Época do exército parte.16

Quando levanto no sábado já era de tarde, minha cabeça estava explodindo, não consegui dormir direito a imagem do beijo não me saia da cabeça .

Mãe - Pelo jeito a noite foi boa, está de ressaca ?

Eu - Morrendo .

Menti para ela, não queria contar, não queria reviver aquilo tudo nas minhas lembranças, só queria esquecer .

Mãe - Vá tomar um banho para almoçar .

Eu - Estou mesmo precisando de um banho .

Falo me encaminhando para o banheiro.

Tinha levado o almoço para o quarto, mas não toquei na comida, estava sem fome, Pego meu celular e nenhuma mensagem ou chamadas dos meninos, não esperava que ele entregasse em contato , não queria que o fizesse , por mim nunca mais olhava sua cara ou ouviria sua voz novamente , mas sabia que isso era impossível, trabalhávamos no mesmo local e pior , na mesma Cia.
Coloco a comida do lado, ligo o ventilador, puxo as cobertas e me deito, ia passar o dia na cama.

                  *************

Já era noite quando eu acordo, tinha finalmente conseguido dormir. Vi que minha mãe levou o prato de comida que tinha deixado de lado, não tenho forças para me levantar, estava destruído por dentro, escuto meu celular tocando, era um número desconhecido. Será ? Rejeito a chamada e segundos depois o mesmo número volta a ligar .

Eu - Alô !

Silêncio do outro lado, sabia que era ele, começo a ouvir sua respiração.

Eu - por que você fez isso comigo ? Eu errei , mas não houve toque , não houve contato físico, eu quero que você e aquela cadela sejam muito felizes, esqueça que eu existo seu filha de uma puta.

Desligo o celular, que volta a tocar novamente, o mesmo número , pego o aparelho e o arremesso contra parede, vejo seus pedaços espalhados pelo quarto .
Começo a chorar, é inacreditável como nossas vidas podem mudar em questão de minutos, a 3 dias atrás estávamos deitados Naquela cama e hoje eu desejo que nunca mais aquilo volte a acontecer. Estava determinado a viver meu luto só aquela noite, no outro dia um outro homem surgiria e que se foda Lucas e Rafaela.

                   *************

Na manhã seguinte, estava um Domingo ensolarado então decido ir a praia, tomo meu café. Estava morrendo de fome, falo pra minha mãe que meu celular quebrou caso ela precisasse ligar , pego meu óculos escuros, monto em minha moto e parto para Praia de Ponta verde.
Já em baixo de um guarda Sol, sentado em uma cadeira de praia com uma água de coco ao lado, pensava em como eu poderia ficar um tempo afastado do exército, então me lembrei que tinha férias pendentes e amanhã mesmo iria falar com Ten Sandro, a possibilidade de entrar de férias o mais rápido possível.
A manhã passou voando, como é bom a gente tomar um banho de mar, revigora a alma.

                      **********

Já era de tarde quando chego em casa. Minha mãe e irmãs estão na Sala da frente assistindo Tv.

Mãe - Tem uma surpresa te esperando no quarto .

Não podia ser, caralho ! A vontade era de gritar com minha mãe e ter dito que não era pra ter deixado ele entrar, não conseguia nem ao menos falar ou pensar em seu nome. Mas minha mãe não tinha culpa, afinal ela não sabia de nada.

Eu - Tudo bem .

Tinha que encarar meus demônios, então segui para o quarto.
Lembro como hoje o alívio que senti assim que eu abri aquela porta.
De Melo e Souza estavam deitados em minha cama, olhando para o teto e conversando, olho para mesa de cabeceira e vejo os pedaços de meu celular, que antes estavam espalhados pelo chão do Quarto.

Eu - E ae pessoal .

Falo entrando , fechando a porta e me escorando na parede .
Eles se sentam se encostando na cabeceira da cama.

Souza - Não vou perguntar como você está, sei que isso tudo é uma merda, mas resolvemos vim aqui pra te dar uma força.

De Melo - Também não precisa perguntar, - fala apontando para os pedaços do celular sobre a mesa- sabemos muito bem como deve tá sendo foda toda essa situação.

Eu - Obrigado mesmo por vocês virem, mas eu estou bem melhor, até peguei uma praia hoje.

Souza - Não faz isso Da Silva, não tenta se enganar e reprimir o que você está sentindo, isso não vai te fazer bem cara.

De Melo - Chega aí parceiro, senta aqui .

Fala abrindo espaço no meio dos dois na cama e dando dois tapinhas no espaço vago . Me aproximo e sento no meio dos dois .
Imediatamente De Melo me abraça e eu afundo meu rosto em seu ombro desabando. Começo a chorar feito um bebê, Souza me abraça também.

Souza - Isso cara, coloca pra fora.

Eu - Eu sei que eu errei e só Deus sabe como eu estou arrependido de ter feito o que fiz, eu queria voltar no tempo para concertar tudo, mas não posso, foi tudo culpa minha.

De Melo - Exatamente você não pode, o que está feito, está feito, agora é criar coragem e arcar com as consequências que sua atitude proporcionou.

Souza - É nessa hora que você tem que ser forte Da Silva, se permita e sofra o que tem que sofrer, você pode não acreditar, mas isso vai ser bom para você. O momento pede isso, com o tempo as coisas vão se acalmar e vocês podem conversar. O tempo cura tudo e no momento ele é o melhor remédio.

De Melo - A gente não veio aqui para julgar, dizer quem errou, quem está certo ou não, vocês tem maturidade suficiente para saberem que ambos erraram. Mas você tem que ter ciência que Lucas estava magoado, bêbado e com muita raiva, para ter feito o que fez. Não estou querendo justificar, mas como falei, foi uma consequência dos seus atos feito no campo .

Eu - Eu sei disso pessoal, mas eu também sei que quando estamos bêbados fazemos coisas que temos vontade, mas não temos coragem quando estamos sóbrios. Eu fui um FDP e nunca vou me perdoar pelo que eu fiz, mas em momento algum ouve contato físico. Enfim , não quero ficar comparando quem errou mais ou menos, isso é idiotice.

Souza - Você sabe que errou e ele também sabe que errou e isso é um grande passo.

Eu - Como ele está ?

Ouve um breve silêncio.

De Melo - Ele ficou transtornado assim que você foi embora ontem, ele queria vim aqui para sua casa de qualquer jeito.

Souza - Nunca tínhamos visto Lucas assim, ele gritava, chorava, foi muito difícil ele se acalmar, mas depois de um tempo conseguimos fazer com que ele desistisse da ideia de vim aqui.

De Melo - Pegamos um táxi e deixamos ele e Rafaela em casa.
Antes de vim aqui passamos por lá, Rafaela disse que ele tinha tomado remédios para dormir e estava apagado, ainda não falamos com ele.

Ouvir aquilo tudo me deixou ainda pior, eu estava confuso, não sabia o que fazer, estava completamente perdido.

Eu - Peça desculpas a Camila por mim Souza, acho que ela ficou horrorizada com tudo que aconteceu e eu peço desculpas a vocês dois também, por tudo que eu fiz, eu acho que decepcionei vocês também, então me perdoe. Só quero que vocês saibam que eu amo vocês e que vocês são muito importantes na minha vida. Obrigado por estarem aqui neste momento.

De Melo - Todo mundo erra Da Silva, o ser humano é falho e a gente sabe disso, não se preocupa com a gente agora, cuida da sua mente e de você, estaremos sempre aqui para te ajudar.

Souza - Camila está bem, ela já desconfiava de vocês dois, na madrugada de ontem ela só teve a certeza, ela só está preocupada, mas a noite converso com ela.

Eu - Ele está precisando de vocês, por favor vão falar com ele também.

De Melo - Avisamos a Rafaela que íamos voltar no fim da tarde.

Ter o apoio de Souza e De Melo naquele momento foi fundamental, eles me fizeram enxergar que não existe vítima nessa história toda e que agora só nos resta assumir e tentar concertar o erros cometidos.

                   **************

O armário de Lucas ficava a 4 armários depois do meu, então vocês podem imaginar o quão seria difícil. Quando ele chega eu já estava terminando de me trocar, impossível não ter olhado pra ele.
Lucas estava com olheiras profundas, visivelmente abatido, com canto da boca inchado e roxo, tive vontade de abraça-lo naquele momento, dizer que era para a gente esquecer tudo, passar uma borracha no que aconteceu, aí a cena do beijo me vem a cabeça e a vontade passa.
Termino o mais rápido possível de me arrumar e sigo em direção a frente da Cia, para esperar a formatura diária.

                      ************

A semana foi torturante, ter Lucas tão presente e ao mesmo tempo tão distante estava me matando. Precisava ficar longe, Ten. Sandro me chama na sexta-feira e me avisa que conseguiu minhas férias para próxima quarta. Foi um alívio, a distância que eu estava precisando.
Os expedientes no exército as sextas são só pela parte da manhã, eu estava sozinho sentado no chão dos eucaliptais, amava aquele lugar, o vento batendo nas folhas, o cheiro e a paz, não sei onde os meninos estavam, fiquei imaginando como estaria sendo difícil para os dois também, tendo que dividir suas atenções para mim e Lucas .
Estava só esperando a hora do fim do expediente, ia passar no shopping para comprar um celular novo, escuto alguém se aproximando, quando olho pra ver quem era, meu coração dispara .

Lucas - Posso falar com você ?

Cont...

Minha história com Lucas está chegando ao fim, acredito que consigo fechar nosso arco em mais 3 contos, escrever esses relatos não está sendo fácil pra mim , eu revivi momentos até então adormecidos, me peguei chorando algumas vezes, mas continuo aqui por cada um de vocês que estão acompanhando nossa historia, principalmente por aqueles que são escritos curtem e comentam e também pela maioria que sei que não tem uma conta no site , mas está lendo e acompanhando.
Não é uma história só de sexo e sim de descobertas e principalmente de amor, decidi compartilhar essa narrativa com vocês, para que fique registrado que dois homens podem sim, se amar , que ao contrário do que muita gente pensa, nós nascemos assim, não escolhemos ser gay, então quando encontramos o amor , temos que viver esse momento em sua plenitude, sem medos.
A vida é muito curta e passa muito rápido .
E respondendo a pergunta de rmds , feita por mensagem .

Se vc pudesse voltar no tempo hj o que vc mudaria na história que viveu com ele ?

Não mudaria nada, histórias são aprendizados, lições de vidas, cometemos erros hoje para não Repeti-los amanhã.

Um grande abraço a todos , mais uma vez obrigado pelo carinho.
Bjos !