Sophia - Será que a senhorita pode me explicar que clima foi aquele lá embaixo? – diz a Camila se sentando em sua cama de frente pra mim, após ter fechado a porta. Eu sabia que ela não iria me mostrar coisa nenhuma. Que droga. Pior que nem eu sei explicar o que acontece comigo quando eu vejo aquele homem. - Que clima o que Camila? Do que você está falando? – decido me fazer de desentendida. - Sophiaaa! Não me faça de idiota, garota. Até parece que eu não vi o jeito que você e o Rodrigo estavam se olhando lá embaixo. - Não tinha jeito nenhum. - A tá, ok. Vocês só não se comeram porque eu e o Gus estávamos lá. - Que isso Camila. - Que isso, que isso... Que isso nada, eu vi. Vem cá, você e o meu primo estão se pegando? – pergunta com um sorrisinho idiota no rosto e eu me assusto com a pergunta. - Claro que não, Camila. Você está louca? Ele é o meu chefe. - Então quer dizer que se ele não fosse o seu chefe, você teria ficado? – Ela levanta a sobrancelha e me manda um olhar desconfiado. - Camila! Não. - E por que não? Ele é um gato se não fosse meu primo eu dava uns pegas bonito nele. - Meu deus. – digo sorrindo. - Anda! Me responde. Por que não? - Por que nós somos completamente diferentes, Mila. Você mais do que ninguém o conhece, sabe do temperamento dele. Eu não sei se aguentaria ficar com um cara tão estúpido igual a ele... - Ah o Rodrigo é uma pessoa maravilhosa. Só basta saber como lidar com ele. - Poxa, então ninguém sabe lidar com ele, né? Eu nunca o vi sendo diferente com ninguém. Tirando ontem que... Me calo vendo que já estava falando demais. Mas já era tarde, pois a Camila tinha ouvido. - Tirando ontem o quê? O que houve ontem? – Diz se curvando na cama, ficando bem próxima a mim. Droga. Eu não vou conseguir esconder isso dela já que eu comecei a falar. Ela vai me atazanar até que eu diga. - Fala logo, estou esperando. - Não aconteceu nada demais. É que ontem eu meio que tive um pesadelo e ele... – sinto o meu rosto esquentar de vergonha. Droga. Sério que vou ter que contar isso? - Ele o quê garota? Fala! - Ele foi ao meu quarto e me confortou. - Sério? – tinha um enorme sorriso estampado no seu rosto. – Me conta mais. - E foi isso. – Minto. - Pra cima de mim, Sophia? Anda, continua. - E... Eu dormir nos braços dele depois e eu acho que ele dormiu comigo. Eu senti o seu cheiro forte nas cobertas, pela manhã... - EU DISSE! EU SABIA! – grita se levantando da cama, eufórica. - O quê? Do que você está falando, Camila? Olha, não rolou nada tá legal. Eu sabia que você ia pensar besteira. Não era pra eu ter contado. - Você está gostando dele, Sophia. Isso não é uma pergunta e sim uma afirmação. - O-o quê? Não! Está louca. Eu já disse ele é o meu chefe e... - Mas quem disse que o fato dele ser o seu chefe te impede de gostar dele? Você é mulher ele é homem. - Mesmo assim, não tem nada a ver. Ela volta a se sentar na minha frente e diz olhando nos meus olhos. - Você tinha que ter visto a sua cara enquanto falava dele, Sophia. Enquanto dizia que o cheiro dele estava nas cobertas. Caramba, você sorriu de lado. Os seus olhos brilharam. Você suspirou, garota. Você falou de um jeito que eu nunca vi você falando assim na vida... E os olhares que vocês trocaram lá embaixo? Quase que eu mesma tirei o Gustavo de seu colo pra deixar vocês dois á sós pra se comerem. Sério, eu nunca vi o Rodrigo olhando daquele jeito pra ninguém. E muito menos você, nem quando você era apaixonada por aquele nosso amigo de classe do primeiro ano, lembra? – faço que sim com a cabeça. – Nem pra ele eu te vi olhando daquele jeito. E olha amiga, que você era louca por aquele garoto. Ela solta uma risada e continua, sem me dá chances de me defender. Por um lado agradeço, pois eu realmente não sei o que dizer. - E não me vem dizer que é coisa da minha cabeça porque não é, e você sabe disso. Eu só quero saber de uma coisinha. Pode confiar em mim. Vocês já ficaram? - Que droga, Camila! Eu já disse que não. Não há nada entre a gente, ok? Nada! Tira essa ideia louca da sua cabeça. - Ok. Podem não ter nada ainda. Mas pelo o que eu conheço o meu primo não vai durar muito tempo isso não. - Pois se depender de mim nunca vai acontecer nada. E antes que você diga alguma coisa... Sim! Eu sinto algo por ele. Eu só não sei o quê, Camila. Eu tenho medo. Eu não sei se é simplesmente atração ou se é algo mais forte. Eu não sei. Eu nunca senti isso. Posso dizer que ele foi o primeiro homem a despertar algo em mim, depois de tanto tempo. Ele faz o meu corpo reagir de uma forma... De um jeito que nunca reagiu... Mas nós somos completamente diferentes. Não daria certo. Na verdade eu nem sei se ele realmente me vê com esses olhos ou apenas como uma empregada. - Aah isso eu posso te garantir, minha querida. Ele não te ver apenas como uma empregada não. - Camila fala sério. Olha pra mim, você acha mesmo que um homem daqueles vai querer algo comigo? - Acho sim. Lógico que eu acho. Porque ele não ia querer? Você é linda, simpática, a pessoa mais forte e guerreira que eu já vi na vida. Eu acho sim, que não só ele, mas outros caras podem se interessar por você. - Até parece... Isso não vale de nada pra ele, Camila... Ele tem a mulher que quiser aos pés dele. Você acha mesmo que eu com a minha simpatia vou interessa-lo? Pronuncio a palavra “simpatia” em um tom irônico. - Você por acaso já viu as mulheres com quem ele sai? Você por acaso já viu uma dessas mulheres lá na casa dele? - Não. - Então pronto, Sophia. Ele só sai com elas pra se “divertir” – faz aspas com o dedo. – Ele nunca apresentou nenhuma dessas mulheres á família e muito menos as levam em sua casa, pois ele diz que na cama dele não deita qualquer mulher que ele acha pela rua. Eu apenas as conheço por que já saímos, algumas pouquíssimas vezes, juntos. São mulheres bonitas, sim não posso negar. Mas são todas vulgares, mulheres que não se dão o respeito, Sophia. Várias vezes ele me disse que nunca se casaria ou assumiria algo de fato com elas... - Então porque ele insiste em sair com esse tipo de mulheres. - Sexo. Única e exclusivamente por causa do sexo que elas proporcionam a ele. Nada mais que isso... Olhando pra você, eu vejo que era exatamente você que estava faltando na vida dele. Você chegou pra mudar a vida do Rodrigo completamente, Sophia. E eu estou vendo que está conseguindo. Pelo o que você acabou de me falar e pelo o que nós acabamos de presenciar lá embaixo. - Você está falando da vergonha que eu passei com o Gustavo o chamando de pai? - Não, eu estou falando da aproximação dele com o Gus. Quem o conhece há tempos sabe que ele não é muito chegado á criança. Eu vi o jeito que ele ficou quando o Gus estava no colo dele. Ele parecia outra pessoa. Ele fez questão de ficar com o seu filho lá embaixo, foi mais surpreendente ainda. E o Gustavo o amou, tanto que o chamou de pai. - Camila, isso não quer dizer nada. O Gustavo é apenas uma criança. É normal, ele deve ter aprendido na creche. Um monte de crianças juntas dá nisso. Eu sabia que a qualquer momento ele chamaria pelo pai. Mas eu não esperava que fosse logo com o Rodrigo. - Não é normal não e você sabe Sophia. Me diz quando você viu o Gustavo tão á vontade no colo de um estranho, como ele estava com o Rodrigo? - Nunca. – digo bem baixinho abaixando a cabeça. - Então pronto. - Camila, acontece que eu não quero me enganar achando que ele sente algo por mim, mas na verdade não. Entende? - Sim, eu te entendo. Mas mesmo assim eu acho que você tem que se dar uma chance. Eu estou falando isso independente de ser com o Rodrigo ou não. Depois do que houve com você, você simplesmente se fechou pra qualquer outra relação. Sempre quando um homem chega perto de você, você simplesmente se afasta. Não deixa rolar. Eu sei que aquele cara deixou marcas em você. Eu sei que deve ser muito difícil de recomeçar.. - Eu sei. Mas é que é difícil Camila. - Eu sei que é difícil... Quer dizer, eu imagino. Mas você tem que se dar a oportunidade de conhecer um cara legal. De ser feliz com alguém. Os homens não são todos iguais àquele desgraçado - Eu não preciso. Eu estou bem assim, não preciso de homem na minha vida pra ser feliz. O homem da minha vida é o Gustavo, não tem espaço para outro aqui dentro. Ela respira fundo, parecendo perceber que não vai conseguir mudar a minha opinião. Alguns segundos depois sua mãe entra no quarto. - E a mania de entrar sem bater permanece. – diz a Camila, bem baixinho. O que me fez rir. - Eu ouvi Camila. – ela direciona um olhar matador pra filha e depois continua. – O almoço já está pronto, meninas, vamos comer. - Vamos sim, estou morrendo de fome. – diz a Camila me puxando. Assim que chegamosà sala, encontro o Rodrigo do mesmo jeito que deixei quando eu sai; sentado no sofá com o Gustavo dormindo em seu colo. A Julia estava do seu lado e acariciava os cabelos do Gus. - Parece que o Gustavo conseguiu derreter o turrão ali. Nem acreditei quando cheguei aqui na sala e vi essa cena. - É porque a senhora não viu o que aconteceu antes, mãe. – diz a Camila sorrindo. - E o que aconteceu? Dirijo um olhar mortal pra ela, como sinal dela não dizer nada. - Nada mãe. Só o Rodrigo brincando de carrinho com o Gustavo, parecia uma criança. E o Gus até que gostou dele. – Diz e dá de ombros. - Será que dá pra vocês pararem de falar de mim como se eu fosse um monstro. – ouço aquela voz rouca, que me faz olha-lo. Mas rapidamente desvio o meu olhar quando vejo que o mesmo me encarava. - Jamais meu querido. Monstro não, que isso. Só que você sempre deixou bem claro sua aversão á crianças. - É. Mas o Gustavo é uma criança diferente. Todos na sala ficamos mudos. Eu nunca tinha visto o Rodrigo tão relaxado. Tão... Normal, digamos assim. Ele não parecia estressado como aparentava todos os dias. Parece que a mãe e a tia estavam tão surpresas quanto eu. Já a Camila não. Parece que essa versão do Rodrigo é muito normal pra ela. O que não é nem um pouco para nós... Quer dizer. Pra mim. O Rodrigo se levanta com o Gustavo ainda em seu colo, anda até a mim e para na minha frente. - Onde eu posso coloca-lo? - Me dê ele que eu coloco no quarto da Camila. – estico os meus braços e ele o passa o meu filho. Subo. Coloco-o na cama e faço uma barreira com os travesseiros para que ele não caia. Desço novamente e encontro o Rodrigo na sala conversando com o Fernando. - Oi Soph. Como está? – o Fernando me cumprimenta. - Bem, Nando. E você? - Melhor agora. Com uma morena dessas na minha frente não tem como ficar mal. – ele se levanta e vem até a mim me dando um abraço e deixa um beijo na minha bochecha. De uns tempos pra cá ele começou a me tratar assim. Eu não sei se é brincadeira dele ou se é sério. Ele sempre foi muito brincalhão com todos. Ele é o tipo de cara que não gosta de levar a vida muito à serio, muito pelo contrário. Mas ele fala essas coisas pra mim com uma seriedade, que eu não sei sé é brincadeira ou não. Ouço o Rodrigo arranhar a garganta, o que faz com que o Nando me soltasse do seu abraço. Mas mesmo assim ele continua com sua mão na minha cintura, mantendo uma distância considerável. - Vamos almoçar. – diz o Rodrigo se levantando do sofá e vindo para perto da gente. - Vamos. – digo e me dirijo para o corredor que dava na enorme varanda, mas ainda com o Nando ao meu alcanço com a mão na minha cintura. E isso me incomodava. Não de modo que me deixava com medo ou algo assim. Não. Mas me incomodava pelo fato do Rodrigo estar do meu outro lado com um olhar matador. Aquele Rodrigo conhecido por mim parece ter voltado. Chegamos à enorme varanda da casa e apresso o passo, para tentar, de uma forma meio que sutil, retirar as mãos do Nando de minha cintura. Cumprimento o Senhor Jorge, o pai da Mila. Vejo minha mãe ajudando a tia a colocar a mesa. Vou até o distante sofá onde a Camila está sentada mexendo em seu celular e me sento ao seu lado. - O que foi agora? – pergunta jogando o celular de lado. - O seu irmão. Já te falei que de uns tempos pra cá ele está me tratando diferente? - Já. E eu já disse que não precisa se preocupar. – pega o celular de novo e começa a mexer. Sem desgrudar o olhar do celular ela continua falando. – Ele é assim mesmo, já deu em cima de todas as minhas coleguinhas– diz irônica – Eu estava até estranhado ele não ter feito o mesmo com você. – solta uma risadinha. A olho espantada e ela continua. – Mas pode ficar tranquila que ele não é de insistir não. Por enquanto ele só investindo ao poucos, como você não fala nada ele continua. Mas se você deixar bem claro que não quer, ele não vai ficar enchendo o seu saco não. Fica tranquila. - Menos mal... A tia nos chama para comer e rapidamente tomamos os lugares na mesa. O Nando fez questão de sentar do meu lado e por azar. Sim! Azar. O Rodrigo sentou na minha frente e isso me deixou um pouquinho incomodada. Pois eu o sentia me olhando o tempo todo e eu não tinha a coragem de olhá-lo. Ele me intimida. O pior de tudo é que eu estava começando a achar que a Julia estava percebendo, pois ela olha para mim e para o filho, com um sorriso muito estranho no rosto. Tirando essa parte, um pouco desconfortável pra mim, o almoço foi maravilhoso. O Nando continuou com suas investidas “discretas” e eu comecei até a achar graça disso. Eu nunca vi o Fernando com esses olhos. Não que ele não fosse bonito e atraente. Porque sim ele é. E muito. A sua pele é bronzeada pelas suas idas constantes a praia. Ele adora surfar. Seus cabelos negros e os lindos olhos azuis. Ele é lindo, mas nunca me chamou a atenção dessa forma. Vou ter que deixar bem claro pra ele que entre a gente não vai rolar nada. Assim que terminamos de arrumar a mesa, eu subi para ver se o Gus estava bem. E assim que chego no quarto o vejo sentado na cama chorando bem baixinho. Um costume que ele tem todas as vezes que acorda após tirar um cochilo. Ele sempre acorda um pouco enjoado. Pego ele no colo e ele imediatamente encosta a cabeça no meu ombro, ainda resmungando. Começo a andar de um lado para o outro tentando fazer com que ele pare de resmungar. - Está tudo bem aí? Assusto-me um pouco com a voz do Rodrigo e me viro dando de cara com ele parado na porta, com os seus fortes braços cruzados. Assim que o Gustavo o ouve, retira rapidamente sua cabeça do meu ombro, olha para o Rodrigo e para de chorar. Será que até com o meu filho ele tem que mexer? Droga. - Não senh... Quer dizer. Rodrigo. Está tudo bem. - Eu estava passando e o ouvi chorando. Pensei que havia acontecido alguma coisa. Ele entra no quarto e para de frente pra mim. Me olha por alguns instantes e depois dirige o seu olhar para o meu filho. - Ele costuma acordar um pouco enjoado mesmo. É normal. - Posso pegá-lo? – diz passando a mão pelos cabelos do Gus. Surpreendo-me com a pergunta. Eu realmente nunca imaginaria vê-lo dessa forma como está agora. Nem parece o meu chefe de verdade. - Claro. Não preciso nem passar o Gustavo para o seu colo, pois no momento em que ele estica os braços para pega-lo o Gustavo praticamente pula para os seus braços. O Gustavo começa a dizer coisas incompreensíveis, mas o Rodrigo o olhava atentamente e fingia que entendia tudo. Ele se senta na cama e o coloca sobre sua perna. Me sento ao seu lado e fico vendo aquela cena. Como eu queria que o meu filho tivesse um pai. Como eu queria que ele tivesse sido feito de outra maneira. Eu espero que ele não me trate como minha mãe me tratou quando eu for obrigada a mentir pra ele em relação ao pai. Olhando a cena à minha frente, me da uma tristeza enorme e faz-me sentir inútil. O meu filho nunca vai ter um pai. Isso é algo que eu infelizmente nunca poderei dar ao meu filho. - Você deve sentir muita falta dele, não é? – sou despertada pela voz do Rodrigo. Abaixo a minha cabeça não aguentando sustentar seu olhar por muito tempo. - Muito. Antes de eu ir trabalhar na sua casa eu nunca tinha ficado um dia sequer longe dele. Foi bastante difícil nas primeiras semanas, ter que sair de casa e deixa-lo. - E agora, não é mais? - É. Lógico que é, mas esse sacrifício é por ele... Por ele e pela minha mãe. Pra conseguir um dia dar uma vida melhor para os dois, tirá-los de lá. Conseguir colocar as coisas dentro de casa, nunca deixar que nada falte à ele. Por isso eu suporto toda essa saudade. - Você fala como se fosse só você. O pai dele não te ajuda com as despesas do filho? Droga. Por que ele tinha que tocar no assunto do pai do Gustavo? Eu não sei o que falar. Eu não quero que Ele pense que eu sou uma puta. O que me deixa louca, pois eu nunca quis me importar com o que as outras pessoas pensavam de mim. Mas de alguma forma, o fato dele pensar o mesmo que os outros pensam de mim. Me incomoda. - Não... Na verdade e-ele... não queria e... - Você está me dizendo que ele nem sequer registrou o Gustavo? – pergunta surpreso e... Indignado? - Nã-não, ele não quis. – respiro fundo tentando não deixar as lágrimas caírem. - Ele é um filho da puta de um covarde. – me assusto com sua voz e principalmente com o que ele disse. Transmitia raiva e sim. Indignação. – Me desculpa... Ele me pedindo desculpas? Esse definitivamente não é o Rodrigo que eu conheço. - É que não entra na minha cabeça, como uma pessoa pode rejeitar ou fazer mal á uma criança. Tudo bem que eu não sou a pessoa mais chegada a crianças que existe na terra. Na verdade eu procuro até manter certadistância, o que não é o caso com o Gustavo. Mas eu também não consigo entender como as pessoas conseguem fazer mal ao próprio filho, ou então rejeitá-los. Isso não entra na minha cabeça. Definitivamente eu não conheço esse homem que está na minha frente. Ele não é o Rodrigo para o qual eu trabalho. Não é mesmo. - A única pessoa que perdeu com isso tudo foi ele. – diz e abaixa o seu olhar para o Gustavo que tinha a cabeça deitada em seu peito, agora. – Nunca vai saber o quão lindo e esperto o Gustavo é. Fico sem ação diante de suas palavras. Ele parece não se importar com isso e continua olhando para o Gustavo em seus braços. Eu fiquei um bom tempo calada depois disso. Não tive coragem de dizer nada depois daquilo. Eu só queria ir embora. O Gustavo começou a resmungar que estava com fome e eu me lembrei de que ele realmente não havia almoçado. Eu o peguei nos meus braços e junto com o Rodrigo, descemos. Eu fui diretamente para a cozinha e agradeci mentalmente pelo Rodrigo ter ido para a varanda, onde se encontravam todos. Eu fui até a geladeira, peguei a comida do Gustavo que a Mila havia posto lá. Coloquei-a no micro-ondas para esquentar e dei em sua boca. Assim que ele terminou de comer tudo nós nos juntamos ao pessoal na varanda. O Gustavo assim que viu o Rodrigo quis ir até ele, não consegui impedi, quando dei por mim ele já estava agarrado no não Rodrigo e não quis se desgrudar mais. Isso de alguma forma me preocupa. Eu não quero que ele se apegue ao Rodrigo, pois o Rodrigo não é o pai dele. O Rodrigo não vai estar presente em sua vida e eu não quero que o meu filho sofra com isso. Eu sei que ele só tem dois anos, mas as crianças se apegam muito rápido as pessoas, e isso que está acontecendo agora é a prova viva disso. Eu nunca vi o Gus tão á vontade assim com nenhum estranho. Ele está tão feliz. Eu nunca o vi sorrindo da maneira como está enquanto brinca com o Rodrigo. Já estava entardecendo e nós estávamos nos despedindo de todos para irmos embora. A tia Patrícia fez minha mãe prometer que voltaria mais vezes e o mesmo comigo e o Gustavo. - Vamos. Eu levo vocês. - Não precisa Rodrigo. – até porque o Nando e a Mila nos levariam. - Precisa sim. Eu sei onde você mora, não vou deixar vocês irem sozinhas. – abro a minha boca para protestar, mas ele não deixa. – E sem discussão. – ele diz sério. Minha mãe me olha como quem dissesse para aceitar logo. - Okay. Ele se despede da mãe, que o pede para não demorar a aparecer. É notória a felicidade dela em ver o filho com a família. Me despeço de todos e logo saímos. Encontro o carro estacionado em frente a casa. Abro a porta de trás e dou passagem para a minha mãe entrar junto com o Gus. Quando eu ia entrar também, ele me impede. - Você vai na frente. Não tive coragem de contraria-lo e deixei que o Gustavo fosse atrás com a minha mãe. Antes de fechar a porta, eu vejo pelo seu olhar que ela tinha muitas perguntas para fazer e que não esperava para chegar em casa e descarrega-las em cima de mim. Passamos todo o caminho até em casa, calados. A não ser pelas coisas que o Gustavo tagarelava no banco de trás. Alguns longos minutos depois, ele para o carro na entrada do morro. Mas eu vi que ele estava um pouco observador demais, olhava para todos os lados e digitava algo rapidamente no celular. - É... Obrigada pela carona, Rodrigo. – digo retirando o sinto de segurança. Ele faz um aceno com a cabeça e dá um sorriso sem dentes pra mim. - Vamos mãe. – digo e abro a porta saindo do carro. - Tchau garotão. – ele se despede do Gustavo que sorri para ele e se despede com um aceno de mão. - Até amanhã, Sophia. - Até amanhã, Rodrigo. Fecho a porta e o vejo sair dali rapidamente. Eu e minha mãe subimos o morro e alguns longos minutos depois estávamos em casa. Eu fui direto para o banheiro, dei um banho no Gustavo e coloquei o seu pijama. Volto para a sala, coloco-o dentro do cueiro e ligo a televisão no canal de desenhos para entretê-lo enquanto eu faço sua comida. Vou para a cozinha, pego alguns legumes dentro da geladeira e começo a descasca-los. - Agora eu entendo o porquê de você ás vezes reclamar do seu chefe. – diz minha mãe entrando na cozinha, me fazendo pular de susto. - Ai mãe! Que susto. - Ele é bem severo, né? – o seu tom é um pouco desconfiado. Agora, desconfiada do que. Eu já não sei. - Sim mãe, ele é. - Mas é bem bonito também, não acha? – diz agora me encarando. - Eu não estou entendendo a senhora! – digo soltando a faca e me virando pra ela. - Eu vou ir direto ao ponto porque eu não gosto de rodeios. - Por favor. – digo a incentivando. - Você e ele. Vocês tem alguma coisa? - Ah mãe! A senhora também não né, por favor. - O que foi? Parece tá. E se mais alguém pensa como eu é porque realmente parece mesmo que vocês dois... - Mas não tem nada, mãe. Ele é o meu chefe. Apenas isso. Nós não temos nada. - Eu vi o jeito que ele olha pra você. – continua insistindo no assunto. - Jeito mãe, que jeito? Não tem jeito nenhum. – digo já sem paciência para falar sobre esse assunto. - Você Sophia, pode até não perceber, mas todo mundo vê. Pode não estar rolando nada entre vocês, mas eu sei que você sente algo por ele. - Mãe... Para. – digo séria. Não quero tocar nesse assunto novamente. Não quero outra pessoa tentando colocar essas coisas na minha cabeça. Não quero começar a me iludir com coisas que não existem e sair machucada disso tudo. - Ele é só o meu chefe. Apenas isso. Não tem nada demais. Eu não sinto nada por ele e ele também não sente nada por mim. Agora vamos parar de falar sobre isso? Obrigada! De nada! Me viro para a pia, pego a faca e volto a fazer o que estava fazendo. - Tudo bem. Se você diz. – diz e se retira. Mais uma pra ficar colocando minhoca na minha cabeça não dá. Não dá mesmo.
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