Sofri bullying no colégio após vazar a notícia da minha relação íntima com meu pai. Fui acusada de ser a responsável pelo escândalo familiar e era admoestada diariamente com frases ditas de maneira covarde: "lá vai, a putinha amante do papai". Denunciei na diretoria os cabeças daquele assédio moral. Todavia, a denúncia não resultou em punição, ou seja, nenhuma medida foi adotada. A diretora conversou apenas por dois minutos em nossa sala de aula, limitou-se a chamar a atenção dos agressores como se eles fossem apenas crianças levadas.
Durante a saída fui ameaçada e só não fui agredida porque fui protegida por um menino que era meu colega, o Josias, um garoto robusto portador de uma leve deficiência mental. O grupinho tóxico o zoava por causa disso e de sua dificuldade ao falar.
Na semana seguinte, 30 de outubro de 2018, ao final das aulas, três meninas muito animadas comentaram comigo sobre uma festinha das bruxas. Mesmo sendo da minha classe, não tinha amizade com as garotas, não o suficiente para sairmos juntas.
Estava frágil, na época, e tentando não gerar mais inimizades, então aceitei o convite para a baladinha tipo halloween. Considerei o fato delas não estarem diretamente ligadas ao grupinho do mal. Além disso, as meninas foram muito persuasivas.
Fui para minha casa e Improvisei um conjuntinho preto e maquiagem de morta viva.
Encontrei as meninas ao escurecer e fomos caminhando até um armazém de materiais recicláveis. Um prédio em ruínas, sem luz elétrica e iluminado por velas.
Somente ao chegar no interior do salão percebi a inexistência da festa; era uma armadilha. Uns caras com máscaras e outros de capuz nos atacaram, fui segura por dois deles. As três meninas deram gritinhos e saíram correndo porta afora, tudo combinado e ensaiado, deduzi.
Meu choro e pedidos para ir embora não comoveu o que parecia ser o líder do grupo. Fiquei sozinha e refém dos caras agressivos. Havia caído num golpe e contava apenas comigo e a sorte para fugir, ou então passaria a noite no local afastado, em uma rua erma e sendo vítima de um jogo de terror que poderia ser praticado comigo.
Fui amordaçada, humilhada e xingada com os piores pejorativos. Várias mãos abusivas tocaram meu corpo todo, além de me agredirem. Reconheci a voz de dois deles, a dupla era da minha classe, os mesmos do bando que denunciei à diretoria. Os "galalaus", como diria o meu avô, eram repetentes e pelo menos dois anos mais velhos que o restante da turma. E estavam armados com um punhal cada um. Minhas roupas foram cortadas pelos bandidos.
Após ser completamente despida, amarraram minhas mãos nas costas e fui ameaçada de morte se não colaborasse: "abre as pernas e vê se mexe gostoso, sua vadia", foi a ordem do líder.
Meu estupro iminente poderia terminar em um dano irreparável, estava apavorada que o lance violento acabasse em tragédia com perda da minha vida.
O suposto chefe enfiou seu pau em minha boceta, sem aviso, cerimônia ou preservativo. Meu grito de dor foi minimizado pela mordaça e não expressou a realidade da dor sentida por conta da violência da introdução.
— Mexe, sua putinha vadia! — ordenou ele socando forte com a intenção de me ferir.
De repente, uma surpresa acendeu minha esperança de escapar. Meu colega Josias, de algum modo ficou sabendo do plano daquela gangue. Apareceu no momento em que o cara estava quase ejaculando, segundo captei por suas atitudes e palavreado. O risco da gravidez seria apenas mais um dos problemas, já havia sido ameaçada o suficiente e passei a aceitar tudo calada para tentar sair dali inteira.
Porém, contudo, todavia, o meu salvador não teve o raciocínio adequado para chamar pessoas adultas de modo a ajudarem. Chegou sozinho e foi brutalmente dominado por três dos cinco caras. Uma agressão covarde, causou-me repulsa e náuseas. Quase desacordado, ele teve suas roupas arrancadas, as mãos amarradas para trás, os pés imobilizados e também foi amordaçado.
A presença imprevista propiciou-me um mísero conforto ao sentir a retirada do pênis prestes a jorrar em minhas entranhas. Não festejei o aborto da ejaculação pelo delinquente. Doeu mais em mim, ver o sofrimento do meu colega de alma boa.
O líder, meu violentador, deu a ordem para partirem pro estupro do meninão inocente.
— Aí, mano! Vou comer o cu dessa vadia, assim não arrisco ter filho com uma vagaba. Tá ligado!? Você come o rabo do retardado.
Seu irmão grandão, o menos esperto do bando, posicionou-se com o pinto duro por detrás do jovem Josias que era mantido imobilizado por dois outros e de bruços sobre uma mesa.
Aquela vítima diária de bullying por parte do grupinho do mal, estava no ponto de ruptura depois de toda humilhação, desprezo e rejeição praticados diariamente pelos garotos opressores. Ao ficar à mercê dos bandidos adolescentes, e estando a ponto de ser violentado no imóvel em ruínas, escuro e imundo, o garoto vulnerável expôs sua força, talvez nem por ele conhecida. Motivado estava pela necessidade de liberdade e dignidade.
Senti um tapa forte na minha bunda, ouvi o sorriso sacana do meu carrasco e seu pênis melado forçando a entrada do meu ânus. Meu grito abafado pela mordaça e minha expressão de dor ao ter meu cu invadido brutalmente, não evitou que mantivesse meu foco no menino amarrado e fosse testemunha da transformação surreal que começou a ocorrer com ele: pelos grossos e escuros surgiram do nada em seu corpo todo, assim como músculos imensos. Seu tamanho quase dobrou. O impressionante foi a rapidez do ocorrido, o Josias transformou-se num lobisomem enorme, se livrou de amarras e mordaça e girou o corpo numa agilidade animal. No movimento, a sua mão de garras enormes e afiadas deu um golpe cortando fora o pênis do cara atrás dele. De imediato partiu para cima dos seus outros dois agressores. Praticamente decapitou um menino ao morder e arrancar metade do pescoço do infeliz.
Apavorada fechei os olhos, estava a ponto de vomitar. Não vi mais nada, apenas ouvi gritos de dor e pavor, também os grunhidos de ferocidade e sons de carnificina e ossos sendo quebrados.
O massacre só durou uma ave Maria, era a única oração que conhecia. Fez-se silêncio e só ouvi uma respiração ofegante atrás de mim. Gelei supondo ser minha vez de morrer, ele deveria estar creditando a mim toda a situação em que se meteu.
Senti minhas mãos soltas como se ele tivesse cortado as amarras. Arrisquei abrir os olhos, virei lentamente e o vi dando dois passos para trás. Percebi sua preocupação em não me assustar.
Com movimentos suaves abaixei para pegar minha roupa, mas com pedaços tão pequenos, não dava nem para amarrar e tentar cobrir minha nudez.
Ele entendeu meu problema, pegou sua camiseta, ainda inteira, e deu pra mim. Olhei para sua expressão que era tranquila, quase carinhosa. Vesti sua malha, serviu-me como um vestido curto e muito largo. Ele fez um sinal para eu ir embora. Obedeci de pronto, não estava conseguindo olhar para todos aqueles corpos esfacelados e a quantidade enorme de sangue no chão.
Fui para casa e tive frieza e sensatez suficiente para esconder a camiseta do Josias em meio às plantas, havia manchas de sangue que o incriminavam.
Entrei nua e contei para a mamãe que fui vítima de estupro. A dona Helena ficou que nem barata tonta me atropelando com perguntas seguidas e pegou o telefone.
— Vou ligar pra polícia para irem atrás dos bandidos.
— Eles já estão mortos — falei alto, pois a dona Helena parecia não estar me ouvindo.
— Você matou eles, Nicole? — perguntou apavorada.
— Tá louca, mãe? Não fui eu — respondi já perdendo a paciência.
Não contei sobre o lobisomem, senão, ao invés de levar-me à delegacia, ela me levaria para o hospício.
Sugeri irmos imediatamente à delegacia. Vesti uma roupa rapidinho e saímos. Mamãe continuou fazendo um monte de perguntas durante nosso trajeto até o DP. Disse-lhe que só contaria a história toda quando estivesse na presença da delegada.
No caminho deu para ver, mesmo ao longe, aquele salão de recicláveis se acabando em chamas.
Contei a história para a delegada que já me conhecia anteriormente. Foi ela que cuidou do caso do meu pai, acusado de me estuprar e de agressão contra minha mãe.
Seguindo o depoimento: omiti a parte do Josias ainda humano. Revelei-lhe apenas que um lobisomem adentrou o local e eu consegui fugir enquanto ele atacava os caras. Evidente que não fui levada a sério.
Enfim, não sobrou nada além de cinzas naquele galpão maldito que queimou por horas, ainda que vários carros de bombeiros tentassem apagar o fogo. A quantidade enorme de plástico e papelão dificultou o combate ao incêndio.
Havia denunciado as três meninas por Cumplicidade. Ainda naquela noite elas foram ouvidas pelos investigadores, mas juraram que também foram vítimas e tiveram a sorte de conseguir fugir.
O Josias não voltou para sua casa naquela noite, nem nunca mais tiveram notícias dele, nem dos dois irmãos bandidos.
Mais três carinhas do bairro também foram dados como desaparecidos. Tudo levou a crer serem integrantes da gangue de estupradores.
Fui chamada outras vezes na delegacia para prestar informações. Repeti a mesma história de antes. Nunca acreditaram na versão do lobisomem. A delegada recomendou que eu procurasse um tratamento terapêutico.
— Ela já faz terapia há alguns meses — disse minha mãe.
— É compreensível — comentou a delegada com ironia ácida.
Não conseguiram identificar nenhum corpo decorrente do incêndio. O caso foi encerrado como sem solução muitos meses depois.
Durante todos aqueles meses, sonhei constantemente com um lobo espiando em minha janela, acordava assustada e pensava no Josias.
Na minha opinião, ele não era um monstro, eles o transformaram em monstro. Somos todos culpados de magoar os outros, seja por inércia ou por ação direta.
Não acreditam na minha história? Ainda tenho a camiseta que ele me deu, no fundo da minha gaveta. Não lavei para não apagar a marca de uma pata enorme impressa com sangue no pano.
Por ora é isso, beijos!
Kmilinha..esse seu diário deve valer uma fortuna!!! Show!!
Você tem razão... isso é pura verdade! Adoramos. Bjos, Ma & Lu