06/12/2002,sexta-feira.
Gustavo estava em sua pequena chácara não muito distante do centro aguardando impaciente que a filha ligasse falando qual o vôo que estaria, houve uma certa confusão e ele não tinha certeza se seria o das 17:20 ou das 19:00h.
Desde a separação há dois anos e um mês que não tinha estado com Marília. Era quase oito horas da noite quando avistou o táxi se aproximando pela estrada piçarrada e teve certeza ser a filha acenando da janela. Acurou avista e percebeu que havia mais alguém e imaginou, não sem uma certa alegria eufórica, que poderia ser que fosse Luiza. Mas logo viu que essa seria uma possibilidade remota.
Mal o carro parou Marília saiu em desabalada carreira e pulou em seus braços.
— Puxa pai!... – desgrudou e olhou no rosto dele – A merda do celular arriou a bateria...
Não deixou que ela continuasse, voltou a estreitá-los nos braços em um abraço verdadeiro e cheio de saudades.
— O que importa é que você chegou bem e está aqui... – sussurrou no seu ouvido.
Continuaram abraçados até ouvirem um pigarrear às costas, era Joana, a amiga da filha.
— Pai trouxe uma amiga minha – soltou-se e segurou a mão da amiga – A Joana tinha vontade de conhecer minha terra e mamãe pediu para o tio Anselmo...– parou, ele não sabia quem era aquele tio – Tio Anselmo é tio sem ser tio, é o pai da Joana que é minha melhor amiga em Recife... Mas se ela não puder ficar aqui conosco vamos pra uma pousada com ela.
A amiga tinha tirado as sacolas do carro e pago a corrida. Gustavo voltou abraçar a filha e disse para esquecerem esse negócio de pousada, não ia deixar escapar a oportunidade de passar aqueles quinze dias com a filha que não via desde que seguira a mãe.
— Pousada pra que? – segurou a mão estendida – Deixem de bobagem, a casa não é lá essas coisas, mas onde ficam dois, três se acomodam.
Sorriu e deu um pequeno beijo no dorso da mão da garota.
— Ta bom! – fingiu que aceitava o convite sem querer de verdade – Vem cá Joana! – passou o braço pelo ombro dela – É minha melhor amiga... Como é? Agente aceita o convite do velho?
Gustavo riu e puxou a garota dando dois beijinhos no rosto e deu as boas vindas.
Olhou demoradamente para a menina que tinha aparentemente a mesma idade da filha, coxas grossas e corpo bem feito, cabelos longos e negros – contrastando como os loiros de Marília – e rosto de garota sapeca.
Entraram e Gustavo mostrou a casa; uma sala ampla rodeada de estantes repletas de livros um tanto bagunçada, uma copa cozinha, um banheiro social,uma pequena sala onde estavam o televisor e o aparelho de som onde também havia outra estante repleta de cd’s e dvd’s e os quartos, o seu com uma cama de casal imensa com banheiro e o que preparara para a filha, com duas camas, televisão, uma mesa de mármore na pequena varanda que dava para a piscina além de duas cadeiras dobráveis.
— Bem garotas... – sentou na cama próxima à varanda – Vocês devem estar cansadas...
Marília deitou de seu lado e pousou a cabeça em seu colo.
— Um pouquinho... – olhou para a colega que continuava parada – Mas agente ta mesmo é afim de conhecer a cidade, né Joana?
— Ok! Vão se trocar para conhecer meu mundinho... – riram e as duas foram para o quarto.
Ele ficou na sala terminando de ver o jornal da noite e lembrou-se de dizer que iriam jantar em restaurante novo e foi em direção ao quarto. Quando chegou perto notou que falavam muito e que estavam sorrindo o tempo todo.
— Menina, você não tinha me contado que ele tinha os cabelos compridos, teu pai é lindo!
Ficou espiando e notou que a filha também estava um tanto acesa.
— Eu não te disse que ele era um gato, aqueles cabelos compridos deixam qualquer uma babada e o corpão dele?
Para os trinta e nove anos bem vividos até que Gustavo era bem conservado e ouvir o elogio o encheu de satisfação.
Elas tinham parado de falar e ele bateu de leve na porta.
— Meninas, tomem um banho e aprontem-se porque vamos jantar na cidade!
Elas só responderam positivamente e rumaram as duas para o banheiro.
Ele foi pro quarto e escolheu uma roupa frugal. Voltou para a sala e, para seu espanto, não demoraram nem dez minutos para aparecerem prontas para saírem.
— Puxa! Já? – as duas riram e saíram em direção da noite.
Foram direto para o restaurante na Ponta D’Areia, com ampla visão para o mar, na cobertura de um hotel onde comeram e beberam algumas doses de caipirosca.
— E aí? – perguntou depois de pagar a conta – Que querem fazer?
As duas pareciam cansadas, mas falaram que uma voltinha para espiarem a vida noturna da cidade e matar a curiosidade de Joana, pois Marília não se cansava de falar das maravilhas, gabola que é, da cidade onde tinha nascido e vivido quase a vida toda.
Gustavo resolveu mostrar alguns ícones da capital maranhense e, antes da meia noite, sugeriu que fossem para a Litorânea beber alguns aperitivos antes de procurarem algum lugar para dançarem – Marília sempre foi boa dançarina.
Beberam duas caipirinhas cada, mas Marília também topou provar La’Margarita – uma bebida feita com tiquira.
Voltaram para o carro e Marília falou que iria no banco de trás, a mistura não tinha feito muito bem. Riram divertidos e Joana sentou na frente com Gustavo
Ainda tentaram ir as uma casa de dança, mas a filha não se sentia bem e voltaram para casa. Quando chegaram Marília tinha caído no sono e ele perguntou se ela estava se sentindo bem.
— Porra pai! Ta tudo rodando – tentou sair do carro, mas teve que ser amparada por ele para não cair.
Gustavo a carregou para seu quarto e providenciou um chá caseiro que Luiza costumava fazer para ele.
— Você não quer tomar um banho? – perguntou enquanto ela tomava o remédio.
Mas ela pegou no sono antes mesmo dele sair para a sala. Joana estava deitada na rede que sempre mantinha armada na varanda.
— A viajem é um pouco cansativa... – sentou na cadeira de macarrão e puxou conversa – Você também não está cansada?
— To não... – falou se virando para olhá-lo – Estava olhando essa belezura, é bonito demais... O som do mato, esse ventinho gostoso...
Gustavo tinha tirado a camisa e os sapatos, estava de a bermuda branca com a qual saíram.
— Costumo cair na piscina antes de ir dormir... – falou pensando.
— Se fosse numa praia eu topava... – ela respondeu olhando fixo para ele – A gente costuma ficar até tarde da noite na praia...
Ele sorriu e lembrou dos tempos em que ele a ex- mulher tomavam banhos da Ponta D’Areia nus.
— Amanhã a gente vai... – sorriu e ficou esperando.
Sem dizer nada ela se levantou e entrou. Pouco depois voltou vestida em um biquíni preto bem pequenino, ele tirou a bermuda – estava com calção de banho por baixo – e foram para a beira da piscina.
Entraram na água fria e começaram a conversar até tocarem no nome de Marília.
— Ela sente muito sua falta... – Joana mergulhou e nadou de uma extremidade a outra – Sempre fala em você se vangloriando ter um pai bonito...– riu e voltou a mergulhar.
— Marília sempre foi uma menina muito carinhosa... – Gustavo falou pensando na filha – E isso de eu ser bonito... É coisa de filha...
— Mas você é um gato – Joana respondeu mirando ele.
Gustavo se sentiu bem ao ouvir o elogio, mas disfarçou bem para que ela não percebesse.
A brisa da madrugada começou a esfriar e ele sentiu frio, lembrou que não tinha pego toalhas e saiu quase correndo para buscar, na volta passou pelo quarto da filha para ver se ela estava bem. Voltou com duas toalhas limpas e felpudas, Joana estava acocorada ao lado da piscina, tremia de frio.
— Tá frio né? – entregou uma toalha para ela – É o sereno da madrugada...
— Nossa!... Agora esfriou mesmo!
Ela recebeu a toalha e se envolveu, Gustavo riu e também passou a toalha pelo corpo para barrar a brisa cortante.
— Vai te trocar e vamos pra cozinha – a garota batia o queixo – Tem um fogão a lenha que é uma gostosura...
Ela falou alguma coisa que ele não entendeu e entrou correndo. Voltou vestindo uma camiseta branca, ele percebeu que ela tinha tirado a parte de cima do biquíni.