(Parte 14)
— Guarda a arma, rapaz! — Minha única intenção é conversar com meus amigos.
Pedro teve a certeza de estar diante do Nordestino devido à descrição que Jessie fez dele anteriormente. O cara está blefando, com certeza veio com o propósito de eliminar seus dois comparsas, pensou.
— Então baixa a sua, primeiro, e solta a moça para podermos conversar.
— Garoto, eu sou policial e já podia ter acertado você daqui. Larga isso e vem pra cá!
Suavemente Jessie deslizou a mão por dentro de sua saia e alcançou um punhal preso em sua cinta liga. Enquanto o homem se ocupava em tentar convencer o Pedro a baixar a guarda, ela o surpreendeu golpeando o braço esticado que empunhava a pistola. A lâmina aguda penetrou o antebraço de baixo para cima atravessando a carne do homem. Com a mesma rapidez do movimento e, com requinte de crueldade, ela torceu o punhal arrancando um urro de dor do seu opressor. Involuntariamente ele deixou cair a arma ao sentir o dano causado em seu braço. De dominada Jessie passou a dominante e continuou atacando desferindo uma cotovelada nas partes baixas do Nordestino e conseguiu escapar dele antes de sofrer um revide.
Pedro também foi ágil e correu em direção ao cara em posição curvada tentando recuperar o revólver. O rapaz desferiu um chute violento no rosto do Tenório.
— Não se mexe, cara! — falou Pedro com firmeza em tom de ameaça e apontando a pistola para a cabeça do fulano tombado no piso em posição de inferioridade.
Jessie pegou a arma do chão, apontou para ele com frieza e disse:
— Poderia devolver o meu punhal, por favor?
O Nordestino conteve sua raiva, esperaria uma oportunidade para contra-atacar. Disse que precisava de um médico, pois ela cortou alguma artéria importante.
— Vamos conversar primeiro e resolver nossos negócios pendentes, a sua consulta médica fica pra depois.
Com um urro e expressão de muita dor ele tirou a lâmina do seu braço. Pediu um pano para estancar o sangue abundante. Jessie mandou ele continuar sentado e lhe jogou um pano de prato, porém antes limpou seu punhal com o tecido.
Após o Nordestino enrolar o pano no ferimento, ela mandou ele sentar encostado no outro pé da mesa e o prendeu passando voltas de fita em seu tronco, apesar dos queixumes do homem por conta do ferimento.
— Seja forte! — gracejou a moça.
O sujeito bruto espumava de ódio, mas sob a mira da arma do Pedro ele não tinha alternativa a não ser obedecer. Ela também imobilizou suas pernas.
Os dois homens dominados começaram com um joguinho de isentar-se da ideia de tirá-la da jogada. O Tenório disse que a ideia foi do Maciel, por ganância e receio de deixar uma testemunha sabendo demais a respeito dele.
— Isso não é verdade — falou o Maciel se dirigindo à Jessie — a quanto tempo a gente aplica os golpes sem violência? — Você sabe que eu não sou um assassino, fui iludido e traído por esse cara.
A garota ouvia enquanto calculava quanto de dinheiro ela e o Pedro retiraram dos dois fundos falsos, algo em torno de oitenta mil reais em notas de dólar, euro e real. Colocou tudo em uma sacolinha plástica.
O Maciel tentou sensibilizá-la:
— Jamais a mataria, Jessie, após bater na árvore eu te deixei viva e só fugi porque ouvi as sirenes chegando.
Continuou pedindo perdão por ajudar o Nordestino a dopá-la. Mas de repente parou de falar e olhou assustado para Jessie caminhando em sua direção. Novamente ela empunhava aquela faca terrível.
— Pedir-me perdão pelo seu erro não me sensibiliza em nada e não reduz a sua sentença — disse a garota com uma ira demoníaca no olhar.
Com um movimento firme ela passou a lâmina afiada na garganta do concierge cortando profundamente. Com os olhos esbugalhados pelo espanto e pavor, ele emitiu seu último som, algo semelhante a uma pessoa se engasgando.
O Pedro a olhou perplexo, não acreditou ter assistido algo de tamanha proporção. Ela por sua vez, deu de ombros e disse:
— Foi mal… Peguei meio pesado, né? — Mas foi rápido e sem sofrimento. — Enfim, que ele não descanse em paz no inferno!
O Pedro só balançou a cabeça negativamente e disse:
— Meu Deus do céu, você está enlouquecendo, Jessie!
O Nordestino, um homem bruto e frio que parecia zombar da morte, demonstrou medo pela primeira vez. Jessie se dirigiu a ele o testando.
— Agora o assunto é entre nós dois — Deseja com ou sem emoção?
Ele gritou quando viu a lâmina próxima ao seu pescoço.
— ESPERA, ESPERA!!! — Eu te dou o dinheiro que pegamos, um milhão de dólares.
— Me diz onde a grana está, então pensarei em um acordo.
— Está em um local seguro em São Paulo, mas só eu poderei pegar.
— Nessas condições não tem acordo — a garota falou em tom definitivo e ergueu o braço na intenção de esfaquear o sujeito.
— ESPERA!!! Eu digo onde está e como você pode pegar — Ela se deteve.
— Última chance, pois já cansei desse seu jogo. — Faremos assim: você fala como pegamos a grana, então o meu amigo partirá no primeiro voo para São Paulo. Nós dois ficaremos aqui. Quando ele ligar dizendo estar em posse dos dólares, eu solto você. — São os meus termos, se temos um acordo comece a falar rápido.
Ela encostou a lâmina no pescoço do homem, ele rapidamente disse que tinham um acordo.
— O dinheiro está em dois guarda-volumes no aeroporto de Guarulhos.
Continua…