção para a Mila no telefone. - Trás ela ué, minha mãe vai adorar. - Não sei se ela vai querer não, amiga. - Pois diga que é um convite meu e da minha mãe. Te garanto que ela não vai rejeitar. - Okay. – me dou por vencida. - O que você resolver me avisa. Amanhã estarei ai pra te buscar se vocês forem vim. O que eu sei que vão. - Está bem Mila, pode deixar. – digo sorrindo. - Dá um beijo no meu bolotinha pra mim. - Dou sim, amiga. Finalizo a ligação e minha mãe logo vem falando sem parar. - Será que eu posso saber aonde você não vai por causa de mim, Sophia? Eu já disse pra você parar de recusar os convites pra sair com a Camila por causa de mim. Eu posso ficar muito bem sozinha, viu? - Ei, ei, calma mãe. Na verdade eu não recusei, disse que veria com a senhora. - Ver o quê comigo? - A tia Patrícia e a Mila chamou a gente pra almoçar lá na casa dela amanhã. - De jeito nenhum. Eu nãovou á casa dela. Só pessoas ricas de classe, eu não sei me portar perto de pessoas assim. - Aah nada a ver, mãe. Quantas vezes eu tenho que dizer que elas não são assim como a senhora pensa? Bom, a Mila não preciso nem falar nada que a senhora a conhece muito bem. E posso dizer que ela é a mesma coisa que a mãe dela. Ela super gentil não faz nenhuma distinção de mim e da Camila. Até porque ela também veio de baixo, sabia mãe? Ela não nasceu rica não. - Mesmo assim... - Ah e outra, ficará feio pra senhora rejeitar o convite dela novamente. Não é a primeira vez que elas te convidam e a senhora nega. Ela para, coça a cabeça, pensa um pouco e responde. - É, você tem razão... Tudo bem, eu vou. - A senhora vai ver como ela é um amor de pessoa. - Espero mesmo. – diz e volta sua atenção para a TV. Pego o meu celular e envio uma mensagem para a Camila avisando que iriamos ao tal almoço. Ela logo me reponde dizendo que nos esperaria amanhã de manhã no pé do morro. Pego o celular e vou para o meu quarto dormir, pois meus olhos não aguentavam mais continuar abertos de tanto sono. [...] - Bom dia, Mila. – digo dando-lhe um abraço. - Bom dia meninas. – ela dá um abraço na minha mãe e depois se volta para mim e pega o Gustavo do meu colo. - Cada dia que passa esse garoto está ficando mais lindo, gente. - Mais esperto e mais levado... – acrescenta minha mãe. - Minha mãe ficou muito feliz que a senhora aceitou o nosso convite, tia Marta. Ela sempre quis te conhecer. - É até vergonhoso, vocês serem amigas há tantos anos e eu nunca ter conhecido a sua mãe pessoalmente. - É mesmo, mãe. – concordo com ela. - É, mas o importante é que finalmente vocês irão se conhecer, minha mãe está eufórica. Entramos no carro e partimos em direção a casa da Mila. Assim que chegamos foi àquela festa de sempre. A dona Julia estava lá e me recebeu com toda a sua simpatia, assim como á minha mãe também. Assim que já havíamos nos cumprimentados sentei com a minha mãe na varanda enquanto a tia Patrícia e a Julia tinha ido a cozinha ver o almoço. O pai e o irmão da Mila estavam no escritório e ela como sempre sumiu por ai com o Gustavo. Ouço o interfone tocar, mas não dou muita importância. - Viu mãe! Eu não disse que elas eram legais? - É mesmo minha filha, eu me sinto até mal por ter julgado elas assim antes de conhecer. - Eu disse. Assim que elas voltam iniciamos uma conversa muito animada. Eu fiquei feliz por ver a minha mãe se distraindo um pouco, ela só fica dentro de casa, quase não sai. Tem uma única amiga no morro e mesmo assim ultimamente elas quase não se falam. Me dou conta de que a Camila realmente sumiu com o meu filho e isso não é tão boa coisa assim. Ela mima aquele garoto como ninguém e depois quem sofre em casa sou eu. - Gente, eu vou atrás da Camila. Do jeito que essa garota é, deve estar fazendo todas as vontades do Gustavo, enchendo ele de doces. - Ah você pode ter certeza disso, minha querida. – diz a tia Patrícia. Saio da enorme varanda de descanso e entro na casa. Ouço a voz da Camila falando com alguém na sala e imagino que seja o Gustavo. Um pouco antes de entrar no cômodo, eu falo. - Camila, o quê você fez com o meu filho? Aposto que está entupindo a barriga da criança de doces né sua malu...ca. Assim que entro na sala me surpreendo totalmente com a cena que eu vejo. Pisco várias vezes para ter certeza que é exatamente isso. O Gustavo se encontrava com um pirulito na boca. Mas não. Não foi isso que me chamou a atenção nem de longe, mas não foi mesmo. E sim o Rodrigo. Ele esta segurando o Gustavo no seu colo e tem um sorriso muito lindo nos lábios. Posso falar que um sorriso nunca visto por mim. Durante todo esse mês que eu passei na casa dele posso dizer que nunca o vi sorrindo nenhuma vez. Ele, assim como a Camila, estava sentado no chão, no meio da sala e o Gustavo estava sentado em suas pernas. Eu sinceramente não sei por que fiquei tão em choque assim. Não sei se foi pelo sorriso maravilhoso estampado nos seus lábios, ou pelo meu filho estar super àvontade no colo de um estranho. Mas eu fico com a primeira opção. Ou as duas juntas? - Iih Gus! Esconde o pirulito que a mamãe chegou, esconde. – a Mila brinca com ele, fazendo com que ele solte uma gargalhada gostosa e encoste a cabeça no peito do Rodrigo. Tento sair do meu transe e me aproximo deles. - Muito bonito, dona Camila. Eu sabia que você estava entupindo ele de doces. Agora mesmo que ele não almoça. Tento não transparecer o efeito que esse homem me causa ao me olhar desse jeito que ele está á olhar agora. - Desculpa Soph, mas é que eu não resisti. Ele me olhou com esses olhinhos pidões e eu dei. - Espera ai. Ele que é o seu filho? Aquela voz rouca me faz esquecer completamente da bronca que eu ia dar na Camila naquele momento. Olho pra o Rodrigo e o vejo muito surpreso, ainda a espera da minha resposta. Essa reação pra mim já é super normal. As pessoas nunca pensam de cara que ele é o meu filho. Sempre acham que eu sou alguma babá, mas nunca que eu sou a mãe. O Gustavo não se parece nada comigo, pode ser que o seu jeito de ser, seja sim, um pouco parecido, mas na fisionomia nada. Ele é branco, com os seus olhos incrivelmente azuis e o seu cabelo preto escorrido. Se eu não estivesse acordada na hora do parto e assistindo tudo, até eu poderia dizer que ele não era o meu filho. Realmente eu só servir pra carregar ele nove meses dentro de mim, pois ele não se parece em nada comigo. A não ser a cor dos cabelos e algumas pessoas dizem que temos o mesmo sorriso. - Sim. – respondo. Ele parece ainda mais surpreso que anteriormente. - Nossa... Ele não... - É eu sei. Não se parece comigo. Acredite senhor Rodrigo, eu ouço muito isso quando saio com ele na rua. - Acredito. – ele diz ainda com seus olhos presos aos meus. Olho para o Gustavo e o vejo passar o pirulito de leve na camisa do Rodrigo sujando-a. Merda! - Filho, não faz isso. – vou para perto dele e quando estava prestes a pega-lo do colo do Rodrigo, o mesmo me impede. - Pode deixar. Está tudo bem. – diz segurando-o mais firme. - Ele está sujando a sua blusa. - Não tem problema. - Tem sim. – “Pois vai ser eu que vou lavar, meu querido.” Tiro o Gustavo dos seus braços. Mas ele começa a chorar olhando para o Rodrigo, fazendo beicinho. E para a minha total surpresa ou devo dizer, vergonha, ele estica os braços pra o Rodrigo novamente e diz. - Papa... Eu não sei onde enfiar a minha cara nesse momento. Eu sabia que ia chegar uma hora na vida dele que ele pediria e/ou perguntaria pelo pai. Mas tinha que ser justo agora? Tinha que ser justo com o Rodrigo? [...] Rodrigo Atravesso o enorme portão do condomínio em que a Camila mora. Só essa peste mesmo pra me fazer sair de casa em pleno domingo. Mas eu realmente estou devendo uma a ela, desde o dia em que eu não fui a sua pequena recepção quando ela chegou das férias. Então eu não tive como negar o seu convite, ou melhor, intimação, se não a pestinha não ia me deixar mais em paz. Estaciono o carro em frente á casa da tia Patrícia e desço ativando o alarme. Toco o interfone, a Camila que atende e prontamente abre o portão para que eu entre. Assim que atravesso os enormes portões de ferro, dou de cara com a Camila em pé em frente a porta principal da casa, que dá acesso para a sala. Mas o que me intrigou foi a criança em seus braços. Um menino, muito lindo por sinal. - Até que enfim apareceu, cara. – me dá um tapa no ombro antes de me dá um abraço apertado, mesmo com o menino nos braços. - Ai titia. – ele resmunga e ela se separa de mim. - Desculpa meu amor, a titia sempre faz isso né. – diz sorrindo e fazendo cócegas no menino, que soltou uma gargalhada gostosa. - De quem é essa criança, Camila? - Você já já saberá. Vem. – diz e pega na minha mão, me arrastando para dentro da casa. Chegamos na sala e tinha uns poucos brinquedos espalhados pelo chão. Ela se senta no chão e coloca o menino no meio de suas pernas para brincar com ele. Eu me dirijo para o sofá e me sento, observando o jeito como a Mila trata o menino. É notório o amor que ela sente por esse garotinho. E é até um pouco estranho eu pensar isso, mas é quase impossível não ter. Ele é tão fofo e cativante. O seu sorriso me lembra alguém, mas eu não consigo me lembrar quem. - Cadê o Fernando, Mila? - Está no escritório com o meu pai. - Seu pai ainda não desistiu de levar ele pra empresa não, é? - Que nada, o velho é persistente. Ele ainda tem esperanças que meu irmão mude de ideia. - Mas e você? Se inscreveu pra fazer a prova da Civil? - Siiiim. – diz animada – Nossa você não tem noção do quanto eu estou nervosa. - Já falou pro seu pai? - Não, você está louco! Se eu falar ele vai fazer de tudo pra não me deixar fazer. Eu contei pra minha mãe, ela ficou super feliz. Quando eu ia responder sou impedido pela voz doce do menino. - Titia, bala. – ele pede em pé, de frente para a Camila. - Gus não pode, mamãe vai brigar com a gente se eu te der bala antes do almoço. - Bala, titia. – o menino faz uma carinha de choro. A Camila me olha parecendo pedir ajuda. - Não olha pra mim não em. Você sabe que eu não sou muito chegado á crianças, ou seja, não sei o que fazer nesses momentos. Se vira. Ela olha para o menino que estava a ponto de chorar e depois olha pra mim de novo e se levanta do chão. - Passa o olho nele um minutinho só, eu já volto. – diz e vai saindo me deixando ali com aquele menino. - Ou Camila, não. Volta aqui. E se ele chorar, cara? – não adiantou de nada, ela já tinha sumido pelos corredores. Olho para ele que tinha um olhar interrogativo direcionado para mim. Chegava a ser engraçado, nós nos encarávamos, ele com um olhar interrogativo e eu com medo. Sim. Medo de essa criança começar a chorar e eu não saber o que fazer. De repente ele começa a andar na minha direção. E era até que fofo vê-lo andando. Ele é bem gordinho e como parecia ter aprendido a andar recentemente, tombava o seu corpo de um lado para o outro, para andar. Ele chega na minha frente, põe sua mão por cima da minha e tenta me puxar para levantar. - Binca... Vem binca. – ele dizia um pouco enrolado. Eu não sabia o que fazer. Ele continua me puxando, então eu levantei do sofá e deixei que ele me guiasse. Quando chegou perto dos brinquedos ele sentou-se no chão. - Senta. – diz batendo a mãozinha do seu lado, no chão. Ele tem um sorriso lindo estampado no rosto. Não consegui dizer não. Sentei-me ao seu lado e ele me deu um carrinho para brincarmos. Ele estava super empolgado. Conversava comigo como se fosse gente grande. Lógico que falava coisas que só ele conseguia entender, mas eu fingia que entendia tudinho. Eu me senti estranhamente bem com ele, eu não sei o que esse garotinho tem que me deixou assim. Deve ser sua pureza. Logo eu que nunca fui muito chegado a crianças, estou aqui brincando e me sentindo muito confortável perto de uma. Me surpreendo quando ele vem com um carrinho nas mãos e senta no meu colo. Ele começa a dizer coisas incompreensíveis pra mim, mas eu novamente fingia que as entendia. A Camila entra na sala novamente com um pirulito nas mãos e parece se surpreender a me ver daquele jeito com o menino, que por sinal, não sei o nome. - Doeu ficar com ele um tempinho? Apenas reviro os olhos e balanço a cabeça de leve. Ela sorri. - Bala, titia. – o menino fica eufórico quando vê o pirulito nas mãos da Camila. Rapidamente larga o carrinho no chão e vai até ela. - Toma. – a Camila tira o plástico do pirulito e dá para o menino, que prontamente o leva até a boca. - Mas a mamãe não pode saber de nada. Se ela chegar você esconde em. – diz e tenta pegá-lo no colo, mas supreendentemente ele volta para onde eu estou e se senta novamente nas minhas pernas. Fico surpreso, mas não me importo com o gesto dele. - É assim é moleque? A titia aqui se mata pra conseguir o docinho pra você, corre o risco de morrer caso sua mãe descubra que estou te dando isso antes do almoço e não ganho nem um abraço... Já se bandeou pro lado desse aí, é? – diz com uma falsa irritação e se senta do nosso lado. - Qual o nome dele? – pergunto acariciando os cabelos negros do menino sentado nas minhas pernas. - Gustavo. – diz olhando para o garoto, mas logo depois volta a sua atenção a mim. – Parece que o Gus conseguiu derreter o coração de gelo do Senhor Rodrigo. – diz divertida. Eu nada digo. Realmente ele tinha conseguido isso. Mas preferi me calar. Agora, parando um pouco pra pensar, eu realmente já tinha ouvido da boca da Camila sobre um tal de Gustavo. Não tenho muita certeza, mas eu acho que era afilhado dela. Eu nunca me interessei em saber mais sobre isso, até porque ela raramente tocava no assunto. Assim como eu também não faço a mínima ideia de quem seja a mãe desse menino. E uma estranha curiosidade de saber quem é, me atingiu, porém, quando eu ia perguntar sobra ela, eu escuto uma voz familiar e paro na hora. - Camila, o quê você fez com o meu filho? Aposto que está entupindo a barriga da criança de doces né sua malu...ca. COMO ASSIM MEU FILHO? Ela é a mãe do Gustavo? Não! Não é possível. Ela parece tão surpresa quanto eu ao vê-la ali. Eu sei que ela e a Mila são super amigas, mas eu não esperava vê-la aqui hoje e muito menos que esse garoto que está nos meus braços fosse o filho dela. - Iih Gus, esconde o pirulito que a mamãe chegou. Esconde. – a Mila brinca com o menino, fazendo com que ele solte uma gargalhada gostosa e encoste a cabeça no meu peito. - Muito bonito dona Camila. Eu sabia que você estava entupindo ele de doces. Agora mesmo que ele não almoça. Encaro-a descaradamente, não me importando e ao mesmo tempo não acreditando nisso que está acontecendo aqui. -Desculpa Soph, mas é que eu não resisti. Ele me olhou com esses olhinhos pidões e eu dei. Não aguento e pergunto, pra ter total certeza. - Espera ai. Ele que é o seu filho? - Sim. - Nossa... Ele não... - É eu sei. Não se parece comigo. Acredite senhor Rodrigo, eu ouço muito isso quando saio com ele na rua. - Acredito. Pode ter certeza que eu acredito. Ele não parece em nada com ela, a não ser o sorri.. Isso! O sorriso! Era por isso que eu estava achando o sorriso familiar. Os sorrisos são idênticos, mas fora isso e a cor dos cabelos dele, eles não se parecem em nada. Nada mesmo. Com certeza esses olhos azuis e a cor de pele clara, ele puxou do pai. - Filho, não faz isso. – ela chega perto de mim e tenta tirá-lo dos meus braços. Mas eu estava gostando dele aqui, então não a deixei tirá-lo de mim. - Pode deixar. Está tudo bem. – o seguro mais firme. - Ele está sujando a sua blusa. Olho para baixo e o vejo todo distraído, passando o pirulito na minha blusa. - Não tem problema. – digo simples, pois realmente não tem. - Tem sim. Ela não espera que eu rebata e o retira do meu colo. Assim que ela o pega, ele abre a boca e começa a chorar. Mas o que mais me surpreende é quando ele estica os seus bracinhos de novo na minha direção e diz do jeito dele... - Papa... Eu fiquei um pouco assustado sim. Eu admito. Mas nada comparado á cara que a Sophia está fazendo. Eu estranhamente não me importei com ele ter me chamado de pai. Quem deve se importar é o pai dele. Eu pelo menos ficaria chateado vendo o meu filho chamando outro de pai. - Fi-filho não! - Papai, mamãe! Papai. – ele intensifica o choro e mantem os seus braços direcionados a mim. A Sophia a cada segundo que passa, fica mais constrangida com a situação. A sua pele negra novamente está levemente corada. E porra, eu já disse o quanto ela fica linda quando cora? Merda eu tenho que parar com isso. - Filho não! Ele não é o seu papai. – ela me olha, muito constrangida. – Me desculpa senhor Rodrigo. É que ele... Ele nunca.. Nunca disse e não sei o que deu nele.... Desculpe-me. - Não tem problema nenhum Sophia. Pelo menos não pra mim. Quem não irá gostarnada nada disso é o pai dele. Ela fica um pouco estranha quando toco no assunto de pai. Posso até dizer que vi seus olhos lacrimejarem. Mas tento não me importar com isso e continuo. - Por mim está tudo bem. - Mesmo assim, me desculpe. O Gustavo continua chorando e pelo o que eu vejo, ele não vai parar tão cedo. Então eu me levanto e caminho até eles. Encosto minha mão nos braços dele, que tenta se jogar para o meu colo. Mas a Sophia o segura mais forte. - Posso pega-lo? – peço e vejo que ela vai negar, mas antes que diga algo, eu tento novamente. - Só pra ele se acalmar, pois parece que não vai ficar quieto tão cedo. - Eu não quero atrapalhar o senhor. Não precisa. - Não é trabalho nenhum. Me dê. – a ultima frase saiu mais como uma ordem do que como um pedido. Mas não me importei. Ela passa o seu filho, que ainda chora, para os meus braços. E na mesma hora ele para de chorar e me dá um sorriso safado, como quem diz: “Eu sabia que fazendo charme eu conseguiria”. O que me fez rir. Ele leva o pirulito que segurava fortemente no sua mão, até a boca e encosta sua cabecinha no meu ombro. - Iiih parece que ele gostou de você em, Rodrigo. – diz a Mila se levantando do chão e ficando ao nosso lado. - É. Parece que sim. – digo sorrindo, sem desgrudar os meus olhos dos da Sophia. - Ele vai dormir. – ela avisa. – Quando você cansar pode me dá-lo, Senhor Rodrigo. - Sem o Senhor, aqui você não é a minha empregada. Então não precisa me chamar assim. - Tudo bem, Rodrigo. – percebo que ela ficou um pouco incomodada ao me chamar pelo meu nome. Enquanto eu me senti irritantemente bem ao ouvi-la me chamar assim. Ela só não precisa e nem vai, saber disso. - Amiga, deixa o Gus ai com o Rodrigo e vamos lá no quarto comigo rapidinho. Preciso te mostrar uma coisa. Ela olha para a Mila, depois direciona o seu olhar pra mim novamente e assente com a cabeça. - Qualquer coisa é só chamar. – ela diz para mim. - Tá, tá, tá! Ele chama, fica tranquila. Agora vem. – a Camila puxa ela escada acimae eu volto os meus olhos para o menino que está nos meus braços. Sento-me no sofá e vejo que ele já está prestes a dormir. O ajeito em meus braços e tento tirar o pirulito de sua mão, mas ele não deixa. Então eu deixo, para não fazê-lo chorar, ele se aconchega mais no meu peito e fecha os olhinhos de vez. Não sei o que acontece comigo quando o assunto muda pro lado da Sophia. Primeiro foi ela, agora o filho. Será que sempre tudo que se liga a essa mulher vai me deixar tão vulnerável assim?
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