Justiça com as Próprias Mãos

(Parte 5)
O motoqueiro engatou a segunda marcha e começou a ganhar velocidade, se questionava em pensamento sobre a história contada pela garota: "uma mentira inventada às pressas", deduziu. Provavelmente se envolveu com bandidos e estava encrencada. Logo alguém viria atrás dela, criminosos ou policiais… Ou os dois.
“Não se envolva, disse para si, você já tem seus problemas". Ele conhecia aquelas marcas no rosto da jovem; eram marcas de uma surra aplicada por um homem, as mesmas vistas várias vezes no rosto e no corpo de sua mãe quando seu padrasto a agredia.
O motor pedia a troca de marcha, ele engatou a terceira e girou firme a manopla do acelerador, quase empinou a moto com o ganho repentino de velocidade. Repetiu para si: "não se envolva, ela parece ser uma garota capaz de se virar sozinha". Ouviu sirenes se aproximando, era um caminhão de bombeiros seguindo um carro da polícia rodoviária e outro do resgate. Passaram por ele em sentido contrário, rumo à fumaça negra visível mais adiante.
— MERDA! — gritou reprovando o que pretendia fazer.
Deu uma freada brusca, meia volta na moto e acelerou em direção ao hipermercado.
Avistou a garota caminhando com muita dificuldade, praticamente se arrastando. Ele parou ao seu lado.
— Se você quiser sair daqui sem ser notada, é melhor vir comigo.
Ela também ouviu as sirenes, sabia do perigo e precisava desaparecer daquele lugar quanto antes ou estaria ferrada. Subiu na moto com a ajuda dele e agradeceu enquanto o rapaz acelerava.

Meia hora mais tarde eles estavam no apartamento simples por ela habitado, havia alugado quando chegou na cidade de Campinas e propositalmente escolheu um local próximo à rodoviária, seria propício para uma saída rápida da cidade em caso de necessidade, e ainda tinha os lockers (guarda-volumes) para ela manter por perto e seguro o seu dinheiro conseguido em golpes anteriores.
Ela ainda não havia dito nada sobre o ocorrido, muito menos sobre sua vida louca, mas revelou seu nome verdadeiro: Jessie.
— Preciso de um banho — disse ela.
Com dificuldade de movimentos, ela mal conseguiu tirar a saia sozinha. Chamou pelo rapaz pedindo sua ajuda para tirar a camiseta. Após alguns "ais" e cara de choro, ela estava despida.
— Quem fez isso com você? — perguntou ao ver o estado crítico da moça.
— É uma longa história, depois eu lhe conto — disse demonstrando esgotamento. E agradeceu a ajuda.
Ele respeitou seu silêncio e a deixou sozinha. Aguardaria o momento apropriado para saber mais sobre a garota atraente e misteriosa.

Enquanto Jessie iniciava o banho mais dolorido de sua vida, Pedro Miguel acomodou-se no pequeno sofá e recordou o seu passado não muito distante:
Seu pai foi uma das oito vítimas de uma chacina na cidade de Fortaleza, onde moravam, Pedro tinha quatorze anos naquela ocasião. Segundo as informações da polícia, em um noticiário local, foi mais um acerto de contas entre traficantes. No entanto, o pai do Pedro Miguel era pedreiro de profissão e nunca esteve envolvido com o crime e nem tinha passagem pela polícia, assim como seus colegas, frequentadores do boteco naquela noite trágica, todos foram friamente chacinados. Aquelas pessoas humildes e trabalhadoras, somaram-se a tantas outras, também vítimas da falta de segurança e reféns da disputa pelo poder, travada entre criminosos rivais. Entre eles ainda havia policiais corruptos integrando os bandos, cada qual defendendo e protegendo seu grupo, ao invés de proteger a população e os contribuintes. Era muito dinheiro envolvido e muitas vidas inocentes perdidas.

Passado um ano, seu irmão de dezesseis anos e mais quatro adolescentes foram mortos nas mesmas circunstâncias quando estavam conversando em uma calçada na rua daquela mesma comunidade. Próximo das vinte e três horas surgiram dois carros com vidros escuros e em seus interiores haviam homens semelhantes à chacina anterior: vestidos de preto e encapuzados com toucas ninjas. Dispararam dezenas de tiros vitimando os jovens.

Mais um ano se passou e a mãe do Pedro Miguel foi morar com um sujeito antipático de aparência rude. O convívio entre o adolescente de dezesseis anos e o padrasto ficou impossível. O cara vivia embriagado e a cada dia ficava mais grosseiro. As discussões viraram rotina e as marcas de agressões em sua mãe tornaram-se frequentes. A mulher subalterna tinha medo do companheiro e de perder o pouco de conforto conseguido, aceitava com resignação as agressões e dizia para o filho parar de implicar e confrontar o companheiro dela.

O rapaz foi expulso de casa após denunciar o padrasto por mais um espancamento em sua genitora. O filho tentou abrir os olhos da mãe dizendo o que todos no bairro já sabiam: o homem era um bandido e integrante de uma milícia, o bando extorquia os moradores e comerciantes daquela comunidade. A mulher não queria acreditar e também não confirmou à delegada as agressões sofridas. O miliciano continuou livre e mandou o jovem sair de sua casa. A mãe não fez nada para evitar.

Dezoito meses após o rompimento com a mãe e o padrasto, Pedro Miguel estava nos fundos da oficina onde aprendera a trabalhar como mecânico de moto e onde também morava com o consentimento do dono. Uma antiga vizinha o procurou no local para relatar sobre a nova agressão sofrida por sua mãe. Sua genitora foi internada e permanecia em coma numa UTI.
Após o filho chegar ao hospital ele chorou angustiado ao ver sua mãe em estado crítico lutando há dois dias contra a morte após ser vitimada por mais um espancamento covarde. O médico lamentou ao dizer que ela não resistiria, era questão de horas até desligarem os aparelhos. O sangue do rapaz ferveu de tanta revolta.

Quando a noite ia alta, ele foi para o seu antigo bairro, sua sede de vingança só aumentava. Ficou vigiando a casa onde morava sua mãe. A residência permanecia às escuras, pois o padrasto costumava chegar sempre depois da meia-noite.
O relógio marcava 23h30min, o movimento nos arredores se resumia a uma garota frágil e de aparência colegial moradora de uma casa no terreno ao lado. Acomodada em um degrau no portão de sua residência, sua calcinha estava parcialmente à mostra devido a sua minissaia, muito mini. O tronco quase nu com um top tomara que caia, suficiente apenas para cobrir os seios miúdos. Sua atenção toda voltada para um celular, vez ou outra olhava para a esquina como se aguardasse alguém.
Ela recebeu uma mensagem em um aplicativo, digitou respondendo e entrou correndo dentro de casa para comprar a cumplicidade da mãe; pediu para encobrir sua ausência por uns vinte minutos enquanto seu pai assistia distraído a um jogo de futebol na TV.
Enquanto isso, o rapaz aproveitou a oportunidade de não haver testemunhas, com cautela foi em direção à casa da mãe e usou cópias das chaves para invadir a residência. Entrou embaixo da cama do casal, era onde esperaria escondido o homem adormecer para poder acabar com a vida dele o esfaqueando sem chamar a atenção dos vizinhos.

O indivíduo chegou cinco minutos depois, entrou na casa e parecia estar acompanhado. Pedro não contava com esse imprevisto, complicaria demais os seus planos.
— Vem, meu filezinho! — dessa vez temos a noite toda só pra nós.
— Não posso demorar, se meu pai souber que saí… tô lascada.
O rapaz encolhido debaixo da cama reconheceu a voz, era Paulinha, a garota estava há pouco no portão ao lado.
— Não precisa ter pressa, eu dou um jeito no seu pai — falou o homem com a voz empastada pela quantidade de álcool ingerido.
— Para, viu? — deixa meu pai.
— Chega de aperreio e se achegue aqui, minha cachorrinha!
O vulgar de atitudes sacanas agarrou e enfiou a língua na boca da jovem. Ela se entregou deixando o corpo tombar para trás e foi sustentada e dominada pelo par de braços. Seu corpo era movido como se fosse um brinquedo. O sujeito a levantou segurando pelas coxas e a soltou sobre a cama.
— Não está avexada? — então tira logo essa roupa! — ele ordenou.
Tirou sua arma detrás da cintura e guardou dentro da gaveta do criado-mudo. Despiu-se enquanto admirava a mulatinha magra, de cabelos curtos e cacheados, peladinha aguardando o “abate”.
Ele partiu babando para cima dela invadindo com seu tronco o espaço entre as pernas femininas. Sua boca, já com a língua de fora, tocou o sexo da garota a lambendo de baixo para cima e penetrou sua vagina de pelos ralos e castanhos.
A testemunha auditiva daquela relação permanecia praticamente imóvel sob o colchão. "Que merda", pensou Pedro Miguel, já havia se arrependido do plano.

Após quase meia hora de gritinhos e choro feminino, em couro com a cama chacoalhando e rangendo, houve uma pausa. A garota pegou seu celular, ele havia vibrado duas vezes minutos atrás, mas o homem a impediu de atender.
— Danou-se! Duas ligações perdidas do meu pai, tenho que ir na carreira.
Ela pegou sua calcinha e sentou na beirada da cama na tentativa de se vestir.
— Vai o caralho, já disse que dou um jeito naquele frouxo — falou a criatura com voz descontrolada.
A seguir partiu para cima da garota a imobilizando com um mata-leão e jogando de costas na cama. Pegou a lingerie ainda na altura dos joelhos dela e rasgou com selvageria. Arreganhou o par de pernas frágeis se alojando entre elas e tentou a penetração. Ela implorou que a deixasse ir, prometendo voltar no dia seguinte e ficando mais tempo. O sujeito estúpido deu um tapa no rosto da garota mandando ela calar a boca. Ficou ainda mais nervoso com a resistência dela tentando evitar o coito.
Ele perdeu rapidamente a ereção e não conseguiu mais penetrá-la, daí sim virou um monstro e passou a agredi-la verbal e fisicamente.
— Sua quenga, vagabunda, quem você pensa que é? — Eu decido quando você vai ou fica.
O covarde ignorante deu tapas fortes e repetidos de um lado e do outro no rosto da Paulinha. O rapaz sob o colchão, ao ouvir o barulho da agressão, pensou: “esse animal fez o mesmo com a minha mãe.” Não conseguiu conter-se com tamanha covardia, olhou determinado para a faca em sua mão direita, deslizou sem barulho pelo piso e levantou preparando um golpe de cima para baixo… O agressor percebeu sua presença e se jogou para o outro lado da cama em busca de sua arma no criado-mudo. Pedro Miguel, no impulso, segurou a faca com as duas mãos e pulou sobre o padrasto. A lâmina de uns quinze centímetros atravessou as costas do seu oponente antes dele conseguir empunhar o revólver. O rapaz, ainda por cima do homem agonizante, agilmente retirou a faca e com ódio golpeou outras vezes com a certeza de acabar com a vida do sujeito.
Paulinha ficou em choque, encolhidinha na cabeceira da cama ela tremia com expressão de pavor. Ele tentou acalmá-la dizendo que não iria machucá-la, mas precisava de sua colaboração para saírem dali sem serem vistos. Mandou a menina se recompor e ir embora, e não deveria comentar com ninguém sobre a presença dele e muito menos sobre o ocorrido, ou os dois e os seus familiares seriam mortos, pois o cara era bandido e pertencia ao grupo de milicianos.
A garota teve um pouco de dificuldade para processar tudo aquilo, mas ela o conhecia e foi apaixonada pelo rapaz quando ele morou naquela casa. Ao pegar suas peças de roupa minúsculas para cobrir o corpinho nu, olhou indignada para sua calcinha rasgada.
— Pode deixar ela aí, darei um sumiço em tudo isso.
Ela olhou para ele sem entender, e deixou a rendinha sobre a cama. Pedro fez um gesto de carinho limpando o sangue no rosto da garota e aconselhou a saírem pelos fundos.

Já do lado de fora…
— Obrigada! Acho que ele teria me matado se não fosse você.
Ele esboçou um sorriso discreto e pediu para ela sair rápido e sem ser notada.
O rapaz retornou ao quarto, pegou o dinheiro da carteira do falecido, $230. Era pouco, ele tinha conhecimento sobre o padrasto ocultar dinheiro ilegal naquela casa. Procurou em gavetas e interiores de móveis. Achou uma caixa de metal com cadeado no guarda-roupa, a chave compatível estava no chaveiro do cadáver. Ficou satisfeito ao encontrar $3.800, ele enfiou no bolso da calça jeans. Aquele dinheiro garantiria a sua fuga e manutenção por algum tempo. No cofre improvisado havia também um bloco de notas com nomes e valores, tipo uma contabilidade da extorsão da milícia, deduziu. Jogou sobre o defunto, não queria mais nenhum envolvimento com os bandidos. Pegou a camisa do homem, tirou o cabo de uma vassoura e fez uma tocha. Abriu todos os bicos de gás do fogão e forno, e saiu pelos fundos da casa. No quintal ele acendeu e atirou sua tocha improvisada como se fosse uma lança. Correu enquanto o artefato viajava no ar, atravessando em seguida a porta aberta e provocando um incêndio imediato. O incendiário pulou o muro no mesmo instante em que ocorreu uma explosão.
Pedro Miguel saiu caminhando enquanto as chamas consumiam a casa. Passou na oficina onde morava para pegar sua mochila com todos os seus pertences contidos nela.

Quando a primeira luz do dia surgiu no horizonte, o rapaz já havia se distanciado da cidade, porém, ainda pensando qual rumo daria à sua vida.

Continua…

Foto 1 do Conto erotico: Justiça com as Próprias Mãos


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Comentários


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jplima Comentou em 16/04/2024

Que delícia de conto




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Ficha do conto

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kmilinhaeseudiario

Nome do conto:
Justiça com as Próprias Mãos

Codigo do conto:
212691

Categoria:
Coroas

Data da Publicação:
15/04/2024

Quant.de Votos:
4

Quant.de Fotos:
1