As situações de intimidade extrema só aumentavam o desejo do casal, e certa noite, devido a sua fragilidade momentânea, Jessie deixou-se prender por um olhar carregado de volúpia. Rolou um clima e a proximidade dos rostos era o convite para um beijo, ela entreabriu os lábios o convidando e ele não exitou… o beijo foi longo, carinhoso e com o desejo de ir além. Porém, ela se afastou e falou friamente:
— Obrigada pela ajuda, vou dormir. — E sobre o ocorrido, se voltar a acontecer, será hora de dizermos adeus um para o outro
O rapaz não ficou frustrado e nem preocupado, o ocorrido era um começo, além de ter sido um prêmio por sua paciência. Saberia esperar pela próxima oportunidade. Provavelmente não demoraria para a sessão de enfermagem se transformar em relação sexual.
No dia seguinte, eles não tocaram no assunto, a conversa girou em torno de um passado mais distante. Pedro já havia revelado quase tudo sobre sua vida em Fortaleza, inclusive de ter assassinado o seu padrasto. Depois se apoderou dos documentos do seu irmão chacinado, assumindo assim sua identidade. Caio César era o seu nome verdadeiro, contudo, deixou de existir após o crime e Pedro Miguel renasceu nele.
— E como eu te chamo agora? — de Pedro ou Caio?
— Melhor me chamar de Pedro, o Caio é foragido da justiça.
— Mas o Pedro também é — tá feio o bagulho pro seu lado, hein mano? — falou a moça brincando com a situação.
Ele continuou falando sobre o irmão que era só um ano mais velho. Ambos tinham alguma semelhança física, ademais, a identidade era de quatro anos atrás, a diferença entre sua aparência atual e a do garoto na foto seriam justificáveis.
Jessie, por sua vez, não pretendia revisitar acontecimentos extremamente complicados de seu passado. Seria condenada por todos, supôs.
— Eu fiz coisas horríveis e não quero reviver os momentos ruins.
Ela o deixaria saber apenas sobre suas atividades dos últimos dois anos e seus planos imediatos. Começou contando sobre seu relacionamento com o parceiro, funcionário do hotel, disse que ele seria o primeiro em sua lista negra, Maciel o seu nome.
"Nos conhecemos em Camboriú-SC, ele percebeu meu golpe aplicado nos clientes, geralmente turistas de uma choperia onde ele era gerente na época. Não era nada que rendesse muito dinheiro. Eu assediava os quarentões de aparência distinta, levava para um canto discreto do estabelecimento e quando eu já estava sem calcinha e o cara, de pau de fora, a ponto de me penetrar encostada atrás de uma coluna ou um carro, mentia ser filha do delegado, depois mostrava a minha identidade falsa de menor de idade e pedia uma grana. O valor variava conforme a minha avaliação do sujeito. O ameaçava dizendo:
— Caso não pague, farei um escândalo o acusando de assediar menor de idade.
E realmente começava um barraco quando o cara se recusava a pagar, ou se ficava violento.
Também acontecia de um sujeito ou outro ficar em uma fissura tão grande a ponto de me oferecer uma grana irrecusável para, pelo menos, ter um boquete. Claro que nós chegávamos a um acordo, afinal, negócios são negócios.
Após conseguir uma boa grana, seja por chantagem ou pelo boquete, dava um perdido e só voltava naquele estabelecimento alguns dias depois. Além da diversão, conseguia o suficiente para minhas despesas do dia a dia.”
— O Maciel chegou em mim certo dia — continuou Jessie a relatar — disse que eu tinha talento especial e poderíamos ganhar alguns milhares de reais em outro lugar. Senti firmeza nele. Depois de um bom papo e um acordo, partimos para Campinas, lá ele tinha aliados e os lugares certos para os nossos golpes.
Sem rodeios ela explicou para o Pedro os detalhes do esquema do “Boa noite, Cinderela”. Depois deixou claro, mais uma vez, da ilegalidade do dinheiro que pagava as suas contas.
— São os frutos desses golpes que nos manterão por mais algum tempo — falou a moça sem nenhum constrangimento.
Continua…
Quero a continuação hein