Ao sair do banheiro me surpreendi com Fábio, sentado em minha cama, ele se levantou sorrindo, e veio em minha direção, eu sabia o que ele ia fazer, então quando ele se aproximou, desviei o rosto, recebendo somente seu abraço. Fábio me apertou contra seu corpo, uma mão segurando minha nuca e o braço em minha cintura, beijou minha bochecha, enfiou o nariz em meu pescoço, encheu os pulmões com meu cheiro.
- Eu senti tanta saudade. Porque demorou tanto?- Perguntou Fábio me apertando.
- Também senti saudades, mas agora eu voltei. -
Ainda ficamos naquele abraço por alguns segundos, me afastei um pouco e vesti uma cueca sem tirar a toalha, Fábio me assistia em pé. Ele sentou em minha cama e quando terminei de me vestir sentei me com ele, sorrindo pra ele.
- Então você conseguiu? -
- Consegui? - Repeti a pergunta sem entender.
- O que você queria. Sabe? O que você foi fazer lá? -
- Ahh! Consegui, eu queria superar tudo aquilo que aconteceu. -
- Hmmm! Você se divertiu lá? -
- Sim. Todos me ajudaram muito. -
- Você ficou com alguém lá! -
Não foi uma pergunta, e eu não iria mentir, nem se quisesse, meu pescoço havia marcas evidentes do que eu tinha feito antes de voltar. Contei a ele sobre Artur, claro que poupei ele dos detalhes, resumi nossas noites de sexo, a um "ficar". Artur ia diminuindo o sorriso a cada palavra que eu dizia, até seu rosto ficar sério, quase uma expressão de raiva.
- Então você foi esquecer do meu irmão, "ficando" com outro. E você precisava ir pra lá pra fazer isso, não podia ser eu te fazer esquecer o Flávio. -
- Não foi bem assim, Fábio. Eu não imaginava que isso ia acontecer. Eu só queria fugir da perturbação do seu irmão. -
- Dilan não vou dizer que você fez o certo e que gostei, por que eu não gostei nem um pouco. -
- Mas eu não fiz nada demais Fábio. Entenda que somos amigos, eu não te pergunto se você fica com alguém... -
- Fiquei Dilan. Com duas ou três pessoas, diferentes uma única vez com cada uma delas, por que eu não estava aguentando. -
- Que diferença isso faz? -
- Você teve um caso com esse cara. Um caso de cinco meses. -
- Que caso Fábio? Do jeito que está falando até parece...-
- Parece que isso não passou de uma vingança, pra passar ciumes no Flávio e depois vocês voltam a namorar. -
- Isso não tem nada haver... -
Fábio estava transtornado, ficou de pé na minha frente, me olhava nos olhos, do jeito que ele falava, me interrompendo, me fez sentir uma vagabunda que estava brincando com os sentimentos dele. Mas eu não fazia por mal, ele era muito importante pra mim, e eu tinha medo de perde-lo.
- O que eu sou pra você Dilan? -
- Você é meu amigo, o único que tenho Fábio... -
- Dilan eu cansei de ser seu amigo, eu não quero ser seu amigo. -
- Fábio... Eu... - Eu estava de pé, os olhos cheios de lágrimas e o coração cheio de medo.
Fábio me segurou os braços me olhava nos olhos, ele é mais alto que eu, os olhos verdes, seu rosto triste, eu estava lhe causando dor, o rosto já estava avermelhado, os lábios finos rosados se contraindo.
- Dilan entende de uma vez por todas que eu quero ser mais do que um ombro pra te consolar, eu quero ser o cara que te deixa marcado, eu quero ser o motivo de você sorrir, de você chorar, quero que você suspire por mim, eu quero te deixar arrasado, eu quero você pra mim. -
Não consegui lhe responder, minhas lágrimas já escorriam lavando meu rosto. Ele me soltou delicadamente e se afastou, foi em direção a porta, e eu o alcancei antes que ele abrisse.
- Espera, eu preciso de você. - Supliquei.
Meu coração dizia que se ele saísse por aquela porta eu o perderia, talvez para sempre.
- Eu quero ficar do seu lado, mas desse jeito não dá cara, você tá me machucando. -
Os olhos dele estava cheios de lágrimas, que ele limpou com as costas da mão.
- Eu vou te deixar em paz, eu não sou como meu irmão, não vou mais te perturbar. -
- Por favor, Fábio! Eu só preciso de um tempo. -
- Eu já te dei tempo demais, agora eu quero uma decisão. -
Ele abriu a porta e foi embora me deixou chorando, arrasado, perdi meu amigo, por medo dele me deixar.
Minha mãe entrou em meu quarto, logo que ele saiu, e me viu no chão de joelhos, sentado sobre as pernas.
- Meu filho o que aconteceu? - Ela estava ao meu lado.
- Aii mãe, me abraça, me abraça. -
E naquele abraço de minha mãe, e me senti seguro, o melhor lugar de todos, eu não seria ninguém se não fosse ela, chorei um oceano sem dizer nada, ela apenas afagava meu cabelo, até passar.
Os dias se passavam, Fábio não me ligava, eu o liguei mas ele pediu que eu não o ligasse mais. Eu nem podia sentir raiva dele, por eu era culpado. Fui seguindo a vida, tinha passado na faculdade de gastronomia, era a mesma universidade em que estudava Fábio e Flávio.
Estava passando muito tempo em casa, minha mãe insistia para que saísse e fizesse algo, resolvi ir ao shopping, pegar um cineminha e fazer algumas compras de fim de ano. Tinha tudo para ser um dia divertido, o sol brilhava, fazia calor, tinha vestido roupas leves, uma bermuda de algodão, regata cavada, eu me estava me sentindo bonito.
Entrei em uma loja, distraído, um atendente moreno, mesma altura que eu, embora fosse mais velho que eu, dava pra ver que ele era bem malhado, tinha um sorriso bonito, eu já estava escolhendo umas camisetas, o vendedor flertando comigo, quando tudo mudou.
- Gostou né? - Disse alguém do meu lado.
Era Mariana, a anãzinha do mal, apareceu pra me infernizar.
- Tá falando do que? - Respondi.
- Do bonitão, oras! Quer que eu pegue o telefone dele? -
- Olha se você estiver interessada, vá em frente. -
- Ah não. Não faz meu tipo. - Ela sorria debochada.
- Hmm! - Tentei fugir dela, mas ela vinha atrás de mim.
- Então você voltou, nem avisou. -
- Eu deveria? -
- Claro! - Ela buscava meu olhar. - O Flávio sabe que você voltou? -
- Faz diferença? Qual é mesmo seu interesse? -
- Nenhum. Mas é que, tadinho, ele sofreu muito por você tê-lo abandonado. -
- Eu o abandonei... - Percebi que ela estava conseguindo o que queria. Me desestabilizar.
Fui ao caixa pagar minhas compras, e a miniatura de piranha me acompanhou, e acabou vendo quando o vendedor me deu o cartão com o número dele, e o ingresso de cinema que eu tinha comprado.
- Então você vai ver um filme. Vai com alguém? -
- Não e não estou querendo companhia! -
- Nossa! Quanto rancor... -
Ela colocou a mão na frente da boca, como se estivesse chocada, e eu virei as costas pra ela e continuei andando, até dar a hora da sessão.
Quando entrei no cinema, procurei um cadeira mais ao fundo, sem ser as últimas fileiras, tinha comprado um copo grande de Coca-cola, e uma barra de chocolate, que eu não comia nem a metade. Logo que acabou os trillers e propagandas, alguém sentou se ao meu lado. A sessão nem estava muito cheia.
- Pipoca? - Falou ele sentado ao meu lado esquerdo.
Nem precisei olha-lo para saber quem era, reconheci sua voz grave, de galanteador.
- Por que será que não estou surpreso? - Respondi sem olhar para Flávio.
- É, a Mari me ligou dando todas as informações. - Ele se atreveu a sorrir como se fosse engraçado.
- Quanta eficiência. - Desdenhei.
- Eu preciso conversar com você. -
- Se não se importa, eu quero ver este filme. -
- Tudo bem! Não vou atrapalhar. A gente conversa depois do filme. -
Eu não estava disposto a uma conversa com Flávio, mas depois eu pensava alguma maneira de despista-lo.
O filme terminou, eu fui saindo e Flávio a me seguir, pensei em pedir pra ele comprar um sorvete e eu aproveitaria pra fugir. Mas minha consciência não me deixou.
- Então podemos conversar agora? #
- Sobre o que? Eu não tenho mais nada pra conversar com você. -
- Mas eu tenho Dilan. Muita coisa! -
- Acho que hoje não dá Flávio. Preciso voltar. Fica pra outro dia... -
- Dilan não me trate como um idiota, você sabe que eu odeio quando faz isso. -
- Mas você é um idiota. E vai fazer o que, me bater? -
- Sabe que nunca faria isso. -
- Não sei não. Pra mim você é capaz de muitas coisas. -
- Só conversar Dilan, eu posso te deixar em casa. -
- Melhor não. Não é muito saudável entrar num carro com você. -
- Para de me provocar Dilan. Você está sendo imaturo. -
De fato eu estava sendo. Mas eu não queria falar com ele, e não estava vendo outro meio de me livrar dele. Logo estávamos sentados na praça de alimentação do shopping, foi quando olhei pra ele. Estava com os cabelos mais curtos que o habitual, a barba bem aparada, os olhos verdes brilhava, camisa de botão e jeans. Parecia um homem maduro. Mas eu sabia que era só na aparência.
- Você mudou. Vai deixar o cabelo crescer? -
- Quer falar sobre o meu cabelo? -
- Quero que me perdoe. E que volte pra mim. -
- Já te perdoei. Mas não vou voltar pra você. -
- Por que? Até meu irmão já disse que você vai voltar pra mim. -
- O Fábio disse isso! - Falei com desdém.
- Ele me falou que você foi lá pra casa da sua irmã, se vingar de mim. Mas já passou, eu te dei todo esse tempo... -
- Espera desde quando você fala com seu irmão? E ainda mais sobre mim. -
- Nos somos irmãos, a gente está mais próximo. Ele me deu muitos conselhos pra merecer você de volta. E ele disse que já percebeu que não tem chances. -
- Não acredito. -
- Então como eu saberia de tudo isso? -
Fiquei tão chocado, que não consegui responder. Realmente Fábio estava magoado, mas se ele desistiu assim tão fácil. Como posso acreditar. Perdi o chão a baixo de mim, eu estava de novo sem rumo.
- Só uma chance, e prometo que não vou te magoar. -
Promessas que eu não sabia se ele era capaz de cumprir, eu já não sentia mais nada por ele. Não fazia sentido eu lhe dar uma segunda chance.
- Fico muito feliz que vocês tenham se entendido Flávio. Mas eu voltar pra você está fora de cogitação. -
- Por que? - Ele colocou sua mão sobre a minha.
- Porque eu percebi que o tinha entre nos era só sexo. E não tenho vontade de fazer sexo com você. Não sinto mais nada por você. -
Eu me levantei e fui embora, deixando Flávio com os olhos cheios de raiva por minhas palavras, e isso era pouco, perto do que ele merecia. Mas no fundo meu coração estava triste, e eu não sabia o porquê.
Ainda é muito pouco do que ele merece kk Pfv , n demora pra postar o próximo !